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Mindfulness e o Zen dos Pensamentos Negativos

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Julianna Raye

Tradução por Felipe Marx

 “É bom se sentir inútil, só não deixe isso te derrubar.”
Noritake Roshi

No último dia de um retiro recente com Noritake Roshi, tive uma reunião com ele conhecida como sekke, onde o aluno é livre para fazer qualquer pergunta que possa ter sobre a prática Zen. Um tradutor está presente para ajudar na comunicação. No início da minha prática, eu tinha um milhão de perguntas sobre cada pequena nuance de como meditar. Eu estava tentando dominar uma maneira totalmente nova de me relacionar com a experiência. Então, fiz pergunta após pergunta ao meu professor de Mindfulness, Shinzen.

Como o Mindfulness é baseado em técnica e estratégia, você pode perguntar sobre seu processo interno e obter respostas claras e precisas, algo que sempre apreciei muito na forma. Desmistifica o “como” da meditação. E se você já teve a oportunidade de treinar com Shinzen, você sabe que ele é um virtuoso em perguntas e respostas sobre o processo de meditação, então sempre recebi respostas incrivelmente úteis. Com o passar do tempo, minhas perguntas se tornaram menos frequentes. Isso ocorreu em parte porque, à medida que minha prática evoluiu, tive maior clareza sobre o processo, em parte porque aprendi a me aprofundar mais no não saber, deixando a resposta se revelar no tempo (o que o Rinzai Zen enfatiza fortemente) e em parte porque em um certo ponto a resposta será sempre a mesma – continue praticando! Mas não se engane, toda vez que sou apresentada a uma nova técnica ou a um professor diferente, começo do início, fazendo todas as perguntas que preciso, para entender completamente a metodologia.

O Zen da Mente do Não-Saber

Então, quando fiz minha pergunta ao Noritake Roshi, fiz isso com um senso de curiosidade. Eu conhecia as várias maneiras pelas quais a Atenção Plena Unificada poderia responder à pergunta. Eu também sabia que qualquer resposta acabaria por me levar de volta a mais prática. Mas eu queria saber como esse mestre Zen em particular escolheria responder a essa conversa. Cada troca é uma nova oportunidade de descobrir a sabedoria. Cada tradição enfatiza diferentes aspectos da sabedoria e todos os professores compartilham a sabedoria de uma maneira única, destacando uma faceta da prática que você talvez não tivesse considerado. Parte de se tornar um estudante maduro é reconhecer o que melhor servirá à sua prática pessoal em um determinado momento.

A abordagem Rinzai é marcada por respostas que, por definição, colocam você em um estado de confusão. Como estudante Zen, você faz o possível para se deixar desorientar ou confundir com o que quer que seja dito e ver o que emerge disso. Isso às vezes é chamado de “mente do não-saber”. É comumente visto como uma abordagem bastante oposta ao Mindfulness que, como mencionei, normalmente entra na mecânica do método de uma maneira muito prática. De qualquer forma, cultivar a “mente do não-saber” serve para você não importando o estilo de prática que você faça. A vontade de experimentar a mente que não tem respostas – a capacidade de saudá-la habilmente com concentração, clareza e equanimidade (no jargão da Atenção Plena Unificada) sempre leva à mesma sabedoria central, mas com uma nova visão única para o momento.

Quando você luta com pensamentos negativos

Então, eu compartilhei algo com o qual eu estava lutando na minha prática. Eu me tornei vulnerável e o fiz com seriedade, esperando uma nova perspectiva. Eu disse ao Roshi que, no silêncio prolongado do retiro, eu me tornara muito consciente de pensamentos persistentes e sentimentos de inutilidade. Eu disse a ele que podia ver como esses pensamentos e sentimentos me tornavam excessivamente dependente da validação de fora de mim. Eu disse que podia ver também como esses pensamentos e sentimentos me faziam hesitar e me impediam de dar mais de mim, livremente e com confiança. Pedi sua reflexão sobre isso. A resposta dele? “É bom se sentir inútil.”

“É bom se sentir inútil?!” A princípio, pensei que ele tivesse entendido mal a minha pergunta. Talvez ele estivesse falando sobre humildade – sim, humildade é uma coisa boa. Mas ele não podia estar dizer o que parecia dizer. Lá estava eu tendo uma revelação sobre pensamentos negativos que eu via como causa de profundo sofrimento pessoal e um obstáculo à minha capacidade de contribuir plenamente no mundo e lá ele estava sugerindo que isso era uma coisa boa! Eu estava em uma luta interna. Eu sabia que o melhor curso de ação seria me deixar ficar completamente burra – “não sei” – mas toda a minha história e toda a minha terapia e toda a minha aculturação se afirmaram tão fortemente que fui arrebatada antes que eu percebesse. A afirmação “É bom se sentir inútil” é antitética à nossa perspectiva psicológica ocidental. Não oferece consolo à mente relembrando experiências vergonhosas do passado. Vai completamente contra o mantra de desenvolvimento pessoal da cultura pop “Você é suficiente!” Então, eu vi minha mente se contorcer de desconforto e lutar com a afirmação. E isso, é claro, é exatamente a natureza do treinamento Rinzai. O Roshi tinha me dado um magnífico Koan e eu o estava torcendo de maneira bastante inábil, como um cubo mágico mental.

O lado positivo dos pensamentos negativos

Noritake argumentou comigo, dizendo que sentir-se inútil era uma posição muito melhor para praticar do que sentir-se cheio de orgulho. Ele mencionou um famoso mestre Zen (o nome me escapa) que fez todo o caminho de se sentir inútil. Sim, claro – orgulho, ideologias rígidas – essas são possivelmente as maiores obstruções para “mente do não-saber”. Ouvi seu raciocínio. Eu até reconheci vagamente a mensagem mais profunda por baixo dela (um mestre zen está sempre apontando para o sem forma). No entanto, eu o desafiei: “Muitas pessoas que andam por aí cheias de orgulho secretamente se sentem inúteis”. Ele assentiu com a cabeça. Então eu abri um pouco mais, dando um passo adiante na minha admissão. Eu disse a ele que não era simplesmente porque eu me sentia inútil – eu fiquei presa no sentimento. Eu vi uma luz se apagar quando ele voltou seu olhar compassivo para mim e gentilmente completou o pensamento: “É bom se sentir inútil, só não deixe isso te derrubar.”

“É bom se sentir inútil, só não deixe isso te derrubar.”
Noritake Roshi

Fonte: https://unifiedmindfulness.com/mindfulness-zen-negative-thoughts

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