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Magia na Índia – História da Magia

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Neste capítulo, o brilhante ocultista de Dogma e Ritual da Alta Magia se perde na superficialidade e no preconceito. Como historiador da Magia, Levi mostra desconhecimento arqueológico, mitológico, lingüístico, semiótico e teológico. O texto é limitado a uma cultura que não vai além das tradições ocidentais e, como o autor é estudioso da Cabala judaica, enaltece este sistema desvalorizando conhecimentos mais antigos ou simplesmente ignorando a existência desses conhecimentos.

Em relação à Índia, o preconceito de E. Levi é evidente tomando o exotérico por esotérico, apresentando crenças populares e folclore como se fossem a verdadeira face do ocultismo dos bramanes e dos budistas. Usando dois pesos e duas medidas, o Mago ocidental sabe reconhecer simbolismo e alegoria nas escrituras judaico-cristãs mas toma ao pé da letra as metáforas dos livros indianos. Na História da Magia de Levi, a Índia é “…sábia mãe de todas as idolatrias” onde prospera a “deificação do diabo” e a Santíssima Trindade é substituída pela “terrível trimurti dos brahmas” composta “de um criador, um destruidor e um reparador” (Brahma, Vishnu e Shiva). “É a Cabala profana; por isso, longe de fortificar a alma, aproximando-a da suprema sabedoria, o bramanismo conduz o espírito aos abismos da loucura.” (LEVI, 2004 – p 67)

“A Índia, que a tradição cabalística nos diz ter sido povoada pelos descendentes de Caim …a Índia é, por excelência, o país da Goécia e dos prestígios. Lá se perpetuou a Magia Negra com as tradições originais do fraticídio”. Para Eliphas Levi, todas as tradições indianas são resumidas em uma idéia: panteísmo e “a consequência desse panteísmo é a destruição de toda moral; não há mais crimes nem virtudes num mundo onde tudo é Deus. O livro do ocultismo indiano, o Oupenek’hat é o tronco de todos os engrimanços… Este livro é dividido em cinqüenta seções: é uma sombra misturada com clarões… por exemplo, nas seções 11 e 48:

“O anjo do fogo criador é a palavra de Deus. A palavra de Deus produziu a terra e os vegetais que brotam dela e o calor que os alimenta. A palavra do Criador é o Criador e ela é o seu filho único (o Logos). …Não sendo a matéria mais que uma aparência enganadora, o sol, os astros, os elementos mesmos são gênios, os animais são demônios e o homem um puro espírito enganado pelas aparências dos corpos.
Para tornar-se Deus é preciso reter seu alento. Isto é, atraí-lo o maior tempo possível e dele encher-se abundantemente (INSPIRAÇÃO). Em segundo lugar, guardá-lo o maior tempo que puder e pronunciar quarenta vezes, neste estado, o nome divino AUM. Terceiro, expirar também muito vagarosamente… Neste exercício, é preciso tornar-se cego e surdo, e imóvel como um pedaço de pau. …Com um dedo fecha-se um buraco do nariz e inspira-se com o outro. Retém o ar e então, mergulha no pensamento de que Deus é o criador, que está em todos os animais, na formiga como no elefante. Expira, mui devagar emitindo o som divino, AUM, …Fazei isso durante três meses, sem temor, sem preguiça, comendo e dormindo pouco; no quarto mês os Devas se fazem ver a vós; no quinto mês tereis adquirido as qualidades dos devatas; no sexto estareis salvos, vos vos tereis transformado em Deus.” (LEVI, 2004 – p 69)

“É evidente que no sexto mês o fanático bastante imbecil para perseverar em tal prática, estará morto ou doido. …O emprego graduado de narcóticos ou de uma gama de discos coloridos produz efeitos análogos aos que descreve o feiticeiro indiano. …Todas essas práticas (contidas no Oupenek’hat ) são dolorosas e perigosas tanto quanto ridículas e não as aconselhamos a ninguém; mas não duvidamos que elas produzam, num espaço de tempo mais ou menos longo, conforme a sensibilidade dos indivíduos, o êxtase, a catalepsia e o esvaimento letárgico. Para obter visões, para chegar aos fenômenos da segunda vista, é preciso por-se num estado que seja como o sono, morte ou loucura. É nisto, sobretudo, que os indianos são hábeis.”
(LEVI, 2004 – p 71)

Chega a espantar que Eliphas Levi tenha escrito de forma tão ofensiva sobre estas práticas iogues que, com outras palavras, são reescritas e recomendadas por ele próprio e por outros estudiosos ocidentais, quando falam de meditação. Nada há de imbecil ou de loucura em exercícios respiratórios, hoje reconhecidamente benéficos para o equilíbrio do corpo e da mente. São exercícios que, no mínimo, induzem o espírito a um estado de profunda calma, efeito comprovado pela observação científica contemporânea. Em Tratado Elementar de Magia Prática, o ocultista Papus, que também era médico, escreve:

O ritmo respiratório age sobre os centros nervosos de maneira notável. A inspiração rápida age como excitante; a inspiração lenta e sobretudo a expiração prolongada e espaçada, acalmará os centros nervosos. …O pulmão e o coração podem ser considerados como duas rodas com engrenagens entrosadas uma na outra, o que faz com que o aumento do ritmo respiratório seja reproduzido no ritmo cardíaco com reflexos em todo o sistema circulatório. A respiração é, pois, o dispositivo mecânico-orgânico que restabelece o equilíbrio dos fluxos sempre que este equilíbrio se perde por um distúrbio qualquer. (PAPUS, 1995 – p 145/146)

Sobre o Oupnek’hat, continua Eliphas Levi:

Mas não ficam aí os segredos mágicos do Oupnek’hat; existe um que o hierofante tenebroso confia a seus iniciados como grande e supremo arcano …Eis como se exprime o autor do livro indiano: …”Qualquer que seja o pecado que cometa, a má obra que faça, ele não é nunca culpado. Ainda que fosse duas vezes parricida, ainda que matasse um bramane iniciado nos Vedas, qualquer coisa que cometa enfim, sua luz não diminuirá, porque, disse Deus, ‘Eu sou a alma universal, em mim estão o bem e o mal que se corrigem um pelo outro. Aquele que sabe disso não será nunca um pecador; ele é universal como Eu.’ …O grande arcano do Oupnek’hat é, desta forma, absoluto em imortalidade, em fatalidade e em quietismo mortal.

Isso é tudo que Eliphas Levi tem a dizer sobre a História da Magia na Índia. É uma exposição superficial, superticiosa e preconceituosa que ignora as escrituras sagradas da Índia, nada explica sobre os Vedas e os Puranas nem mesmo para fazer uma referência a obras importantes como a Bagavad Gita, as conferências de Buda Sakyamuni e a teosofia baseada na Doutrina Secreta dos Livros ou “Estâncias” de Dzyan, que foram minuciosamente estudados por Helena Petrovna Blavatsky.

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