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Vampirismo e Licantropia

Relatos Nacionais sobre lobisomens

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O Correio Paulistano de domingo, 28 de maio de 1950, na sua página Correio Folclórico, apresentou um Retrato do Lubizome que, segundo se acreditava, teria aparecido no cemitério de Botucatu (SP); em 1947: A foto foi adquirida em Flórida PauIista (SP) por Julieta de Andrade; diretora do Centro de Pesquisas Folclóricas Mário de Andrade, naquela época. O Lobisomem da foto tem cabeça de porco, a parte traseira mais alta do que a dianteira e está junto a cruzes de túmulos.

Rossini Tavares de Lima, em Mitos do Estado de S. Paulo, mostra o Lobisomem encontrado pelos seus alunos da classe de 1947, em pesquisa de campo.

2. – “É o último filho de um casal, que não foi batizado com o nome de Custódio; morde tudo o que encontra, de preferência seres humanos; se um homem o ferir ele deixará de ser Lobisomem. (S. Bernardo do’ Campo).

3. – É um homem que se transforma num enorme cachorrão nas quintas-feiras à noite; ataca toda a pessoa que encontra em seu caminho. (Santos).

4. – É o ‘sétimo filho de um casal; sai todas as sextas-feiras e numa encruzihada tira a roupa e vira Lóbisomem; depois de percorrer sete vilas volta para casa, perde o encanto e sentir-se-á doente. no dia seguinte, ficando bastante pálido; para que perca o encanto de uma vez, 😮 irmão mais velho deverá batizá-lo. (Limeira)

5. – É o sétimo filho de um casal; sai todas as sextas-feiras à noite transformado num perfeito lobo com o pêlo para dentro e a carne para fora; ataca os galinheiros, assalta e devora os cães e as crianças que encontra pelo caminho se alguém o ferir, cortando-lhe uma das patas, ele se desencantará, mas ficará aleijado para o resto da vida. (S. José dos Campos)

6. – É um ser fantástico que tem a forma de um cachorrão; sai do cemitério à meia-noite, soltando fogo pelas quatro patas e assustando os moradores da vila. (Buquira)

7. – É um homem que todas as sextas-feiras, à meia-noite, transforma-se num cachorro, saindo para o mato à procura de alimento; segundo contam, ele é casado com uma mulher corcunda que tem um buraco nas costas; este buraco foi feito pelo marido que, pegado de surpresa quando ia se transformar em homem, deu-lhe uma facada nas costas. (Capital)

8. – É um enorme cão com enormes orelhas e mãos mais curtas do que as pernas. (Capital)

9. – É o último varão dos sete filhos de um casal, que se transforma em cão nas noites de S. João; come excrementos humanos é lambe os recém-nascidos. (S. Vicente)

10. – É um homem que se transforma em cão; tem os braços como patas de cachorro; morde as pessoas que encontra, com o objetivo de obter cura para o seu mal. (Colina)

11. – É gente que se transforma em bicho; come crianças enterradas no cemitério e também gordura de sabão. (Tatuí)

12. – É um homem que se transforma em lobo, perseguindo, à noite, quem encontrar; perderá o encanto caso seja ferido por uma pessoa que não se amedronte. (Capital)

13. – É o sétimo filho de um casal que, à meia-noite das sextas-feiras, depois de rolar nos excrementos das galinhas, transforma-se em lobo, atacando os animais e as crianças e evitando ser ferido, porque caso o seja voltará ao estado normal e será reconhecido. Esta sua sina, porém, terá fim no dia em que for batizado pelo irmão mais velho. (Salto Grande)

14. – É um homem que se transforma em cão ou porco e ataca todas as pessoas que encontra pelo caminho; no seu estado natural é reconhecido pelos fiapos de baeta vermelha que se vêem em seus dentes quando ele ri. (Taubaté)

15. – O sétimo homem de um casal deve ser batizado pelo mais velho, porque caso contrário ele se transformará em Lobisomem, sob a forma de um porco, cão ou bode; durante sete anos. (S. José do Rio Pardo)

16. – É um homem que se transforma em lobo todas as sextas-feiras de luar e só volta ao normal, quando alguém o fere com objeto de prata; ataca os indivíduos que se lhe depararem, ferindo-os mortalmente. (S. Carlos)

17. – É um grande cão preto com orelhas e patas enormes; suas patas traseiras são mais altas do que as da frente; aparece à noite nos galinheiros; espantando as galinhas; gosta de visitar os engenhos para comer melado. (Sta. Cruz do Rio Pardo)

18. – É um homem que se transforma num cachorro e sobe nos murros e telhados, soltando fogo pela boca. (M’Boi) (Embu)

19. – É um homem que, nas sextas-feiras à noite, se transforma em animal quadrúpede (como cavalo, burro, cachorro etc. ), assombrando os que o vêem. (Assis)

20. – É o caipira magro, amarelo e de barba muito rala, que se transforma, na noite de sexta-feira da Quaresma, em Lobisomem; para isso ele sai de casa à meia-noite, procurando o lugar onde se espojam cachorros ou porcos; aí, sob o calor do corpo dos animais, ele também se espoja, transformando-se, então, em porco ou cachorro; sai depois em busca de excremento de galinha para comer; às três horas da madrugada, depois de muito perambular, ele volta ao mesmo lugar, espojando-se para retornar ao estado natural; no dia seguinte o caipira aparece muito abatido e trêmulo; se for visto por alguém quando estiver voltando ao seu estado natural, terá morte instantânea. (Lins).”

Na documentação da Escola de Folclore, anexa ao Museu de Folclore de São Paulo (Parque Ibirapuera), há referências ao Lobisomem, resultado de pesquisa, no período 1956/1975, em SP, MT e BA.

21. – “É um homem preto que na noite de sexta-feira se transforma em um cachorro preto e peludo.” (S. José da Boa Vista SP)

22. – Um homem que vira um cachorro preto, grande e peludo, na sexta-feira. (Monte Alto SP)

23. – Um cachorro muito grande, preto e peludo. (Capital – bairro do Ipiranga SP )

24. – Um homem muito amarelo que nas altas horas da noite vira Lobisomem. (Araraquara SP)

25. – Durante a noite é um cachorro, que anda pelas ruas e estradas de preferência às quartas e sextas-feiras. Se ao passarmos perto dele lhe oferecermos sal, no outro dia virá buscá-lo, em forma de homem. Para o conhecermos, basta olharmos o seu cotovelo; que é bastante calejado, pois, durante a noite, é a sua pata. (Laranjal Paulista SP)

26. – Monstro horrível, com a pele virada para dentro e a carne para fora, em que se transformam certas pessoas nas noites de sexta-feira, saindo pelos campos a devorar cães e crianças. Dizem que se alguém ataca um Lobisomem e corta-lhe a pata direita, ele se desencanta e torna a ser a pessoa que era; somente fica aleijado do membro cortado para o resto da vida. (Capital SP)

27. – Dizem que quando uma mulher tem sete filhos machos, o último vira Lobisomem nas noites de sexta-feira. Sai então pelos campos, invade os galinheiros e também assalta e devora os cães e as crianças que encontra pelo caminho. Se alguém conseguir cortar uma de suas patas ele vira logo no homem que é, e esse homem fica por toda a vida aleijado da parte que foi cortada. (Jundiaí SP)

28. – É um homem que, durante as segundas, quartas e sextas-feiras da Quaresma, come sujeira dos galinheiros e vira um porco. Dizem que já nasce com esse destino, sendo geralmente o sétimo de sete irmãos. Durante os dias já mencionados, procura penetrar nas casas, procura morder as crianças; à meia-noite vira homem novamente e é reconhecido por causa dos seus dentes, que ficaram com fiapos de baeta (pano em que são enroladas as crianças). Desfaz-se o encanto do Lobisomem, quando alguém tira sangue dele com uma faca; neste caso, quando ele se desencanta, promete presentes e agradecimentos para a pessoa que lhe tirou o encanto, com o intuito de distraí-la para matá-la, para que essa pessoa não possa contar às outras o seu segredo. (Andrelândia SP)

29. – A moça não conhecia direito o moço; marcaram casamento è casaram-se. Ela não sabia que ele virava Lobisomem. Quando deu meia-noite, um mês depois de casados, ela notou que ele não estava na cama. Levantou-se e saiu à procura dele pelo quintal e encontrou um enorme cachorro (meia-noite na Quaresma é tempo de virar Lobisomem, porque é o período de sofrimento de Jesus). A mulher trazia no pescoço um xale e o cachorro agarrou-o e puxou para baixo. Deu a hora dele desaparecer (depois de uma hora) e ela com tanto medo correu para dentro. Ele voltou a ser pessoa outra vez e ela, conversando com ele, percebeu que os seus dentes estavam cheios de fiapos do xale; descobriu então que ele virava Lobisomem. Todo ano nessa época ele se transformava. (Ribeirão Preta SP)

30. – O menino disse que certa noite, ao fechar uma janela, vira o Lobisomem. De fato voltou muito assustado e chorando; mas logo sossegou porque lhe dissemos que Lobisomem, não existe. Mas alguns meses depois, mais ou menos à meia-noite, ouvimos um tropel esquisito ao redor da casa, que nos deixou a todos apavorados. Com as mãos trêmulas apanhei a espingarda que estava na parede e abri lentamente a janela. O luar estava claro e pude ver um monstro esquisito que parecia um cão muito grande, de corpo desajeitado, que girava em torno da casa, de cabeça muito baixa, fazendo um ruído misto de tropel e uivo rouco. Apontei a arma para o bicho e dei no gatilho. O tiro não parece ter acertado por que, quando desnuviou a fumaça, eu pude ver que o Lobisomem, em louca disparada, embrenhara-se na capoeira a uns cem metros da casa. Desde então posso garantir que o Lobisomem existe, mesmo. (S. José da Boa Vista SP)

31. – Sendo viúva com cinco filhos tinha que trabalhar para poder sustentá-los. Estava com meu serviço atrasado e fiquei certo dia trabalhando até mais tarde, na minha moenda de cana. A um dado momento ouvi um barulho; pensei que fosse o meu filho mais velho que vinha à minha procura, pois estava atrasado para chegar a casa. Chamando, vi que ninguém respondia; indo à procura do ruído vi um cão muito grande, preto e peludo, o qual queria pular sobre mim. Assustada, peguei uma faca, com a qual o afugentei. Nunca mais vi esse animal; mas meus vizinhos contaram que muitas vezes o tornaram a ver. (Apiaí SP)

32. – Morávamos já há algum tempo na cidade, numa casa muito grande. No fundo do nosso quintal tínhamos um galinheiro. Por ser época de festa estava cheio de galinhas e frangos, pois costumávamos vendê-los. Estava ajeitando a cama para deitar quando ouvi um barulhão no quintal; um tal de cocoró de galinha e canto de galo. Abri a janela para ver se havia algum ladrão. Grande foi o meu espanto quando vi um cachorrão preto que ia saindo pelo portão da rua. Apesar de muita gente dizer que Lobisomem não existe, eu creio na sua existência. (Monte Alto SP)

33. – Eu e mais dois amigos costumávamos marcar encontro num bar perto de casa para depois irmos para a cidade. Um dia, um senhor que se encontrava no mesmo bar falou para nós não passarmos por aquela esquina depois da meia-noite porque aparecia um cachorro muito preto. Um de meus amigos respondeu que se o tal cachorro aparecesse, dar-lhe-ia um chute. Fomos para a cidade. Voltamos mais ou menos às duas horas. Descemos do bonde na tal esquina, pois era o caminho de nossa casa. fomos andando quando cismei de olhar para trás; levei um susto tremendo, pois o cachorro estava atrás de nós. Avisei o meu amigo que disse que o chutaria. Este virou para chutá-lo, mas no mesmo momento de dar o chute ficou como que petrificado. Olhando para o cachorro foi andando de frente para o mesmo até chegar a casa. E, não tendo coragem de ir para a minha casa, entrei na do meu colega, e fui diretamente para a janela para ver se o meu amigo chutava o cachorro. Mas ele fechou a porta e o cachorro desapareceu. (Capital – bairro do Ipiranga SP)

34. – Apesar de estar muito velho, lembro-me ainda de ter ouvido uma estória de um homem que costumava virar Lobisomem. Certa vez, sentindo os primeiros sintomas da transformação, fugiu para o mato. A mulher estava dormindo e não deu por falta. Com o clarear do dia, sua mulher, acordando, deu por falta, mas pensou que ele já houvesse levantado. Qual não foi o seu espanto quando viu seu marido entrar no quarto com as mãos sujas de sangue e os dentes cheios de carne. Perguntou o que havia sucedido, mas ele não soube responder. Indo ao quarto de seus filhos, não os achou, mas viu que sobre as caminhas havia um monte de ossos e que suas roupas estavam sujas de sangue. Correndo para o marido supôs logo que este era o culpado do sucedido e que tinha virado Lobisomem durante a noite e comido seus próprios filhos. (Monte Azul SP )

35. – Eu era muito moço e morava com meus pais. Naquele tempo a cidade ainda não tinha muitas casas; estas ficavam uma longe da outra. Numa casa próxima da nossa, morava um homem muito amarelo e que cheirava a estrume de galinha. Certa madrugada eu voltava de uma festa no sítio de um conhecido quando deparei com um cão preto que estava se aproximando de mim. Arranquei a faca que trazia na cintura. Ao ver a lâmina, o cachorro desapareceu. No outro dia encontrei o meu vizinho e este falou para que quando eu encontrasse o tal cachorro na rua nunca empunhasse a faca. Desconfiei, daquele dia em diante, que aquele senhor se transformava em Lobisomem. (Araraquara SP)

36. – O Lobisomem aparece a uma velhinha, na forma de um bode preto. A pessoa que contou o fato (neta) relata que a avó garantiu ser o Lobisomem. Em outra, contada pela mesma informante, ela foi à venda comprar mortadela e, quando saiu, um “bichão” vinha vindo atrás. Uma pessoa que passava por perto avisou para não correr que ele corria atrás. Então ela se encostou numa cerca até poder correr sem que ele a visse. (Jaú SP)

37. – O marido saía todas as noites e não dizia para onde ia. Uma noite, a mulher ouviu um barulho no quintal e foi ver. Era um cachorro e quanto mais ela o escorraçava, mais ele avançava. Subiu numa mesa, com o filho nos braços e o cachorro subiu também. Então puxou uma cadeira para cima da mesa e nela subiu. Não a alcançando, o cachorro dava botes, pegando a baeta da roupa do menino. Depois foi embora. Conversando com o marido, viu fiapos de baeta entre seus dentes, descobrindo então que o marido era Lobisomem. Contou a seu pai, que deu um tiro no genro, a fim de tirar-lhe sangue, pois os Lobisomens, depois de sangrados, curam-se. (Leme SP)

38. – Havia um moço que todas as noites ia a cavalo a um sítio para ver a namorada. Sempre lhe diziam que era perigoso ir por aquela estrada à noite, porque poderia encontrar um Lobisomem. Ele, porém não acreditava. Certa noite, viu que na frente do cavalo havia um cachorro muito grande, que não saía quando escorraçado. Deu-lhe um tiro e o cachorro sumiu sem ter latido ou gemido de dor. Adiante o moço encontrou um homem de cor, que ia mancando, e perguntou o que acontecera e se precisava de ajuda. O homem respondeu: – Moço, devo a vida ao senhor. Eu era Lobisomem e com aquele tiro o senhor tirou sangue de mim. Agora nunca mais vou virar cachorro. (Leme SP)

39. – Um homem, por motivos ignorados, virou Lobisomem. Todas a noites separava a cabeça do corpo e colocava-a sobre o corpo de uma mula branca. Quando saía do quarto deixava a porta encostada. Um dia, a mulher, desconfiada, saiu antes da meia-noite e fechou a porta a chave. Quando voltou, encontrou o marido morto no chão, com a cabeça separada do corpo e cheio de sangue. (Ubatuba SP)

40. – …morava ela num sobrado da rua da Penha, em São Paulo, há muitos anos. Certa noite, não tendo sono, estava acordada, quando ouviu o latido de muitos cachorros; abriu a janela e olhou, com o vidro fechado, para fora. Ficou espantada com o que viu; um cachorro enorme, do tamanho de uma pessoa, brigando com outros cães. Quando olhou para baixo, imediatamente o Lobisomem olhou para ela com uns olhos horríveis. Fechou a janela, morta de medo. (Sorocaba SP)

41. – Em Serra Pelada, MT, segundo Fernanda Macruz e Fernanda Macruz (filha); “em Lobisomi transforma-se marido ou mulher que permanecem mais de 7 anos casados no civil, sem o casamento religioso: São conhecidos como amasiado ou amancebado. A transformação também ocorre na Quinta-feira Santa, à meia- noite. Considera-se Lobisomi, bicho ruim: avança prá matá i mata memo.”

42. – De Massaranduba, BA, a Escola de Folclore possui foto de um homem, tido na localidade como Lobisomem. Waldomiro de Deus Souza, o pintor primitivista, que trouxe a foto, anotou: “H.C. vira lobisomem todas as sextas-feiras. Ele sabe disto e aceita em paz sua sina.”

Da documentação da Escola de Folclore consta, também, coleta de dados efetuada, em 1980, em Taubaté (SP), pela ex-aluna Dirce Guerra Botallo. Lá encontrou-se, no bairro da Imaculada, com D. Tereza, cujo relato reproduz.

43. – Minha avó feiz nascê um menino da vizinha, era o sétimo filho home. Na hora do parto ela num ponhô reparo. No ôtro dia quando foi tratá do imbigo viu um cachorrinho novo andando no quarto; ela ficô bispando, aí ele entrô no canudinho dos pano. De tarde, quando ela vortô, cortô um pedaço do dedo co’a unha do pé isquerdo e panhô remédia. No dia seguinte a mãe da criança viu o pano cheio de sangue e pensô que era o imbigo que tava rúim. Minha vó ficô calada: Quando o menino cresceu, a mãe inda num tinha posto reparo que a criança num tinha dedo. Um dia o menino tava brincando na terra e veio chorando pra mãe, aí ela viu e falô: – Meu fio é alejado, num tem um deda. Aí minha avó contô que tinha frejado1 que ia sê Lobisome. A mãe da criança disse: – Tirô essa sina de meu fio que ia sê Porcalhão. Chamô a vó e deu uma leitoa quando tirô a sina do neto. O rapaiz chama José. Quando ele ficô home, a mãe contô o causo. Ele bateu parma de alegria e comprô um corte de vestido e deu pra ela.

O Lobisomem come tudo o que é morto: criança pagã, só come a cabeça. Ele rasteja. A mãe de D. Tereza bateu no Lobisomem com vara de marmelo.

“Ela viu agitação no galinhero e falô: – Rufino, Porcalhão, Porcalhão, – era o name do home -. Ele ia rosnando e dizia: – Moda feia.”

O Lobisomem transforma-se às segundas, quartas e sextas-feiras.

“As mão do home que é Porcalhão tem calão pru que arrasta no chão. Antigamente a gente enterrava os pagão na Santa Cruiz e os Lobisome ia lá pra cumê a cabeça dos pagão. Eles come a cabeça pru causa do miolo e os óio.”

D. Tereza contou também a estória d’A Mulher que casô c’o Lobisome.

Uma moça casô cum moço e ele num sabia que era Labisome. Os nomé era Manuel e Madalena. Eles tava vortando da casa da mãe, no caminho escuro perto das bananera, e ele quiz entrá no mato. Ele num sabia que tava com tensão. Quando vortô era Lobisome e atacô a mulhê e a criança e rasgô toda a baeta da criança e fugiu pro mato. Quando desvirô e vortô; a mulhé viu os fiapo da baeta nos dente dele. Num quiz vortá pra casa, foi pra casa da mãe. A criança num tava batizada.

Eu perguntei se Lobisomem tem medo de cruz. D. Tereza respondeu: – Na hora deles vogá sê Lobisome eles tira o terço do pescoço e põe no cupim.

Laura, sua nora, disse-me ter visto Lobisomem e perguntei como era.

– É um cachorrão preto de pêlo arripiado, assim como o pêlo de carneiro.

44. – Eis o depoimento de José R. Quental, funcionário público; que se refere a fato acontecido por volta de 1937 e atribuído ao Lobisomem. Era uma noite muito escura, na Faisqueira, zona rural de Tapiratiba, SP. Os moradores da Vendinha ouviram barulho estranho no chiqueiro. Levantaram-se, pai e filhos, e foram verificar o que havia. A surpresa foi grande. Os porcos, agitados, apresentavam ferimentos de dentadas e um enorme porco preto pulou a cerca do chiqueiro e desapareceu, rapidamente, assim que as pessoas se aproximaram.

45. – Sebastião Gomes da Silva, nascido em Açu, Campos, RJ, 38 anos, relata que, aos 12, trabalhava em fazenda da cidade natal. Certa noite, saiu com o casal de patrões; a mulher estava grávida. No caminho depararam com enorme animal, que os enfrentou. Assustados começaram a andar de costas, a mulher no meio, e assim conseguiram afastar-se e correr até a casa, onde os homens apanharam facões. Voltando ao lugar onde haviam avistado o animal, não mais o encontraram; a cerca de gaiolinha, planta de ramagem trançada, própria para vedar divisas nas fazendas, apresentava enorme rombo, sinal da passagem do bicho pelo local. O informante acredita ter-se tratado de Lobisomem, porque, na sua opinião, ele é tentado a comer o feto e por isso persegue mulheres grávidas. Informa também que o Lobisomem teme as lâminas do machado e do facão.

46. – A autora encontrou há poucos meses, em casa de amigos; jovem com curso de auxiliar de enfermagem, que lá estava a serviço. Contou que seu pai, T.M., apelidado Duia dos Coquinhos, possui fazenda em município baiano. E ali residiu, durante alguns anos e até morrer, um homem conhecido como Lobisomem. A princípio, sendo casado, vivia com a família. Depois, a mulher desconfiou de qualquer coisa, porque às vezes saia de casa, à noite, e embrenhava-se na mata dessa fazenda. Então, acompanhou-o de longe. Constatou que ele havia construído um ranchinho e contou aos conhecidos que presenciara sua transformação em Lobisomem. Separou-se dele, expulsando-o de casa e ele passou a morar, em definitivo, nesse rancho. Diz o informante que seus irmãos, que gostavam de caçar à noite, aproximaram-se certa vez da moradia do homem e viram-no, exatamente no momento em que desvirava. Ele caçava para comer e, murmurava-se, não cozinhava; à volta do seu casebre havia sempre ossos de pequenos animais: Faleceu em 1976, com mais de 80 anos de idade.

1. Farejado

Lobisomem: assombração e realidade
Maria do Rosário de Souza Tavares de Lima

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