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Le Messe Noir: O Psicodrama Original – Os Rituais Satânicos

Leia em 8 minutos.

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A Missa Negra só é uma cerimônia satânica válida se alguém sente a necessidade de realizá-la. Historicamente, não há ritual mais ligado ao Satanismo do que a Missa Negra. Ela há muito tempo têm sido considerada a escolha principal de satanistas, que supostamente nunca cansam de pisotear cruzes e roubar crianças não batizadas. Se um satanista não tivesse mais nada pra fazer, e tivesse independência financeira, novas e mais blasfêmas versões da Messe Noir teriam sido inventadas para alimentar sua já longa existência, diz a lógica. Tais acusações são tão sem validez e sem lógica como a suposição de que cristãos celebram a Sexta-Feira Santa toda Quarta-Feira à tarde, apesar dessa ser uma idéia estimulante para muitos.

Apesar da Missa Negra ser um ritual que já foi realizado um sem-número de vezes, na grande maioria delas os participantes não eram satanistas, mas pessoas que agiam com a idéia de que qualquer coisa contrária a Deus devia ser do Diabo. Durante a Inquisição, qualquer um que duvidou da soberania de Deus e Cristo foi sem demora considerado um servo de Satã e sofreu as devidas consequências. Os inquisidores, precisando de um inimigo, encontraram um na forma das bruxas que supostamente eram objeto de controle satânico. Bruxas foram produzidas aos montes pela Igreja usando como matéria-prima pessoas senis, sexualmente promíscuas, oligofrênicas(deficientes mentais), deformadas, histéricas e qualquer um que tivesse uma mentalidade ou passado não-cristão. Havia somente uma minúscula quantidade de verdadeiros curandeiros e oráculos. Eles foram igualmente perseguidos.

Recentemente têm havido tentativas de taxar de “bruxas” um grande número de pessoas da antiguidade, rebeldes contra a Igreja Cristã que realizavam “esbás” em homenagem à Diana com furtiva regularidade. Isso apresenta um quadro fascinante. Mas é tolice, porque isso confere um grau de sofisticação intelectual a pessoas que eram simplesmente ignorantes, e que estavam dispostas a participar de qualquer forma de adoração que os formadores de opinião lhes dessem.

De qualquer forma, durante o período em que a Missa Negra foi usada como propaganda contra seitas e ordens “heréticas”, poucos se importaram com os pormenores que diferenciam uma bruxa de um satanista. Os dois eram a mesma coisa aos olhos dos inquisidores, mas pode-se dizer que ao contrário da maioria que estava cansada do rótulo de bruxa, aqueles que se comportaram “satânicamente” frequentemente ganharam este estigma. Isso não quer dizer que perdoamos as ações dos inquisidores contra os livres-pensadores e rebeldes, mas que admitimos que eles eram uma verdadeira ameaça aos santos padres. Homens como Galileu e Da Vinci, acusados de negociar com o Diabo, certamente foram satânicos ao expressarem idéias e teorias destinadas a quebrar o status quo.

O suposto ponto alto da Missa Negra, a oferenda a Satã de um humano não batizado, não era bem como aqueles que recebiam o dinheiro cobrado pelos batismos diziam.

Catherine Deshayes, conhecida como LaVoisin, foi uma mulher de negócios francesa do séc. XVII que vendia drogas e realizava abortos. LaVoisin arranjava “rituais, talismãs e feitiços” para seus clientes, todos desejando continuar com a proteção da Igreja, mas cujas ineficazes preces os levaram a procurar a mais negra magia. Esse tipo de busca desesperada por milagres continua existindo hoje tanto quanto no passado. Na realização de uma de suas mais populares apresentações, uma secreta e altamente comercial inversão da missa católica, LaVoisin deu-lhe “autenticidade” ao realmente contratar padres católicos dispostos a serem celebrantes e algumas vezes usar um feto abortado como sacrifício humano (registros indicam que ela realizou mais de duzentos abortos).

Os padres que supostamente celebraram a Missa Negra para ela forneceram aos propagandistas sagrados mais munição. O fato de padres ordenados serem ocasionalmente propensos a tomar parte em ritos heréticos é compreensível quando consideramos as obrigações sociais daquele tempo. Por séculos na França muitos homens viraram padres por serem de famílias da classe mais alta, pois o clero exigia pelo menos um dos filhos de pais cultos e abastados. O primogênito tornava-se um oficial militar ou político, e o segundo filho era enviado para uma ordem religiosa. Tão polêmica foi tal “lei” que ela gerou a oportuna expressão: “Le rouge et noir.”

Se acontecia de algum dos filhos mais jovens ter tendências intelectuais, o que frequentemente era o caso, o clero praticamente só dava acesso a bibliotecas e pessoas da mais alta erudição. Pois eles acreditavam (com razão) que o princípio Hermético de “assim em cima como embaixo” e vice-versa também valia para indivíduos talentosos e inteligentes. Uma mente inquisidora(no bom sentido da palavra) e bem desenvolvida na maioria das vezes poderia ser perigosamente cética e consequentemente irreverente! Assim sempre havia um estoque de padres “depravados” prontos e dispostos a celebrar ritos satânicos.

A História têm, de fato, produzido muitas seitas e ordens monásticas que caem na febre humanista e iconoclasta. Pense a respeito; você provavelmente já deve ter ouvido falar de um padre que não era exatamente o que ele devia ser…! Hoje, é claro, com o Cristianismo agonizando em sua morte, vale tudo no clero, e os padres um dia torturados e executados por “vis heresias” (Urban Grandier, por exemplo) serão vistos como escoteiros pelos padrões correntes de conduta pastoral. Os padres do séc. XVII que celebraram a Missa Negra não eram necessariamente de todo malignos: heréticos, com a máxima certeza; perversos, definitivamente; mas prejudicialmente malignos, provavelmente não.

As explorações de LaVoisin, as quais têm sido recontadas de maneira tão sensacional, se simplificadas revelam ela como “esteticista”, parteira, e uma farmacêutica que fazia abortos que tinha uma queda pelo teatro. Contudo, LaVoisin deu à Igreja o que ela precisava: uma verdadeira Missa Negra para Satã. Ela forneceu muito material para a máquina de propaganda anti-heresia. LaVoisin colocou a Missa Negra no mapa, por assim dizer, e então continuou trabalhando com uma magia muito real – magia esta muito mais potente do que os feitiços que ela inventava para seus clientes. Ela deu às pessoas uma idéia. Aqueles que se inclinaram para as idéias expressadas pelos ritos de LaVoisin só precisaram de um pequeno empurrãozinho para tentar reproduzir os ritos. Para essas pessoas a Missa Negra forneceu um cenário para vários graus de perversidade, indo desde um psicodrama inofensivo e/ou produtivo até atos infames que realizem as mais selvagens fantasias dos escritores. Dependendo das preferências pessoais, aqueles que se inspiraram pelos gostos de LaVoisin podem tanto realizar uma forma de rebelião terapeuticamente válida, como encher a fila de “satanistas cristãos” – depravados que adotam o modelo cristão de Satanismo. Um fato é irrefutável: para cada bebê abortado oferecido “em nome de Satã” durante as peças secretas de LaVoisin, milhares de bebês vivos e crianças pequenas foram cruelmente mortos em guerras lutadas em nome de Cristo.

A Missa Negra que se segue é a versão realizada pela Societe des Luciferiens no final do séc. XIX e início do séc. XX na França. Obviamente proveniente da primeira Messe Noir, ela também deriva dos textos da Bíblia Sagrada, da Missale Romanun, da obra de Charles Baudelaire e Charles Marie-George Huysmans, e dos registros de Georges Legue. Esta é a versão mais consistentemente satânica que este autor encontrou. Embora mantenha um grau de blasfêmia necessário para tornar o psicodrama eficaz, ela não se apóia em pura inversão, mas eleva os conceitos do Satanismo a um nível nobre e racional. Esse ritual é um psicodrama no verdadeiro sentido. Seu propósito primário é reduzir ou anular estigmas adquiridos via doutrinação anterior. É também um veículo para retaliação contra atos injustos perpetrados em nome do Cristianismo.

Talvez a sentença mais poderosa de toda a missa seja a profanação da Hóstia: “Definhe no vácuo de teu Céu vazio, pois tu nunca foste, e nunca será.” A possibilidade de que Cristo tenha sido uma total invenção têm ocorrido a investigadores com crescente frequência. Muitas ramificações sociais antigas existentes podem ter tornado isso praticável. Talvez a recente última vala “Cristo, o homem” permaneça como uma tentativa de sustentar um mito moribundo pelo uso de um só elemento reforçador – com o qual todos se identificarão – que o mostra como um ser humano passível de falhas!

 

Requisitos para a Realização

 

Os participantes consistem em um sacerdote(celebrante), seu assistente imediato(diácono), um assistente secundário(sub-diácono), uma freira, uma mulher-altar, um iluminador que segure uma vela acesa onde leituras sejam necessárias, um turibulário, um tocador do gongo, um auxiliar adicional e a congregação.

Mantos negros com capuz são usados por todos os participantes menos dois: a mulher vestida como freira, vestindo o costumeiro hábito e véu, e a mulher que serve como o altar, nua de salto alto e gargantilha com rebites. O sacerdote que conduz a missa é chamado de celebrante. Sobre seu robe ele usa uma casula ostentando um símbolo do Satanismo – o Sigilo de Baphomet, pentagrama invertido, cruz invertida, o símbolo do enxofre ou pinhas negras. Embora algumas versões da Missa Negra sejam realizadas com vestimentas consagradas pela Igreja Católica Romana, registros indicam que tais trajes são a exceção e não a regra. A autenticidade de uma hóstia consagrada parece ter sido bem mais importante.

A mulher que serve como o altar jaz numa plataforma de comprimento proporcional ao seu corpo, com seus joelhos nas beiradas e bem separados. Um travesseiro apóia sua cabeça. Seus braços são estendidos para os lados como uma cruz e cada mão agarra um castiçal contendo uma vela negra. Quando o celebrante está no altar, ele fica entre os joelhos da mulher.

A parede atrás do altar deve exibir o Sigilo de Baphomet ou uma cruz invertida. Se ambos forem usados, o Sigilo de Baphomet deve ocupar a parte mais alta e a cruz o espaço de baixo.

A câmara também deve ser cobrida com cortinas negras ou de alguma forma que lembre a atmosfera de uma capela medieval ou gótica. A ênfase deve ser colocada em severidade e rigidez, e não elegância ou requinte.

Todos os instrumentos padrão do ritual satânico são usados: sino, cálice, símbolo fálico, espada, gongo, etc – ver Bíblia Satânica para descrições e uso. Em adição são usados um pequeno vaso representando a fonte batismal, um turíbulo e um incensário.

O cálice contendo vinho ou licor é colocado entre as coxas do altar, assim como uma pátena contendo uma hóstia de nabo ou de pão de centeio. O cálice e a pátena devem ser cobertos com um quadrado de pano negro, de preferência do mesmo tecido que a casula do celebrante. Bem na frente do cálice é colocado um aspersório ou o falo.

O texto do ritual é colocado num pequeno suporte (como os de partituras musicais) de modo que fique à direita do celebrante quando este fica voltado para o altar (pois originalmente os padres realizavam as missas de costas para a congregação). O iluminador permanece ao lado do altar próximo do texto do ritual. Defronte a ele, do outro lado do altar, fica o turibulário que segura carvão aceso. Próximo dele fica o auxiliar segurando o incensário.

A música deve ser litúrgica, de preferência tocada num órgão. As obras de Bach, De Grigny, Scarlatti, Palestrina, Couperin, Marchand, Clerambault, Buxtehude e Franck são as mais apropriadas.

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