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Sitra Achra

As nuances do amor – Satanomicon

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A doutrina satânica aceita a maioria das formas de amor e sexo, desde que o limite imposto pelo parceiro seja respeitado. Assim, coisas como pedofilia, estupro, atentado violento ao pudor etc. são repudiadas não apenas por serem crimes, mas porque atentam contra a própria liberdade de escolha do outro. Por outro lado, não há problema algum com fetichismo, homossexualismo, sadomasoquismo, sexo grupal etc., se de comum acordo entre ambos. Do mesmo modo, a masturbação, como opção individual. O mais natural é o amor entre parceiros de sexo oposto, mas nada impede que uma pessoa procure uma forma alternativa, se é esta que realmente a satisfaz.

Uma das representações mais verdadeiras do amor está em Rajneesh: “O amor é escuro. Não é coincidência o fato de as pessoas terem escolhido a noite para fazer amor; existe uma afinidade entre a escuridão e o amor. Fazer amor em plena luz do dia parece um pouco rude, vulgar, feio. Fazer amor num mercado, onde todos podem ver, é insano. É preciso intimidade, e a escuridão lhe dá uma intimidade absoluta, pois você não pode ver a pessoa amada e ela não pode ver você. Você fica completamente sozinho e o outro não faz nenhuma interferência. O amor tem uma qualidade de escuridão em si, pois tem profundidade. A escuridão é sempre profunda e a luz é rasa. Mesmo que haja muita luz, ela é sempre rasa. O dia é raso, superficial, e a noite é profunda, infinita.”

Este mesmo autor fala que o relacionamento a dois é baseado no amoródio. Esta é uma palavra bela. Os atritos costumeiros no casal são um fator de crescimento, se bem direcionados; se mal direcionados podem levar ao desfazimento da união, através de uma crescente rivalidade. Discutir é sadio, sinal de que ninguém está morto. A superficialidade odeia os conflitos. Achar que um relacionamento corre sempre às mil maravilhas é se perder naquela ladainha do príncipe encantado. Na sociedade, existem mais sapos do que príncipes. Aliás, muitas vezes é melhor ser um sapo do que um príncipe.

Outro aspecto do amor é o casamento. Na natureza, a seleção é natural, nenhum animal precisa de um documento para provar que ama o seu parceiro. Somente o homem impôs isto. Swift conta que Vênus, uma bela mulher de bom gênio, era a deusa do amor; Juno, uma víbora, a deusa do casamento. E sempre foram inimigas mortais. Inúmeras vezes, o casamento é o primeiro passo rumo à destruição do amor. De fato, não deveria haver tal imposição, mas este assunto deve ser de escolha de cada um. Há vantagens no casamento, como no caso de adoção de uma criança, que não será discriminada socialmente em relação ao filho efetivo do casal.

Do mesmo modo, é um absurdo a Igreja Católica proibir o casamento de um aleijado, por causa da sua impotência. Há outras formas de satisfação sexual para o cônjuge, como o sexo oral, se ambos o admitem. O aleijado pode não ter satisfação sexual, mas tem a satisfação amorosa. Todavia, o clero vê o casamento através da fórmula “crescei e multiplicai-vos”, quando a união de um casal deveria ser vista de forma o mais abrangente possível, ainda porque a referida fórmula está levando ao superpovoamento do planeta, enquanto o controle da natalidade já deveria ser severamente exercido, para sobrevivência de todos.

A espécie humana é a única que adota os casamentos de conveniência, como alpinismo social, melhoria de padrão de vida, ganho financeiro (o dote mudou de feição, mas ainda existe), aparência física e muito mais.  Neste caso, possui pleno sentido o caráter contratual do matrimônio, em que é necessária a presença de testemunhas, pois não passa de mera mercancia. O amor é sempre relegado a um segundo plano.

Igualmente, se um dos cônjuges perde completamente o amor pelo outro, corre o risco de ficar preso até morrer num relacionamento cada vez mais pernicioso, em prol do “até que a morte vos separe”.  Se por um lado dá uma satisfação à sociedade e à religião, por outro surgem vários problemas, como a violência doméstica, o descaso familiar, a manutenção oculta de um (ou mais de um) amantes e o próprio sacrifício pessoal no altar da hipocrisia.

Ouvi contar…

O marido chega em casa e encontra a mulher deitada na cama, completamente nua.

–         O que houve, Solange?

–         Nada, Eduardo… É que as minhas roupas estão tão velhas, desbotadas, rasgadas, que não tenho nada para vestir…

E o marido, abrindo o armário…

–         Como não tem? Na semana passada você comprou três vestidos. Olha aqui o azul, o vermelho, o Alfredo, o verde…

Assim como uma refeição saborosa é preparada com vários ingredientes e cozinhada de modo lento, o mesmo deveria acontecer com o sexo, de forma a torná-lo o mais gostoso possível. Ao par do conhecimento de várias técnicas de satisfação mútua, aliado  ao envolvimento conjunto nos aspectos mentais, emocionais e outros, além do físico, o sexo deve ser saboreado mais lento. Afinal, não se trata de simples malhação física, seguido pela emissão seminal. Isto se converteria em pura masturbação refinada, que é melhor praticar sozinho. Sexo é pura arte mística. É o grande altar do amor. Repetindo o que disse noutro capítulo, o homem é a chave e a mulher o portal por onde transpassam todas as criações do universo. O cosmos inteiro conspira no ato sexual. O grande sentido do amor é quando você se expressa inteiramente. O amor está intimamente associado à livre expressão do Self.

Outro tópico importante é a diferença entre o orgasmo e a emissão seminal propriamente dita. A pessoa pode ter orgasmo sem que ocorra o lançamento dos fluidos. Na verdade, o orgasmo pode e deve se espalhar pelo corpo inteiro, de forma que cada célula se torne altamente viva, antes da ejaculação. Esta prática auxilia no controle da precocidade, sem que se restrinja o prazer. Isto é conhecido como polimorfia sexual.

Magicamente, o sexo é a energia mais poderosa que existe, não só como derivativo para o orgasmo em nível cósmico, uma porta aberta para a transpessoalidade, mas também para mudar eventos de acordo com a vontade do mago. O sexo é sempre um grande ritual, quando realizado da forma o mais intensa possível. Existem inúmeras técnicas neste sentido, mas o segredo ainda reside na profundidade dos amantes, numa comunhão em todos os sentidos. São totalmente dispensáveis a maioria dos tratados tântricos que existem por aí, pois trata-se de um aventura de autodescoberta. No sexo, o homem se torna o lindo animal selvagem que é, sem qualquer controle, além da própria imaginação, daí toda a repressão em cima dele, como a tentativa derradeira de dominação, transformando-o em pecado. É desejável que o ser humano deixe aflorar o sátiro que existe em si. Se a pessoa vê o sexo como algo sujo, logo surgem problemas como frigidez, impotência, ejaculação precoce, além de crimes como o estupro e o atentado violento ao pudor.

Outro fator a ser levado em conta são os mitos românticos. Ou eles supervalorizam a mulher, colocando-a acima do seu alcance, ou a infravalorizam, colocando-a abaixo do seu alcance, mas nunca no mesmo patamar. Nas palavras de Sharyn Wolf, “Os mitos românticos podem nos ferir. Eles nos fazem acreditar que não temos controle sobre a nossa vida amorosa. Isso simplesmente não é verdade. Sua vida social não é determinada pelo destino. É você quem a determina.”

Por fim, Omar Khayyam está totalmente certo, quando afirma que “O amor que não devasta não é amor. A brasa pode espalhar acaso um calor de fogueira? Noite e dia, durante toda a sua vida, o amante verdadeiro consome-se de dor e alegria.” Se o amor é realmente intenso, vivo, ilimitado, vale correr quaisquer riscos. Daí o célebre conselho das Mil e Uma Noites: “Amigo, se te oferecessem as riquezas deste mundo e do outro, em troca de uma noite de amor, recusa esta troca.”

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