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Alta Magia

Mago e Imagem

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Por Steffi Grant

capítulo de A Tradição Oculta: As Monografias Carfax

Seja qual for a origem etimológica da palavra magia, o mago é o descobridor e fundador de imagens. A Magia consiste em sondar a grande Imaginação. É como o x em uma equação; com sua ajuda, a ordem da experiência pode ser mudada, assim transformando e iniciando o aspirante. Portanto, o caminho do mago é melhor do que o caminho comum, que apenas reorganiza a matéria em seu próprio plano, sem referência ao suave núcleo fluídico plasmático que é o verdadeiro substrato subjetivo do mundo das aparências, e que pode ser moldado em imagens verdadeiramente originais — não meras cópias das ossificações do mundo exterior.

O problema é – como criar uma imagem tão mágica da densidade certa; talvez a fluidez da água seja a melhor analogia desse “conceito intermediário”. Não deve ser nem as reflexões vaporosas da autoilusão, a consistência do ouro das fadas, nem a solidez gelada de apenas outra concha mundana, resistente à mudança. As imagens mágicas mais poderosas são atemporais e imortais, porque não sendo trazidas diretamente para a terra, elas não estão sujeitas às suas leis. Elas contornam o censor psicológico por meio de um truque. Não há nenhuma ligação óbvia entre uma partitura e o transe que sua melodia induz, ou entre papel coberto com letras pretas (uma invenção do diabo, dizem, por causa do processo inverso de composição do tipo) e o mundo que ela evoca na mente do leitor, a quem possibilita entrar em contato com o escritor e seu universo independentemente da morte, do tempo e do espaço. Todos os pantáculos são criptogramas esperando para ceder a energia que eles consagram àquele que pergunta, mas pergunta obliquamente, evitando a investida cega e frontal do profano. Talvez seja por isso que todo ocultismo ocidental verdadeiramente criativo, e arte ocidental, como o genuíno jazz negro, sempre tem um “off” ou nota decadente que “envia” e é a chave para destrancar os portões da experiência vital.

O ego tem que ser abalado para revitalizar o familiar. Portanto, poetas e pintores se movem para onde seus véus são mais transparentes; no reino do amor, da morte, da visão. Eles seguem o caminho dos antigos deuses, cujas formas externas estavam em harmonia com as forças que eles consagravam. Amam as ruínas pela nostalgia intensa que induzem ao retorno do espaço infinito onde ele foi tão rigidamente limitado; o desmoronamento de edifícios para eles sugere a libertação da mente da escravidão; o retorno da selva é um restabelecimento do estado fluido primordial que existia antes da construção das fortificações temporais de Assiah.

O caráter do mago determinará até que ponto seu trabalho terá que ser aterrado para encorajar as energias a se manifestarem tangivelmente; tudo depende de quanta prova ele exige da corroboração de seus sentidos físicos para a certeza do sucesso. Se ele quiser que outros participem de sua experiência, ele praticará magia cerimonial, que facilita a materialização de entidades tênues, pois vários celebrantes se concentrarão para juntar suas energias para aumentar a crença. Um bom exemplo é citado no livro “A Sacerdotisa do Mar” da Dion Fortune, onde Morgana só assume seu papel hierofântico externamente quando alguém acredita nela. Na magia simpática, é claro, também é necessário que outros conheçam as práticas de alguém para torná-las eficazes; a conexão mágica é feita mentalmente.

Existem muitos relatos tradicionais de magia cerimonial permitindo que entidades não humanas visitem a terra sem perder sua natureza essencial, e de jivas deixando o corpo sem morrer. No final do século passado, a Ordem Hermética da Golden Dawn fez uma tentativa organizada de transpor o aparente abismo entre os mundos visível e invisível. Eles imaginavam potências sutis de forma tangível na mobília do templo, robes e armas, como as baquetas e cetros ilustrados aqui; sua simbologia sendo baseada na Árvore da Vida Cabalística. A baqueta de Lótus, a baqueta do Adepto Chefe e a baqueta da Fênix apareceram no ritual do Adeptus Minor; os quatro cetros abaixo deles – da esquerda para a direita – eram as insígnias do Premonstrator, Hegemon, Cancellarius e do Hierofante no ritual do Neófito. Esses objetos físicos eram considerados veículos para vários tipos de energia sutil, assim como seus corpos eram preparados como recipientes adequados para entidades intangíveis pela assunção de formas divinas. Eles também tiveram sucesso em reverter o processo e deixar o corpo físico, para praticar vidência no plano astral, usando o sistema de Chamadas Enoquianas do Dr. Dee para facilitar o egresso.

Mas existem muitos tipos de magia que não requerem parafernália desse tipo. A prova de sucesso não precisa necessariamente ser material, pois resultados muito sólidos podem comprometer, limitar e aprisionar por sua própria natureza; é tudo uma questão de quanta fé é colocada no mundo das aparências. Por outro lado, é sempre interessante ver a corroboração científica independente das doutrinas subjacentes às práticas mágicas, como os gráficos publicados pelo Dr. Wilhelm Reich. Na verdade, ele mediu os tipos de energia que considerava ter grandes propriedades terapêuticas e vitalizantes, energias que foram amplamente usadas – e aludidas enigmaticamente – por magistas e alquimistas ao longo dos tempos. Alguns deles se concentravam nas manifestações físicas de tais forças, outros em sua fonte sutil. Os primeiros colocavam mais ênfase no mundo como base, tendo o espírito como núcleo; os últimos consideravam o espírito como a realidade envolvente, com o mundo como uma de uma série de infinitas possibilidades contidas nele.

Não há razão inerente para que o aspecto mais tênue e sutil da imaginação não produza resultados mágicos tão bem quanto, ou melhores do que, recensões mais grosseiras dela, que terão sido prematuramente desvitalizadas por serem associadas ao mundo cotidiano. Que alquimista exigiria para trabalhar o ouro que pode ser obtido por muitos por meios mundanos? Em todo caso, o próprio metal representa vários conceitos: ouro como substância, ouro transformado em ornamentos, ouro representando dinheiro. Todos os três produzem a mesma análise química, mas simbolizam ideias mágicas diferentes, sendo a primeira a radiância solar do Eu como Consciência, e a segunda sendo aquele Eu aparentemente diferenciado na aparência do mundo fenomênico. Quanto ao dinheiro, é uma forma cristalizada de energia usada principalmente como substituto dos produtos da imaginação e da experiência. É bem sabido que o mago geralmente é pobre, ou doente, ou miserável pelos padrões mundanos, e isso é apresentado como prova de que sua magia é ineficaz. Mas nem sempre é percebido que as imagens que ele tece a partir de sua própria substância em torno de si como uma teia de aranha não têm necessariamente nenhuma referência além de simbólica ao mundo de Assiah. O mago e seu poder de criação de imagens assemelham-se ao açúcar e sua doçura, ou à serpente e seu veneno: é uma parte inerente de sua natureza, e não desfrutada ou sofrida por ele como coisas experimentadas de fora.

Fonte: Hidden Lore – The Carphax Monographs, por Kenneth e Steffi Grant.

Texto traduzido por Ícaro Aron Soares.

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