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O mais alto sistema de evolução que tem relação com a Terra é, que se saiba, a dos seres a que os hindus, chamam “devas”, e no Ocidente, “anjos”, “filhos de Deus”, etc. podem ser considerados como formando o reino imediatamente superior ao reino humano, assim como este está imediatamente acima do animal, mas com a diferença importantíssima de que o animal não tem, que saibamos, possibilidade de evolução e não ser para o homem, que é o único a ver abrir-se diante de si, logo que alcança um certo nível, várias sendas de progresso, uma das quais é a da grande evolução dos Devas.
Comparada com a sublime renunciação dos Nirmânakáyas, a escolha desta linha de evolução é por vezes classificada com a expressão “ceder à tentação de vir a ser um deus”, mas nisto não há a menor sombra de censura. Não é o caminho mais curto, mas é evidentemente um dos mais nobres, e se a intuição, largamente desenvolvida, de um ser humano o impele a seguido, é porque certamente é o caminho que mais convém às suas capacidades. Não devemos nunca esquecer que, à semelhança do que acontece com uma ascensão física, nem todos os que desejam subir espiritualmente tem a força e a coragem de escolher o caminho mais íngreme. Pode haver muitos para quem o único caminho praticável seja o mais lento e demorado, e nós não seríamos discípulos dignos dos nossos grandes Mestres se, em nossa ignorância, nos deixássemos dominar por qualquer pensamento de desprezo por aqueles cuja escolha difere da nossa. Seja o que for que a nossa ignorância nos faça pensar hoje acerca das dificuldades do futuro, no atual estado de adiantamento da evolução, é- nos impossível saber o que seremos capazes de fazer quando, depois de muitas vidas de esforços, alcançarmos o direito da escolha do nosso futuro. Com efeito mesmo os que “cedem à tentação de vir a ser deuses” têm perante si uma carreira suficientemente gloriosa, como vamos ver.
Para evitar possíveis mal-entendidos, diga-se, entre parênteses, que em muitos livros se dá um sentido completamente mau à frase “tornar-se um deus”, mas nessa forma não poderia haver qualquer espécie de “tentação” para o homem desenvolvido, e em qualquer caso não tem a menor relação com este assunto. Na literatura oriental, a palavra “Deva” é amiúde usada vagamente para designar quase toda espécie de entidades não-humanas, de modo que muitas vezes se refere, por um lado, às grandes divindades e, por outro, aos espíritos naturais e aos elementais artificiais. Nós, contudo, empregamo-la somente em referência aos membros da grandiosa evolução, objeto do nosso estudo. Apesar de relacionados com esta terra, os devas não estão confinados aos seus limites, pois o conjunto da nossa presente cadeia de sete mundos forma para eles um mundo só, em virtude de a evolução deles ter de percorrer um grande sistema de sete mundos. As suas hostes têm até aqui sido recrutadas principalmente entre outras humanidades do sistema solar, umas superiores, outras inferiores à nossa. Desta, apenas uma pequeníssima minoria tem atingido o nível a que precisamos chegar para ser-nos possível pertencer a tão elevada categoria. Mas parece certo que algumas das suas numerosas classes não passaram, no caminho do seu progresso ascensional, por nenhuma humanidade comparável à nossa.
Não estamos em estado de compreender muito acerca da evolução dos devas, mas aquilo que supomos ser a meta da sua evolução é consideravelmente mais elevada que a nossa. Isso é, ao passo que o objetivo da evolução humana é erguer a porção da humanidade que não desperdiçou os seus esforços, a certo grau de desenvolvimento oculto no fim da sétima ronda, o objetivo da evolução dévica é erguer as suas classes mais adiantadas, as suas categorias superiores, dentro do período correspondente, a um grau ainda mais elevado. Perante eles, como perante nós, está patente um caminho mais íngreme, porém mais curto, que conduz aqueles que trabalharam com séria convicção e esforço persistente, a alturas ainda mais sublimes; porém que alturas são essas, é-nos impossível precisar.
Em relação com o plano astral, apenas podemos encionar as categorias inferiores dessa augusta legião. A três grandes divisões inferiores (começando de baixo) chamam-se geralmente Kâmadevas, Rüpadevas e Arüpadevas. O corpo mais inferior de que um Kâmadeva se pode revestir é o astral, como para nós é o físico. De forma que está numa situação análoga àquela em que estará a humanidade quando atingir o planeta F. Portanto, vivendo normalmente no corpo astral, é do mental que se reveste quando quer passar a esferas superiores, tal qual nós ao passarmos do físico para o astral. E se quiser entrar num corpo causal, pouco mais esforços terá a fazer (estando, é claro, suficientemente desenvolvido) do que nós para entrarmos no mental. Da mesma forma, o Rupadeva vive normalmente no corpo mental, visto que o seu habitat é nos quatro níveis inferiores, ou subplanos rüpa do plano mental; por sua vez o Arüpadeva pertence aos três subplanos superiores e o seu corpo mais material é o causal. Mas a manifestação dos Rüpadevas e dos Arüpadevas no plano astral é tão extremamente rara como a materialização no plano físico das entidades astrais, de forma que não há necessidade de nos referirmos a eles neste trabalho sobre o plano astral.
Com respeito à divisão interior — os Kâmadevas — seria um erro grosseiro considerá-los incomensuravelmente superiores a nós, visto que muitos vieram de uma humanidade a muitos respeitos inferiores à nossa cm desenvolvimento. A média dos Kâmadevas é, em geral, superior à nossa, porque tudo que neles poderia haver de mau, há muito que foi expurgado das suas fileiras; mas sua disposição varia muitíssimo, de modo que pode haver entre nós indivíduos que, pela sua nobreza, altruísmo e elevação espiritual, ocupem na escala da evolução um grau mais elevado do que alguns deles. Pode-se atrair-lhes a atenção por meio de certas evocações mágicas, mas a única vontade humana que os pode dominar é a de uma classe elevada de Adeptos. Têm em geral pequena consciência de nós, no plano físico, mas acontece uma vez ou outra que um deles, tendo conhecimento de qualquer dificuldade humana, que lhes excita a compaixão, venha em auxílio do homem, como qualquer de nós faria a um animal que víssemos aflito. Mas no estado presente da evolução, qualquer interferência da parte deles seria, entenda-se bem, mais prejudicial que benéfica.
Acima dos Arüpadevas há ainda quatro outras grandes divisões, e ainda acima e para além do reino dos devas estão as grandes hostes dos Espíritos Planetários, espíritos gloriosos, cuja consideração estaria deslocada neste manual. Conquanto não possamos afirmar que pertençam exatamente a qualquer uma de nossas classes, este é, talvez o melhor lugar para mencionar os admiráveis e importantes seres, que são os quatro Devarâjas. Neste nome a palavra “Deva” não deve ser tomada no mesmo sentido em que a temos usado até aqui, pois não é o reino dos devas mas sim dos quatro “elementos”, da terra, água, ar e fogo, com seus internos habitantes, os espíritos naturais e as essências, que estes quatro Reis governam. Acerca das etapas de evolução que eles seguiram até chegar à presente culminância de poder e sabedoria, nada sabemos; apenas podemos afirmar que o caminho da sua evolução não tem nada de correspondente em nossa humanidade. Chamase-lhes também Regentes da Terra, e Anjos dos quatro pontos cardeais, e os livros hindus chamam-lhes os Chatur Mahârâjas, dando-lhes os nomes de Dhritarâshtra, Virudhaka, Virupaksha e Vâishrâvana.
Nos mesmos livros as suas hostes elementais são chamadas Gandharvas, Kumbhandas, Nâgas e Yakshas, respectivamente, sendo os pontos cardeais próprios de cada um, Este, Sul, Oestee Norte, e as respectivas cores simbólicas branco, azul, vermelho e dourado. A Doutrina Secreta descreve-os como “globos alados e rodas de fogo”, e até na Bíblia cristã, Ezequiel, ao tentar descrevê-los, serve-se de expressões muito semelhantes. Não há religião nenhuma que na sua simbologia não se refira a eles, tendo sido sempre objeto da mais fervorosa reverência como protetores da humanidade. São eles os agentes do Karma do homem durante a vida terrena, representando, por isso, um papel da mais alta importância nos destinos humanos. As grandes divindades kármicas do Cosmos (chamadas na Doutrina Secreta “Lipikas”) pesam as ações de cada personalidade quando, no fim da vida astral, se realiza a separação final dos seus princípios, e dá, por assim dizer, o molde para um duplo etérico, exatamente apropriado ao karma dessa personalidade para o próximo nascimento físico. Mas são os Devarâjas, senhores dos “elementos”, de que esse duplo se compõe, que os combinam nas proporções convenientes, de modo a realizar rigorosamente as intenções dos Lipikas. São eles também que durante a vida inteira estão vigilantes, para contrabalançar as mudanças que o livre arbítrio do homem e dos que o cercam introduzem continuamente na sua situação, afim de que o karma possa esgotar-se de uma forma ou outra, mas sempre sob a ação da mais reta justiça. Na Doutrina Secreta, vol. I, págs. 122 a 126, ed. inglesa, encontra-se uma erudita dissertação sobre estes seres maravilhosos, que podem materializar-se à vontade em formas humanas, conhecendo-se alguns casos que isso tem sucedido. Todos os espíritos naturais superiorese legiões de elementais artificiais são seus agentes na estupenda tarefa que lhes está distribuída, mas são os Devarâjas que têm todos os fios nas mãos e os únicos responsáveis pela sua obra. Poucas vezes se manifestam no mundo astral, mas quando o fazem, são, decerto, os mais notáveis dos seus habitantes não-humanos. Qualquer ocultista adivinhará que, assim como há sete classes de espíritos naturais e de elementais, deve haver também sete e não quatro Devarâjas; mas para além do círculo dos Iniciados pouco ou nada se sabe dos três primeiros, além disso, não se pode fazer revelações a seu respeito.
C. W. Leadbeater
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