Categorias
Martinismo

Frases Selecionadas dos Tratados de Jacob Boehme

Leia em 10 minutos.

Este texto foi lambido por 200 almas essa semana.

<-voltar ao sumário

JACOB BOEHME

Traduzido e editado por Anônimo

REGENERAÇÃO E TESTAMENTO DE CRISTO

1

Um verdadeiro cristão, que nascido de novo do Espírito de Cristo, está na simplicidade de Cristo, e não tem contenda ou disputa com qualquer homem sobre a religião.

2

A Cristandade que está em Babel debate-se sobre a maneira como os homens devem servir à Deus e à glorificá-lo; também sobre como eles devem conhecê-lo e o que Ele é em sua Essência e Vontade. Eles também apregoam positivamente que qualquer pessoa que não seja igual a eles em todos os aspectos do conhecimento e opinião não é cristã, mas um herege.

3

Porém um cristão não pertence a nenhuma seita. Ele pode coabitar no meio das seitas e participar de seus serviços, sem estar ligado ou vinculado a nenhuma delas. Possui apenas um conhecimento, que é Cristo nele. Busca apenas um caminho, que é o desejo de sempre fazer e ensinar o que é certo; e coloca todo o seu conhecimento e vontade na Vida de Cristo. Suspira e deseja continuamente que a vontade de Deus seja feita nele e que o Seu Reino seja manifestado nele. Sua fé é um à Deus e à Benevolência, que ele protege envolto em uma esperança segura, confiando nas palavras da promessa, vive e morre nessa fé, embora, em relação ao verdadeiro homem, nunca morra.

4

Pois Cristo diz: “Quem crê em mim nunca morrerá, mas passou da morte para a vida”; e “Rios de água viva fluirão dele”, ou seja, boa doutrina e boas obras.

5

Portanto, eu digo que quem luta e contende acerca da Letra está em Babel. As Letras da Palavra procedem e estão todas em uma Raiz, que é o Espírito de Deus, assim como as várias flores estão todas na terra e crescem umas ao redor das outras. Elas não lutam umas contra as outras por causa de suas diferenças de cor, cheiro e sabor, mas permitem que a terra, o sol, a chuva, o vento, o calor e o frio atuem sobre elas da maneira que desejarem e, ainda assim cada uma delas cresce em essência e propriedade que lhe são peculiares.

6

Todavia acontece assim com os Filhos de Deus; eles possuem diversos dons e graus de conhecimento, mas todos formam um só Espírito. Todos se alegram com as grandes Maravilhas de Deus e agradecem ao Altíssimo em sua Sabedoria. Por que então deveriam discutir a respeito daquele em Quem eles vivem e têm seu próprio ser, e de cuja substância eles mesmos são?

7

Uma grande tolice existente em Babel é as pessoas lutarem pela religião, de modo que elas contendem veementemente sobre opiniões que elas mesmas forjaram, ou seja, sobre a Letra. Pois o Reino de Deus não consiste em opiniões, mas sim em Poder e Amor.

 

8

Como Cristo disse aos seus discípulos e deixou-o com eles no momento derradeiro, dizendo: “Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei; por isso todos conhecerão que sois Meus discípulos.” Se os homens buscassem fervorosamente o amor e a justiça como buscam por opiniões, não haveria contendas na terra, e seríamos como filhos de um único pai, e não precisaríamos de leis ou ordenanças. Pois Deus não é servido por qualquer lei, mas apenas pela obediência. Leis são para os ímpios, que não buscam o amor e a justiça; eles são e devem ser compelidos pelas leis.

9

Todos nós temos apenas uma Ordem, Lei ou Ordenamento – permanecermos quietos diante do Senhor de todos os Seres e entregar nossa vontade a Ele, permitindo que Seu Espírito toque a música que Ele desejar. Assim sendo, oferecemos a Ele, novamente, como Seus próprios frutos, aquilo que Ele opera e manifesta em nós.

10

Agora, se não discutíssemos sobre nossos diferentes frutos, dons, tipos e níveis de conhecimento, mas os reconhecêssemos uns nos outros como filhos do Espírito de Deus, o que nos condenaria? Posto que o Reino de Deus não consiste em nosso conhecimento e suposições, mas sim no Poder.

11

Se não soubéssemos metade do que sabemos e fôssemos como são as crianças, tendo uma mente fraternal e boa vontade uns para com os outros, vivendo como filhos de uma mesma mãe e como galhos de uma mesma árvore, recebendo nossa seiva de uma única Raiz, seríamos muito mais santos do que somos.

12

O conhecimento serve apenas a esse fim, ou seja, saber que perdemos o Poder Divino em Adão e agora nos inclinamos ao pecado; que temos propriedades malignas em nós e que fazer o mal não agrada a Deus; assim, com nosso conhecimento, aprendemos a fazer o que é certo. Acertadamente, se temos o Poder de Deus em nós e desejamos de todo o nosso coração agir e viver com retidão, então nosso conhecimento é nosso lazer, ou fonte de prazer, no qual nos regozijamos.

13

Pois o verdadeiro conhecimento é a manifestação do Espírito de Deus por meio da Sabedoria Eterna. Ele sabe que deseja em seus filhos; ele mostra sua sabedoria e maravilhas por meio de seus filhos, assim como a terra produz suas diversas flores.

14

Agora, se habitamos uns com os outros, como humildes crianças, no Espírito de Cristo, nos alegrando com o dom ou conhecimento do outro, quem nos julgaria ou condenaria? Quem julga ou condena os pássaros na floresta que louvam, com cantos variados, o Senhor de todos os Seres, cada um em sua própria essência? O Espírito de Deus os repreende por não alçarem seus cantos em uma única harmonia? Não vem toda a melodia deles do seu Poder, e não se regozijam diante dele?

15

Portanto, aqueles homens que lutam e discutem sobre o conhecimento e a vontade de Deus, e desprezam uns aos outros por causa disso, são mais tolos do que os pássaros na floresta e os animais selvagens que não têm entendimento verdadeiro. São mais inúteis aos olhos do santo Deus do que as flores do campo, que permanecem em silêncio em submissão tranquila ao Espírito de Deus e permitem que Ele manifeste a Sabedoria e o Poder Divinos por meio delas.

16

Toda a religião cristã consiste inteiramente em aprender a nos conhecer: de onde viemos e o que somos; como saímos da Unidade para a dissensão, a maldade e a injustiça; como despertamos e estimulamos esses males em nós; e como podemos ser libertos e novamente recuperar a nossa bem-aventurança original.

17

Em primeiro lugar, como anteriormente estávamos na Unidade quando éramos os filhos de Deus em Adão antes da queda. Em segundo lugar, como estamos agora em dissensão e desunião, em lutas e contrariedades. Em terceiro lugar, para onde vamos quando sairmos dessa condição corruptível, para onde iremos com a nossa parte antinatural e para onde iremos com a nossa parte natural. E, por fim, como sair da dissensão e da vaidade e entrar naquele único Cristo em nós, do qual todos viemos, em Adão. Nestes quatro pontos consiste todo o conhecimento necessário de um cristão.

18

Por fim, não precisamos batalhar por nada; não temos motivo para contendermos uns com os outros. Que cada um se exercite apenas em aprender como pode entrar novamente no Amor de Deus e de seu Irmão.

19

A Palavra escrita é apenas um instrumento pelo qual o Espírito nos conduz a Ele mesmo, dentro de nós. Aquela Palavra que ensinará deve estar viva na Palavra literal. O Espírito de Deus deve estar no som literal, caso contrário, ninguém é um Professor de Deus, mas apenas um Professor da Letra, um conhecedor da história e não do Espírito de Deus em Cristo.

20

Tudo por intermédio do qual os homens servirão a Deus deve ser feito com Fé, isto é, no Espírito. É o Espírito que aperfeiçoa a obra e torna-a aceitável aos olhos de Deus. Tudo o que um homem empreende e faz com Fé, faz no Espírito de Deus, o qual coopera na obra, e então é aceitável a Deus. Pois Ele mesmo o fez, e Seu Poder e Virtude estão nele. É sagrado.

21

A discórdia e os equívocos sobre a Personalidade de Cristo, o Ofício, e Ser, ou Substância, assim como sobre seus Testamentos que Ele deixou para trás, nos quais Ele trabalha atualmente, surgem da Razão criatural desviada, que opera apenas em uma opinião semelhante a uma Imagem e não alcança o fundamento deste mistério, e mesmo assim deseja ser mestra de todas as coisas e seres, e julgar todas as coisas. Ela apenas se perde nessa semelhança da Imagem, se separa de seu Centro, dispersa os pensamentos e se mantém na multiplicidade, onde seu fundamento fica confuso e a mente inquieta, não mais conhecendo a si mesma.

22

Nenhuma vida pode, indubitavelmente, subsistir, exceto se permanecer em seu Centro, de onde se originou.

23

Quando a Alma, que brotou da Palavra e Vontade de Deus, submerge no desejo de querer a si mesma, mergulhará na mera dubtabilidade, até retornar ao seu Original novamente.

24

Visto que a vida humana é um fluxo do Poder Divino, Entendimento e Habilidade, a mesma deve permanecer em seu Original, caso contrário, perderá o Conhecimento, o Poder Divino e a Habilidade Divina e, com a auto especulação advinda de seus próprios centros e estranhas imagens, onde o seu Original se torna obscurecido e estranho. Portanto, digo que este é o único motivo pelo qual os homens discutem sobre Deus, Sua Palavra, Essência ou Ser e Vontade, porque a compreensão do homem se separou de seu Original e agora segue puramente na vontade própria, pensamentos e imagens em sua própria luxúria egoísta, onde não há conhecimento verdadeiro, nem pode haver, até que a Vida retorne ao seu Original, ou seja, ao Fluxo Divino e à Vontade.

26

Como Cristo nos ensinou quando disse: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino de Deus”. Isso significa que a vida deve voltar-se novamente para Deus, de onde se originou, abandonando todas as próprias imagens e desejos, e assim novamente retornar à Visão Divina.

27

Toda disputa sobre o Ser, Essência ou Vontade de Deus é realizada nas imagens dos sentidos ou pensamentos sem Deus. Pois se alguém vive em Deus e deseja juntamente com Deus, por que necessitaria discutir sobre quem ou o que Deus é? O fato de alguém discutir é sinal de que ele nunca O sentiu em sua mente ou sentidos, e que não lhe foi outorgado que Deus está nele e deseja nele o que ele deseja. É um sinal certo de que ele exalta seu próprio significado e imagem acima dos outros e deseja dominar.

28

Os homens deveriam se conferenciar amigavelmente e oferecer uns aos outros seus dons e conhecimentos em amor, experimentando as coisas uns com os outros e mantendo o que é melhor, sem se apegar à sua própria opinião como se não pudessem errar. Não depende de ninguém a suposição humana de que o Entendimento Divino viria apenas de uma certa pessoa. Pois a Escritura diz: “Examinai tudo e retende o que é bom” (1 Tessalonicenses 5:21).

29

O critério para o verdadeiro conhecimento é, em primeiro lugar, a Pedra Angular, Cristo; os homens devem verificar se determinada coisa é direcionada do amor pelo amor, ou se apenas, de forma pura, é o Amor de Deus que é buscado e desejado; se é feito com humildade ou orgulho; em segundo lugar, se está de acordo com a Sagrada Escritura; em terceiro lugar, se está de acordo com o coração e a alma humana, onde está inserido o Livro da Vida de Deus, que pode ser lido pelos Filhos de Deus. Aqui a mente verdadeira tem seu próprio critério e pode distinguir todas as coisas. Se o Espírito Santo habita no alicerce da mente, esse homem tem critério na medida correta; isso o guiará em toda a verdade.

30

Toda contenda sobre os testamentos de Cristo advém do fato de que as pessoas não entendem o Paraíso, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Elas não entendem que ele está neste Mundo e que o Mundo está no Paraíso, e o Paraíso no Mundo, e que ambos estão em no outro, assim como o Dia e a Noite.

 1 Coríntios 2:7-15[9]

“Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória;
A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória.
Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam.
Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.
Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.
Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus.
As quais também falamos, não com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais.
Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.”

 

Deixe um comentário

Traducir »