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Sitra Achra

Trovão subterrâneo

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São pensamentos são obsoletos
Ególatras e ofensivos,
Sua imagem de muito suplanta a sua alma
Eu sou apenas uma figura obscura para você
Sub humano, tão insuportável
Alguém que você nunca vai controlar

Você acha que vai viver para sempre,
Você não acha isto profundo
Você não vai se achar tão esperto
Quando ouvir o relâmpago subterrâneo
Thunder underground – Ozzy

When you hear thunder underground, all right now

1997, morre LaVey e como profetizou Cristo das lendas: “nisi granum frumenti cadens in terram, mortuum fuerit, ipsum solum manet: si autem mortuum fuerit, multum fructum affert.” Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.

Foi de fato um ano agitado, satanicamente falando. Foram descobertas mais de 2000 peças de arte roubadas dos nazistas em museus franceses, os três grandes bancos suíços anunciam a criação de um fundo de ajuda de 71 milhões às vítimas do Holocausto. Cientistas escoceses apresentam o primeiro clone de um animal adulto para o mundo, a ovelha Dolly. Em abril o nosso senado aprova em segundo turno a emenda que possibilita a reeleição de prefeitos, governadores e presidentes. O primeiro livro da série Harry Poter é lançado e o homem que representa a raça humana perde um jogo de xadrez para um computador. E enquanto Jody Williams ganha o prêmio nobel da paz, com sua campanha internacional para banir as minas terrestres o papa João Paulo II fez sua terceira visita ao Brasil, permanecendo 3 dias no Rio de Janeiro, seria interessante imaginar a conversa que ele poderia ter tido com aquele que ficou conhecido como Lord Ahriman, o fundador da Igreja de Lúcifer no Brasil, neste mesmo ano.

Nesta época o Satanismo era desconhecido ainda pelo grande público no Brasil, o material disponível na internet era apenas em inglês e o nome de LaVey desconhecido de quase todos os wiccas (a leva de magistas que estava nascendo graças à internet). E de repente, de uma hora para outra, o Diabo, esse ilustre desconhecido, tinha sua própria igreja no Brasil.

Diferente de figurinhas carimbadas e bizarras no cenário ocultista nacional (que englobava figuras que iam desde Toninho do Diabo até Luiz Howarth, conhecido como o Papa do Diabo), a Igreja de Lúcifer levantava a bandeira de que o Satanismo estava vivo e era real e que Satanistas estavam entre nós, em nossos prédios e nossos escritórios. O diabo afinal podia ser um cidadão respeitável mesmo sendo uma má influência.

A proposta do Satanismo que surgia naquela época era sedutora, era poderosa: Deus não está morto, como afirmou Nietzsche, Deus é você!

Em pouco tempo muitas pessoas começaram a procurar Ahriman e a Igreja fundada por ele. E assim como em São Francisco na década de 60 aqui no Brasil o Satanismo criou raizes e cresceu. O grupo inicial era pequeno, mas significativo.

Hoje, apenas uma década depois da abertura da Igreja de Lúcifer o cenário é outro completamente diferente e o Satanismo se tornou aqui o mesmo que nos EUA quando o monstro de LaVey se voltou contra ele: “Sempre que viajava ao desembarcar do avião via aquela multidão de mantos e capuzes, as pessoas usavam seus medalhões de Baphomet para ir comer uma pizza na esquina e impressionar as pessoas. Viajar se tornou algo embaraçoso!”

É engraçado ver o que acontece quando uma crença elitista se torna pública. Crowley provavelmente sentiu o mesmo quando disse que o Thelema era para todos, mas nem todos eram para o Thelema. Hoje adolescentes andam com seus medalhões de Baphomet, contestam a filosofia e religião de LaVey se baseando em textos da internet traduzido por pessoas que como eles próprios são incapazes de produzir algo novo.

Dez anos atrás existiam jovens que mentiam a idade para entrar no círculo interno da Igreja de ùcifer e poderem ser um dos poucos privilegiados a de fato fazer parte da real Novus Ordo Seclorum. Hoje os textos que encontramos sobre satanismo são os escritos e produzidos por aqueles mesmos Satanistas que hoje não precisam mais mentir a idade para publicar seu material (não é Morbitvs?). A Cena Satânica se tornou no “cenário satanista”. Antes se discutiam ideáis como a Satanarquia e a formação de grupos políticos hoje temos, com raras exceções um exército de alienados revoltados. Antes eles existiam, mas eram a excessão, hoje são a maioria e infelizmente em um mundo onde reina a democracia a maioria aplaude quem dá as cartas.

O Self Satânico nunca esteve tão em baixa, a imagem do Satanismo nunca tão desacreditada. Talvez terem sido substituídos por umbandistas na lista de most wanted dos evangélicos tenha feito o Satanista se sentir carente e sozinho. De que adianta erguer a bandeira do diabo se no fundo você só está se preocupando com quem presta atenção em você? Ver os novos satanistas desfilando nas ruas hoje tem o mesmo efeito de ver pessoas que vão a reuniões do condomínio trajando vestes militares e coturnos.

Obviamente isto não significa que o Satanismo se tornou uma piada, apenas nos mostra que Satã adora truque com suas cartas. Prestem atenção nesta mão. Onde foi parar o seis de paus? Hoje temos um Satanismo subterrâneo, os demônios voltaram para seus cultos em cavernas, nos sub solos, entre os braços de Belial. Ao passo que anos atrás o movimento satânico nacional criou as pedras angulares da crença e cultura latina do Satanismo hoje ele serve apenas para camuflar os grupos sérios e reclusos. Antes a propaganda era bem vinda, hoje pequenos grupos fogem da luz. O desenvolvimento do Self, da Sombra nesses grupos é uma realidade forte, rituais arcanos e novos são realizados, a verdadeira Comunhão Infernal ocorre a cada encontro.

Grupos como o Templo de Satã, Ordo Saturni, ONA-Bh, F.’.T.’. e outras não apenas mantém viva a chama infernal, mas ainda causam muitos focos de incêndio com ela. Nos resta esperar para ver quando as pessoas que buscam o Satanismo deixarão de ser tão superficiais e voltarão a atraiar a atenção desses verdadeiros magos negros para fora de seus reinos subterrâneos. Quando o diabo irá novamente fechar seus olhos por causa da luz ofuscante do sol e convidar novas pessoas para conhecer seu lar.

Rev. Obito

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