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Satanismo, que diabos é isso?

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Morbitvs Vividvs, capítulo de Lex Satanicus

Este é, de fato, um livro sobre Satanismo. Mas a primeira coisa a se aprender é que se você quer conhecer Satã, você tem que deixar Satã falar. Não faz sentido procurar informações sobre um assunto com pessoas que simplesmente não estão preparadas para lhe responder. Não adianta tentar aprender sobre o diabo lendo os livros dos anjos. Não se pode tentar entender um lado da história dando ouvidos justamente ao seu pólo oposto. Não se pode entender a semente daquilo que está nascendo consultado o corpo daquilo que está morrendo. Para entender uma nova maneira de pensar, você tem que deixar a antiga maneira para trás.


Assim, ao contrário do que sugerem as mentes fracas, o Satanismo não é uma religião insana preocupada em queimar igrejas e bíblias, adorar demônios, matar bebês, e sacrificar animais. Estes são mitos inventados pelos líderes das antigas religiões para manterem seus devotos sob controle. Perguntar sobre o Satanismo para um padre católico ou para um pastor evangélico é como perguntar para uma larva sobre a mariposa ou pedir conselhos sexuais a um virgem. Com tal proceder, tudo o que você conseguirá são argumentos pueris oriundos do medo e da ignorância. Aqui você encontrará o verdadeiro Satanismo, visto de um ponto de vista genuinamente satânico.

O Satanismo é uma forma de viver e pensar que guarda influências na real natureza humana e portanto em tempos bastante remotos, mas que só se manifestou como uma expressão religiosa organizada na segunda metade do século XX. Não é algo pronto que existe para ser aceito e acreditado, mas algo em desenvolvimento, que deve ser constantemente explorado e contestado para que cresça forte em todas as direções possíveis.


Historicamente, o homem que iniciou o movimento satânico foi Anton Szandor LaVey, fundador da Church of Satan em 1966, e autor da Bíblia Satânica em 1969. LaVey bebeu de diversas fontes para forjar aquilo que hoje conhecemos como Satanismo moderno. A filosofia de Nietzsche, o Objetivismo de Any Rand, a psicologia Junguiana são facilmente identificados em seus livros. A influência do pensamento libertário de Aleister Crowley e o ocultismo pragmático de Austin Osman Spare também é patente. Existe, até mesmo, um sério caso de plágio da obra “Might is Right”, de Ragnar Redbeard, logo no começo da Bíblia escrita por LaVey.


Estas e muitas outras referências servem para demonstrar que, de certa forma, LaVey não foi o primeiro satanista, mas simplesmente foi quem organizou o movimento satânico em uma ideologia com métodos e metas bem definidos. Sempre existiram pessoas com comportamento e pensamentos satânicos, especialmente com o enfraquecimento do poder clerical testemunhado nos últimos séculos. Oscar Wilde, Rasputin, Marquês de Sade, Bakunin, Sir Francis Dashwood e Hassan ibn Al Sabbat, são alguns exemplos deste tipo de pessoa que mesmo antes da grande deflagração satânica dos anos de 1960 já eram indubitavelmente satânicos. Isso porque em nosso contexto, ser satânico não é nada além do que ser demasiadamente humano, sem deixar-se amarrar pela opinião das massas nem pelos ditames dos poderosos.

Uma das coisas que distingue o Satanismo das religiões dominantes é que ele justamente não reivindica nenhuma suposta revelação. Os Satanistas reconhecem que todas as crenças, inclusive as suas, foram criadas por seres humanos. Pessoas que carregam a influência daquilo que estudam e do ambiente onde vivem. A religião satânica, não é dependente de entidades metafísicas que concederam a humanidade um pouco de sua sabedoria, mas é sim fruto da evolução do pensamento humano nas artes na filosofia e na ciência.

O Satanismo, enquanto corpo ideológico oficial, é algo novo, inteligente, diferente, e por isso mesmo não é para qualquer um. A primeira e mais importante coisa a se saber é que o Satanismo moderno não é um culto que adora alguma espécie de demônio ou ser maligno. Apesar do título, a Bíblia Satânica nunca foi apresentada como uma revelação autorizada e autenticada do Príncipe das Trevas. O Satanismo é uma religião humana para aquele que busca adorar somente um único deus: “A SI MESMO”!
Esta adoração a si mesmo é simbolizada pelo uso do arquétipo psicológico de Satã, que não é portanto um Deus ou um Demônio da forma como as pessoas comumente entendem. Satã é simplesmente uma IMAGEM que encerra em si todos os ideais do movimento satanista, tais como: auto- deificação, hedonismo responsável, individualismo e vontade de elevar a enésima potência o poder que há em nós mesmos.
O primeiro destes ideais, como vimos, é a auto-deificação. Isso significa, em outras palavras, ser o seu próprio deus e adorar a si mesmo sobre todas as coisas, com todo seu coração, com toda a sua vontade, com todas as suas forças e com todo o seu entendimento. Este é o principal ponto de todo o movimento, o satanista ama intensamente sua própria pessoa e não trai a si mesmo nem se sacrifica em prol de ídolos exteriores. Isso se reflete em um culto constante a seu próprio eu e em um genuíno comprometimento com a realização de seus próprios sonhos.

Para viver esta realidade, o satanista advoga viver segundo as regras da sua própria natureza. Viver em Satã é desfrutar da vida o mais intensamente possível, entregando-se aos prazeres da carne, porém sempre de uma maneira responsável – afinal a carne é sua. O hedonismo responsável é outra diferença entre os adeptos do antigo deus, apegados à abstinência, e os satanistas que desfrutam de uma indulgência benéfica, sem nunca incorrer nos caminhos da compulsão. Ser satanista é viver a sua vida da melhor forma possível, mas sem esquecer as lições do passado nem deixar de considerar as conseqüências no futuro.

Assim, Satã representa aquele que se aceita tal como é e que ama a si mesmo sobre todas as coisas. Ao contrário do que pode parecer em um primeiro momento, isso de modo algum leva o satanista à estagnação e conformidade. Isso porque Satã também simboliza o desenvolvimento contínuo de todas as nossas habilidades pessoais, sejam elas físicas, mentais, sociais, artísticas e até estéticas, buscando sempre a satisfação material, emocional ou intelectual. O satanista, adorando a si mesmo, presta-se constantes oferendas de sua própria força de vontade visando a concretização de seus projetos pessoais e pensando desta forma, torna-se portador de uma sincera vontade de poder que o impulsiona à um incansável processo de desenvolvimento.

Sendo o Satanismo uma filosofia extremamente individualista, se deduz que um satanista deve julgar as outras pessoas com base em suas virtudes e defeitos de caráter e personalidade, porém nunca com base em rótulos morais usados na antiga era. Valores como raça, nacionalidade, estado de saúde, sexo ou família não têm qualquer significado na Era Satânica que está começando. Na verdade, o valor mais apreciado dos satanistas é a individualidade. Quem ousa ser a si mesmo já está com pelo menos um pé dentro do clube do Diabo.

Depois de ler isso muitos se perguntarão: por que diabos vocês usam um nome tão assustador e agressivo então? Por que usar o título de “satanistas” se seus preceitos não são assim tão diferentes do comportamento humano natural? Por que não chamar de humanismo, por exemplo? Respondemos que aquilo que pode em um primeiro momento parecer uma excêntrica rebeldia sem sentido revela-se como algo com um valor muito mais profundo.

Em primeiro lugar, o Satanismo se diferencia do humanismo porque este segundo tornou-se apenas uma versão secular da mesma moral decadente das antigas religiões. Em geral, um humanista é um ateu ou agnóstico tentando provar ao mundo que é uma boa pessoa. Nós não temos este necessidade.

A palavra “SATÔ (Shin Tau Nun) tem origem no Hebraico e quer dizer literalmente “O INIMIGO”, ou mais especificamente “aquele que discorda de nós”. Assim de fato, nós satanistas somos inimigos de toda degeneração efetuada por qualquer sistema escravocrata, qualquer seja a máscara com que se manifeste e, acima de tudo, a imagem de Satã destrói por definitivo qualquer sentimento de culpa que todos os sistemas e religiões, através dos tempos, lançaram em cima das pessoas para enfraquecê-las e escravizá-las.

Em outras palavras, o Satanismo não advoga a passividade à adoração à qualquer ente externo, mas sim a possibilidade da auto-deificação. Este é o significado do mito de Lúcifer e Prometeus e é este o sentido que usamos da serpente no Éden. O homem deixa de ser um animal pastando no jardim do Paraíso para assumir a responsabilidade pela própria vida, sem que outros a assumam no seu lugar.

Satã representa também a justiça acima de misericórdia e o respeito acima de piedade. Ele desafia o mundo ao contestar a chamada regra de ouro que ensina que devemos amar ao próximo como se fossem nós mesmos e traça o novo lema de que devemos tratar as outras pessoas da mesma maneira que elas nos tratam. O Satanismo ensina que jamais devemos nos resignar frente à ação de quem nos prejudica, mas que devemos reagir ao inimigo e destruí- lo se for necessário! É claro que inicialmente e em campo aberto devemos respeitar uns aos outros, mas a história muda de figura dependendo da resposta do outro lado. Quem dá a outra face, não ganha nada além de um outro tapa. Em outras palavras: ser bondoso com quem nos ajuda e ser cruel com nossos adversários.
Além disso, o Satanismo também advoga o fim da solidariedade cega, pois entende que toda pessoa deve aceitar as conseqüências de suas próprias ações. Somente devem ser ajudados aqueles que realmente merecem os nossos auxilio e que não fazem de sua miséria uma cômoda posição. Reconhecendo-se como deuses na terra, os adeptos da filosofia satânica agem de forma verdadeiramente divina e ajudam somente aqueles que ajudam a si próprios e que nunca agiram em desfavor de seus acolhedores. Os parasitas e vampiros sociais devem ser abandonados a sua própria sorte e os criminosos devem ser castigados com a mesma severidade com que prejudicaram as suas vítimas. É importante notar que os satanistas respeitam e cumprem as leis dos países em que vivem sempre quando estas não atentam contra a liberdade pessoal, e recusamos entre os nossos qualquer tipo de conduta criminal ou anti-social. Usamos o sistema a nosso favor ao invés de tentar destrui-lo.

Aliado a isto existe o fato de que, nas antigas religiões, “SATÔ era considerado um símbolo do mundo material, da carne, do mundo físico, dos prazeres acima de qualquer dogma religioso. Satã é popularmente conhecido como o príncipe deste mundo e ao usar sua iconografia, o satanista transfere para si toda esta vivência carnal, material e objetiva. Existam ou não outros planos de existência, é neste mundo que a pessoa emancipada deve almejar a sua realização máxima; caso contrário, poderá recair numa passividade doentia, tornando-se mais uma ovelha no rebanho representado pela grande massa. O Satanismo reconhece que todos os ditos pecados instigados por Satã e proibidos pelos seguidores da falsidade e da opressão nada mais são do que simples impulsos naturais do ser humano.

Existe ainda outro motivo para o uso dos arquétipos sombrios. Por meio deles o satanista trabalha com aspectos da vida humana que são freqüentemente reprimidos e/ou negligenciados por nossa sociedade e que, desta forma, são capazes de causar desordens neuro-somáticas de todo o tipo. Os medos, tendências, desejos e experiências que são rejeitados pela mente consciente não desaparecem simplesmente, pois a mente guarda o núcleo do material de tudo aquilo que é reprimido pela consciência. Freud usou o pomposo nome de “Inconsciente Pessoal”, Jung chamou-o simplesmente de “Sombra”. O fato é que este porão mental torna-se gradualmente mais perigoso cada vez que é rejeitado pelo indivíduo. O conflito entre suas crenças e seus desejos resulta no que a psicologia moderna chama de Dissonância Cognitiva, que significa que as pessoas começam a projetar suas qualidades indesejáveis em terceiros ou passam a, inconscientemente, lutar contra si mesmas e em alguns casos até mesmo a refletir no corpo e na saúde esta luta interna.

Quando a sombra é trazida à consciência ela perde sua natureza de medo, de desconhecido e de escuridão e torna-se uma aliada do indivíduo. Esta é, portanto, uma outra função da simbologia tenebrosa usada freqüentemente pelos satanistas. As imagens infernais usadas, tais como Satã, Lúcifer, Belial e Leviatã, servem para expressar o “lado negro” da sua natureza humana para a completa integração consigo mesmo. Trabalhando-se com estes arquétipos, a pessoa passa a se aceitar totalmente, livra-se da dualidade e realiza a sua “Verdadeira Vontade”, que é a vontade perfeita do ser humano, livre da egolatria.

Por fim, os satanistas sabem que desde há muito, a figura do Diabo tem sido ligada à prática de feitiçaria e bruxaria. Na idade média, Satã tornou-se o senhor das bruxas de modo que tomou conta do imaginário como sendo o pai de toda magia. Essa visão é, de fato, tão forte que os adeptos do neopaganismo tem muita dificuldade em convencer o grande público que os seus deuses não são demônios. Quando os primeiros patriarcas da Igreja Católica transformaram os mitos pagãos em mártires castrados de corpo e mente, não puderam fazer o mesmo com um que era muito viril, alegre e irreverente, conhecido como Pan, que abarcava imensa popularidade entre os povos da época. Então, como não puderam transformar esse deus num santo eunuco, fizeram dele o Diabo.

Os satanistas, contudo, ao contrário dos neopagãos, não lutam contra esta identificação. Pelo contrário, dela tomam partido e tiram proveito usando as fortes. imagens e a simbologia satânica em seus rituais. Os Rituais Satânicos são um assunto muito vasto, e será tratado com detalhes neste livro, mas saiba por hora que os rituais satânicos modernos não possuem pactos de sangue com demônios, sacrifícios animais, tortura humana, abusos infantis ou qualquer outra prática que é, em verdade, mais própria dos criminosos e doentes mentais.

Existem ainda outros motivos para usarmos a imagem satânica, e nenhum destes envolve a adoração de qualquer entidade que não a nós mesmos. Enfim, estas explicações concluem nossa breve introdução ao Satanismo e jogam uma luz contra o preconceito, luz esta que só nos coloca diante de uma escuridão ainda maior.

Nós próximos capítulos vamos encontrar muito mais sobre esse modo de
vida, detalhando-o em cada uma de suas nuances. Espero sinceramente que você tenha entendido o básico de nossos preceitos e enxergado assim um pouco do nosso lado da história. Guarde em seu coração estas palavras: “Ame a si mesmo sobre todas as coisas e ao próximo como este a ti.” Satanismo é a palavra. Vida é o Resultado.

Morbitvs Vividvs é autor de Lex Satanicus: O Manual do Satanista e outros livros sobre satanismo.


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