A Dualidade segundo Agrippa

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Cornelius Agrippa

Excerto dos Três Livros de Filosofia Oculta
(Livro Dois – Magia Celestial)

O primogênito é o número dois, pois representa a primeira manifestação da multiplicidade. Este não se submete à mensuração por nenhum número além da unidade, que é a medida comum de todos os números.

Não é composto por uma amalgama de números, mas sim por singularidades. Não se rotula como um número não-composto mas sim, mais apropriadamente, como não-composto em si. O número três é considerado o primeiro número não-composto, enquanto o número dois é a primeira ramificação da unidade e a primeira procriação.

É denominado geração, Juno, e uma corporação concebível, representando a comprovação do primeiro movimento, a forma inicial da paridade, o número primordial da igualdade, extremidade e distância entre entidades. Portanto, é marcado por uma equidade peculiar, sendo o ato próprio desta, uma vez que é composto por dois pesos igualmente ponderados.

É chamado de Número da Ciência, da Memória, da luz e também o número do homem, frequentemente referido como outro e o menor dos mundos. Além disso, é apelidado de número da caridade, do amor mútuo, do casamento e da sociedade, conforme afirmado pelo Senhor:

⁶ Porém, desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea.
⁷ Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher,
⁸ E serão os dois uma só carne; e assim já não serão dois, mas uma só carne.

Marcos 10:6-8

Salomão, por sua vez, proclama que é melhor que dois estejam juntos do que um, pois obtêm benefícios através de sua comunhão mútua:

⁹ Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho.
¹⁰ Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante.
¹¹ Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só, como se aquentará?
¹² E, se alguém prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão depressa.

Eclesiastes 4:9-12

Este é também denominado o número do matrimônio e do sexo, representando os dois sexos, masculino e feminino. Duas pombas geram dois ovos, dos quais emerge o macho do primeiro e a fêmea do segundo. Ademais, é referido como o intermediário, capaz, bom e mau, participante e o ponto de início da divisão, da multiplicidade e da distinção, simbolizando a matéria.

Em algumas circunstâncias, é visto como o número da discórdia, confusão, infortúnio e impureza, como afirmado por São Jerônimo contra Joviano. Ele argumenta que não foi declarado por Deus no segundo dia da criação do mundo, “que tudo era bom”, porque o número dois é intrinsecamente mal.

Essa é a razão pela qual Deus instruiu que todos os animais impuros entrassem na arca em pares, pois o número dois é associado à impureza e é considerado especialmente infeliz em adivinhações, especialmente quando as fontes dessas adivinhações são de natureza saturnina ou marcial, pois esses dois são considerados pelos astrólogos como planetas desafortunados.

Também há relatos de que o número dois pode provocar aparições de fantasmas e temíveis goblins, trazendo infortúnios causados por espíritos malignos para aqueles que viajam à noite. Pitágoras, conforme relatado por Eusébio, afirmou que a unidade é Deus e um intelecto bom, enquanto a dualidade é um demônio e um intelecto maligno, representando uma multiplicidade material.

Portanto, os pitagóricos argumentam que o dois não é um número, mas uma certa confusão de unidades. Plutarco também observa que os pitagóricos chamavam a unidade de Apolo, o dois de Discórdia e Audácia, e o três de Justiça, a mais alta perfeição, repleta de muitos mistérios.

Isso explica a presença de duas tábuas da lei em Sinai, dois querubins encarando o propiciatório em Moisés, duas oliveiras gotejando óleo em Zacarias, duas naturezas em Cristo (divina e humana), assim como as duas aparições de Deus observadas por Moisés – seu rosto e partes traseiras. Além disso, destaca-se a existência de dois testamentos, dois mandamentos do amor, duas primeiras dignidades, dois primeiros povos, dois tipos de espíritos (bons e maus), duas criaturas intelectuais (anjo e alma), duas grandes luzes, dois solstícios, dois equinócios, dois polos e dois elementos (terra e água), que geram uma alma viva.