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Vampirismo e Licantropia

O Grande Segredo Lupino

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Geralmente o grande antagonista da crença nos Lobisomens (e dos próprios Lobisomens) tem sido a igreja Católica e o grande crescimento do próprio Cristianismo. Através de suas inquisições, torturas e escritas a igreja mostrou ao ocidente o mal dos Lobisomens. O Lobisomem era normalmente mostrado como descendente de Cain ou como uma monstruosidade criada ao se vender a alma ao diabo. Até hoje a igreja em suas várias formas vê o Lobisomem como a incarnação do mal, mas existe algo que elas se esqueceram. O maior segredo dos Lobisomens de todos os tempos.

Primeiro é necessário se entender que no mappeamundi medieval, espreitando pelos quatro cantos do mundo existiam raças monstruosas. Durantes os anos existiram autores como Pliny, com seu livro “Natural History”, História Natural, que incluíram ilustrações e descrições dessas raças, se baseando em escrituras clássicas (“Natural History” é dito ter sido criado com mais ou menos 20,000 fatos extraídos de 2000 volumes clássicos).

Essas raças eram ecléticas na aparência, e algumas são bem familiares, enquanto outras parecem desconcertantes. Os Gigantes, os Pigmeus, os Panotii (que possuíam orelhas gigantes), os Astomi (sem bocas), os Antropófagos (canibais), as Amazonas, etc, etc, etc… Mas a que nos interessa agora é a Cynocephali.

Os Cynocephali, ou cabeças de cachorro, eram uma das raças mais monstruosas conhecidas. Eles possuíam corpos de um homem e cabeças de um cachorro. De acordo com Plinty eles viviam nas montanhas da Índia e latiam para se comunicar uns com os outros. Eles viviam em cavernas e vestiam peles de animais. Eles caçavam se utilizando de ferramentas primitivas como arcos e flechas e espadas. Outras fontes de informação da idade média, como as aventuras de Alexandre o Grande na Índia mostram os Cynocephali de maneira muito mais monstruosa – possuindo enormes dentes e respirando fogo. Várias outras fontes os mostram como sendo canibais, mas todas concordam em um ponto: elas enfatizam que eles combinam as naturezas humanas e animais.

Os Cynocephali tiveram um papel muito interessante nas escrituras e ensinamentos cristãos. As palavras de Jesus em João 10:16 implicam que existiam muitos rebanhos não cristãos ao redor do mundo que necessitavam serem guiados. Essa idéia foi reforçada pela história Pentecostal. Como contado nos Atos dos Apóstolos, línguas de fogo desceram aos apóstolos e a eles foi dado o dom de falar em línguas “estranhas”. “Homens de todas as nações sob o Céu” que viviam em Jerusalém ficaram abismados de ouvir os apóstolos falarem em suas línguas nativas.

Aspectos das nações presentes no Pentecostal era um tema popular na arte cristã da época. A idéia de “todas as nações sob o Céu” foi levada a sério. Consequentemente, os Cynocephali aparecem freqüentemente, como no “Theodore” Psalter que está na Biblioteca Britânica. Ele mostra Cristo pregando para homens com cabeça de cachorro. Uma ilustração bem incomum.

A partir da descrição dos cabeça de cachorros sendo ensinados no Pentecostal, segue a história deles sendo convertidos ao cristianismo. As histórias de atividades missionárias dos apóstolos estão registradas no Novo-Testamento. Mas esses registros eram muito poucos para satisfazer os céticos, então entrou em circulação alguns números não católicos dos Atos dos Apóstolos. Alguns como “Contendas dos Apóstolos” possuíam seções extremamente interessantes.

O livro descreve os Atos de André e Bartolomeu entre os Parthinians. Os dois apóstolos encontraram um gigante canibal chamado Abominável. Como o nome sugere não foi uma visão agradável:

– tinha o tamanho de dois homens, e sua face era como a face de um grande cachorro e seus olhos eram como lampiões cheios de fogo queimando na noite, e seus dentes se pareciam com presas de um porco selvagem, ou os dentes de um leão e suas unhas das mãos eram garras curvas e afiadas, e as unhas de seus pés eram como as garras de um leão, e os cabelos de sua cabeça avançavam sobre seus braços como num leão e sua aparência era horrível e aterradora.

Fortuitamente para os apóstolos, eles chegaram ao Abominável após ele ter tido uma visão onde lhe havia sido prometida a forma humana se ele aceitasse os ensinos dos apóstolos. E é o que ele faz, e se torna seu guia através da terra desconhecida.

Outras conversões dos cabeça de cachorro incluem um santo ou dois. São Mer’urius (não muito conhecido na cultura ocidental, sendo mais conhecido na Grécia e Egito) convertia os Cynocephali em soldados. Eles são soldados muito selvagens. Onde, como no caso do Abominável, os ensinamentos davam aos cabeça de cachorro a forma humana, sua selvageria (e canibalismo) podem ser revividos para o cristianismo com o comando do santo.

O maior dos segredos sobre lobisomens não é que a igreja cristã sabia da sua existência, escondeu ela do mundo e até os usou. O segredo é muito mais profundo do que conversões e guerreiros. O segredo é o nome de Christopher.

São Christopher (ou São Cristovão, em português) é o santo patrono de viajantes e marinheiros. Ele é bem conhecido na cultura ocidental. Ele é um santo que recebe milhares de orações dos fieis, e sempre foi uma figura poderosa. O grande segredo lupino é que ele, São Christopher, é um Cynocephali, um cabeça de cachorro, um Lobisomem.

O fato de São Christopher ser um Cynocephali foi silenciosamente removido da maioria da literatura ocidental. Algumas das maiores literaturas sobre a vida do Santo está localizada na Irlanda e nas culturas Celtas na Grã-Bretanha. É provável que esses textos tenham sobrevivido por essas regiões pelo fato dos Monges Irlandeses saberem grego e a cultura Celta não foi tão influenciada pelos romanos quanto as outras culturas européias.

A história popular de São Christopher é muito parecida com a do Abominável. Christopher nasce um cabeça de cachorro pagão chamado de Reprobus. Ele não gosta de sua natureza bestial e por isso se encheu de alegria quando a sua conversão para o cristianismo lhe permitiu abandonar sua natureza Cynocephalia.

Uma lista do século VIII de Santos explicou que São Christopher “era um dos cabeça de cachorro, uma raça que possuía a cabeça de um cachorro e comia carne humana. Ele meditava muito sobre Deus, mas naqueles tempos só podia falar na linguagem dos cabeça de cachorro.”

Conforme o tempo passou, as escrituras mencionaram cada vez menos a natureza Cynocephali de Christopher. Walter de Speyer escreveu, no século X, dizendo que Christopher “tinha sua origem nos Cynocephali, uma pessoa na fala e uma dissimulação contínua para outros.”

São Christopher era mais popularmente tido como um gigante carregando Cristo como criança. Isto poderia ser pelo fato dele, Christopher, ser um convertido de uma raça monstruosa. Mas provavelmente ocorria pelo fato de Christopher significar “aquele que carrega Cristo”.

São Christopher foi eventualmente tirado do lado das santidades. E a crença nos Cynocephali continuou em circulação por mais algumas centenas de anos. Com o passar dos anos ela acabou sofrendo algumas mutações, após ter sido contada repetidas vezes, para o terror do Lobisomem que se tornou no século XVII.

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