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Sitra Achra

Satã é o caminho dos fracos

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Lobos?! Elite?! Não, Satã é o caminho dos fracos!

Desde a fundação da Church of Satan nos EUA, em 1966, a figura do opositor tem ganhado cada vez mais espaço na mídia. Vários são os filmes, livros e bandas que são lançados tendo como protagonista ele: o infame acusador. Mais recentemente, ao menos no Brasil, a divulgação massiva de textos satanistas na internet e principalmente o advento das redes sociais  tem acarretado em uma cada vez maior “popularização” do satanismo, sendo este fenômeno, como qualquer outro, dotado de pontos positivos e negativos. Como disse Morbitvs Vividvs em seu precioso Lex Satanicus: “na era de Satã a informação é de todos, a compreensão é de poucos”. Sendo assim, podemos partir do princípio que dos vários que possuem e possuirão acesso à filosofia espiritual satanista, ao menos um pequeno número terá maturidade para compreende-la, disciplina para desenvolve-la, e critérios para utiliza-la em seu caminho de transformação espiritual.

Em contrapartida, a infestação das redes sociais por supostos satanistas mundo afora, afirmando discursos prontos que enaltecem o satanismo enquanto “o caminho dos fortes” e seus adeptos enquanto uma “elite” ou “aristocracia”, traz-nos alguns questionamentos. Sendo algumas das alcunhas dadas à Satã a de “trapaceiro”, “ardiloso” e “enganador”, todo cuidado é pouco, bem como toda dúvida procede. Deste modo, questiona-se: será o satanismo realmente o “caminho dos fortes”? Satanistas serão realmente uma “aristocracia”, uma “alcatéia”, em detrimento de todo um rebanho massificado e alienado pela ordem instaurada? Reflitamos sobre isso.

Seja por “poserismo”, euforia, ou ambos ao mesmo tempo, a grande verdade é que a maioria lembra-se muito mais dos aspectos elitistas e aristocráticos que compõem essa obscura via espiritual, já enaltecendo-os com o mínimo (ou nenhum) conhecimento que possuem, do que de alguns outros. Dentre estes “secundários”, cabe destacar por exemplo a questão da meritocracia e do humanismo, que refletiremos separadamente.

A meritocracia, um dos pilares principais de sustentação deste caminho, remete à necessidade de disciplina e esforço em estudos, reflexões e práticas que é despendido para que o indivíduo possa conhecer a si mesmo e deste modo, elevar-se espiritualmente a um patamar outrora inexplorado. Sabendo-se que Satã não é um deus “providencial e bondoso” como o vampiro hebreu, mas sim um deus de trevas, caos e destruição, não podemos esperar do mesmo qualquer espécie de auxílio. Para um satanista crescer, o mesmo tem que aprender a “usar” Satã, a canalizar essa emanação obscura a seu favor, e evidentemente, só fará isso aquele que for capaz e trabalhar para tanto.

Já o humanismo, diferentemente do que está arraigado no senso comum, não tem nada a ver com ideais pequeno-burgueses e cristãos de “benevolência” nem tampouco “caridade” para com os necessitados. Diferentemente desta prática, chamada “humanitarismo”, humanismo é o enaltecimento do ser humano enquanto o único e verdadeiro ser capaz de fazer algo por si mesmo e de mudar seu destino pelo próprio trabalho e esforço. Deste modo, tal vertente intelectual é um louvor ao potencial demiurgico do ser humano, que com suas mãos, cria e recria a realidade à sua volta de acordo com sua aspiração e vontade, tal como um artista ao projetar sua obra de arte. Satanistas, neste caso, são grandes “artistas” (afinal, magia é uma arte, não?), que se utilizam de seus potenciais para manifestarem suas vontades, exercendo, deste modo, seus potenciais divinos por excelência.

Partindo destas premissas, talvez seja melhor reformular as questões expostas na introdução. Não adianta questionarmos se o satanismo é o caminho dos fortes ou se satanistas são realmente uma elite, tendo em vista que o satanismo não é uma religião de massa e o satanista não é (ou ao menos não se diz) um ser massificado. A via sinistra é para os corajosos, e cada um que a escolhe deve possuir a audácia de olhar dentro de si, individualmente e questionar: o que eu tenho feito para fazer jus à alcunha de “aristocrata”? No que eu tenho me diferenciado, nos mais diversos aspectos, daqueles a quem pejorativamente chamo de “rebanho”? Serei eu realmente um “liberto”, ou estarei eu, como ovelha, vivendo pacificamente até o dia do meu abate? Se não há um “Satã bondoso” que redima o ser humano de suas limitações, nem tampouco ninguém que, até onde se sabe, tenha nascido “pronto”, só o que resta é você fazer-se, tornar-se um lobo pelo esforço próprio e pela manifestação da sua vontade.

Deste modo, considerando-se que o satanista não é um forte, mas sim alguém que luta para tornar-se forte e superar-se dia após dia, perguntamos: como tornar-se forte? Sem muito esforço de raciocínio, chegaremos à resposta que só se torna forte alguém que é fraco! De igual forma, ninguém nasce sábio ou pleno, sendo o ponto de partida para ambos a ignorância e a insatisfação. Não há cientista que inicie sua pesquisa com respostas prontas e certas. Estes iniciam com perguntas, questões, problemas! Satanistas, tal como estes, antes de fortes, certos, libertos, sábios ou plenos, são seres cientes de suas fraquezas, dúvidas, restrições, ignorâncias e insatisfações.

Se por um lado possuem consciência de todas as suas debilidades (ou ao menos procuram por elas), por outro uma coisa é certa: são extremamente corajosos! A coragem é o “fogo” que permite ao indivíduo realizar sua alquimia interna, transformando fraqueza em força, ignorância em sabedoria e dúvida em certeza. Apenas os ousados são capazes de olhar para dentro de si e visualizarem-se desnudos, com toda a sua insignificância e pequenez, enquanto o covarde prepotente sempre se considerará um deus mesmo estando em total inércia. Como disse, certa vez, a revolucionária alemã Rosa Luxemburgo: “quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem”. Enquanto alguns se comprazem em mergulhar nas trevas da dor e da insegurança, outros preferem o conforto da ilusão e do ego inflado, mas assim é. Afinal, satanismo não é pra todos. É o caminho dos fracos, dos ignorantes e dos incertos, mas também dos inquietos que buscam, dia após dia, a transformação e a libertação da moral de rebanho, tornando-se superiores por mérito próprio.

Que, assim, possamos continuar trilhando nosso caminho, não exaltando a força, mas sim gerando força a partir de nossas fraquezas. Hail Satan!

Thanatos Daemon

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