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Karma não é o que você te ensinaram

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Jean DUBUIS.

Entre os conceitos filosóficos ou esotéricos, o Karma é certamente um dos mais mal ensinados e, portanto, incompreendidos. Esse mal-entendido também pode ser explicado, em certos casos, pelo mau uso do sigilo, que permite que os chamados professores mantenham os alunos na ignorância e portanto sob sua dependência. Como resultado, para muitos, a aceitação dessa noção leva a um certo fatalismo. Discernir a liberdade e a evolução, por trás da coação e da lei, requer o conhecimento profundo de uma filosofia como a da Cabala, que usaremos aqui como exemplo.

Um bom conhecimento da lei do Karma leva não a aceitá-la, mas a neutralizá-la e dominá-la. O Karma resulta de uma lei fundamental da Criação, de uma das Sete Causas Secundárias do Trithemius. Esta lei é exposta extensamente no Zohar, em tudo o que se relaciona com Libra, isto é, a lei do Equilíbrio das energias no mundo.
Retornando o universo a um estado neutro.

A Lei do Equilíbrio se manifesta em vários aspectos: físico, espiritual, energético. Em todos os níveis, ela garante que o Universo seja sempre trazido de volta a um estado neutro, ou seja, há u movimento tanto positivo quanto negativo. Nessa perspectiva, está na origem do movimento pendular das coisas, que passa sucessivamente de cada lado da posição neutra de equilíbrio, sendo esse ‘vai e vem’ necessários ao movimento, a base da evolução.

Essa lei, em sua aplicação aos seres conscientes – o homem em particular – manifesta um duplo aspecto,  o que de fato não facilita a compreensão de seu mecanismo. A finalidade, a razão desta lei é a seguinte: obrigar o homem a realizar o Devir para o qual foi criado; transformar, dentro do homem, a Semente Divina em seu fruto.

Involução, o primeiro Bem

Em seu início, a lei se manifesta como uma pressão involutiva. De fato, o Germe Divino deve descer, enraizar-se passo a passo até o nível mais denso da matéria, até que o cordão umbilical seja cortado do Pai. Enquanto isso não for alcançado, a lei faz o homem descer: o bem é, para ele, tudo o que o materializa, tudo o que o densifica. Esse processo dura até a Iniciação do Nadir – ponto simbólico oposto ao Zênite – que marca o máximo de densidade e o fim da descida no material. Esta iniciação, que a maioria das pessoas de nossa Terra possui hoje, inverte os valores anteriormente dominantes: o Bem, o Devir é, agora, o que espiritualiza, o que liberta do domínio da matéria, mas não o que destrói e faz negar e rejeitar a matéria. A pressão da lei é, portanto, evolutiva. No entanto, não se deve esquecer que qualquer tentativa de ascensão antes da Iniciação do Nadir é um erro que o Karma impedirá de se estabelecer de forma duradoura. De fato, empreender o processo de ascensão antes do tempo é apenas uma maneira disfarçada de retroceder.

A Árvore Doente

Assim, antes da iniciação do Nadir, sob o efeito da lei, o Eu Superior empurra para a involução. Após a Iniciação, o mesmo Eu empurra para a evolução. Os problemas vêm do fato de que a estrutura do ser, a Árvore da Vida, sofre muito com a Involução. Seus centros de energia são perturbados, diminuídos e, sobretudo, desarmonizados. A Árvore da Vida adoece.

O que fazemos quando um corpo está doente? Se, depois de muito esforço, um corpo físico estiver muito enfraquecido, devemos, antes de tudo, parar com o excesso de trabalho. Cessadas as causas de destruição do corpo, o médico pode escolher entre duas soluções: deixar a natureza agir sozinha, o que, lenta mas seguramente, levará à cura; ou procurar remédios que ajudem e acelerem o processo natural. Igualmente, a Árvore da Vida será, pouco a pouco, reabilitada, durante muitas encarnações. Isso será feito, mas gradualmente porque o estado precário da Árvore da Vida no homem dificulta ou até impede a transmissão da vontade do Eu Superior. Devemos, portanto, primeiro ser esclarecidos sobre o que deve agora ser definido como Devir. Existem, no entanto, dois remédios que podem restaurá-lo rapidamente ao seu estado anterior: a alquimia e a magia.

Neutralizar Karma

O segundo efeito da passagem pelo Nadir é uma liberação; pois a Lei de Thelema é então a lei do ser: “Faz o que tu queres, há de ser tudo da Lei”. De outra forma, Platão, discípulo de Sócrates, disse: “O que é certo é o que convém a todos”. É preciso notar que este ponto crucial da evolução transforma o Bem em Mal e o Mal em Bem.

Como essa lei pode atuar na vida física, material e atual de cada um? Simplesmente porque cada um cria sua própria vida, não por sua cerebralidade intelectual, mas pelas energias de seus centros de consciência. Estes, quaisquer que sejam, possuem poderes mágicos ou divinos, de acordo com sua posição na Árvore da Cabala.

Todas as nossas ações passadas não são acumuladas em uma conta bancária cósmica de infortúnio ou felicidade, com a regra: “Olho por olho, dente por dente”, porque essa concepção de justiça só diz respeito ao mundo físico – “Minha sabedoria é não a tua sabedoria, e a tua sabedoria é loucura aos olhos do Senhor”. O problema do bem, do mal ou da vingança não surge no nível dos planos espirituais. Existem sim desequilíbrios de energia nos centros sefiróticos do homem. Restaurar o equilíbrio neutraliza imediatamente todo o chamado Karma. É claro que aquele que, neste mundo, após a Iniciação do Nadir, não age para sua evolução ou a do próximo, desequilibra, com certeza, suas próprias energias e cria para ele uma situação física desarmônica, portanto fisicamente dolorosa pois está impedindo sua natureza de realizar seu trabalho restaurador.

O que devemos fazer para melhorar nossa “situação cármica”? Após um estudo sério da Cabala e de si mesmo, devemos conhecer o grau energético de nossas Sephiroth; por exemplo, a tendência à raiva, ao orgulho, deve incitar a pessoa a examinar Geburah, a Sephirah de Marte; um ceticismo esotérico ou religioso refere-se a Chesed… O estudo das sete letras duplas da Cabala e suas atribuições, em particular, constitui uma poderosa ajuda neste domínio. Este estudo é comparável, no que diz respeito à cura da Árvore da Vida, ao diagnóstico do corpo físico feito pelo médico.

O Mestre do Karma

Devemos entender também que um desequilíbrio em uma única Sephirah (centro energético, portanto) afeta todas as demais pois tudo está em tudo. Além disso, a energia espiritual desce seguindo uma regra fixa, e sua transmissão, sua materialização no plano físico, só ocorre através da Sephirah lunar Yesod, Levanah (A Lua), a Fundação. Uma reparação deste centro resolve imediatamente muitos problemas.

Deve-se notar, por um lado, que a Lua rege nosso cérebro, o órgão que realiza as coisas materiais; e, por outro lado, que seu metal é a prata, um metal que organiza muitas coisas neste mundo. O Sol, metal-ouro, e a Lua, metal-prata, são símbolos de energias sutis, mas poderosas. As energias da Lua dão, por meio do cérebro, a compreensão dos outros; e as energias do Sol despertam a percepção do coração. Quando esses dois objetivos são alcançados, o homem é o mestre do Karma.

Alquimia e Cabala

Se você não tem a tintura de prata que repara Yesod, você sempre pode melhorar este centro de energia através do uso de plantas lunares como a Verônica. Mas as soluções alquímicas ou mágicas só curam a psique se o comportamento físico estiver de acordo com os desejos do Eu Superior. De fato, é inútil pedir à natureza um esforço especial de cura se as causas da doença (na maioria das vezes devido a comportamentos errôneos) ainda estão presentes.

Se a tradição magica tivesse sido respeitada nas escolas filosóficas de nossos dias, a iniciação nos Mistérios Menores corresponderia à restauração das três Sephiroth menores, as do mundo de Yetzirah: Yesod-Lua, Hod-Mercúrio, Netzach-Vênus; e a iniciação nos Grandes Mistérios ou Iniciação Maior, nas três Sephiroth do mundo de Briah: Tiphereth-Sol, Geburah-Marte, Chesed-Júpiter; esta forma de cura sendo aquela da via mágica. Em princípio, a Pequena Circulação Alquímica corresponde aos Pequenos Mistérios, a Grande Circulação aos Grandes Mistérios. As iniciações simbólicas, que são a maioria das que se dão hoje, não atuam sobre centro algum; também há poucos efeitos após a sua realização.

O ascetismo de preparação mágica deve dar contato suficiente com o Eu Superior para que este possa iluminar o homem antes da cura. O ascetismo da preparação alquímica tem o mesmo propósito. A verdadeira iniciação está relacionada ao Karma, porque é a recuperação da Árvore da Vida interior; mas, ao contrário de certas crenças, a iniciação não é dada: é fruto exclusivamente de nossos próprios esforços; caso contrário não haveria Justiça Universal. Cada ser é o Filho de suas Obras.

Fonte: http://www.portaelucis.fr/html/textes/pdf/Karma.pdf


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