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Assunção da forma-deus

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Mark Stavish, MA, 13 de abril de 1998

Tradução: Tamosauskas

A técnica conhecida como Assunção da Forma-Deus está entre as técnicas mais impressionantes e desafiadoras do esoterismo. Muitas vezes é necessário um estudo cuidadoso e aprofundado de um panteão escolhido, juntamente com a disposição de passar muito tempo em meditação prolongada e em devoção a cada uma das divindades do panteão. No entanto, se for feito com cuidado e de maneira progressiva e passo a passo, Assunção da Forma-Deus pode oferecer aos ocultistas  insights práticos sobre a profundidade e o poder de antigos cultos, práticas e ideias que a simples leitura sobre eles não pode acessar.

Antecedentes da Técnica

Pense em um lugar e você estará lá. Pense em uma coisa, e você será isso. A ideia fundamental por trás de “Assunção da Forma-Deus” é que dentro de cada um de nós há certa força contida e que vive guardada e que, ao nos identificarmos com as expressões idealizadas desse poder desde os tempos antigos na forma de ‘deuses’, nós podemos despertar através da ressonância, poderes e sabedoria semelhantes dentro de nossa própria psique.

A multiplicidade de divindades, deuses e heróis das mitologias antigas representam os vários meios de expressar os mais elevados ideais humanos de cada época. Surpreendentemente, eles também parecem fazer o mesmo para os praticantes modernos, pois o mundo ocidental carece de uma mitologia moderna coesa e abrangente que responda às questões da vida da mesma forma que as da Grécia ou do Egito.

As mitologias modernas, como “Star Wars” ou heróis da “Marvel”, exercem uma forte influência sobre nossa psique coletiva, mas carecem da veneração coerente, do status sagrado ou da posição político-social que os cultos antigos possuíam. As igrejas modernas, como sobreviventes dos períodos medieval e renascentista, também não apreciam as técnicas da experiência direta [Ao contrário das religiões afroamericanas], embora alguns métodos tenham conseguido sobreviver no catolicismo romano e em algumas seitas protestantes minoritárias. Em suma, se quisermos ter uma técnica que nos ofereça a experiência direta de um ideal em nossas vidas, um verdadeiro meio de encarnar um aspecto da divindade, devemos voltar nossa atenção para os cultos antigos em busca de alguma orientação.

Variações sobre a técnica

A assunção da Forma Divina como uma técnica prática existe em pelo menos três níveis diferentes.

Primeiro Nível

O primeiro nível da prática é o mais fácil e consiste em pouco mais do que sentar em uma cadeira e imaginar que você é sua divindade escolhida – Thoth, Ptah, Jesus, etc. Isso é fundamental para o sucesso nos níveis avançados e é sugerido que esta prática seja realizada até que a competência e a familiaridade sejam desenvolvidas. Da mesma forma, antes disso iniciamos com suposições simples para então passar as complexas indo de minerais, para plantas, para animais e, finalmente, para humanos, neste técnica.

Segundo Nível

No segundo nível, é importante estudar a divindade que você escolheu; na verdade, você pode querer estudar todo o panteão até certo ponto. Ao escolher uma forma divina, não é incomum escolher um para cada um dos poderes planetários e, tanto quando possível, eles devem vir do mesmo panteão. Em muitos casos, os deuses e deusas egípcios são sugeridos por várias razões. Primeiro, eles foram e ainda estão em uso entre os esoteristas e, como tal, têm um poder inerente que torna o sucesso mais fácil. Em segundo lugar, eles são abstratos – nem muito humanos, como as divindades gregas, nem tão inatingíveis quanto os outros.

Quando isso é feito, e você escolheu o deus que deseja assumir, e estudou sua aparência, gestos e maneirismo, você começa a construir uma pequena imagem dele em seu coração. Uma vez que você se sinta confortável com a imagem que construiu, você pode começar a “aumentar” a imagem até que ela quase preencha o seu ser atual. Permaneça neste nível por algum tempo.

De acordo com Dolores Ashcroft-Nowicki, a Assunção da Forma-Deus pode criar uma enorme pressão em seu sistema endócrino, presumivelmente porque estimula os centros psíquicos em um nível muito físico, e deve ser realizada lentamente e com paciência para não criar tensões psíquicas. ou desequilíbrios físicos.[1]

Terceiro Nível

No próximo nível, você desenvolve o deus interior e permite que ele se expanda além do seu corpo, crescendo a uma altura imensa. Você também pode querer senti-lo se fundindo ou “encaixando” com a imagem correspondente no cosmos. Isto é, seu deus cresce para encontrar ou tornar-se um com sua imagem correspondente exata no cosmos. Imagem e reflexo espelhado tornando-se um só.

Em Liber, O Crowley descreve a prática da Assunção usando Nomes Divinos Qabalísticos. A descrição a seguir é derivada desta mas foi tirada do Curso de Qabala dos Filosofos da Natureza.[2]

De acordo com a lição, existem três técnicas fundamentais no ritual mágico-cabalístico ocidental:

  1. Rituais de invocação e evocação.
  2. Vibração e vocalização dos Nomes Divinos.
  3. Identificação do operador com a forma deífica escolhida.

Dos quais, “O domínio desses três pontos leva ipso facto ao domínio do ritual, seja na prática pessoal (solo, por assim dizer) ou em grupo. [3]

Depois de realizar um ritual de banimento do pentagrama e, em seguida, execute um ritual de invocação do pentagrama para primeiro limpar e depois estabilizar a área de trabalho.

A técnica pressupõe uma familiaridade com os deuses do Egito, ou algum outro panteão escolhido. No entanto, pelas razões declaradas, além de serem vistas como as mais ‘mágicas’, as divindades egípcias são as preferidas.

Depois de preparar seu oratório ritualisticamente, sente-se em uma cadeira na postura do deus faraônico ou egípcio, ou com os pés apoiados no chão, as palmas das mãos voltadas para baixo nas coxas e as costas retas.

Imagine que o deus que você escolheu envolve todo o seu ser, um pouco maior do que você é, e que você está em completa identificação com ele. Não apresse esta parte, mas não a ignore antes de prosseguir para a próxima etapa.

Uma vez estabelecida a identificação, levante-se, estenda os braços para os lados e respire profundamente pelas narinas, imaginando que o nome do deus está sendo inalado em uma luz branca flamejante. Deixe o nome descer até seus pulmões, coração, plexo solar, abdômen, órgãos genitais e pés.

Quando tocar seus pés, coloque rapidamente o pé esquerdo para a frente (cerca de um pé), enquanto projeta o corpo e as mãos para a frente (na altura dos olhos), na postura do “Deus Hórus”. Enquanto isso é feito, imagine o nome subindo com força, poder e brilho, de seus pés enquanto exala de suas narinas.

Sinal de Hórus

Sinta como se sua voz levasse o Nome até as bordas do Universo.

Faça uma pausa por um momento e coloque o pé esquerdo ao lado do direito e coloque o dedo indicador esquerdo nos lábios, de modo que você se encontre na posição de “Harpócrates” – o deus do silêncio.

O Sinal do Silêncio de Harpócrates

O sucesso é difícil de descrever, mas uma sensação definitiva será sentida. Se uma única vocalização o esgotar, é considerado um sinal de que funcionou. Ocorrerá uma sensação de calor intenso, início da transpiração e possivelmente dificuldade em permanecer em pé.

Se você ouvir o nome do deus ressoando, “como se levado por mil trovões”, esse som parecerá vir de uma voz enorme vinda de todo o universo e fora dele e também é considerado um sinal de eficiência.

Quanto mais tempo levar para retornar à consciência normal, melhor será o experimento.

Outras autoridades modernas da Golden Dawn sugerem a inscrição do nome e/ou sigilo da entidade em seu coração antes da vibração de seu nome. Em seguida, formule a imagem no “leste” da área do templo em que você está trabalhando e mova-se em direção à imagem e dentro dela, de costas para o “leste” e de frente para o “oeste”.[4]

A Assunção de Harpócrates

A primeira e mais importante das formas divinas usadas em Assunção na Golden Dawn é a de Harpócrates – o filho de Osíris e Senhor da Matéria. Harpócrates é por assim dizer o arquétipo do Mago:

“o deus que é a causa de toda geração, de toda a natureza e de todos os poderes dos elementos’ e como tal ele ‘precede todas as coisas e compreende todas as coisas em si mesmo.'[5]

Depois de mergulhar nas imagens e no simbolismo de Harpócrates, comece sua experiência com um breve período de relaxamento. Você pode, se desejar, preparar sua área de trabalho com um ritual, como o Ritual Menor do Pentagrama, ou simplesmente imaginar-se cercado por uma esfera brilhante de luz branco-azulada.

Então, imagine Harpócrates emergindo da escuridão primordial, em uma flor de lótus. Quando a imagem for real para você, dê um passo à frente e assuma sua pose clássica, com o pé esquerdo cerca de quinze centímetros à frente do direito, e levante o dedo indicador direito até a boca em sinal de silêncio.

Imagine, sinta, que você está se tornando Harpócrates. Em seguida, vibre seu nome – Hoor-po-krat-ist, enquanto você se imagina emergindo das águas primordiais da criação.

Essa visualização também pode se tornar mais potente empregando a seguinte afirmação:

“Hoor-po-krat-ist, Senhor do Silêncio. Hoor-po-krat-ist, Senhor do Lótus Sagrado, Ó Tu Hoor-po-krat-ist (pausa e contempla a força invocada), Tu que permaneces vitorioso sobre as cabeças dos habitantes infernais das águas de onde todas as coisas foram criados, A ti, A ti, eu invoco, pelo nome de Eheieh e o poder de Agla.

Contemple! Ele está em mim e eu nele. Meu é o lótus enquanto eu me elevo como Harpócrates do firmamento das águas… Pois eu sou Hoor-po-krat-ist, o Senhor do Silêncio entronado com o Lótus… Eu sou Ra envolto, Khephra não manifestado aos homens. [6]

Se você for bem-sucedido, poderá experimentar um período de bem-aventurança e extrema elevação.

Nomes Divinos

Costuma-se afirmar que os egípcios tinham dois nomes para seus deuses: um público e outro privado. Eram esses nomes particulares dos deuses que davam poder ao sacerdócio do Egito sobre eles e podiam invocá-los à aparência visível em seus templos. Segundo a tradição, se você conhece o ‘nome’ de um deus, divindade, pessoa ou coisa, pode controlá-lo ou influenciá-lo.

Então, o que há em um nome? Roche de Coppens afirma:

“Nomes são símbolos e meios psíquicos que transmitem e provocam as várias unidades da consciência humana que chamamos de intuições, pensamentos, sentimentos e energias vitais. Como tal, os Nomes são as verdadeiras unidades da consciência humana, agindo como fluxos de pensamentos focados, emoções e “feixes de energia”. Eles são as lentes mentais que concentram toda a atenção em um aspecto da realidade, um poder ou um ser. Os nomes também funcionam como catalisadores para despertar, invocar e evocar certas energias e estados de consciência na Psique. Em resumo, eles são os meios psicoespirituais à nossa disposição para invadir uma certa Presença e induzir um certo estado de consciência ao focalizar nossa consciência. Os nomes são as ferramentas intelectuais pelas quais podemos recriar em nós mesmos uma imagem ou fac-símile daquilo que está fora, ou abaixo, ou acima de nossa consciência… [7]

Esotericamente falando, um Nome é o meio pelo qual podemos conhecer algo, tornando-se seu canal temporário e recriando-o ou permitindo que ele se expresse em nossa consciência e em nosso ser. [8]

Abordagem Sintética

A técnica a seguir é uma síntese das técnicas acima, de modo a aproveitar os vários “truques” usados pelas várias autoridades na técnica.

  1. Realize um ritual menor do pentagrama, ou outro ritual de banimento, para preparar sua área de trabalho.
  2. Se adequado, realize o ritual de hexagrama apropriado. [No caso de uma Forma-Deus que possa ser bem definida em termos planetário.]
  3. Ofereça uma oração, de sua construção, ou clássica, como os Hinos Órficos, ou do Livro Egípcio dos Mortos. [Ver  Libr Astarte vel Berylli. ou o artigo Prompt para Ocultistas – Invocação]
  4. Imagine a divindade perfeitamente em seu coração.
  5. Imagine no coração desta divindade, seu sigilo ou outro sinal.
  6. Imagine esta imagem crescendo para combinar com o tamanho do seu corpo, envolvendo-o, mascarando sua aparência com a dela.
  7. Fique de pé e entoe o nome, e/ou o nome da divindade e o Nome Divino apropriado para a forma divina escolhida. “Em nome de YHVH Aloah Va-Daath, eu sou Osíris, o Senhor Ressuscitado!” Se a divindade não se encaixa facilmente no esquema cabalístico da Árvore da Vida, invoque-a “No Nome Eheieh, e pelo Poder de AGLA, eu sou…..” pois esta forma utiliza os principais Nomes do Espírito do Ritual Supremo do Pentagrama. Em ambos os casos, é importante “inalar os nomes” como descrito anteriormente e exalá-los com grande força e visualização.
  8. Permita que a imagem cresça a uma altura imensa, levando você com ela, pois vocês são um.
  9. Ofereça outra oração de sua preferência, ou simplesmente experimente os resultados de sua invocação.
  10. Quando for o momento certo, faça o Sinal do Silêncio. Descanse e absorva a energia.
  11. Faça um banimento e bata o pé para retornar à consciência normal.

“Como conclusão, que o aspirante a Candidato tenha sempre presente na sua consciência que o TRABALHO deve primeiro SER CONHECIDO PELA CABEÇA, depois SENTIDO PELO CORAÇÃO, depois ESCOLHIDO PELA VONTADE, para ser VIVIDO PELO CORPO, PARA QUE POSSA FAZER A “PALAVRA VIRAR CARNE OU TORNAR-SE O IDEAL QUE ESTÁ CULTIVANDO. [9]

Apoios psicológicos para a técnica

O “Modelo Ideal” de Assagioli

“Devemos nos conscientizar de que cada um de nós tem dentro de si vários automodelos ou modelos do ego, ou – mais exatamente, usando nossa terminologia – personalidades. Tais modelos não são apenas diversos em natureza, mas também em origem e vivacidade, isso constitui não apenas uma das maiores dificuldades, mas também um dos campos mais úteis de aplicação de uma psicanálise correta. “[10]

Assagioli aponta que existem três tipos de modelos que obscurecem e impedem nossa percepção do que realmente somos no tempo presente.

  1. Quem que acreditamos que somos. Superavaliando, ou subavaliando a nós mesmos.
  2. Quem gostaríamos de ser. Modelos muitas vezes idealizados e inatingíveis.
  3. Quem gostaríamos de aparecer aos outros. Cada modelo refletindo um de nossos relacionamentos.Claro, também existem os modelos que são projetados em nós, afetando assim nossas relações com os outros:
  4. Quem os outros acreditam que somos.
  5. Quem os outros gostariam que fôssemos.
  6. Quem os outros gostariam que fossemos aos demais.

Assagioli afirma que o racional por trás dos ‘modelos ideais’ está na “utilização ou aproveitamento da lei psicológica de que toda imagem possui um elemento motor que tende a se traduzir em ação – o que é uma forma um tanto seca e objetiva de indicar o poder criativo da imaginação. Seja com for, o  modelo deve primeiro ser estático e depois “se manifestar em movimento.” As etapas são: primeiro a ideia, que se vista como desejável torna-se um ideal, e então ardentemente procurada surge ou se expressa em forma e função. [11]

Assagioli aponta ainda que os ideais, ou a tradicional ‘adoração de heróis’ nada tem haver com o que hoje chamamos de ‘adoração de ídolos’, tal como é aplicada a jogadores de esportes, estrelas de cinema, homens e mulheres de negócios de moral duvidosa ou celebridades. O Forma-Deus deve ser o modelo que escolhemos, e a forma externa da pessoa viva, ou a própria pessoa. “Deve ser uma ideia, uma imagem, introjetada, e não um apego pessoal ou meramente inspirador do modelo. [12]

No trabalho avançado, uma personalidade inteiramente nova e integrada pode ser “imaginada” e criada dessa maneira.

Peter Roche de Coppens descreve seu uso da técnica de um ‘Modelo Ideal’ em seu trabalho, The Invisible Temple [O Templo Invisível]’, e combina-o com o tradicional uso de “Assunção da Forma Divina e uso de Nomes Divinos.

“Deixe-me dar um exemplo de como usei (e ainda uso) o nome de uma das minhas professoras, que é uma senhora de 85 anos ainda viva em Paris, a quem conheço e me inspiro há mais de 25 anos… .

Na presença dela, eu me transformei: sendo mais eu mesmo no sentido mais elevado, mais vivo, mais criativo, generoso e funcionando em um nível superior de consciência. Quando invoco o seu Nome… imediatamente sinto a sua presença ali e já não me sinto só, mas ligado a Deus, à Humanidade, à Natureza. Tudo o que sei e experimentei com ela retorna imediatamente para mim e está presente em mim quando seu Espírito se conecta ao meu, e eu me transformo novamente com poderosas motivações e impulsos para me tornar a melhor pessoa que posso ser. [13]

Suposições Mágicas

Em seu livro  Invisibility  [Invisibilidade], Steve Richard discute a técnica de Assunção da Forma Deus em relação às práticas da Ordem Hermética da Golden Dawn e seu ritual de invisibilidade. A forma divina usada para esta prática é novamente o deus egípcio de Harpócrates. No entanto, a técnica não se limita apenas a personalidades idealizadas ou arquétipos antropomorfizados. Na verdade, é usado de uma forma muito mais prática: para sintonizar progressivamente com as muitas facetas da criação, ou com outros seres humanos.

“Depois de selecionar seu objeto, sente-se em silêncio, feche os olhos e visualize-o à sua frente. Agora aumente gradualmente o tamanho do objeto em sua visualização até que ele se torne bastante grande, grande o suficiente, na verdade, para que se fosse uma porta aberta que você pudesse passar por ela. Então imagine que você está se fundindo com seu objeto, que você e o objeto estão de fato se tornando um. Depois de sentir que foi bem-sucedido e que, de fato, se fundiu psiquicamente com o que quer que esteja usando, tente se tornar sensível a quaisquer sentimentos ou sensações que possam surgir. Qual é a sensação de ser um pedaço de aço? Com o que se parece? Existem sensações táteis que vêm até você? Quão frio é o seu objeto? Quais são suas texturas?

Se você for bem-sucedido com esse experimento, a primeira coisa que acontecerá é que você realmente sentirá que de fato se fundiu com o que quer que esteja tentando se fundir, se não fisicamente, pelo menos psiquicamente. Então, à medida que progride, você começará a ter sensações reais, intuições e até mesmo pensamentos que lhe ocorrerão durante o experimento e que procederão diretamente dessa sensação de fusão que você produzirá. [14]

Depois de subir na cadeia, do mineral à planta e à vida animal, você pode começar a fazer experiências com seres humanos.

“Agora você será capaz de apenas visualizar o animal ou a pessoa que está à sua frente e, como antes, imaginar que está se fundindo com ele, de modo que suas consciências se fundam e você se torne um com ele.

Nesse caso, você pode querer visualizar-se de pé diretamente atrás da persona que está assumindo e, então, na imaginação, estender a mão e colocar as mãos nas laterais da cabeça da outra pessoa. Agora, imagine que você está colocando a cabeça dele, ou seja, que você está deslizando a cabeça dele sobre a sua, como faria com uma máscara de esqui. Depois de fazer isso, tente ver com os olhos dele, ouvir com o ouvido dele e pensar com o cérebro dele. Os pensamentos dele se tornarão seus pensamentos, e seus pensamentos se tornarão os dele. Usando este método, você pode se comunicar com outra pessoa telepaticamente e implantar pensamentos em sua mente sem que ela esteja consciente de onde eles vieram. [15]

Em outro lugar ele afirma:

“É uma técnica muito versátil, e não seria exagero dizer que um estudante engenhoso pode obter todos os benefícios de qualquer sistema de cultura psíquica apenas desta técnica, sem qualquer outra. [16]

Aplicações alquímicas

A partir dos comentários de Richard, podemos ver que a teoria e a prática por trás da “suposições” não se limitam de forma alguma aos cabalistas e sua miríade de panteões e mitologias. Os alquimistas praticantes podem, e alguns diriam que o fazem, mesmo que inconscientemente, ao trabalhar com materiais de laboratório e seus enigmáticos livros ilustrados.

Através da contemplação constante da Grande Obra, seus componentes e das percepções de que uma troca energética está ocorrendo em algum nível entre seu eu interior e os materiais externos, uma experiência de assunção de “Forma-Deus” é inevitável para o alquimista. Essa experiência de ‘unidade’ pode até ser considerada um sinal de algum grau de sucesso interior ou iniciação no Trabalho em questão.

Através de uma aplicação consciente da técnica, torna-se possível um despertar interior sobre os vários manuscritos, seus autores, o tempo e a cultura em que viveram e, em suma, ver sua Obra através de sua alma. Mesmo que grandes alquimistas como Christian Rosencreutz, Flammel ou Saint Germain fossem mais lendas do que realidade, o uso da Assunção nos permite tocar o arquétipo que eles se tornaram. Em resumo, ao trabalharmos como eles trabalharam ‘assumimos’ eles [Bem com a identificação com a imagem universal d’o Alquimista] da mesma forma que o cabalista ‘assume’ Thoth, Osíris ou qualquer outra divindade que eles escolherem.

A vantagem desta técnica sobre muitas outras está em sua franqueza. Quando funciona, estamos cientes disso. O conhecimento e a experiência que adquirimos costumam ser muito claros e poderosos. A variedade muitas vezes confusa de símbolos subconscientes que os cabalistas percorrem ao interpretar experiências psíquicas, sonhos ou insights de meditação é contornada. Uma intuição costuma ser fruto desse trabalho, significando um nível de experiência mais briático. E assim temos um vislumbre dos poderes de Tiphareth – os poderes da experiência direta.

Resumo

Os usos das técnicas da Assunção, seja de uma forma divina, uma planta, mineral, equipamento de laboratório ou um herói mítico são ilimitados. Quando combinado com um desejo direto e real de nos aperfeiçoarmos e de desdobrar aqueles potenciais ocultos enterrados profundamente dentro de nós, seja através de um ‘modelo ideal’ de caráter mitológico, nos aproximamos cada vez mais de sermos mais  ‘inteiros’ e ‘santos’ .

Talvez não haja nada melhor para citar sobre este ponto do que o ensinamento hermético que diz:

Portanto, se você não se faz igual a Deus, não pode se aproximar de Deus: porque o semelhante é conhecido pelo semelhante. Salte para longe de tudo o que é corpóreo e faça-se crescer até uma extensão semelhante àquela grandeza que está além de toda medida; levante-se acima de todos os tempos e torne-se eterno, então você apreenderá a Deus.

Pense que para você também nada é impossível; considere que você também é imortal e que é capaz de compreender todas as coisas em seu pensamento, de conhecer todos os ofícios e todas as ciências; sinta-se em casa no espírito de cada criatura viva; faça-se mais alto que todas as alturas e mais baixo que todas as profundidades; reúna em si todos os opostos de qualidade, calor e frio, secura e fluidez; pense que ainda não foi gerado, que está no ventre, que é jovem, que é velho, que morreu, que está no mundo além do túmulo: agarre em seus pensamentos tudo isso de uma vez, todos os tempos e lugares, todas as substâncias e qualidades e magnitudes juntas; então você pode apreender Deus.

Mas se você fechar sua alma em seu corpo e se humilhar e disser: “Não sei nada, não posso fazer nada, tenho medo da terra e do mar, não posso subir ao céu; Não sei o que fui, nem o que serei, então o que você tem a ver com Deus? Seus pensamentos não podem apreender nada belo e bom, se você se apegar ao corpo e ao mal. Pois é o cúmulo do mal não conhecer a Deus; mas ser capaz de conhecer a Deus, e desejar e esperar conhecê-lo, é o caminho que conduz diretamente ao bem; e é um caminho fácil de viajar.

Notas

[1] The Sacred Cord Meditations by Dolores Ashcroft-Nowicki, Aquarian Press, Wellingborough, Northhamptonshire, 1990. P. 107.

[2] Lesson 67, p. 5.

[3] Ibid.

[4] The Secrets of a Golden Dawn Temple by Chic and Sandra Cicero. P.374.

[5] Ibid. p.130.

[6] Ibid. p. 132.

[7] Ibid, p. 84.

[8] Ibid

[9] The Invisible Temple by Peter Roche de Coppens. Llewellyn .p. 17.

[10] Psychosynthesis by Roberto Assangioli . p. 166.

[11] Ibid, p. 168.

[12] Ibid, p. 169.

[13] Roche de Coppens, p. 93.

[14] Invisibility – The Art of Vanishing by Steve Richards, Aquarian Press, Wellingborough Northamptonshire, 19 . p. 125.

[15] Ibid, p. 126.

[16] Ibid. p. 124.

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