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Sitra Achra

Como comer sua sombra

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ROBERT BLY

Seria apropriado perguntar: “Na prática, como se faz para comer a sombra, para tomar de volta uma projeção?”

No nível do cotidiano, podemos fazer algumas sugestões: tome os sentidos do olfato, do paladar, do tato e da audição mais aguçados; quebre seus hábitos; visite tribos primitivas; toque música; crie assustadoras imagens de argila; toque os tambores; isole-se por um mês; veja a si mesmo como um gênio do crime. Uma mulher poderia tentar transformar-se num patriarca de vez em quando, só para ver se gosta desse papel… mas mantendo o espírito esportivo. Um homem poderia tentar transformar-se numa feiticeira de vez em quando, só para ver como se sente nesse papel… mas mantendo o espírito esportivo. Esse homem iria gargalhar como uma feiticeira e contar histórias de fadas e aquela mulher iria gargalhar como um gigante e contar histórias de fadas.

Quando um homem descobre qual a mulher (ou quais as mulheres) que está de posse da “sua” feiticeira, ele vai até ela, cumprimenta-a cordialmente e diz: “Quero a minha feiticeira de volta. Entregue-a para mim.” Um estranho sorriso surgirá no rosto dessa mulher; talvez ela devolva a feiticeira desse homem, talvez não. Se ela a devolver, o homem pedirá licença, se voltará para a esquerda, de cara para a parede, e comerá a feiticeira, Uma mulher poderia ir até
sua mãe com um pedido semelhante, pois é muito freqüente que as mães guardem a feiticeira das filhas como uma forma de poder. Uma mulher poderia ir até seu pai e dizer: “O senhor está com o meu gigante. Eu o quero de volta.” Ou talvez essa mulher procure um antigo professor ou um ex-marido (ou o atual) e lhe diga: “Você está com o meu patriarca negativo.

Eu o quero de volta.” Esses encontros geralmente são muito úteis, mesmo quando a pessoa que está com a feiticeira (ou com o gigante ou o anão) já morreu.

Existem muitas outras maneiras de “comer” a sombra — ou de recuperar nossas projeções, ou de reduzir o tamanho da sacola que arrastamos atrás de nós — e nós, todos nós, conhecemos dezenas e dezenas delas. Quero mencionar o uso da linguagem cuidadosa; por linguagem cuidadosa entendo aquela linguagem que é acurada e tem uma base física. O uso consciente da linguagem parece ser o método mais proveitoso para recuperarmos a substância da sombra espalhada pelo mundo. A energia que irradiamos fica flutuando à nossa volta, além da psique; e uma das maneiras de trazê-la para dentro da psique é puxá-la pela corda da linguagem. Certos tipos de linguagem são como uma rede de pescar; precisamos usar essa rede de um modo ativo; precisamos lançar a rede no oceano do mundo. Se quero de volta a minha feiticeira, escrevo sobre ela; se quero de volta o meu guia espiritual, escrevo sobre ele, em vez de senti-lo de um modo passivo numa outra pessoa. A linguagem contém a substância reconstituída da sombra de todos os nossos ancestrais, como deixam bem claro perceber Isaac Bashevis Singer ou Shakespeare. Se num determinado momento a linguagem não parecer o ideai, talvez a pintura ou a escultura possam ser o ideal, ou senão criar imagens com aquarela. Quando pintamos a feiticeira com uma intenção consciente, logo descobrimos em que casa ela está morando. Desse modo, o quinto estágio envolve atividade e imaginação, envolve caçar e perguntar. “Sempre grite por aquilo que você quer,”

As pessoas passivas em relação ao material que projetam contribuem para o perigo da guerra nuclear, porque cada parcela de energia que deixamos de envolver ativamente com a linguagem ou a arte fica flutuando na atmosfera que encobre nosso paises… e nossos presidentes pode, usá-la. Eles possuem um gigantesco “aspirador” de energia. Ninguém tem o direito de fazer com que você se sinta culpado por não ser dono de um jornal ou por não criar arte, mas a verdade é que essas atividades ajudam o mundo todo. O que disse Blake? — “Nenhum homem que não seja um artista pode ser um cristão.” Com isso, ele quer dizer que um homem que se recusa a tratar a sua própria vida de um modo ativo — usando a linguagem, a música, a escultura, a pintura ou o desenho — é uma lagarta vestida em roupagens cristãs, não um ser humano. O próprio Blake envolveu a substância da sua sombra com três disciplinas: pintura, música e linguagem. Ele próprio ilustrou e musicou seus poemas. Em volta dele, não havia nenhuma energia que os políticos pudessem usar em suas projeções sobre os outros países. Uma das coisas que precisamos fazer, como cidadãos americanos, é realizar um bom trabalho de comer a nossa sombra, em termos individuais; desse modo, teremos a certeza de que não estamos liberando uma energia que poderia ser sugada pelos políticos para uso contra a Rússia, contra a China ou contra outros países.

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