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Egiptomania Thelema

O Símio Divino

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Por Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden, Capítulo Oito.

 

A DEUSA Kali personifica a ideia de Tempo e de Chaos259 em uma imagem. Ela foi o primeiro divisor em dois no sentido físico de tempo e a ruptura de tempo pelo eclipse do chaos260 periódico. Kali, cujo número é 61, Ain, é O Negro e Branco em uma única imagem; um símbolo da lunação dual tanto quanto da mulher em menstruação e gestante; a virgem e a mãe. O primeiro círculo mágico foi então, estritamente falando, um círculo místico que tinha em si uma ruptura que deixava entrar os espíritos do chaos das Águas do Abismo, tipificadas em mito pelo Dilúvio de Deucalion e o Dilúvio de Noé.

Porém Kali veio mais particularmente representar o chaos, noite, ou negritude como o tipo de morte e negação em um sentido místico: o círculo místico com a brecha que admitia os teratomas Tifonianos descritos por Berosus, mais do que o círculo do Sol que era o tipo do Círculo Mágico nas eras posteriores, era o símbolo primordial da Deusa. Está implícito no círculo zodiacal do ano com sua ronda de nove signos secos e três signos de água. Os últimos tipificam a incursão de chaos. Os 9 meses secos tipificam a mãe gestante simbolizada pelo colar de nove contas que Isis portava. A cruz com três braços iguais e um quarto que era maior, apontando abaixo para as profundezas, 261 era outro glifo do círculo completo, ou cruzamento dos três quadrantes com o quarto permitindo a entrada do dilúvio. O simbolismo está implíto também no conceito da maldição primal atribuída à bruxa, a negra cujo olho era vermelho, ou ‘mal’, porque [está] irradiando emanações do abismo de sangue. A maldição implicava a incursão das qliphoth que a bruxa direcionava com um olhar de seu olho sinistro (ain). A ‘Força de Coph Nia’ é portanto a Força do Olho Mau da Filha ou Bruxa, porque a filha era a virgem típica em contraste com a mãe gestante. A bruxa, gêh ou gek era a gauche (esquerdo_do Francês), a inconveniente ou a da mão-esquerda, a mão esquerda que ‘está vazia [o vazio] pois eu esmaguei um Universo; & nada resta’.262 O significado é que a maldição da filha-bruxa tipificava a incursão de forças do outro lado.

Seria desnecessário observar que o fenômeno da menstruação não teria por si só causado o enorme pavor e aversão com os quais as antigas escrituras, mitos e lendas estão repletos. O eclipse, seja celestial ou fisiológico, era um tipo, um símbolo de forças negras infinitamente mais terrificantes do que mera promiscuidade sexual e suas doenças concomitantes. Nem eram estas forças veladas em símbolos obscuros por razões outras além das que os antigos eram incapazes de defini-las precisamente. Eles meramente suspeitavam que a mulher e seu mecanismo peculiar constituído, de algum modo desconhecido à eles, uma porta, uma passagem para o vazio, através do qual forças terríveis poderiam ser invocadas por aqueles que casualmente obtivessem(?) as chaves. É provável que estas chaves eram conhecidas por poucos e também é provável que os Sumerianos, os Egípcios, os Americanos, os Mongóis, estavam cada um familiarizados com um fragmento de uma gnosis vastamente antiga – a ciência dos kalas, que sobreviveu até os tempos modernos em certas Escolas de Mistérios Asiáticas. Muitos textos Tamil, por exemplo, embora ainda existentes, não foram traduzidos para línguas ocidentais, embora certos manuscritos secretos tenham circulado entre Adeptos no hemisfério ocidental durante incalculáveis períodos de tempo. Em tempos comparativamente recentes o tráfico com forças do abismo foi estabelecido por Dr.Dee e Sir Edward Kelly, cujas ‘Chamadas Enoquianas’ tem sido usadas para evocar até mesmo Choronzon, o Guardião no Limiar. H.P.Blavatsky também estava ciente da existência de chaves secretas para esta região obscurecida. Ela faz questão de explicar que Set ou Sat é Be-ness (existencialidade_?), que inclui o Ser e o Não-Ser; isso não significa Existência, tal como geralmente suposto. Em A Doutrina Secreta263 ela faz uma observação ainda mais importante que: ‘A ideia de que as coisas podem cessar de existir e ainda assim SEREM, é uma [ideia] fundamental na psicologia oriental.’

O símbolo zoomórfico do universo espelhado,264 como do universo astral, é o símio. Este animal é identificado por Massey como o Kehkehi, uma palavra egípcia significando não apenas ‘macaco’, mas um ‘homem louco’, ‘um louco’. Kehkeh é uma outra forma de Gehgeh ou Gêh, a ‘mulher insana’, a bruxa, o arquétipo da Hek-Hek ou Hecate, a Hexe ou tipo-Feiticeira de transformação como a Hekt que [se_?] transforma do girino na rã.265

No Papiro de Harris existe uma alusão à uma transformação na qual o deus-leão assume a forma de um macaco: ‘Tu tomaste a forma de um macaco (Kafi) e depois a de um homem louco (kehkeh)’.266 O homem louco ou macaco louco é também O Louco do Taro chamado de ‘macaco de sete cúbitos’ que mora no ‘santuário de sete cúbitos’ da qual ele prossegue para um ‘santuário de oito cúbitos’. Ele é o símbolo da culminação dos sete fundamentos inferiores até o oitavo, assim explicando a loucura experimentada pelo Adepto como as sete ‘almas’ ou estágios de sua iniciação que culmina na Ordália do Abismo.

Segundo a tradição rabínica, Adão foi criado com uma cauda na similaridade com um orangotango. Gerald Massey, que cita a tradição, a explica ao observar que como os judeus não eram evolucionistas a tradição testemunha a sobrevivência da tipologia egípcia. Mas o fato é que, a própria tipologia egípcia era baseada sobre um conhecimento oculto sobre a incursão de forças originárias do ‘outro lado’. Aquelas forças geravam macacos deste lado, desse modo explicando lendas tais como a da queda de Yima que, como a de Adão, se referia a uma queda através do Abismo (Daäth), não para dentro dele.

O louco, macaco, ou homem louco, o gekh ou gehkeh, é o Gêh da tradição persa, a Mulher Escarlate da tradição bíblica, e aquela que é descrita no Bundahish como o ‘agente ativo do inferno’. Ela diz ‘Eu então derramarei tanto Vêsh267 ou veneno sobre o homem correto e o boi laborioso268 que por meio dos meus feitos a vida não será desejada.’ O Espírito do Mal, deliciado com a fala da bruxa a abraça e beija, de modo que ‘a poluição que eles chamam de menstruação se tornou aparente em Gêh’.269 O fluxo menstrual, simbolizando a ruptura da continuidade, foi usado por Parsees para tipificar o mecanismo pelo qual O Mal exterminou o fogo que Zarathustra trouxera do céu; a água que umedeceu o fogo do espírito, a água do abismo, o poder negativo que fluiu para dentro por meio do Símio ou Louco.

De modo a evitar um possível e sério mal entendido é necessário enfatizar aqui o fato de que o macaco como tal, ou qualquer criatura remanescente até agora sobre a terra não foi o resultado de contato com influências extra-terrestres. O macaco ou símio era o símbolo de um tipo de criação gerada por forças além do véu do vazio. Esta criação era trazida à manifestação não apenas a partir de fontes extra-terrestres, mas também de fontes extra-dimensionais, via túnel sob o Caminho do Louco270 no lado inverso da Árvore da Vida.

Que a Besta real era mais horrível do que o símio ou qualquer espécie animal presentemente conhecida [isso] pode ser apreciado após ler uma descrição do figurino primevo (?) de origem antártica descrito em certas ficções Lovecraftianas.271 Tal objeto, não confeccionado por mãos humanas, ainda não foi encontrado sobre a terra, mas certos sensitivos conhecidos pelo presente autor tem visto aquilo que é inegavelmente o arquétipo desta besta monstruosa e primal. Ela é descrita em O Espreitador no Limiar como um ‘cefalópode octópode’. Dotado de asas de morcego e garras em sua extremidade inferior, ela possui um olho central brilhante – avermelhado e maligno – situado no topo da cabeça, enquanto que a parte inferior da face (onde se poderia esperar haver uma boca) é uma massa de tentáculos que se contorcem, em número de oito. Ela é, de fato, a besta arquetípica de 8 cabeças que fluía em escuridão dos túneis de Set, impelida ao Local da Morte. Ela emergia via Daäth e derramava dentro dos cálices do hebdomad(_?) inferior. Esta era a água fluindo simbolizada pela serpente, o vesh ou veneno do qual fala Hadit (AL.II,26):

Se eu ergo minha cabeça, eu e minha Nuit [Ain] somos um. Se eu abaixo minha cabeça, e lanço Veneno, então há êxtase da terra, e eu e a terra somos um.

E no verso seguinte (o 93o verso do Livro como um todo) aparecem estas palavras :

Existe um grande perigo em mim, pois quem não compreende estas runas cometerá um grande engano. Ele cairá na cova chamada Porque, e lá ele perecerá com os cães da Razão.272

Após o que uma maldição é pronunciada sobre ‘Porque e seus parentes’! Estes versos sãos o 26o e o 27o do segundo capítulo do AL, e 92 e 93 do Livro como um todo. O número de Nakak é 92.273 93 é a chave suprema de AL e das principais fórmulas do presente Aeon. Como foi mencionado, um significado de aeon ou ion é ‘um animal ululante do deserto’, isso é também um nome do macaco (em egípcio).274 Os Números 26 e 27 se referem aos Caminhos de Ayin (o Olho), e (a Boca), respectivamente. Estes órgãos tipificam o Olho Sagrado do Vazio,275 e a Boca ou Palavra representada pelo Símio de Thoth que não pronuncia nenhuma palavra humana, porém uma ‘fala selvagem e monstruosa’. Assim nós somos constantemente regredidos276 sobre o simbolismo da reificação do Negativo (Olho-Vazio) via Positivo (Boca do Abismo).

Foi sugerido277 que Besz ou Vesz era o original egípcio do Zivo, Oivz, Sumério, i.e. Ai- vaz. A ’festa/assembleia de Betch’ (???) eram os oito deuses elementares do Egito que representavam as forças do caos de onde a deusa negra Bâst deriva seu nome, e as palavras bastardo, cadela, e besta, foram colocadas em linguagem posterior como denotando a fonte- mãe independente da essência masculina. É agora sugerido que o persa Vesh, veneno, é também conectado com Aiwass como típico da Tradição Draconiana em sua forma primal da corrente negativa que – por sua vez – é tipificada pela vibração lunar, cujo veículo é o sangue menstrual. Este simbolismo identifica a Serpente do Eden com o veneno de Vesh ou Aiwass, e indica sua identidade mágica com o Símio de Thoth, o Que Uiva no Deserto, Shugal 333,   o Ion, e a Mulher Escarlate, Babalon; todos encontrando seu foco de função através do Pylon do Abismo.278 Então Aiwass descreve-se a si mesmo279 como o ‘ministro de Hoor-paar-Kraat’, a corrente negativa.

A Gêh ou Gek é Lilith, a esposa-feiticeira de Adão; a shakti ou poder de reificação no Éden, das forças de Ain, manifestando-se através da Palavra do Símio de Thoth via o Caminho do Louco.280 Esta shakti (Gêh) é a conexão entre Ain-Kether e Chokmah-Masloth (a Esfera das Estrelas Fixas) que simbolizam o hebdomad (?) superno como a Deusa das Sete Estrelas que ilumina o vazio da noite e o abismo do espaço. Ela é a manifestação primal de Inteligência extraterrestre como a mantenedora do Tempo.

A mais antiga dualidade ou divisão observada foi aquela entre as Trevas e a Luz (Set e Hórus), e o Abismo é a ‘divisão mais próxima em direção ao lar’281 que separava a escuridão primal do Ain (Nuit, Noite, a Mãe) do brilho de Tiphareth (o Sol, Dia, o Filho). E o mediador ou passagem de um para o outro é via Lua, Taht (Daäth), que flui através de Yesod na tríada (hebdomad_?) infernal, o que quer dizer que como a luz da lua resume a Noite de Nuit e o Dia de Tiphareth, dessa forma Yesod é a conexão ente masculino e feminino, o crepúsculo sexual que recolhe-se como noite no lado feminino e como luz no lado masculino, assim completando o círculo de criação.

O símbolo do crepúsculo é o chacal que aparece na alvorada e no anoitecer. Esta é a origem do duplo Anúbis, o cão negro e dourado que se tornou o tipo de Set como uma combinação em uma [só] imagem de Mercúrio e o Sol, Mercúrio sendo o tipo lunar do observador no crepúsculo, portanto a natureza malhada (pintada, rajada) ou híbrida do deus que abrangia tanto luz quanto sombra.

O malhado era o duplo, e ele se tornou um símbolo do duplo astral, a sombra, le diable, o demônio, aquele que se duplicava e tornava-se dois, o fendido. Seu símbolo era o casco ou robusto porque ele veio de Kheft, a Deusa-Mãe que é representada como o Abismo, a fenda primal. Os judeus localizaram esta divisão em dois no local de Daäth, onde o Ser Negativo se torna manifesto. Daäth é o Duat ou Tuat, o Twat ou fenda da Deusa que reproduz a si mesma. Ela é o espelho ou a que se duplica, a reprodutora cujo símbolo é o Olho que reflete ou a imagem de si mesmo, i.e. reproduz a si mesmo. Eis o porque o ‘Horus cego’282 tipifica o caos da atemporalidade ou anti-tempo. A quebra no Círculo portanto representou o caos, os poderes de pilhagem das qliphoth que invadiam sobre os Círculos ou Ciclos de Tempo.

É apenas quando o significado simbólico da cegueira tenha sido compreendido como a antítese de Tempo, e portanto de Cosmos, que a Escuridão pode ser compreendida como a antítese de Luz. Na tradição rabínica, o primeiro demônio nomeado como o assistente da Escuridão (o Mal) é Gêh, a mulher insana, a virgem louca, a que faz o eclipse da Luz e a personificação da menstruação como um separador, descontinuador, e portanto um transportador do Chaos para dentro do Cosmos. Ela era o representante arquetípico da solution de continuité tipificado por Daäth, a décima primeira sefira e o ‘intervalo’ como este fora entre o impulso criativo emanado pela Tríada Superna, e o Hebdomad (?) Infernal representado pelas sete sephiroth inferiores. Gêh representa a ruptura no círculo mágico que deixa entrar as hordas de demônios do caos e da ruptura. Esta é a fórmula da Mulher Escarlate que é totalmente negativa com respeito à criação fenomenal pois esta significa o Caminho Abaixo até as raízes da Árvore levando até o silêncio numênico. Ainda assim este é o silêncio do supremo potencial simbolizado por Hoor-paar-Kraat, o deus Set que é o Assento, a Fundação, a verdadeira base do universo fenomenal tipificado por Ra-Hoor-Khuit. Gêh é a esquerda, o norte, o abismo que emana a luz por trás do Véu do Vazio. Como tal ela é a shakti ou poder reificador das forças simbolizadas pelo Ovo Mundo ou Akasha cuja cor é o preto (escuridão total).

Quando o tempo equinocial foi estabelecido, o Norte foi substituído pelo Oeste como a origem das forças negras, porque ele se opunha ao local da luz emergente.283 Assim os egípcios se referiam ao Oeste como ‘o lugar dos demônios nocivos’ ou criaturas da noite. A Grande Nox (Noite) era a morada do Nakak como o ninho de serpente ou buraco da serpente que desaparecia cada noite dentro do lago no oeste na forma do crocodilo. Este era o dragão das profundezas cuja cauda, desaparecendo nas águas, tornou-se o hieróglifo de escuridão, negritude, morte. Homens da escuridão, ou homens negros, apenas, eram considerados como tendo caudas. Esse era um modo primitivo de designar aqueles nascidos apenas da mãe num tempo em que a paternidade não era conhecida ou individualizada na sociedade. Assim discute o evolucionista. Mas de acordo com a doutrina secreta as criaturas com caudas que se espalharam sobre a terra eram a geração de uma criação pré-humana resultante de uma miscigenação oculta da qual a promiscuidade sexual pré-histórica era nada mais que um pálido reflexo no reino da humanidade.

Os Rabinos conectaram Adão com o orangotango porque, eles afirmavam, ele também tinha uma cauda. Gerald Massey cita o fato como prova que a tradição egípcia sobreviveu na sabedoria judaica. Contudo a própria tradição egípcia estava baseada sobre conhecimento iniciático sobre a incursão de Forças do ‘outro lado’, forças que espalharam os símios neste [lado]. O dilema de Yima no Bundahish, como o do Adão bíblico, resultou nem tanto de uma queda a partir de um estado superior mas, mais ainda, uma queda através da abertura extra- dimensional do abismo representado por Daäth, cujo glifo é o Símio de Thoth. Apenas neste sentido pode o simbolismo ser compreendido, pois nenhuma mera queda num sentido sexual responderá pela importância desproporcional de um mito comum à todas as principais tradições ocultas e religiões do mundo.284

Os Hotentotes e os negros da Austrália preservaram algumas das mais antigas versões desses mitos. Os últimos reivindicam descender de um homem chamado Noh que entrou no mundo por ‘um tipo de janela’. Noh ou No é o Nu egípcio, e o nome o identifica com o abismo aquoso que era simbólico do ‘oceano do espaço’. Um dos mais antigos relatos da criação, portanto, reconhece o fato que a consciência fez seu surgimento primeiro a partir do ’lado de fora’; de uma fonte extra terrestre. Que este visitante veio das profundezas, das águas, o poço, piscina, ou abismo, isso é uma característica constante de inúmeros mitos. Os egípcios tinham sua Piscina de Respiração Ofegante (?) e Lago de Fogo dos quais dizia-se que forças demoníacas emergiam e capturavam os vivos e, mais significativamente, as próprias pirâmides eram construídas sobre um poço de água típico das profundezas. Mariette descreve a pirâmide [típica] como uma tampa gigantesca sobre um poço de água, uma tampa projetada para manter afastados os habitantes do abismo, e pode não ser mera coincidência que o próprio glifo da Árvore da Vida mostra Daäth (o abismo) coberta pelo triângulo ou pirâmide das Supernas. Daäth é a janela através da qual as energias latentes do hebdomad infernal fluem a partir do outro lado da Árvore. Elas transbordam nas Sephiroth que formam os foci (?) de força cósmica no Externo, pois a criação manifesta é nada mais que a expressão patente e fenomenal de potencial latente e numênica.

A natureza da entidade Noh que faz sua aparição através da janela no espaço é idêntica ao No (Não) negativo de nossa linguagem atual. Noh, 125, é um a mais que ODN, Eden, e seu significado (em hebraico) é ‘movimento’, ‘sacudida’; ela deriva do egípcio nahuh ou nnuh, ‘sacudir’, ‘lançar’, ‘movimento’. Em outras palavras, Noh indica a vibração pela qual a imagem [mental] numênica do abismo se transforma em criaturas viventes, moventes. Noh é a fórmula de subjetividade objetivante.

Para reverter à estrutura piramidal da Tríada Supernal: esta torna-se tridimensionalizada se as linhas forem traçadas de Kether, frontal e dorsalmente, para conectar-se com Daäth assim formando uma figura de quatro lados com seu ápice em Kether, sua base sendo o quadrado de Daäth (dorsal), Chokmah, Binah, e Daäth (frontal). Dessa forma será percebido como a tampa cobre as sephiroth remanescentes contidas nas ‘sete infernais’, das quais o sol – Ra-Hoor-Khuit – é a mais importante. Ela é o reflexo (Tiphareth), no hebdomad infernal, de Hoor-paar-Kraat ( Ain) acima do Abismo, e mesmo acima de Kether onde ela brilha como o Olho do Vazio. A mecânica da reificação fenomênica pode desta forma ser compreendida, pois as supernas são encontradas sobre o abismo e são suas contrapartes complementares. Entretanto como o âmago real do Ain repousa em Yesod (a lua), da mesma forma Kether tem suas raízes em Tiphareth, o que é um modo de dizer que como a lua – (Yesod) – a mulher é o Negativo na criação manifesta e a representante de Hoor-paar-Kraat, então o sol – (Tiphareth) – homem é o Positivo na criação manifesta e o representante de Ra- Hoor-Khuit. E Shaitan-Aiwass é o Pivô (o Eixo) – Daäth – o Abismo que polariza estas duas forças em equilíbrio perfeito.

É agora evidente porquê Set (Hoor-paar-Kraat), o negro ou o que desce, é a fórmula da magia(k), reificação, encarnação; ao passo que Horus (Ra-Hoor-Khuit), o branco ou o que sobe, é a fórmula da transformação em espírito. Negro ou vermelho é a cor do sexo e da manifestação, do pôr do sol e da noite; branco, ou dourado, é a cor do alvorecer e do dia. Matéria e espírito combinam-se para formar as polaridades duais da Árvore, interna e externa, descendente e ascendente, e o ponto de emissão – como de retorno – é Daäth, representada pelo Símio de Thoth e o Cão de Set.

É no momento da manifestação que as forças elementais são transpostas, ou evocadas, do Espaço para Tempo. O Abismo tipifica a Mãe primal como Espaço. O universo estelar (espaço) semeado com almas (estrelas) tipifica o caos tornado cosmos pela introdução de ciclos periódicos de tempo. As forças cegas do caos nas infinitudes do espaço precederam os planetas e as estrelas como inteligências(?) celestiais, que estabeleceram a ordem ao criar o tempo na forma de aeons, etc. As forças do ‘outro lado’, sendo atemporais, eram portanto caóticas e existiam apenas nos espaços que eram considerados negros, separadores, sem lei, qliphoticos; elas eram os espaços invertidos das sephiroth, ou emanações cósmicas incluídas dos planetas como representando lei e ordem fenomenal na forma de ciclos de tempo.

A mitologia tem preservado em suas imagens predominantemente zoomórficas um registro preciso do início do tempo como uma projeção do espaço (numênico) para fenômenos de repetição, recorrência, reaparecimento, que ocorriam quando o homem começou a notar o retorno periódico de certas configurações estelares projetadas através do espaço. Estes foram depositados na mitologia como os que assombravam [vindos] das profundezas,285 que se agitavam com os demônios extraterrestres que fervilhavam em mitos e lendas no aspecto dos teratomas tifonianos – gigantes, gnomos, elfos, fadas, etc., dos reinos elementais, porém, sobretudo nos curiosos híbridos e mutações primevas mais tarde estilizadas na forma de esfinges, grifos, unicórnios, e toda sorte de bestas fabulosas.

Estes tipos pre-evais (?) e primevos também sobrevivem nos infernos do subconsciente e são suscetíveis à invocação e – embora mais raramente – evocação. Austin Osman Spare,286 por exemplo, desenvolveu um sistema de sigilos mágicos para controlar estes atavismos monstruosos e para reificar as qualidades e poderes que eles simbolizam e que eles uma vez possuíram sobre a terra muitas eras antes de a humanidade surgir. Nas Ordens Esotéricas Ocidentais tradicionais este complexo primevo evolveu dentro da mystique altamente sofisticada do Santo Anjo Guardião que combina o demoníaco e o humano, o espírito e sua sombra, consciência extraterrestre e humana. Todos os sistemas iniciáticos de ritual são métodos para estabelecer contato com seres do ‘outro lado’. Quer estes sejam considerados como sendo extraterrestres do espaço exterior, ou habitantes subjetivos do espaço interior, isso faz pouca diferença para o ocultista prático. Ambos são áreas de poderes mágicos iguais àqueles possuídos pelos próprios deuses.287 Devido à apenas um aspecto do processo ter sido até agora considerado válido,288 as energias na parte posterior da Árvore, ocultas porque latentes, são temidas como um perigo furtivo para a consciência individualizada. Elas são, ainda hoje, consideradas ‘malignas’ e são estigmatizadas como ilegais, caóticas, qlifóticas. Portanto, todas as religiões tem proibido o comércio com demônios assumindo-se que traficar com as qliphoth é entregar a consciência humana e perder a identidade no pântano do Abismo. Estas forças, que tem ganho impulso através de sucessivos aeons, estão se despejando astralmente a partir do lado inverso da Árvore e estão ameaçando dominar a consciência humana com as ondas de vibrações negativas que subjazem em toda existência positiva (i.e. fenomenal). Não é portanto surpreendente que almas sensitivas estejam agora recuando com horror porque elas tem visto – no espelho negro rodopiante do abismo – as sombras se concentrando para um influxo sem precedentes para dentro do cosmos. A brecha foi criada por atividade nuclear que perturbou o equilíbrio dos ions, e à menos que as chaves corretas sejam aplicadas o Círculo da consciência humana será invadido por poderes do outro lado.

Os antigos estavam cientes da fenda no espaço através da qual tal invasão poderia penetrar, e mais de uma grande Escola de Mistérios tem postulado Daäth como o ponto de entrada. O mito dos Antigos retornando para reclamar os tronos da terra é um tema muito antigo e um que tem sido revivido em décadas recentes não apenas nos escritos fictícios de sensitivos naturais tais como Arthur Machen, Algernon Blackwood, H.P.Lovecraft, etc., mas também nos escritos de físicos que estão cientes das implicações ocultas reveladas pela pesquisa nuclear e sub-nuclear. E é apenas agora que certas tradições ocultas antigas – especialmente aquelas relacionadas à Árvore da Vida – podem ser compreendidas de uma outra forma além do que um pavor supersticioso de ‘espíritos malignos’.

O ‘buraco negro’ Schwarschild no espaço que tem sido comparado à uma esponja ou dougnut (tipo de biscoito como rosca), ou uma massa sólida perfurada por buracos de minhoca como queijo ‘Ementhal’, dá uma certa ideia da anatomia da Árvore multi-dimensional. Os buracos de minhoca são os infernos ou buracos ocultos, não percebidos porque estão por trás das esferas das sephiroth . O salto através do abismo que o iniciado tem que realizar de forma à transcender a existência fenomenal e penetrar o Véu do Vazio é vívidamente explicado por John Taylor em seu livro chamado Buracos Negros embora, naturalmente, suas observações tem que ser traduzidas em termos de metafísica Tifoniana como eu fiz nas notas como segue:

É precisamente tal salto, através do ‘superespaço’ do interior da rosca, que é permitido pelos buracos de minhoca. Eles permitem estas conexões diretas que de outra forma seriam muito mais distantes. Podemos imaginar cada um destes buracos de minhoca como pontos dando acesso ao interior da rosca nos dois pontos em que estamos interessados,289 um podemos chamar de terra, o outro é uma estrela distante. Nós penetramos o superespaço290 através do buraco de minhoca na terra e a deixamos [chegando] ao outro buraco de minhoca na estrela distante; 291 a viagem completa poderia ser instantânea.292

Este trecho é recordativo da visão da Estrela Esponja que Crowley teve durante um retiro mágico na Nova Inglaterra, em Montauk, à margem do Lago Pasquanay.293 Iniciados do Culto da Serpente Negra serão lembrados dos Voltigeurs, Puladores ou Saltadores, descritos por Michael Bertiaux com relação à certos caminhos secretos na parte posterior da Árvore.294

Crantz, citado por Massey, menciona uma classe de espíritos que são temidos pelos habitantes da Groenlândia. Eles são os fantasmas daqueles que morreram quando o mundo virou de ponta cabeça em um vasto dilúvio. Diz-se que eles teriam sido transformados em chamas e eles se abrigavam em cavernas e fendas na rocha. Essa lenda, que é típica de muitas semelhantes, sugere um emborcar súbito e catastrófico da Árvore. Ela não apenas vira de ponta cabeça, ela virou de forma que o ‘outro lado’ derramou suas chamas destruidoras dentro das cavidades das sephiroth inversas.295

Uma lenda preservada pelos Índios da Califórnia descreve como sete marinheiros – os hohgates – atingiram com arpão um leão marinho gigante que, nos seus estertores da morte, dragou à eles e seu barco na direção de um imenso redemoinho que assentava-se para o noroeste no lugar onde as almas são sugadas para o submundo. No ponto de desaparecimento abaixo do funil do vértice, a corda que os unia ao leão marinho estalou e os hohgates flutuaram até os céus onde eles foram transformados em sete estrelas.296 O leão marinho era uma forma do dragão Tifoniano do abismo, e a região do redemoinho se situa no noroeste que é a região tradicionalmente atribuída ao submundo, sendo o norte o reino da escuridão Tifoniana mais tarde transferida para o oeste como o local da morte ou desaparecimento do sol em Amenta.

Esta lenda aponta o local de entrada no abismo como as profundezas, tepht ou daäth, do qual os hohgates foram salvos a tempo. Sua exaltação aos céus mostra a transmogrificação das forças elementais, negras e cegas do abismo e sua conversão em luminárias inteligentes que foram daí por diante usadas como mantenedoras e medidoras do tempo. A lenda explica o simbolismo do Abismo (Daäth) e do Céu (Ain) – os polos sul e norte do espaço e tempo; o lado diurno e o lado noturno do Eden.

É interessante notar aqui a equação do nome IHVH com o Quaternário Superno, Kether-Chokmah-Binah-Daäth. O Yod (I) se iguala com Kether, pois Yod é a chama superna da consciência tipificada pela Estrela Polar. (H) se iguala a Chokmah; ela é a shakti que transmite a luz de Yod à Vau (V) via zona de poder de Binah; assim Hé-Vau, Heva, ou Eva.297

A filha de Chokmah e Binah é Daäth, o Hé final ou ‘filha’ que resume a fórmula de Coph Nia.298 Junto com Daäth as Três Supernas resumem a doutrina do Polo ou Árvore do Jardim, e da assim chamada queda através de Daäth. A serpente está implícita no simbolismo da filha (Coph), a nuca (parte posterior da cabeça) (qoph), e o ‘olho maligno’(nia).

Notas:

259 Além do tempo, ilimitado, etc.

260 i.e. fluxo menstrual

261 A assim chamada Cruz do Calvário. O braço mais longo, do sul, era atribuído a Set. Na perversão do simbolismo cristão conhecido como a ‘missa negra’ a cruz é invertida de forma que o braço do sul, ou aquele atribuído a Set ou Satan seja então o predominante, i.e. exaltado acima da trindade; representada pelos três restantes.

262 AL.III. 72.

263 Vide Liber 418, A Visão e a Voz, Décimo Éter.

264 Vol.I, p.54.

265 Universo ‘B’, o ‘meon’ ou anti-universo.

266 A palavra hekt significa ‘rã’. Vide Parte II para uma explicação completa deste totem com relação ao outro lado da Árvore da Vida. Compare A Fórmula do Símio Divino descrita n’A Enciclopédia do Inexplicado, artigo entitulado Espíritos e Forças, de Kenneth Grant.

267 Compare Besh (egípcio), que significa ‘menstruando’.

268 O boi é aleph. O Louco do Taro é atribuído ao caminho ao qual esta letra é atribuída.

269 Bundahish, cap.iii. 3-7.

270 Simbolizado pelo Símio de Thoth.

271 O Espreitador no Limiar (Lovecraft e Derleth).

272 Uma referência a Daäth. Os itálicos são do presente autor.

273 Nakak denota a Maldição, o Amaldiçoado, e a imagem Tifoniana do Devorador, como o Crocodilo ou Dragão da Água, era seu determinativo nos hieróglifos. Nakak era o tipo primordial da sombra que foi mais tarde tipificada como o Gek ou Gêh (13), a mulher-feiticeira que assumia a forma de uma serpente para iludir suas vítimas.

274 Vide também as considerações de Frater Achad sobre a palavra ion citadas em Cultos da Sombra, capítulo 8.

275 Ain, cujo inverso é Nia, a Filha.

276 Nota do Tradutor: No sentido de atavismo.

277 O Renascer da Magia, p.57.

278 A palavra ‘abismo’ possui óbvias afinidades com o besz, bisz, ou vesz (vesh), e também com aiwass.

279 AL, I. 7.

280 O Caminho do Louco ou Gekh é o décimo primeiro caminho, como Daäth é a décima primeira sephira .

281 AL III. 2.

282 i.e. o Sol em Amenta simbolizado por Osiris-tesh-tesh, o morto ou inerte enrolado em bandagens como o tipo feminino da Palavra, enrolado em linho na ocasião de sua menstruação. O Hórus cego é então o aeon sem palavras e equaciona com o simbolismo de Zain descrito em um capítulo anterior (queira verificar).

283 O Leste: lugar do sol nascente.

284 Proclus no Timaeus, Livro 1.

285 A água sendo um tipo do oceano do espaço.

286 Vide Imagens e Oráculos de Austin Osman Spare, Muller, 1975.

287 Um termo usado por ocultistas para denotar vastos agregados de estrelas, sóis, etc., e as inteligências por trás deles.

288 i.e. a realização de estados de consciência tipificados por Hórus (Ra-Hoor-Khuit).

289 Em termos Tifonianos, Daäth e o Ain.

290 i.e. o Abismo.

291 Ain = Nu Isis = Sirius. Vide Cultos da Sombra para uma explicação sobre esta equação.

292 Buracos Negros, p.112.

293 Vide As Confissões de Aleister Crowley .

294 Vide Os Cultos da Sombra, capítulo 9.

295 Vide Bertiaux, MSR. Papéis Graduados , para um relato sobre as chamas das sephiroth.

296 Bancroft, vol.iii. 177.

297 Compare. Ta-Urt, literalmente ‘portador da centelha’, o nome aplicado pelos egípcios às sete estrelas polares da Ursa Maior. Ela era a ‘deusa de revoluções’ e seu nome sobrevive em Rota, ‘uma roda’, Taro, o Livro de Advinhação pelos Ciclos de Tempo Astronômicos ou revoluções celestes, e Tora, o Portal. Athor é também uma forma de Ta-Urt. O nome Hat-Hor significa literalmente o ‘útero ou casa de Hor’ (a criança). Taro também significa ‘lei’, ‘princípio’, ‘essência’, de onde vem Torah, a ‘lei’ dos judeus.

298 Vide capítulo 7.

Revisão final: Ícaro Aron Soares.

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