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Cultos Afro-americanos

Morte Súbita entrevista T.Q.M.B.E.P.N.

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Pioneirismo é certamente o nome que descreve o Templo de Quimbanda Maioral Beelzebuth e Pantera Negra. Eles trouxeram outra visão da Quimbanda, mais sofisticada, longe do marketing barato e ideias profundamente entrelaçadas com o cristianismo, ao qual, grande parte das religiões afro possuem. Por tal, a equipe da Morte Súbita In., buscou o Templo e obtendo uma resposta positiva demos início a uma conversa no mínimo curiosa, carregada de novos princípios, sagacidade e acima de tudo, legitimidade com a energia da Quimbanda.

Em primeiro lugar, conte-nos um pouco sobre a história do Templo.

R.: O Templo de Quimbanda Maioral Beelzebuth e Exu Pantera Negra iniciou seus trabalhos esotéricos em Novembro de 2012 na cidade de São Bernardo do Campo-SP.

Não tínhamos pretensão alguma de expandir ou tornar público nosso trabalho, haja vista que nossa compreensão acerca do Culto difere-se do costumeiro entendimento acerca da Quimbanda. Isso ocorreu principalmente pelo fato de que os integrantes do ‘núcleo raiz’ tiveram experiências (e iniciações) com outras Tradições Sinistras além da Quimbanda. Naturalmente que tais práticas acabaram influenciando a forma do grupo enxergar os ‘tabus’ existentes dentro do Culto.

Em Março de 2013 resolvemos tornar pública nossa opinião e, de forma despretensiosa, montamos um site contendo uma série de textos. Tínhamos ciência que os reflexos seriam extremamente negativos, entretanto, desejávamos observar os impactos de nossas conclusões pessoais. Em poucas semanas fomos surpreendidos com índices positivos de receptividade que eram consideravelmente superiores às barreiras dos Tradicionalistas.

Como todo grupo esotérico, enfrentamos certas dificuldades até ‘afinarmos’ um grupo realmente comprometido. Mas todo esse processo nos fez amadurecer espiritualmente para que pudéssemos pensar de forma expansiva.

Quem é o Maioral a que se referem ?

R: Maioral é um conceito muito amplo e deveras esotérico. Em primeiro lugar entendemos que todo sistema magístico necessita de uma fonte alimentadora. Como um dínamo que constantemente gera uma corrente contínua e é alimentado pelas forças exteriores e naturais. Maioral é uma síntese elementar formada para suprir e direcionar as energias que formam os Sete Reinos da Quimbanda. Sua corrente primal, sob nossa compreensão, encontra-se no ‘Além-Cosmos’.

Dessa forma, Vossa Santidade Maioral é uma composição de Fogo, Ar, Água e Terra. Observando através de correspondências, analogias e sincretismos, temos a certeza que essa Fonte possui atributos das Quatro Grandes Torres do Caos que regulam diversos aspectos internos e externos do despertar interior. Apesar de regular um plano astral e cósmico, V.S Maioral emana as energias primordiais aos nexions que buscam um avivamento do verdadeiro poder divino (que se encontra além da Criação).

Transcreveremos uma passagem do nosso livro que explica detalhadamente essa situação:

A “Quimbanda Brasileira” é uma forma de culto diferenciada. Primeiramente, essa classificação demoníaca baseada em grimórios medievais não é base doutrinária adequada para nosso culto de Exu. Sob nosso entendimento, Maioral é um grande Portal composto por forças que estão além da compreensão profana. Maioral é a expressão máxima da unificação de todas as culturas e de todos os Reinos, Legiões e Povos da Quimbanda. Maioral, ou o Grande Dragão Negro, é a antítese de todas as religiões que acorrentam e submetem os seres humanos aos dogmas comportamentais, ou seja, tudo que é tido como tabu ou pecado não faz parte dessa energia. Maioral é o buraco negro que suga as lágrimas do medo e transforma-as em energia e vitalidade. Maioral é o grande trono que está na escuridão de nossos subconscientes, habitando nas nossas “feridas” e traumas. Maioral acorrenta e  liberta segundo nossa força de buscar o que está além dos nossos sentidos, Maioral é o Reino dos antigos deuses demonizados e vencidos pela cegueira humana, cuja principal função é iluminar a jornada daqueles que se atrevem ajoelhar-se diante sua Luz. Maioral é a força que se rebelou quando o homem foi preso nos invólucros materiais (corpo físico), aquele que deu ao homem o direito de aprender e apreciar as artes, literatura, ciência, dança, como também, a guerra e a destruição. Maioral é a quintessência de muitos seres unificados que lutam para extinguir as formas de aprisionamento da psique humana dos que o buscam, como o ódio, a paixão, a ilusão, a soberba material, a cobiça desenfreada e a luxúria, todavia, alimenta as fornalhas qliphóticas que incendeiam a alma dos moribundos cegos e limitados. De tal forma, não podemos limitar Maioral apenas a Lúcifer, Beelzebuth e Astaroth como fazem os profanos. Maioral são todos os antigos deuses fundidos na chama de Lúcifer! (Quimbanda- O Culto da Chama Vermelha e Preta- Editora Capelobo – SP – 2015)

V.S Maioral x “Exu Maioral”

Outro ponto de muita relevância é desmistificar a ideia de que é possível um corpo humano suportar esse dínamo. Fica evidente que V.S Maioral não possui ‘eleitos’ no plano material (ou em qualquer plano cósmico) capazes de suportar sua pressão. Na Quimbanda Tradicional vemos muitas pessoas alegarem que incorporam Maioral ou Exu Sombra (resultado do sincretismo umbandista). Essas pessoas são reflexos da falta de estudo e compreensão que edificou a Quimbanda durante muitos anos.

Entendemos que a Quimbanda é um sistema eclético que absorveu determinados conceitos. Assim, percebemos que algumas palavras sejam ‘máscaras’ ou uma espécie de títulos que os espíritos ostentam. Em algum ponto do processo formador desse complexo sistema alguns espíritos manifestados através de incorporação se nomearam como ‘Maiorais’. Esses espíritos estavam a serviço de uma força maior que desejava ser conhecida e cultuada e por tal motivo, usava os Exus “Chefes de Chão ou Governantes de determinado Terreiro” como expoentes da mesma. Não que fossem Maiorais, mas como dirigentes espirituais de um local eram os ‘maiores’ (aplicadores de regras e doutrinas) de seus terreiros/templos. Mas o ego de alguns dirigentes fizeram-nos acreditar que incorporavam o próprio Maioral e mitos, lendas e mentiras foram se espalhando em todo mundo. Exu Maioral não existe! O que existe são Exus que se nomeiam como Maiorais a fim de demonstrarem sua força de dirigentes/gestores de trabalhos espirituais.

Vocês estão lançando um livro agora, “Quimbanda – o Culto da Chama Vermelha e Preta”. Do que esse livro irá tratar? Será uma abordagem teórica ou terá praticas para um praticante solitário?  

R.: O livro é um conjunto de estudos feitos ao longo de mais de 15 anos. Nele estão nossas principais crenças e descobertas acerca desse Culto. Não fizemos algo para agradar a classe “A” ou “B” dos cultos afro-brasileiros, pois sabemos que existe uma parcela que se considera ‘proprietária’ de certos ritos e mistérios e usa dessa maquiagem para autopromoção. Uivamos pela LIBERDADE! São 563 páginas de guerra pura.

Dentro das nossas experiências relatamos teoria e prática. A teoria visa formar livre pensadores que poderão desdobrar ainda mais o potencial desse Culto. Mostra abertamente realidades que são consideradas ‘mistérios de religião’, retrata os Exus sem contos ou fábulas e apoia o praticante solitário. Obviamente que nem todos os ritos da Quimbanda são isentos de trabalho em grupo, entretanto, a base para escalar satanicamente qualquer trilha sinistra deve ser solitária e os grandes conhecimentos e gnoses vem aos adeptos através dos próprios espíritos. Nosso Templo e nosso livro apoiam o adepto que entende a energia que está evocando ou invocando, que sabe as respostas básicas acerca dos fundamentos dessa expressão religiosa e que deseja evoluir dentro da nossa corrente. Para eles é que esse livro foi escrito.

Os sacrifícios animais são práticas comuns dentro dos sistemas afro-brasileiros. Também foram os pioneiros da Kimbanda nacional em separar exu e demônio, já que grande parte dos quimbandeiros acreditam que um demônio é um exu que se apresenta com outra forma e nome. Como foi que, conseguiram distinguir os dois, foi baseado em experiência/contato direto ou historicamente?

R.: Prezado amigo, quando citamos a palavra Kimbanda, temos um especial cuidado, pois apesar da sonoridade (Kimbanda/Quimbanda) ser a mesma hoje representam caminhos muito distintos.

“Entendemos perfeitamente que os portugueses transliteraram a palavra africana e trocaram o ‘K’ por ‘Qu’, mas a Kimbanda possui um panteão próprio e, apesar de ser uma fonte primordial da Quimbanda Brasileira, não é a mesma via. A troca do ‘K’ pelo ‘Qu’ simbolizou a marcação de uma série de influências que modificaram o sentido original. Foi um marco que dividiu, corrompendo a Tradição original e dando início ao Culto que aterrorizou e aterroriza as mentes fracas até a atualidade. A ideia da Quimbanda como sendo uma via de Magia Negra não está completamente errada, pois se partirmos do pressuposto que a Magia Negra é o conjunto de práticas imersas na ciência da corrupção, os entendimentos se alinham. Porém, a Magia da Quimbanda não consiste em apenas praticar atos nocivos, pois para nós o ato de destruir estruturas que atrapalham o desenvolvimento e a evolução dos adeptos e de todos os que procuram os feiticeiros dessa arte é fundamental.” (Quimbanda- O Culto da Chama Vermelha e Preta- Editora Capelobo – SP – 2015)

Quanto a separação Exu/Demônio é algo natural sob nossa visão. Se Exu é um espírito que, dentro da crença na reencarnação, esteve em corpos materiais, como pode ter sido um demônio? Existem nomes dentro da demonologia que ao estudarmos percebemos que se tratam de adjetivos que se tornaram substantivos (ex.: Lúcifer) e, em raríssimos casos, os espíritos podem receber esse título. Porém, isso não significa que o espírito seja uma deidade! Dizer que o Exu “X” é o Demônio da Goecia “Y” é no mínimo não saber sobre a natureza dos espíritos. Essa influencia cabalista ocorreu no Brasil desde a chegada dos ‘Condenados pelo Santo Ofício” nas primeiras naus portuguesas e o processo de sincretismo facilitou os manipuladores espirituais escreverem absurdos como os que encontramos nos primeiro livros de Quimbanda publicados. Não é a toa que a grande massa crê que a Quimbanda esteja relacionada com a Umbanda…

O ato de sacrificar é dar continuidade à glória de nossos ancestrais, fortalecer nossa ligação com o mundo dos mortos, abrir portais para a manifestação da força que cultuamos, dar dinamismo às nossas decisões, trazer fertilidade para nossa vida cotidiana e cura para os males que aplacam nossa existência. Não entendemos como uma decisão justa reencarnarmos com nossa memória ancestral apagada e, buscamos na força dos seres graduados como Exu, respostas para a sandice espiritual.


Vocês foram os pioneiros em trabalhar conjuntamente com a corrente anticósmica e a quimbanda. No site de vocês, até pouco tempo se referia a Lilith/Naamah como “rainhas das pombogiras” entre outras associações, dos reinos de Kimbanda com os príncipes Infernais. O que mais pode nos falar sobre o envolvimento da corrente anticósmica no trabalho de vocês?

R.: A Corrente anticósmica inspirou nosso trabalho. Em verdade alguns adeptos do T.Q.M.B.E.P.N são simpatizantes da Corrente e, em razão da seriedade do nosso comportamento e postura, recebemos uma bênção. Algumas associações e sincretismos ao qual somos pioneiros não vieram desse contato, ao contrário, foi o que efetivamente estreitaram a ligação.


Quem é, para vocês a força denominada Satã? E que papel ele possui no culto de vocês?

R.: Nossa premissa maior é que Satan é o primogênito do Caos. A primeira força que se rebelou contra o sistema escravista em formação. Representa o falo que cospe o fogo responsável pela geração dos Deuses e Deusas Kliphóticos e Governante de todas as Kliphas.

Satanás não é uma força estática e dizemos que também não está inserida na totalidade do Cosmos. Essa força emana incessantemente para dentro da Criação Causal a fim de gerar as mudanças e programar as rupturas que causarão a falência e a destruição do Sistema vigente. É como um poderoso vórtice energético que direciona o fogo no aspecto destruidor e no aspecto edificador. Entendemos que o aspecto libertador e direcionador denomine-se Lúcifer.

Dentro da Quimbanda praticada pelo nosso Templo não enxergamos Satan/Satanás como descrito no Grimório de São Cipriano e outras literaturas costumeiramente usadas como referencial para certos quimbandeiros. Satanás é louvado como Senhor da Ruptura, aquele que incinera a mentira e age como um acusador. Não se trata de um acusador a serviço do imundo Criador Cósmico, mas um acusador que aponta a mentira que existe dentro da própria Criação. Como somos parte dessa Criação e nossos corpos simbolizam microcosmos, Satanás é a força que aponta para dentro de nós e mostra sem véu algum nossa imundície a fim de que possamos nos livrar dessas correntes. O Senhor do Fogo é nossa barreira separatista! O nome de Satanás é cantado na Quimbanda para destruir todas as energias contrárias e enviar forças para o culto. Um dos principais pontos cantados é: “Satanás, Satanás, abra os portais do inferno e mande forças a nós!” Também cantamos e glorificamos Satanás para que nossa chama interna (o fogo que habita em nossa essência espiritual) desperte e traga toda força enclausurada em nossos subconscientes.

Os estudantes do Templo precisam se dedicar unicamente as práticas vinculadas ao templo ou eles podem praticar outras formas de magia?

R.: Damos liberdade para os adeptos estudarem outros sistemas e até participarem de outras organizações magísticas. Entretanto, costumamos deixar claro que ‘água e óleo’ não se misturam! Existem formas de magia que em nada acrescentarão os adeptos e podem agir como retrocesso. Então os mais antigos costumam direcionar os adeptos mais novos aos estudos complementares.

Há muitos praticantes de Quimbanda que preferem não se vincular a nenhum grupo, que mesmo sem saber nada, procuram e estudam por livros e tentativas/erro. Esse tipo de aprendizado costuma ser taxado como ruim por muitos templos de Quimbanda. O que pensam do aprendizado e pratica solitária? Vocês estimulam isso?

R.: Pensamos totalmente ao contrário de muitos Templos. Não adianta um adepto vivenciar apenas as experiências que seu tutor lhe direciona. Obviamente que existem particularidades que devem ser respeitadas, até pelo fato de que enquanto estivermos dentro da abóboda cósmica estamos submissos a certas regras gerais, mas as grandes revelações ocorrem no contato pessoal entre adepto e espírito pessoal. Sempre que possível nos dedicamos ao desenvolvimento de técnicas que permitam um culto solitário, mas ainda esbarramos em muitos entraves existentes dentro da ritualística. Temos buscado arduamente soluções para esses casos, haja vista que repudiamos a ideia de ter um mestre cheio de ego (como é o caso de outros segmentos afro-brasileiros) que exige que o tratem como um semideus. Sabemos que o coletivo trás muita frustação e ódio em grande parte das vezes, mas ainda reconhecemos que para certas práticas e desenvolvimentos um bom zelador é imprescindível. Por isso estamos formando novos sacerdotes e sacerdotisas que dentro de algum tempo serão responsáveis pelos direcionamentos.

Somos favoráveis àqueles que ‘enfiam a mente no inferno’. Oferecemos ajuda a muitos solitários e temos membros que moram em outros estados. Esses estão fazendo suas escaladas satânicas sozinhos, ou seja, suas evoluções podem ocorrer de forma diversa.


Como os interessados em conhecer o trabalho do Templo devem proceder?

Enviem-nos um e-mail contando seu contato com os espíritos. quimbandabrasileira@gmail.com. Analisaremos os perfis e, se estiver dentro daquilo que procuramos, abrimos as portas do Templo. Agradecemos ao Projeto MSinc. pelo espaço e pela divulgação de nossa visão.

Contato: https://www.instagram.com/quimbandabrasileira/

 

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