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Cultos Afro-americanos

A Origem do Sistema Karaíba

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Karaíba, Sistema de Cura e Magia Cabloca é um sistema de magia genuinamente brasileiro criado por Rômulo Guyrauna com foco na cura. Baseado nas vivências e pesquisas do seu fundador no nordeste brasileiro com a espiritualidade cabloca da Pajelança, Jurema, Catimbó, Umbanda e Alta Magia.

Sua gênese remonta ao início do século XXI, quando Rômulo iniciou sua jornada de pesquisas e vivências indígenas no nordeste brasileiro com foco inicial na historiografia dos cultos da Jurema, um caminho que desembocou no sacerdócio e na publicação de diversos livros como “Espiritualidade Indígena e Culto a Jurema no Rio Grande do Norte”,  “Fumaça de Mato, Visões de Catimbó” e “Kanindé Rei da Jurema”, entre outros. Com licenciatura e bacharelado em História pela UFRN e especialização em Ciências da Religião pela UERN, o autor trouxe nestas obras uma combinação única de habilidades que o permitiu se dedicar a sua missão que já dura mais de duas décadas: Pesquisar e resgatar a História e a cultura das tradições indígenas e autóctones do Rio Grande do Norte.

Paralelamente Rômulo fundou, com outros dois amigos, o “Centro Cultural e Espiritualista Casa Sol Nascente do Rei Malunguinho” onde além de trabalhar como sacerdote em seções de trabalhos espiritualistas na linha de Jurema e Pajelança também promovia estudos historiográficos sobre as etnias dos povos originários bem como a manutenção de um pequeno museu com imagens e objetos ligados às tradições indígenas. As atividades do Centro foram encerradas no plano físico após sete anos e durante este tempo Rômulo  na companhia de outros membros, fundou também a “Ordem de Jurupari”, inspirada no rito de Jurupari, um personagem divino presente em várias culturas indígenas do Brasil. 

A Ordem de Jurupari

Jurupari é um personagem citado por diversos povos indígenas, algumas vezes com outros nomes. Seu nome significa em Tupi “Boca Fechada” porque era necessário um voto de silêncio para participar de suas iniciações. Jurupari era considerado filho do Sol, “Guaraci” e de uma mãe Virgem, “Ceuci” que engravidou ao comer mapati, uma fruta sagrada cujo sumo tocou em seus genitais. Quando Jurupari nasce, ainda muito pequeno, já demonstra uma grande sabedoria que não deixa de abalar com as estruturas de poder. As antigas sábias, preocupadas com seus questionamentos tentam matá-lo, mas ele desaparece antes disso e passa a morar na floresta só retornando 30 anos depois. Em seu retorno ele já é um Karaíba, um grande Pajé dotado de muito poder, capaz de ler a mente das pessoas, transformar-se em elementos e animais e realizar todo tipo de milagre. Ele ensina seus iniciados até que os poderosos decidem matá-lo  em uma Curuça, uma cruz de pedra. Mas três dias depois de sua morte ele reaparece, demonstrando ainda mais poder, capaz de desaparecer em um lugar e reaparecer em outro. Nessa nova condição ele reúne todos os seus iniciados e antes de retornar ao seu pai Sol promete voltar no fim dos tempos quando surgirá uma esposa adequada para o Sol”. A semelhança da história de Jurupari é tão grande que é impossível não fazer relação com a de Jesus Cristo. Razão esta pela qual seu culto foi combatido pelos missionários jesuítas que passaram a associar Jurupari primeiro como um impostor e um demônio e finalmente como o Diabo e o próprio Mal.

Os objetivos da Ordem de Jurupari na época eram três: resgate cultural, reativação egregórica e desenvolvimento:

Resgate Cultural: Superar as narrativas jesuíticas e resgatar o máximo possível do universo espiritual indígena ancestral. Buscou-se assim fazer uma justiça histórica em contraposição ao meio milênio de demonização e extermínio das culturas indígenas.

Reativação Egregórica: Reativar a retomar o trabalho com as antigas egrégoras ancestrais de nossa terra reativando o culto às divindades de acordo com as tradições indígenas.

Desenvolvimento: Estudar também a alta magia contemporânea de forma a alinhar, atualizar e desenvolver tanto a magia indígena como a magia cabalística por meio de um intercâmbio entre ambas.

O objetivo da Ordem de Jurupari da ordem era resgatar a espiritualidade indígena ancestral, reativar as antigas egrégoras e estudar a alta magia ocidental para alinhar esses conhecimentos com as tradições indígenas. O grupo prosperou por alguns anos nos quais foram realizadas 30 iniciações presenciais e muito material foi desenvolvido graças a pesquisas bibliográficas, pesquisas de campo e vivências espirituais para ser distribuído entre seus membros. 

O Sistema Karaíba

Após o fechamento das atividades tanto da Casa Sol Nascente do Rei Malunguinho como da Ordem de Jurupari, Rômulo continuou a acumular conhecimento, pelo estudo, práticas espirituais e interação com pajés de diversas etnias, até que decidiu revitalizar o trabalho em meados de 2015 sob uma nova forma, o sistema Karaíba.

Magias de cunho amoroso, voltadas ao enriquecimento pessoal, e principalmente bélico, parecem ter sido parte da causa do descaminho e fim da Ordem de Jurupari, de forma que a principal diferença agora é que o sistema Karaíba tem em sua base  e em seu grande objetivo: a Cura. Esta Cura pode ser entendida tanto em um sentido de recuperação, restauração e restabelecimento da saúde física e emocional quanto na cura espiritual da busca pelo autoconhecimento e a melhoria interior, moldado para auxiliar às pessoas que buscam se conhecer em profundidade, se trabalhar, melhorar, como como ente humano e como ser vivente. Em todos os seus sentidos, Karaíba busca ser um sistema mágico e iniciático dedicado a aquelas pessoas que desejam auxiliar outras por meio dos conhecimentos dos povos ancestrais de nossa terra. 

O nome Karaíba é uma homenagem aos grandes pajés que existiam antigamente, como Jurupari, por exemplo. Karaíba (karai-abá) significa literalmente “homens santos”, e significada uma espécie de Pajé. Os pajés acumulavam os papéis de Mago, Sábio, Terapeuta, Médico, Invocador e eram a autoridade espiritual de um povo. Karaibas eram uma espécie de Grandes-Pajés. Segundo “Viagem a Terra do Brasil”, Jean de Léry os Karaíbas não viviam em nenhuma aldeia, mas no meio da floresta, na mata fechada ou em cavernas. Eram pajés que não tinham autoridade apenas sobre uma aldeia, mas eram respeitados por todas as etnias, independente de serem inimigas ou não.

Hoje estes grandes pajés não existem mais, mas antigamente a cada dois ou três anos saiam para visitar as aldeias. Nessas ocasiões eram reverenciados onde que passavam, independente da nação, os habitantes das aldeias se adiantavam limpando o caminho para que passassem e os próprios pajés locais permaneciam em silêncio tamanho o respeito que tinham. Eram detentores de conhecimentos milenares, capazes de realizar prodígios e segundo alguns cronistas de falar línguas antiquíssimas que nenhum pajé conhecia. 

Historiadores afirmam que a Coroa portuguesa perseguiu violentamente estes hierofantes ameríndios, considerando-os os maiores inimigos da colonização e da catequese (um dos poucos karaíba cujo nome chegou aos nossos dias foi o grande pajé Manicoré). Eventualmente o termo foi deturpado em traduções espúrias para atribuir ao europeu, e em participar aos padres católicos o papel de hierofante.

Iniciação e Estrutura

O sistema Karaíba é em linhas gerais um sistema iniciático pois lida com mistérios e segredos de matriz indígena. Assim sua participação envolve compromissos, assim como mistérios de Jurupari. 

O primeiro compromisso exigido é o Voto de Sigilo, o sistema Karaíba é um sistema de magia e portanto lida com conhecimentos e ferramentas que permitem a manipulação de forças e energias que, se usadas por alguém sem o valor moral adequado e o respeito pelo próximo pode ser distorcidas para prejudicar outro ser humano. Outro compromisso é o Voto de Compromisso de não explorar as técnicas aprendidas para o enriquecimento injusto e abusivo a custas daqueles que mais precisam de auxílio. 

O Sistema Karaíba é hoje organizado em três níveis:

Nível 1: Curandeiro-Curandeiras. Aqui é apresentada a teoria geral do sistema e estudo dos reinos espirituais baseado nas tradições indígenas e caboclas e a prática da cura e limpeza por meio de defumações, cânticos, pinturas rupestres e invocações de entidades espirituais bem como a coleta e preparo de plantas mágico-medicinais e outros elementos como o sal, a pemba e o carvão. 

Nível 2: Homem-Mulher Medicina: Outros signos, cânticos e ferramentas (como o Maraká), são abordados, mas aqui outras tradições como o yoga, tantra, cabala e alta magia ocidental também são introduzidas para dar um apoio e compreensão maior dos ensinamentos indígenas mais antigos. A título de exemplo, sabemos que os antigos pajés tinham técnicas respiratórias que foram perdidas, e podemos complementar essa lacuna com o que sabemos sobre pranayama.

Nível 3: Mestre-Maestrina: O terceiro nível é dedicado à formação de mestras e mestras no sistema.

O Sistema Karaíba portanto dá continuidade aos objetivos da Ordem de Jurupari, mas agora com um foco maior e mais forte na Cura dos seres em todos os seus aspectos. Um sistema centrado na pajelança e em homenagem aos grandes pajés do passado, mas sob uma luz Cabloca, ou seja enriquecida com influências de sistemas mágicos europeus e africanos.

Resta dizer que o Sistema Karaíba não é sinônimo de Catimbó, nem Jurema, embora converse e forneça um ponto de contato com ambas. É sim sistema voltado para a cura e o autoconhecimento composto de elementos de magia indígena e cabloco que tem sim estas influencias bem como da Encantaria, Umbanda e Alta Magia.

A entrada para o nível 1 é aberta poucas vezes no ano e pode ser realizada a distância. Para informar-se das próximas ocasiões acompanhe as redes sociais de Rômulo, que equilibra as atividades no Sistema com suas outras responsabilidades como pesquisador, professor e a escrita do tão esperado “Livro do Mago Juremeiro”.

Fontes:
Rômulo Guyraúna (@romulo_guyrauna)
https://youtu.be/eRxKL-KskLw?feature=shared
https://youtu.be/2kYLBaV4C2w?feature=shared
https://youtu.be/3o8D1Pf20vo?feature=shared

~Tamosauskas

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