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Atziluth: O Mundo da Emanação

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Por Ícaro Aron Soares.

Atziluth ou Atzilut (também Olam Atsiluth, עוֹלָם אֲצִילוּת, literalmente “O Mundo da Emanação”) é o mais elevado dos quatro mundos em que existe a Árvore da Vida Cabalística. Também é conhecido como “perto de Deus”.[1] Beri’ah o segue. É conhecido como Mundo das Emanações ou Mundo das Causas. Na Cabala, cada uma das Sephiroth neste mundo está associada a um Nome de Deus, e está associada ao Naipe de Paus/Bastões no Tarot.

SIGNIFICADO:

Atziluth é o reino da pura divindade. Os quatro mundos da Cabala relacionam-se com a Árvore da Vida de duas maneiras principais:

– Primeiramente, é ensinado que a árvore inteira está contida em cada um dos quatro mundos, e desta forma eles são descritos um em cima do outro, e de forma simbólica, por um diagrama chamado Escada de Jacó.

– Em segundo lugar, ensina-se que a Árvore da Vida pode ser subdividida em quatro seções horizontais, cada uma representando um dos quatro mundos.

Deve ser lembrado que na Cabala cada uma das dez Sephirot da Árvore da Vida também contém uma árvore inteira dentro de si. O reino de Atziluth está, portanto, relacionado às três Sephirot superiores da Árvore da Vida; essas três esferas de Kether, Chokmah e Binah são consideradas de natureza totalmente espiritual e são separadas do resto da árvore por uma região da realidade chamada Abismo (Da’ath).

ORIGENS:

A palavra é derivada de “atzal” em referência a Ezequiel 42:6; e neste sentido foi incorporado à Cabala a partir de Meḳor Ḥayyim (A Fonte da Vida) de Solomon ibn Gabirol, que foi muito usado pelos Cabalistas. A teoria da emanação, que é concebida como um ato livre da vontade de Deus, esforça-se por superar as dificuldades associadas à ideia de criação na sua relação com Deus. Essas dificuldades são triplas:

1. o ato da criação envolve uma mudança no ser imutável de Deus;

2. é incompreensível como o ser absolutamente infinito e perfeito poderia ter produzido seres tão imperfeitos e finitos;

3. é difícil imaginar uma creatio ex nihilo (criação vinda do nada).

O símile usado para a emanação é ou a esponja encharcada que emite espontaneamente a água que absorveu, ou a fonte jorrando que transborda, ou a luz do sol que envia seus raios – partes de sua própria essência – para todos os lugares, sem perder qualquer porção, por mais que seja infinitesimal, do seu ser. Visto que foi o último símile que ocupou e influenciou principalmente os escritores cabalísticos, Atziluth deve ser entendido apropriadamente como significando “erradiação” (compare Zohar, Êxodo Yitro, 86b).

Mais tarde, a expressão “Atziluth” assumiu um significado mais específico, influenciado sem dúvida pela pequena obra Maseket Atzilut. Aqui, pela primeira vez (seguindo Isaías 43:7: “Eu criei”; “Eu formei”; “Eu fiz”), os quatro mundos são distinguidos: Atziluth, Beri’ah, Yetzirah e Assiah. Mas também aqui eles são transferidos para a região dos espíritos e dos anjos:

– No mundo de Atzilah, somente a Shekinah governa;

– No mundo de Beri’ah estão o trono de Deus e as almas dos justos sob o domínio de Akatriel (“A Coroa de Deus”);

– No mundo Yetzirah estão as “criaturas sagradas” (ḥayyot) da visão de Ezequiel, e as dez classes de anjos governados por Metatron;

– e no mundo Assiah estão os Ofanim e os anjos que combatem o mal, governados por Sandalfon.

No Zohar, Atziluth é considerado simplesmente a emanação direta de Deus, em contraste com as outras emanações derivadas das Sefirot. Nenhum mundo quádruplo é mencionado.

Moses Cordovero e Isaac Luria (século XVI) foram os primeiros a introduzir o mundo quádruplo como um princípio essencial na especulação cabalística. De acordo com esta doutrina,

– O mundo de Atzilah representa as dez Sephirot;

– O mundo de Beriah (o mundo da criação), o trono de Deus, que emana da luz das Sephirot;

– O mundo de Yezirah (o mundo do devir), as dez classes de anjos, formando os salões das Sephirot;

– E o mundo de Assiah (mundo da criação, isto é, da forma), os diferentes céus e o mundo material.

Em contraste com o mundo de Atzilah, que constitui o domínio das Sephirot, os outros três mundos são chamados pelo nome geral “Pirud”. Cabalistas posteriores explicam “Atziluth” (de acordo com Êxodo 24:11 e Isaías 41:9) como significando “excelência”, de modo que, segundo eles, o mundo de Atzilah significaria o mundo mais excelente ou mais elevado.

CORRESPONDÊNCIAS:

– A letra yud י no Tetragrama;

– A sefirá de Chochmah e, portanto, o partzuf de Abba;

– O elemento Fogo;

– O nível da alma de Chayah;

– O cérebro (Patach Eliyahu);

– O Shemoneh Esrei no serviço de oração Shacharit;

– Na alegoria do professor e do aluno, a primeira etapa onde o professor tem um lampejo de inspiração, ou um conceito não expandido que deseja dar ao aluno;

– O signo fixo de fogo de Leão (astrologia);

– Dentro da tradição ocidental dos mistérios; o elemento clássico do fogo e o naipe de paus (ou bastões) no Tarô divinatório.

REFERÊNCIAS:

1. MEIJERS, L. D., and J. TENNEKES. “SPIRIT AND MATTER IN THE COSMOLOGY OF CHASSIDIC JUDAISM.” Symbolic Anthropology in the Netherlands, edited by P.E. DE JOSSELIN DE JONG and ERIK SCHWIMMER, vol. 95, Brill, 1982, pp. 200–21. JSTOR, http://www.jstor.org/stable/10.1163/j.ctvbqs310.15. Accessed 12 Aug. 2022.

Kaufmann Kohler (1901–1906). “Azilut”. In Singer, Isidore; et al. (eds.). The Jewish Encyclopedia. New York: Funk & Wagnalls.

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