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Os Fulcanelli

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Rubellus Petrinus

Na nossa URL “Fulcanelli – Via Seca” descrevemos pormenorizadamente quem foi o personagem Fulcanelli, descrito por Geneviève Dubois no seu excelente livro “Fulcanelli Dévoilé”, Editions Dervy, 91, bd Saint-Germain, 75006 Paris. Fulcanelli, é o pseudónimo de Jean-Julien Champagne. Naquela época, como já foi referido ele frequentava também a Livraria do Maravilhoso, propriedade de Pierre Dujols, onde se reunia um grupo famoso de alquimistas à volta de René Schwaller de Lubicz: Henry Coton Alvart, Jean-Julien Champagne, Celli e ainda outros. Pierre Dujols foi mestre de Coton e amigo de Champagne. Foi, como já dissemos, depois da morte de Pierre Dujols, que Jean-Julien Champagne se apoderou dos seus manuscritos sobre alquimia e corta relações com a esposa de Dujols.

Jean-Julien Champagne entrega os manuscritos das Les Demeures Philosophales ao seu discípulo Eugène Canseliet para os publicar sob o pseudónimo de Fulcanelli, sem lhe dizer que eles eram provenientes de Pierre Dujols. Eugène Canseliet chamou sempre a Champagne de “meu Mestre”. Resumindo: Jean-Julien Champagne fazia-se passar por Fulcanelli aos olhos de Canseliet e de Boucher mas foi sempre Pierre Dujols que estava por detrás de tudo.

Nos Fulcanelli há escritos de Schwaller, Coton, Champagne e muito mais de Pierre Dujols, porque ele era, sem dúvida, o Mestre principal de todo o grupo Schwaller. Foi uma “cabala” bem urdida com vista a fazer passar Jean-Julien Champagne por Fulcanelli.

Tudo isto nos foi confirmado pela autora do livro “Fulcanelli Devoillé” Me. Geneviève Dubois, a quem agradecemos.

Feita esta pequena introdução vamos, então, falar-vos de um dos mais famosos livros de Fulcanelli, As Mansões Filosofais.

Não há dúvida de que este livro (na edição francesa são dois volumes) é o mais conhecido e o mais apreciado dos estudantes de alquimia de todo o mundo. Foi por aí que nós também começámos como tantos outros antes de nós o fizeram e, tal como a eles inevitavelmente acontecerá, perdemos anos a tentar desvendar o que esses alquimistas e, principalmente Pierre Dujols, escreveram em linguagem simbólica.

Pierre Dujols foi um erudito com grandes conhecimentos de Grego, Latim, mitologia e bem assim, de alquimia simbólica e também operativa mas os seus escritos são praticamente baseados na simbologia alquímica deixando para segundo plano a prática laboratorial a qual é raramente é referida.

Jean-Julien Champagne que se apoderou dos seus escritos e os entregou a Eugène Canseliet para os publicar, também ele, mais tarde, um erudito com formação superior em Grego e Latim, se bem que naquela época fosse o “moço de recados” do grupo.

A sua erudição é bem presente nos seus livros, principalmente o que nós consideramos o seu melhor livro, “L’Alchime Expliquée Sur Ses Textes Clasiques” no qual o Mestre descreve simbolicamente com excepcional clareza bem como o modus operandi da via seca do antimónio para aqueles que já tenham alguns conhecimentos da Arte.

Pelo contrário, As Mansões Filosofais sendo um livro onde as diversas vias alquímicas como a húmida e dos amálgamas são descritas parcialmente e simbolicamente numa amálgama tal que para o iniciado no estudo da alquimia é um verdadeiro labirinto sem saída.

Mas, mesmo assim, ele é citado frequentemente pelos estudantes da Arte nos diversos fóruns (listas) de alquimia, cada um com a interpretação que lhe parece a mais adequada sem nenhum sentido prático por vezes tomando os texto à letra.

As Mansões Filosofais, como já referimos, é um amálgama das diversas vias alquímicas por vezes contraditórias, dispersas por todo o livro sem ordem nem sequência conforme as descrições simbólicas que foram feitas das esculturas ou imagens encontradas nas Mansões visitadas pelos autores.

Sabemos que Pierre Dujols, Champagne e Canseliet trabalharam na via seca do antimónio, por isso nas Mansões Filosofais predomina a descrição simbólica dessa via.

Mesmo assim, não é nada fácil e diremos até quase mesmo impossível para aqueles que não conhecerem o simbolismo e, sobretudo, o modus operandi da via seca, encontrar no livro a sequência desta Obra.

Como em muitos livros de alquimia, também neste, onde o simbolismo se sobrepõe à prática, os autores não foram muito caridosos. A sua grande virtude é a erudição do principal autor Pierre Dujols nas diversas descrições simbólicas e a bibliografia mencionada que nos ajudou a encontrar os livros de outros alquimistas clássicos onde pudemos continuar os nossos estudos sobre a Arte.

Os autores não escondem esta dificuldade da interpretação dos livros sobre alquimia como podemos ver nos textos seguintes da edição portuguesa as Mansões Filosofais, Edições 70, Colecção Esfinge, Lisboa, 1977. edi.70@mail.telepac.pt

Pg. 89. «A alquimia só é obscura porque é oculta. Os filósofos que quiseram transmitir à posteridade a exposição da sua doutrina e o fruto dos seus labores bem se precaveram de divulgar a arte apresentando-a sob uma forma comum, para que o profano dela não fizesse mau uso. Também foi pela dificuldade de ser compreendida, pelo mistério dos seus enigmas, a opacidade das suas parábolas, que a ciência se viu relegada para o campo dos devaneios, das ilusões e das quimeras.

Decerto, esses velhos calhamaços de tons bistrados não se deixam penetrar facilmente. Pretender lê-los à maneira dos nossos livros seria equivocar-se. Contudo, a primeira impressão que deles se colhe, por estranha e confusa que pareça, nem por isso é menos vibrante e persuasiva. Adivinha-se neles, através da linguagem alegórica e da abundância duma nomenclatura equívoca, esse fulgor de verdade, essa convicção profunda nascida de factos certos, devidamente observados e que não devem nada às especulações fantasistas da imaginação pura.»

Pg.129. «Em resumo, a ciência alquímica, de extrema simplicidade nos seus materiais e na sua fórmula, resta no entanto a mais ingrata, a mais obscura de todas, atendendo ao conhecimento exacto das condições requeridas, das influências exigidas. É aí que reside o seu todo misterioso, e é para a solução desse problema árduo que convergem os esforços de todos os filhos de Hermes.»

Efectivamente assim é. Todos os esforços dos estudantes de alquimia que lêem os Fulcanelli convergem neste sentido mas, infelizmente, na maior parte dos casos, por serem lidos à maneira dos nossos livros, são insuficientes para conseguir interpretar simbolicamente os textos e depois adaptá-los à prática por haver, por vezes, ideias preconcebidas que lhes dificultarão ainda mais a sua compreensão e os levarão a “especulações ditas filosóficas” pela má interpretação dos textos.

A leitura anterior de outros livros de alquimia e também por vezes algum convencimento dos conhecimentos alquímicos erroneamente adquiridos, poderão ter contribuído para isso conforme é referido no texto seguinte:

Pag.157. «Estes conselhos são talvez supérfluos, dado que reclamam, quando postos em prática a aplicação duma vontade obstinada, de que os medíocres são incapazes. Sabemos o que custa trocar os diplomas, as chancelas e os pergaminhos pelo humilde capote do filósofo. Tivemos de esvaziar, aos vinte e quatro anos esse cálice de amarga beberagem. De coração magoado, com vergonha dos erros da nossa Juventude, tivemos de queimar livros e cadernos, de confessar a nossa ignorância e, modesto neófito, decifrar uma outra ciência nos bancos duma outra escola. E é também para aqueles que tiveram a coragem de esquecer tudo que nos damos ao trabalho de estudar o símbolo e de o despojar do véu esotérico.»

Como podereis ver pela numeração das páginas, nas Mansões Filosofais nada se encontra numa sequência lógica que vos permita estudá-lo facilmente. Foi exactamente esse o trabalho de pesquisa que nos propusemos fazer relendo novamente os textos que lemos faz mais de trinta anos na edição francesa e colocá-los na sequência da via seca que foi aquela que Fulcanelli e o seu discípulo Canseliet fizeram, embora muitos estudantes menos instruídos na Arte não o admitam.

Isto só nos foi possível por já alguns anos, termos feito a via seca até às Águias ou Sublimações, caso contrário nunca o conseguiríamos fazer e, tal como a maioria, enveredávamos pela especulação ou por aquilo que nos textos nos parecia ser o seu significado mais adequando.

Começaremos com a descrição do Sal ou fogo secreto da via seca. Esta descrição foi feita num dos Prefácios de Canseliet sendo a mais sincera e caridosa que encontrámos em todo o livro. O autor (ou autores) das Mansões Filosofais faz algumas descrições do chamado fogo secreto referente a outras vias mas de uma forma muito nebulosa que não dá para entender bem de que via se trata.

No início dos nossos estudos sobre alquimia pensávamos que haveria um fogo secreto universal comum a todas as vias alquímicas. Posteriormente, dada a nossa experiência adquirida ao longo dos anos no estudo de outras vias, constatámos que não é assim. Numa via alquímica o fogo secreto é o agente que vai fazer a separação ou a dissolução (seca ou húmida) das matérias envolvidas, por isso, ele será diferente em cada via.

Pg.30. Prefácio. «Entre os sais que se mostram idóneos para entrar na composição do fogo secreto e filosófico, o salitre pareceria dever ocupar um lugar importante. Pelo menos a etimologia o deixaria presumir. Com efeito, o grego nitron – nitron – que designa o azotato de potássio, vulgarmente chamado nitro, tira a sua origem de uiptv – niptô – ou uizj – nizô – , lavar; ora, sabe-se que os Filósofos recomendavam lavar com o fogo. Todas as purificações, todas as suas sublimações, são feitas com o auxílio de lavagens ígneas, de laveures (lavaduras), segundo o escrito de Nicolau Flamel. Por outro lado, o salitre, quando actua em contacto com as matérias em fusão, ao «fundir-se», transforma-se parcialmente em carbonato de potássio; «alcaliza-se». Ao carbonato de potássio chamava-se outrora sal de tártaro, e o tártaro diz-se, em grego, truz – trux -, com a significação de borra de vinho, escória, sedimento. Este substantivo tem por raiz o verbo trugj – trugô -, enxugar, secar, que exprime a acção própria do fogo, e poder-se-ia, além disso, compará-lo, de modo muito sugestivo, ao francês familiar truc (truque), que tem o sentido de processo oculto, meio hábil ou subtil. O truque da Obra residiria assim na aplicação do sal de tártaro proveniente do ataque do nitro, considerado como a substância, ou como um dos componentes do fogo secreto que os alquimistas reservaram tão rigorosamente nos seus tratados.»

Eis, aqui, uma descrição caridosa do fogo secreto da via seca feita por Canseliet num dos Prefácios das Mansões Filosofais.

Para quem tenha alguns conhecimentos de espagíria (química antiga) e saiba como preparar estes dois sais canónicos, será extremamente simples a compreensão deste texto. Podemos, no entanto adiantar para aqueles que não tenham os conhecimentos necessários para a sua compreensão, que este fogo secreto é composto por dois sais diferentes, um o nitro e o outro o sal vegetal do vinho em proporções iguais (ana). Estes dois sais deverão ser tratados espagiricamente e cristalizados com orvalho para os tornar canónicos e aptos para a Obra como a Arte demanda.

Depois de conhecermos o fogo secreto da via seca, necessitaremos saber qual será o sujeito mineral empregado nesta via. Temos por vezes, verificado uma grande polémica nos fóruns de alquimia quanto à identificação pelos filhos da Arte do sujeito mineral.

Também no início dos nossos estudos, pensava-mos que haveria na alquimia uma matéria universal por ter sido essa a nossa compreensão do que lemos nos Fulcanelli.

Na realidade não é assim. Cada via alquimia implica uma matéria adequada. Numa via húmida a matéria ou sujeito é diferente do da via seca e nem em todas as vias húmidas a matéria é a mesma.

Vamos, então, ver qual é a matéria prima ou sujeito mineral da via seca, tal como ela é descrita nas Mansões Filosofais, com vista à sua identificação pelos filhos da Arte:

Pg.142. « O seu nome tradicional, pedra dos filósofos, representa esse corpo o bastante para servir de base útil à sua identificação. Ele é, com efeito, verdadeiramente pedra, pois apresenta, ao sair da mina, os caracteres exteriores comuns a todos os minerais. É o caos dos sábios, no qual os quatro elementos estão encerrados, mas confusos e desordenados. É o nosso velho e o pai dos metais, estes lhe devendo a sua origem, pois que ele representa a primeira manifestação metálica terrestre. É o nosso arsénico, a cadmia, o antimónio, a blenda, a galena, o cinábrio, o colcotar, o auricalco, o realgar, o orpimento, a calamina, a tútia, o tártaro, etc. Todos esses minerais, pela via hermética, lhe prestaram a homenagem do seu nome. Chama-se-lhe ainda dragão negro coberto de escamas, servente venenosa, filha de Saturno, e «a mais amada de seus filhos». Esta substância primária viu a sua evolução interrompida por interposição e penetração dum enxofre infecto e combustível, que empasta o seu puro mercúrio, o retém e o coagula. E, se bem que seja inteiramente volátil, este mercúrio primitivo corporificado sob a acção secativa do enxofre arsenical, toma o aspecto de uma massa sólida, negra, densa, fibrosa, quebradiça, friável, cuja pouca utilidade a torna vil, abjecta e desprezível aos. olhos dos homens. Nesse sujeito – parente pobre da família dos metais – o artista esclarecido encontra não obstante tudo aquilo de que necessita para É a razão pela .qual eles representaram simbolicamente sua matéria, no seu primeiro ser pela figura do mundo. que continha em si os materiais do nosso globo hermético, ou microcosmo, reunidos sem ordem, sem forma, sem ritmo nem medida.

O nosso globo, reflexo e espelho do macrocosmo, não é pois mais que uma parcela do Caos primordial, destinada, pela vontade divina, ao renovamento elementar dos três reinos, mas que uma série de circunstâncias misteriosas orientou e dirigiu para o reino mineral. Assim informado e especificado, submetido às leis que regem a evolução e a progressão minerais, esse caos tomado corpo, contém confusamente a mais pura semente e a mais próxima substância que há dos minerais e dos metais. A matéria filosófica é portanto de origem mineral e metálica. Daí, não há que procurá-la senão na raiz mineral e metálica, a qual, diz Basilio Valentim no seu livro as Doze Chaves foi reservada pelo Criador e destinada unicamente à geração dos metais.»

Para quem tenha alguns conhecimentos de mineralogia a identificação do sujeito é muito fácil devido às suas características fisico-químicas aqui descritas.

Estas características são confirmadas pela alegoria e simbologia mas, para isso, necessitareis de ter outros conhecimentos de simbologia alquímica adquiridos noutros livros.

Diz o autor que o nosso sujeito é um mineral parente pobre da família dos metais, que viu a sua evolução interrompida por interposição e penetração dum enxofre infecto e combustível, que empasta o seu mercúrio puro, o retém e o coagula. Que é filho de Saturno, volátil com o aspecto de uma massa sólida, negra, fibrosa, quebradiça, friável, cuja pouca utilidade a torna vil, abjecta e desprezível aos olhos dos homens.

Esta descrição do sujeito mineral seria mais que suficiente para que alguns de vós pudésseis identificar o sujeito mineral da via seca.

No entanto, vamos descrever outro texto muito sugestivo da Medula da Alquimia de Filaleto para vos ajudar na sua identificação:

Medula da Alquimia

«A substância que tomamos primeiro em mãos é um mineral semelhante ao Mercúrio que coze na Terra um enxofre cru. Este é chamado de Filho de Saturno, parece de facto vil à vista mas o seu interior é glorioso. É cor de sable, com veios prateados misturados com o corpo cuja linha cintilante mancha o enxofre inato; é todo volátil e não fixo, no entanto, quando tomado na sua crueza nativa purgou o Sol de toda a sua superfluidade.»

Também Filaleto na Medula da alquimia diz que o nosso sujeito é o Filho de Saturno, que é cor de sable (sable em heráldica é a cor negra) com veios prateados cujo corpo cintilante é manchado por um enxofre inato, volátil e que na sua crueza nativa purga o Sol das suas superfluidades.

Mas, vejamos ainda o que Canseliet no Prefácio das Mansões Filosofais nos diz também, para que possamos identificar com precisão e sem dúvidas o nosso sujeito:

Pg.20.Prefácio. «Meditar-se-á na impressionante aproximação cabalística, estabelecida pelo nosso Mestre, entre a lebre e a matéria bruta da Grande Obra, «escamosa, negra, dura e seca», cuja bola crucífera, proliferando no seio da folhagem reveladora, trazida ao seu esquema linear, dá o símbolo gráfico próprio dos antigos tratados. É então a indicação da Terra, quer se trate, já o dissemos, do Caos primordial da Criação alquímica, ou do globo macrocósmico que faz parte dos sete planetas do Céu aos astrólogos.»

Canseliet além de nos confirmar que a nossa matéria é negra, escamosa e seca, o que já sabíamos, refere-se à “bola crucífera” ou “globo macrocósmico” tal como Fulcanelli o faz na descrição do sujeito na página 142. “É a razão pela qual eles representaram simbolicamente sua matéria, no seu primeiro ser pela figura do mundo que continha em si os materiais do nosso globo hermético, ou microcosmo, reunidos sem ordem, sem forma, sem ritmo nem medida”.

Para um estudante atento e medianamente conhecedor de metalurgia e simbologia alquímica o nosso sujeito mineral impõe-se com tanta evidência que é praticamente impossível não saber de que mineral se trata.

Além das características fisico-químicas do sujeito que são bem evidentes nos indicando claramente tratar-se de um sulfureto mineral, negro, friável, fibroso cujo brilho é manchado por interposição e penetração dum enxofre infecto e combustível, que tem as propriedades de purgar (limpar) o Sol (ouro) das suas superfluidades tal como é ensinado nos antigos tratados de espagíria e na Primeira Chave de Basílio Valentim nas Doze Chaves da Filosofia, o autor diz-nos também que ele é representado por um globo crucífero que representa o mundo.

Qualquer estudante de alquimia que tenha consultado uma simples tabela dos símbolos espagíricos (ver na nossa URL) verificará que o símbolo do globo crucífero corresponde ao antimónio. O nosso sujeito mineral, dizemo-lo com toda a honestidade e caridade sem nada vos esconder, é o antimónio mineral ou seja, a estibina.

Pg.396. «Basta indicar que o dragão é escolhido como representante hieroglífico da matéria, mineral bruta com que se deve começar a Obra. Isto mostra a sua importância, o cuidado que é preciso dedicar ao estudo dos sinais exteriores e das qualidades capazes de permitir a sua identificação, de fazer reconhecer e distinguir a matéria hermética entre os múltiplos minerais que a natureza põe à nossa disposição.»

A evidência, como já dissemos, impõe-se de tal forma que não há lugar para qualquer dúvidas, no entanto, muitos estudantes da nossa Arte dizem que Fulcanelli afirma peremptoriamente tal como veremos no textos seguintes que o antimónio não é o sujeito da nossa Arte embora, no fim, refira que Filaleto nos ensina que não é propriamente um mineral, etc.

Pg.245. «E se Basílio Valentim dá àquele o sobrenome de peregrino ou de viajante (stiideux) porque ele tem, diz Valentim, de atravessar seis cidades celestes antes de fixar residência na sétima; se Filaleto nos afirma que só ele é a nossa via (stidic), não são razões suficientes para invocar que estes mestres pretenderam designar o antimónio vulgar como gerador do mercúrio filosófico. Esta substância é demasiadamente afastada da perfeição, da pureza e da espiritualidade que possui o húmido radical ou semente metálica – que não se conseguiria aliás encontrar na terra – para nos ser verdadeiramente útil. O antimónio dos sapientes, matéria-prima extraída directamente da mina, «não é propriamente mineral e ainda menos metálico, como nos ensina Filaleto, mas, sem participar destas duas substâncias, está no .meio entre uma e outra. Nem por isso é corporal, pois é inteiramente volátil: nem é espírito, pois se liquifica no fogo como um metal. É pois um caos que ocupa o lugar de mãe de todos os metais.»

A referência que Fulcanelli faz ao peregrino ou viajante “porque ele tem, diz Valentim, de atravessar seis cidades celestes antes de fixar residência na sétima”, na nossa opinião, e conforme foi descrito na Primeira Chave das Doze Chaves da Filosofia, refere-se a Saturno que é o sétimo planeta alquímico e que na Primeira Chave tem por função purificar o ouro numa Copela com Saturno (chumbo) depois de ter sido purificado pelo antimónio ou Lobo cinzento.

Pg.243. «Estas considerações, baseadas numa exacta correspondência das palavras, não escaparam aos velhos mestres nem aos filósofos modernos, os quais, apoiando-as com a sua autoridade, contribuíram para espalhar o nefasto erro de que o antimónio vulgar era a misteriosa matéria da arte, lamentável confusão, obstáculo invencível onde esbarraram centenas de pesquisadores.»

Vimos que Filaleto na Medula da alquimia identifica perfeitamente o nosso mineral como sendo o antimónio e, por isso, estas observações de Fulcanelli não tem sentido.

São afirmações como estas feitas por Fulcanelli que contradizem as descrições das características do sujeito que foram feitas antes com toda a clareza, que deixam muitos estudantes na dúvida induzindo-os propositadamente em erro para dificultar a compreensão dos textos tal como Canseliet diz:

Pg.21. Prefácio. «Digamo-lo com toda a clareza: A matéria dos trabalhos alquímicos oferece-se, impõe-se mesmo, com tanta evidência, que não há autor, por mais sincero, que dela se não mostre «cioso» que dela não tenha calado velado ou falseado a escolha, até ao ponto de escrever o nome vulgar dessa matéria realmente muito predestinada, para declarar por fim que não é esse.»

Perante estas observações tão pertinentes de Canseliet, não vos restem dúvidas de que em alguns livros de alquimia quer de autores clássicos ou contemporâneos o comportamento é semelhante ou seja, dar simplesmente um nome simbólico à matéria que seja difícil de interpretar ou então dizê-lo claramente e depois negá-lo.

Sabemos qual é o sujeito mineral da via seca mas falta-nos ainda conhecer a segunda matéria que permitirá fazer a Separação, ou seja, extrair o mercúrio ou régulo estrelado (pequeno rei) do mineral bruto ou Dragão negro que depois da Separação, dela se poderá extrair o Enxofre ou Terra Adâmica.

Enxofre

Pg.148. « Este fogo espiritual, informado e corporificado em sal, é o enxofre escondido, porque no decurso da sua operação nunca se torna manifesto nem sensível aos nossos olhos. E no entanto esse enxofre, mesmo sendo invisível, não é de modo algum uma engenhosa abstracção, um artifício de doutrina. Sabemos isolá-lo, extraí-lo do corpo que o encobre, por um meio oculto e sob o aspecto dum pó seco, o qual, nesse estado, se torna impróprio e sem efeito na arte filosófica. Este fogo puro, da mesma essência que o enxofre específico do ouro, mas menos digerido, é, pelo contrário, mais abundante que o do metal precioso. É por isso que se une mais facilmente ao mercúrio dos minerais e metais imperfeitos, Filaleto assegura-nos que ele se encontra escondido no ventre de Aries, ou do Carneiro, constelação que o Sol percorre no mês de Abril; Enfim, para o designar melhor ainda, ajuntaremos que esse Carneiro «que esconde em si o aço mágico» tem ostensivamente no seu escudo imagem do selo hermético, astro de seis raios. É portanto nessa matéria muito comum, que nos parece simplesmente útil, que devemos procurar o misterioso fogo solar, sal subtil e enxofre espiritual, luz celeste difusa nas trevas do corpo, sem a qual nada se pode fazer e que nada poderia substituir.

Fulcanelli neste texto não é suficientemente caridoso para com os estudantes da alquimia na descrição da segunda matéria mas para quem já tem alguns conhecimentos da nossa Arte é suficientemente claro quando diz: ” É portanto nessa matéria muito comum, que nos parece simplesmente útil, que devemos procurar o misterioso fogo solar…”

Nas páginas seguintes, Fulcanelli foi mais caridoso e refere praticamente em linguagem clara o nome comum da segunda matéria.

Pg.281. « Entre os corpos metálicos, aquele que encerra a mais forte proporção de fogo ou luz, latente é o ferro. Sabe-se com que facilidade se pode extrair dele, por choque ou fricção, o fogo interno sob forma de centelhas brilhantes. É este o fogo activo que importa comunicar à matéria passiva; só ela tem o poder de lhe modificar a compleição fria e estéril, tornando-a ardente e prolífica. »

Pg.280. «Aqui já não é questão do aspecto físico, mas sim da preparação da própria matéria. Revelar um segredo desta ordem e desta importância era franquear os limites que nos impusemos. Também não procuraremos, como fizemos até aqui, comentar em linguagem clara a frase equívoca e bem alegórica de Flamel. Contentar-nos-emos em chamar a atenção para esta ponta de ferro, cuja secreta propriedade muda a natureza íntima da nossa Magnésia. separa, e ordena, purifica e ajunta os elementos do caos mineral. Para conseguir esta operação, precisa de se conhecer bem as simpatias das coisas, possuir bastante habilidade, fazer prova de «grande indústria». tal como o Adepto nos dá a entender.»

O investigador atento e sagaz conseguirá facilmente saber qual será a segunda matéria que unida pelo fogo ao nosso mineral por intermédio do fogo secreto permitirá Separar do sujeito o Mercúrio ou régulo estrelado que será depois posteriormente purificado.

Depois da Separação, essa matéria transformada em Caput e depois em Terra Adâmica da qual deverá será extraído o Enxofre alquímico.

Poderíamos explicar-vos detalhadamente esta operação que deverá ser feita num cadinho de barro refractário num forno a gás com uma temperaturas entre 800 e 1000ºC porque já a executámos diversas vezes mas isso não é aqui o nosso objectivo mas sim, demonstrar aos “amantes” dos Fulcanelli, que frequentemente fazem interpretações erróneas dos textos das Mansões Filosofais, que ele descreve principalmente a via seca, que também foi feita posteriormente sem êxito pelo seu discípulo Canseliet.

Separação

Pg.163. «Se desejais possuir o grifo – que é a nossa pedra astral – arrancando-o da sua ganga arsenical, tomai duas (partes de terra virgem, o nosso dragão escamoso, e uma do agente ígneo, que é esse valente cavaleiro armado de lança e escudo. “Arhx, mais vigoroso que Aries, deve ser em menor quantidade. Pulverizai e ajuntai a décima quinta parte do todo desse sal puro, branco, admirável, várias vezes lavado e cristalizado, que deveis necessariamente conhecer. Misturai intimamente; depois, tomando o exemplo da dolorosa Paixão de Nosso Senhor, crucificai com três pontas de ferro, a fim de que o corpo morra e possa ressuscitar depois. Feito isto, libertai o cadáver dos sedimentos mais grosseiros; esmagai e triturai os seus ossos; amassai tudo isso sobre um lume brando com uma vareta de aço. Deitai então nessa mistura a metade do segundo sal, tirado do orvalho que, no mês de Maio, fertiliza a terra, e obtereis um corpo mais claro que o precedente. Repeti três vezes a mesma técnica; alcançareis o jazigo do nosso mercúrio, e tereis transposto o primeiro degrau da escada dos sábios. Quando Jesus ressuscitou, no terceiro dia depois da Sua morte, só um anjo luminoso e vestido de branco ocupava o sepulcro vazio…»

Pg.164. «Quando ouvirdes na vasilha um ruído análogo ao da água em ebulição – rugido surdo da terra a que o fogo rasga as entranhas -, aprestai-vos a lutar e conservai o sangue-frio. Vereis fumos e chamas azuis, verdes e violetas, acompanhando uma série de detonações precipitadas…

Passada a efervescência e restabelecida a calma, podeis gozar um magnífico espectáculo. Sobre um mar de fogo, formam-se ilhotas sólidas, sobrenadam, animadas de movimentos lentos, tomam e (perdem uma infinidade de vivas cores; a superfície delas empola-se, rebenta no centro e fá-las parecer minúsculos vulcões. Desaparecem em seguida para dar lugar a bonitos berlindes verdes, transparentes, que rodopiam rapidamente sobre si mesmos, rolam, esbarram uns com os outros e parecem perseguir-se, no meio das chamas multicores, dos reflexos irisados do banho incandescente.

Ao descrever a preparação penosa e delicada da nossa pedra, omitimos falar da contribuição eficaz que a ela devem dar certas influências exteriores.»

Na Separação, as proporções das matérias indicadas por Filaleto e por Flamel são um pouco diferentes das referidas por Fulcanelli, sendo nove partes do nosso Dragão ou Filho de Saturno e quatro partes do valente cavaleiro armado de lança e escudo ou, para sermos mais caridosos, de Marte e a décima quinta parte do fogo secreto ou sal duplo.

Breviário

«Procurarás, primeiro, tomar o primogénito de Saturno, que nada tem a ver com o vulgar, 9 partes, do sabre de aço do Deus guerreiro, 4 partes. Fá-los rubificar num cadinho. Quando estiver vermelho fundente lança 9 partes de Saturno dentro, como te disse. Este comerá rapidamente o outro: limpa muito bem as escorias fecais que sobem da Satúrnia com salitre e tártaro, por quatro ou cinco vezes. Estará bom quando vires um sinal astral sob o régulo, em forma de estrela.»

Como podereis ver, Flamel foi muito mais caridoso que Fulcanelli na descrição das proporções das matérias e do fundente composto pelos dois sais sendo um o nitro e o outro o tártaro ou sal vegetal do vinho.

Pg.225. « Ora, os nossos dois princípios um dos quais tem a cruz e o outro a lança que lhe atravessará o flanco, são uma imagem, um reflexo da Paixão de Cristo. Tal como Ele, também esses dois princípios, se tiverem de ressuscitar num novo corpo, limpo, glorioso, espiritualizado, precisam de subir juntos ao seu calvário, sofrer os tormentos do fogo e morrer de lenta agonia, ao cabo de um áspero combate.»

Neste texto Fulcanelli descreve resumidamente as matérias ou os dois princípios um dos quais tem a cruz (o globo crucífero) e o outro a lança (o cavaleiro armado de lança e escudo) com que lhe trespassará o flanco. Da luta destes dois princípios sob os tormentos do fogo, renascerá um novo corpo glorioso e espiritualizado que é o régulo estrelado, ou o nosso mercúrio, que será posteriormente purificado pelo menos três vezes.

Estrela

Pg.314. «Dissemos precedentemente que o carácter exterior, que permite a identificação certa desta água, é uma figura estrelada e irradiante que a coagulação faz aparecer à superfície. Acrescentamos que a assinatura astral do mercúrio, tal como é costume chamar a esta marca, se afirma com um vigor tanto maior quanto mais a animação progride e se mostra completa.»

Pg.165. «E a estrela terrestre, luzeiro oculto da nossa Natividade, será o sinal probatório da feliz união do Céu e da Terra, ou, como escreveu Filaleto, «a união das virtudes superiores e das coisas inferiores.»

Pg.267. «Ora, utilizando a via seca, representada pelo caminho terrestre que o nosso peregrino segue, à partida, chega-se a exaltar pouco a pouco a virtude difusa e latente, transformando em actividade o que só estava em potência. A operação fica terminada quando aparece à superfície uma estrela brilhante, formada de raios emanando dum centro único, protótipo das grandes rosas ou rosáceas das nossas catedrais góticas. Ali está o sinal certo de que o peregrino chegou com êxito ao termo da sua primeiro viagem.»

O texto é claro e não necessita mais explicações. Fulcanelli refere-se claramente à estrela que aparece na superfície do régulo marcial estrelado ou mercúrio depois das Purificações.

Para um alquimista experiente que tenha feito esta via até pelo menos às Sublimações facilmente se aperceberá que o Mestre omite o modus operandi das Purificações onde será obtido o Vitríolo filosófico ou Leão verde que permitirá posteriormente fazer as Águias ou Sublimações.

Procurámos em vão no livro um texto que descreve-se esta operação simbolicamente mas não a encontrámos. Poderia passar-nos despercebida. Mesmo assim, ficareis a saber que depois da Separação seguir-se-ão as Purificações mercuriais com vista a tornar o mercúrio ou régulo marcial mais puro e obter o precioso Vitríolo filosófico. Nesta operação a Estrela será bem visível assinalando, como diz Fulcanelli, o sucesso desta operação.

Após as Purificações mercuriais seguir-se-ão as Águias ou Sublimações já considerada a Segunda Obra, com vista à obtenção da Rémora que constitui a Terceira Obra da via seca do antimónio.

Águias

Pg.393. «A longa operação que permite realizar o empastamento progressivo e a fixação final do mercúrio oferece grande analogia com as travessias marítimas e as tempestades que as assaltam. A ebulição constante e regular do composto hermético apresenta, em pequeno, um mar agitado e enfurecido. As bolhas rebentam à superfície e sucedem-se ininterruptamente….»

Pg.394. «Este fenómeno de absorção e de coagulação do mercúrio por uma .proporção muito inferior de enxofre parece ser a causa da primeira fábula da rémora, pequeno peixe a que a imaginação popular e a tradição hermética atribuíam a faculdade de fazer para na sua marcha os maiores navios.»

As Sublimações ou Águias é uma operação muito delicada executada a uma temperatura regular de cerca de 500º C. que requer do artista muita destreza e habilidade. Fulcanelli aborda esta operação muito sinteticamente, no entanto, diz que a proporção do enxofre é inferior à do mercúrio mas omitindo qual é o sal empregado nesta operação. Canseliet no seu livro L’Alchimie Expliquée Sus Ses Textes Clássiques é bastante caridoso e diz-nos que o sal empregado nesta operação é o Vitriol extraído das Purificações Mercuriais.

Avançando mais nesta explicação seria levantar o véu desta complexa operação que nos reteve alguns anos por falta de condições laboratoriais adequadas para a fazer.

Rémora

Pg.122. « E também, segundo a versão do Cosmopolita, o peixe sem osso, équeneis ou rémora «que nada no nosso mar filosófico», e a propósito do qual João-Joaquim d’Estinguel d’In’grofont afirma que uma vez na posse do pequeno peixe intitulado Rémora, que é muito raro, para não dizer único neste grande mar, não tereis mais necessidade de pescar, mas só de pensar na preparação, na condimentação e na cozedura deste pequeno peixe». E, se bem que seja preferível não o tirar do meio em que habita – deixando-lhe se preciso água suficiente para manter a sua vitalidade -, aqueles que tiveram a curiosidade de o isolar puderam verificar a exactidão e a veracidade das afirmações filosóficas.

É um corpo minúsculo – atendendo ao volume da massa donde provém – com a aparência exterior duma lentilha biconvexa, bastas vezes circular, às vezes elíptica. De aspecto terroso mais do que metálico, este botão leve, infusível mas muito solúvel, duro, quebradiço, friável, negro duma banda, esbranquiçado da outra, violeta na sua fractura, recebeu nomes diversos e relativos à sua forma, à sua coloração ou a certas particularidades químicas.»

Fulcanelli nesta parte do texto refere as características da Rémora que é a parte final da Terceira Obra e, na sua cocção final, falharam rotundamente muitos artistas inclusivamente Canseliet.

Por isso, como nos quedámos nas Águias, não poderemos fazer com conhecimento de causa, nenhum comentário.

Finalmente, Fulcanelli descreve-nos as características fisico-químicas da Pedra Filosofal. Não poderemos afirmar com conhecimento de causa se ele descreve estas características por tê-la visto ou feito ou por se referir a descrição contida noutros tratados de alquimia.

Pedra Filosofal

Pg.154. «Deixemos portanto de lado esses processos e essas tinturas. O que importa acima de tudo é reter que a pedra filosofal se nos oferece sob a forma dum corpo cristalino, diáfano, vermelho quando em massa, amarelo depois de pulverizado, o qual é denso e muito fusível, embora fixo a qualquer temperatura, e cujas qualidades próprias o tornam incisivo, ardente, penetrante, irredutível e incalcinável Acrescentemos que é solúvel no vidro em fusão, mas se volatiliza instantaneamente quando é projectado sobre um metal fundido. Eis aqui, reunidas num único sujeito, propriedades físico-químicas que o afastam singularmente da natureza metálica e tornam a sua origem muito nebulosa. Um pouco de reflexão vai tirar-nos de embaraços. Os mestres da arte ensinam-nos que o objectivo dos seus trabalhos é tríplice. Q que procuram realizar em primeiro lugar é a Medicina universal, ou pedra filosofal propriamente dita.

Obtida sob forma salina, multiplicada ou não, não é utilizável senão para a cura das doenças humanas, a conservação da saúde e o crescimento dos vegetais. Solúvel em qualquer licor espirituoso, a sua solução toma o nome de Ouro potável (embora não contenha o (mínimo átomo de ouro), porque apresenta uma magnífica cor amarela. O seu valor curativo e a diversidade do seu emprego em terapêutica fazem dela um auxiliar precioso no tratamento de afecções graves e incuráveis.

Não tem nenhuma acção sobre os” metais, salvo sobre o ouro e a prata, aos quais ela se fixa e que ela dota das suas propriedades, mas, consequentemente, não serve de nada para a transmutação. Contudo, se excede o número limite das suas multiplicações, ela muda de forma e, em vez de retomar o estado sólido e cristalino ao esfriar, permanece fluida como o azougue e absolutamente incoagulável. Na escuridão, brilha então com um clarão suave, vermelho e fosforescente, cuja luminosidade é mais fraca que a duma lamparina vulgar. A Medicina universal tornou-se a Luz inextinguível, o produto iluminante dessas lâmpadas perpétuas que certos autores assinalaram como tendo sido encontradas em algumas sepulturas antigas. Assim irradiante e líquida, a pedra filosofal não é de todo susceptível, em nossa opinião, de ser levada mais longe; querer amplificar a sua virtude ígnea parece-nos perigoso; o menos que se poderia recear seria volatilizá-la e perder o benefício dum labor considerável. Finalmente se se fermenta a Medicina universal, sólida, com o ouro ou a prata muito puros, for fusão directa, obtêm-se o Pó de projecção, terceira forma da pedra. Ê uma massa translúcida, vermelha ou branca segundo o metal escolhido, pulverizável, própria somente para a transmutação metálica.

Orientada, determinada e especificada para o reino mineral, é inútil e sem acção nos outros dois reinos.»

Já vimos uma fotografia da Pedra Filosofal no “Dictionaire de Philosophie Alchimique” de Kamala Jnana a qual se apresenta com as condições físicas referidas por Fulcanelli.

Neste texto foram referidas as “condições exteriores” necessárias à execução da via seca do antimónio bem como de outras vias alquímicas. No texto que se segue Fulcanelli e o seu discípulo Canseliet descrevem sumariamente o que se pode entender em alquimia por condições exteriores. A título de curiosidade poderemos dizer-vos que provavelmente foram estas condições exteriores adversas que contribuíram para que Canseliet não pudesse concluir a Grande Obra no cozimento da Rémora no final da Terceira Obra.

Influências Exteriores

Pg.112. « Para os alquimistas, os espíritos são influências reais, se bem que fisicamente quase imateriais ou imponderáveis. Actuam de maneira misteriosa, inexplicável, inconhecível mas eficaz, sobre as substâncias sujeitais à sua acção e preparadas para os receber. A radiação lunar um desses espíritos herméticos.»

Pg.164. « Seja como for, e a fim de satisfazer, na medida do possível, a legítima curiosidade dos investigadores, diremos que, sem a concordância absoluta dos elementos superiores com os inferiores, a nossa matéria, desprovida das virtudes astrais, não pode ser de qualquer utilidade.»

Pg.46. Prefácio. « Só para a detecção da radiação ultravioleta, que aparelhos, que técnicas, infinitamente complicados, não existem, além dos receptores químicos, sob os auspícios da electricidade! Assim, nos laboratórios de físico-química, pode reconhecer-se que, entre as fontes siderais do raio ao mesmo tempo invisível e químico, fica o firmamento nocturno, o qual, em tempo claro e sereno, irradia poderosamente no seio do fluido violeta. Sem dúvida é ainda possível imaginar até que ponto mudam a natureza e o comportamento do raio situado na franja do espectro luminoso, na sua extremidade escura e fria. quando, vindo do Sol, chega à Terra, depois de ter suportado os efeitos da Lua. Sim, é então que, não obstante a habilidade que requerem, as manipulações do alquimista apresentam essa grande e surpreendente simplicidade, própria de todos os fenómenos da Natureza.»

Muitos estudiosos dos Fulcanelli tem-se questionado se o Mestre (Jean-Julien Champagne) teria concluído a Grande Obra. Geneviève Dubois, no seu livro Fulcanelli Dèvoilé, diz-nos que não. Champagne teria morrido sem concretizar o sonho de toda uma vida, ou seja, a Pedra Filosofal. O mesmo aconteceu com Pierre Dujols.

No entanto, no livro Fulcanelli de Patrick Rivière, Editions de Vecchi, refere que Canseliet fez na fabrica de Gás de Sarcelles uma transmutação de chumbo em ouro sob as indicações do seu Mestre, proveniente de um particular de Vigenère e não com a Pedra Filosofal.

No mesmo livro diz que nessa altura Fulcanelli ainda não tinha obtido a Pedra Filosofal e que finalmente a concretizou no segredo mais absoluto, tendo terminado a última Multiplicação no ano de 1922 e consecutivamente a Grande cocção decidindo fazer a transmutação final, como a tradição o exige, do metal vil em ouro. Diz que o sucesso foi incontestável e por isso decidiu repetir a experiência na presença de testemunhas privilegiadas como Eugène Canseliet, Jean-Julien Champagne e um amigo alquimista Gaston Sauvage. A projecção foi feita também na fábrica de gás de Sarcelles.

Fulcanelli, Patrick Rivière, pg.39 e 40:

«Durante o ano 1920, Eugène Canseliet entra como empregado de contabilidade na fábrica de gás de Sarcelles. A companhia Georgi cedeu-lhe um pequeno local no andar onde ele se instalou. Instala aí um modesto laboratório, onde ele se poderia dedicar ao lazer de todos os tipos de operações alquímicas. É aí que ele realiza no ano seguinte, sob as recomendações do mestre, obviamente, a resolução de um processo mais arquímico que alquímico, considerado pelo antigo autor do Traité du feu et du sel, Blaise de Vigenère, e fundado sobre a sobrefusão do chumbo vulgar.

Concluiu este “pequeno particular” e conduziu-o a um sucesso real que deleitou e encheu de satisfação Fulcanelli.

Ninguém conceberia (escreveu o jovem discípulo), antes que o tivesse experimentado, a mudança profunda que provoca, na composição dos corpos aparentemente simples, a lenta digestão, a fusão prolongada. Embora sua estrutura interna e sua aparência pareçam não ter mudado sensivelmente, apercebe-se rapidamente, durante operações subsequentes, quanto de verdade, eles estão quimicamente modificados. Método muito simples, mas conforme ao exemplo dado por Natureza, assim como as regras da Grande Arte, que torna particularmente fácil a extracção do mercúrio específico de Saturno… (Achimie, Eugène Canseliet, edições J. J Pauvert, Paris.)….

Durante este tempo, Fulcanelli, que até então não tinha ainda obtido a Pedra Filosofal, terminou a Grande Obra no segredo mais absoluto no seu retiro parisience. Tendo terminado no decorrer do ano de 1922 a última multiplicação consecutiva da grande cocção ele decide efectuar a famosa transmutação final do metal vil em ouro assim como a tradição o exige. O sucesso provou então incontestável e ele decide renovar a experiência na presença de testemunhas privilegiadas, seu discípulo Eugène Canseliet, Jean-Julien Champagne e de um amigo químico, Gaston Sauvage, que trabalhava no grupo de Rhône-Poulenc. A projecção devia ocorrer na fábrica de gás de Sarcelles, no quarto do jovem discípulo instalado no modesto laboratório. É algures neste último que ia ser confiada a realização, sob as directrizes do mestre. A pequena chaminé que beneficiava de uma excelente tiragem no seio deste pequeno laboratório improvisado. Fulcanelli tirou então de um tubo três pequenos fragmentos avermelhados que Eugène Canseliet envolve de cera e que ele deitou no chumbo em fusão dentro do cadinho. Ao fim de alguns instantes, ele vazou no molde previsto para o efeito: o ouro era do mais belo brilho! A transmutação estava perfeitamente conseguida, na mais intensa emoção sentida pelo jovem discípulo como se poderia imaginar…

A partir deste momento, o mestre se retirar-se-á. Ele escolheu desaparecer, respeitando dessa maneira a tradição seguida antes dele por numerosos Adeptos da ciência hermética.»

Tudo isto relatado por Patrick Rivière no seu livro Fulcanelli, nos parece muito estranho porque mesmo admitindo que Fulcanelli não fosse Jean-Julien Champagne e se Canseliet foi o discípulo “amado” de Fulcanelli, porque razão este não culminou a Grande Obra e falhou depois de algumas tentativas fracassadas? Certamente um Mestre não esconderia do seu discípulo preferido o segredo da Grande Obra até mesmo nos mínimos detalhes da sua concretização final.

Para finalizarmos, diremos que nos Fulcanelli não foram descritas operações muito importantes da via seca do antimónio como a primeira que é a Purga seguida da Assação. Só depois destas operações preliminares é que é feita a Separação.

Aqui tendes amigos e irmãos na Arte a descrição simbólica da via seca do antimónio feita por Fulcanelli nas Mansões Filosofais que bem poucos alquimistas conseguirão colocar na sua sequência a não ser que já tivessem trabalhado nela pelo menos até à Segunda Obra.

Como dissemos no início, os Fulcanelli privilegiam o simbolismo em detrimento da prática e por isso são propícios às tais especulações ditas filosóficas por aqueles que intentam dar aos textos interpretações que nada tem a ver com a realidade alquímica.

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