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Bruxaria e Paganismo

O Coven

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“E vocês irão se encontrar, se conhecer, se lembrar e novamente se amar.” 
– A Lenda da Descida da Deusa

Covens e Clãs

Cada Tradição de Bruxaria tem maneiras próprias de organização. Um dos pontos em comum entre elas é o Coven. Coven é um grupo, composto por no mínimo dois e no máximo treze bruxos. Alguém pode perguntar: “mas por que tão poucos?” .

A Wicca é uma religião que valoriza a intimidade, amor, respeito e compreensão entre membros de um mesmo grupo. Esta harmonia é essencial à prática da religião: se um só membro do Coven estiver em desequilíbrio com os demais, problemas podem surgir. Portanto, limita-se a treze o número máximo de bruxos, pois, se um número maior fosse permitido, esta relação tão próxima e delicada entre os membros seria impossível.

Como já foi dito, um Coven pode possuir de dois a treze wiccans. O número mínimo se refere a um homem e uma mulher, ou duas mulheres. Dois homens não podem trabalhar sozinhos, em Bruxaria. É sempre imprescindível a presença de uma mulher, como representante da Deusa.

Em nossa Tradição, um Coven segue a regra já exposta quanto ao número mínimo e máximo de integrantes. Também utilizamos o sistema de Clã, que consiste em um conjunto de Covens semi-autônomos, com regência superior da Senhora de um Coven principal.

Tradições de Auto-Iniciação

A grande maioria das Tradições de Bruxaria é extremamente fechada. Partes de suas crenças e rituais são publicadas em livros, mas seus principais segredos são reservados somente aos Iniciados. Para ser iniciado em um Coven destas Tradições, é necessária, inicialmente, a aprovação do candidato por todos os bruxos que o formam, ou, no mínimo, de seu Conselho de Sábios. Se o candidato for aprovado, é nomeado um bruxo de hierarquia suficiente para ser seu instrutor. Durante um período de no mínimo um ano e um dia, o aspirante passa por um árduo treinamento, e só então pode ser Iniciado, se ainda o desejar, e se ainda for aprovado pelo Coven.

Esta forma de tornar-se bruxo foi muito útil na época das perseguições, e mesmo depois dela, como maneira de manter o conhecimento em mãos seguras. Com este intuito, sempre foi considerada uma medida justa e digna. Mas, com a popularização da Bruxaria nos anos 70, surgiu uma polêmica que veio à tona no início dos anos 80.

Como pessoas que não tinham acesso a Covens (por não conhecerem nenhum ou morarem a uma grande distância) mas possuíam sincero desejo de serem bruxos deveriam proceder? Seria justo mantê-las afastadas da beleza e da poesia da Wicca ?

Calorosas discussões foram travadas sobre este assunto. Em pouco tempo, podia-se reconhecer dois grupos de bruxos, de acordo com sua postura: os Tradicionalistas, que apoiavam a idéia de que a Bruxaria era uma religião secreta e deveria manter-se assim, conservando os antigos métodos de treinamento e iniciação; e os Reformistas, defendendo uma posição mais liberal, posicionando-se a favor de uma revisão nas antigas regras. Havia também alguns que estavam entre os dois grupos: consideravam o segredo importante, mas algo devia ser feito para que a justiça prevalecesse.

A Bruxaria não é uma “religião organizada”, como o catolicismo ou o islamismo; nunca o foi. Sua beleza está justamente na diversidade de Tradições e enfoques diferentes dados por diferentes bruxos. Cada Tradição possui linhas gerais de procedimentos, e é deixada aos Covens que a representam a decisão ou não de acatá-las. A individualidade é um dos valores mais prezados pelos wiccans. Apesar de ser saudável, esta diversidade de opiniões às vezes atrapalha, como no caso das Iniciações.

O resultado destas discussões foi o surgimento das Tradições de Auto-Iniciação. Sua característica básica já é revelada por sua denominação. Antes de seu surgimento, para ser um bruxo, você precisava “descender” de outros, o que só era possível sendo iniciado por um Coven já estabelecido. Nas novas Tradições , uma pessoa podia iniciar-se sozinho na Arte (sem negligenciar o período de treinamento) e fazer uso um sistema completo de rituais, publicado em forma de livro.

Como era de se esperar, isso causou uma polêmica nunca antes vista. Mas tudo que se faz de novo em Bruxaria causa polêmica. É impossível agradar a todos. Uma coisa é certa: estas Tradições são válidas. Contra elas, não é válido o argumento usado por alguns Tradicionalistas de que revelam segredos da Arte, pois elas definitivamente não o fazem.

Atualmente, a Wicca possui dois ramos: o das Tradições iniciatórias (como a Gardneriana e o Crescente das Fadas) e o das Tradições auto-iniciatórias (como a Seax-Wica e a Wicca da Floresta). Ambas são Bruxaria, mas são diferentes. Há segredos que as iniciatórias possuem que nunca poderão ser reveladas em impressos. Isso não faz das auto-iniciatórias “tradições inferiores”, de maneira alguma. Aqueles que seguirem de forma correta os treinamentos por elas oferecidos e dedicarem-se à religião receberão a inspiração dos Deuses, e toda a Sabedoria da Arte. É só uma questão de tempo e esforço. Já aqueles que preferem ignorar o treinamento e passar à prática dos rituais nada estarão realizando além de uma pantomima sem sentido. Não possuem poder algum, e ainda correm o risco de tomarem grandes sustos. Os Deuses não dão atenção a quem não os respeita.

Até este ponto, nos detivemos em conhecimentos genéricos e introdutórios. A partir de agora, passaremos ao estudo da Wicca da Floresta.

Iniciações e Hierarquia

Há duas maneiras de fazer parte da Wicca da Floresta:

  • Entrando para um Coven que já a utilize como base de trabalho; ou

  • Auto-iniciando-se e formando seu próprio Coven.

Sempre dê preferência à primeira opção, se lhe for possível. Nada pode se comparar ao acompanhamento de outro bruxo com maior experiência. Aprender sozinho sempre é possível, mas pode se tornar um caminho muito difícil e doloroso.

Se conheceres algum membro de um Coven que pratique a Wicca da Floresta, manifeste sua intenção de unir-se a eles. Seu pedido será então analisado, e, se aprovado, passarás por um período de treinamento e então serás iniciado.

Mas é provável que não conheças nenhum Coven. Então, seu caminho é a auto-iniciação. Estude este curso e o máximo de livros sobre a Arte que lhe for possível. Verifique se a Antiga Religião é realmente seu Caminho. Descubra as técnicas e exercícios básicos para qualquer tradição espiritual. Siga-os. Dedique-se. Ao fim do treinamento, realize um Rito de Dedicação, de preferência criado por você mesmo a partir dos conhecimentos acumulados neste ano de estudo. Se você não houver negligenciado nada, terá se tornado um verdadeiro bruxo.

Se houver uma ou mais pessoas que compartilhem com você o desejo de serem bruxos, realizem o treinamento juntos. Talvez vocês sejam a semente de um Coven. Ao término do período de treino, um de vocês deve ser escolhido (de preferência uma mulher) para realizar o Rito de Dedicação. Esta pessoa, então, deve iniciar as outras que já realizaram o treinamento, utilizando um Rito de Iniciação. Não deve haver mais de uma auto-iniciação dentro de um mesmo Coven.

Na Wicca da Floresta um Coven é dirigido por uma Senhora, representante da Deusa, e um Senhor, representante do Deus de Chifres. Este Casal de sacerdotes deve ser eleito em voto direto pelo Coven. A duração de seu mandato é de um ano e um dia, tempo de uma volta completa na Roda do Ano. Podem ser reeleitos no máximo três vezes, pois todos devem ter a chance de coordenarem o Coven.

Todo Coven deve possuir um Conselho de Sábios, constituído por membros que já tenham ocupado a função de Senhores. No início das atividades de um Coven, este Conselho pode ser formado pelos membros fundadores.

Se um casal de bruxos já pertencentes a um Coven decidir formar seu próprio grupo, deve atentar a algumas regras:

  • Ambos devem estar há no mínimo um ano e um dia no Coven.
  • O novo Coven, formado por ambos e por quaisquer membros do antigo Coven que desejarem, permanece um ano e um dia como parte do Clã a que pertence. Isso implica em estar sujeito a decisões do Conselho dos Sábios do Coven principal.
  • Passado o período de semi-autonomia, o novo Coven decide se formarão um novo Clã ou se permanece ligado ao antigo. No caso da segunda opção, os Senhores do novo Coven passam a fazer parte do Conselho dos Sábios do Clã.

Quando novos interessados se dirigirem a um Coven já em atividade, devem passar pela aprovação do Conselho dos Sábios. Se aprovado, um bruxo de sexo oposto ao do candidato deve ser escolhido (ou se oferecer) para dirigir seu treinamento. Ao fim de um ano e um dia, o candidato pode ser iniciado. Nunca deve-se esquecer-se da seguinte regra: um homem só pode ser iniciado por uma mulher, e vice-versa.

Locais de Reunião, Círculos e Vestes

O Coven deve reunir-se em um local discreto, onde seus ritos não possam ser interrompidos ou assistidos por cowans (não-bruxos). Há três possibilidades de locais de reunião:

  • Um círculo ao ar livre;
  • Um cômodo reservado apenas para o Coven; ou
  • Um círculo temporário.

A primeira alternativa é a mais desejável, mas é a mais difícil. Só é possível se algum dos membros do Coven possuir um sítio ou chácara, que possua um local que permita a discrição necessária. Se for possível, é preferível que o local seja uma clareira, ou próximo à água (riacho, lago, açude). O local deve estar marcado apenas por um círculo com três metros de diâmetro que deve ser traçado com pedras. O altar pode constituir-se de uma pedra grande, um pedaço de tronco ou simplesmente um pano estendido ao Sul do círculo.

Se você não tiver a sorte de ter um local como o acima, talvez possua um cômodo em casa que possa ser usado exclusivamente para a Arte. Não há necessidade de ser muito amplo: nove metros quadrados já são suficientes. O círculo, de três metros de diâmetro, deve ser pintado no chão. Não deve possuir nenhum símbolo. Ao centro, deve ficar o caldeirão. O altar, que pode ser uma pequena mesa, fica ao Sul.

A falta de espaço não deve impedir ninguém de adorar seus Deuses. Se não possuir nenhum dos lugares descritos acima, seu Coven deve reunir-se em um cômodo da casa de um dos membros (deve ser sempre o mesmo), que deve ter seu móveis afastados para dar espaço. O círculo deve ser traçado no chão, com o uso de giz. Deve ter três metros de diâmetro. O altar fica ao Sul, e o caldeirão, ao centro.

Todo bruxo deve possuir em casa um pequeno altar a seus Deuses. Pode ser simples, com algumas pedras, símbolos dos Deuses e um cálice com água. O altar pessoal é algo individual, e deve seguir a inspiração do próprio bruxo.

Bruxos geralmente reúnem-se “vestidos de céu”, ou seja, nus. A nudez é sagrada para os Deuses. Não há nenhuma malícia ou segunda intenção na nudez dos bruxos. É até uma maneira de inibir sentimentos desta espécie: pode se tornar constrangedor estar-se nu entre outras pessoas nuas que agem naturalmente. Há vários motivos para a nudez ritual: é um símbolo de liberdade, propicia a igualdade entre os Irmãos do Coven, possibilita um maior afluxo de poder, derruba as máscaras sociais, aumenta a relação das pessoas com o próprio corpo (ao invés de negá-lo, como em outras religiões), etc.

Se o clima estiver demasiado frio ou se os membros do Coven definitivamente não sentirem-se à vontade ‘vestidos de céu’ (o que seria uma pena), podem ser usadas túnicas, desde que feitas de tecidos naturais. Materiais sintéticos prejudicam o poder gerado dentro de um círculo de bruxaria. As cores das túnicas são as seguintes: azuis ou brancas para a Senhora, verdes ou marrons para o Senhor; para o resto do Coven, qualquer cor, desde que não coincida com as dos Senhores. Não tenha preconceitos quanto ao uso da cor preta. Afinal, é a cor da terra onde brota a semente e do útero onde cresce a criança. Utilize-a com sabedoria, sem excessos ou total ausência.

As túnicas não devem possuir capuz. Sua gola deve ser em ‘V’, e devem ir até os joelhos. Um cinto de couro deve ser usado. As mangas não devem ser muito compridas. Nada deve ser usado por debaixo das túnicas. Os pés devem estar descalços.

O Liber Umbrarum e o Livro das Sombras

Todo Coven deve possuir um livro denominado Liber Umbrarum. Nele, escritos à mão pelos Senhores, devem estar todos os rituais contidos neste livro, acrescidos de novos ritos criados pelo Coven. Nele também devem ser registradas a entrada de novos membros e a saída de membros para fundarem novos Covens. Os Senhores do Coven devem registrar no livro todos os participantes e datas de rituais realizados. Qualquer membro do Coven pode incluir feitiços, poesias ou desenhos no Liber Umbrarum, com a devida autorização dos Senhores. Quando um novo Coven for fundado, seus Senhores têm o direito de copiar o que desejarem do Liber Umbrarum do Coven principal.

Cada bruxo deve possuir um livro, escrito à mão, chamado Livro das Sombras. Recebe esse nome por que seus registros são apenas uma ‘sombra’ da experiência que significaram. Nele devem ser registrados impressões pessoais do bruxo sobre ritos realizados, comentários sobre sua evolução na Arte, rituais pessoais, feitiços e escritos sobre herbalismo, artes divinatórias, mitologia ou qualquer assunto que for de seu interesse. Qualquer membro do Coven pode pedir ao dono de um Livro das Sombras para copiar determinado feitiço ou escrito, desde que não se trate de registro de experiências pessoais. Se o pedido não ferir seu direito à privacidade, o bruxo não deve negar este direito à seu Irmão.

Instrumentos Mágicos e Talismãs

Um Coven deve dispor dos seguintes instrumentos mágicos:

  • Um caldeirão de ferro, de tamanho pequeno ou médio.

  • Um incensário ou pira.

  • Um cálice, de preferência de metal.

  • Um pentagrama, de metal (preferencialmente cobre) ou cerâmica.

Cada bruxo deve possuir obrigatoriamente de uma faca de aproximadamente quinze centímetros. Se possível, seu cabo deve ser negro. Dá-se a essa faca o nome de Athame. É a principal arma do bruxo.

Wiccans geralmente usam talismãs dentro de um círculo (ou também fora dele). Seja ele um anel ou um cordão com um pingente, é necessário que tenha a forma circular, para caracterizar a Roda do Ano e o Ciclo de Nascimento e Renascimento. Preferencialmente deve ser feito de prata, metal dedicado à lua e à nossa Deusa. Os pingentes mais comumente usados são o pentagrama (com a ponta para cima, como símbolo do domínio da vontade sobre os elementos, ou com a ponta para baixo, como símbolo do sacerdócio do Deus de Chifres), a lua crescente (símbolo do sacerdócio da Deusa), o ankh (símbolo egípcio da vida eterna) e o utchat (ou olho de Hórus, símbolo da proteção divina). Alguns anéis mais usados: anéis com o pentagrama, anéis com forma de serpente (símbolo da energia sexual) e anéis com símbolos rúnicos. No que tange aos talismãs, vale uma das regras de ouro da Arte: “Faça da maneira que lhe for confortável”. Não há regras fixas. A escolha, neste campo, é pessoal.

Rituais de consagração para todos os instrumentos e também para talismãs são oferecidos em diversas obras; escolha os que lhe parecerem melhores, ou crie-os sozinho.

O Altar

O altar deve ser sempre posicionado no quadrante Sul do Círculo, correspondente ao elemento Terra. Como já foi dito, pode ser uma mesa, um tronco ou um simples pano disposto aos pés do círculo.

Em cima do altar deve estar o seguinte:

Figuras representando os Deuses. Ela à esquerda, ele à direita. Estas figuras podem ser substituídas por símbolos: uma concha para a Deusa, um chifre para o Deus, ou qualquer coisa que tenha significado sagrado para os bruxos do Coven. Ao lado de cada representação dos Deuses deve estar uma vela.

  • O incensário.

  • O cálice.

  • Um pote com água e um pote com sal.

  • Os athames dos bruxos.

  • O Liber Umbrarum.

  • A vela verde do Sul.

  • No centro do altar, o pentagrama.

O Liber Umbrarum pode também ser colocado em uma mesa reservada só para esse fim. O prato com o alimento e a garrafa com a bebida que serão usados no rito fica em baixo do altar.

Se estiver sendo usada uma toalha no altar, dê preferência às seguintes cores: azul, verde e marrom. Também podem ser usadas toalhas estampadas ou bordadas por membros do Coven. No caso de um altar no chão, pode ser utilizado um pequeno tapete, produzindo um efeito interessante.

por k-Ouranos 333, 1993

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