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Sagrado Feminino

‘Quem é a Nossa Senhora do Abismo?

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Escrito por Geogia van Raalte

Uma figura oculta persegue nossas histórias registradas. Drapeada em vermelho Ela aparece nas bordas, nos espaços entre carnalidade, consciência e deus. Envolta em vermelho Ela está de pé, e em Sua mão estendida está a Taça das Abominações.  Ela caminha, bêada com os Doces Aromas de Suas Fornicações. Ela caminha, e de Seu Cálice Derrama o Sangue dos Santos. Todo o Grande Sacrifício Mítico da Humanidade, Toda a nossa Morte, Todo o nosso Amor, tudo o que demos, tudo é derramado em Sua Taça, e de Sua Taça Ela o derrama em um circuito sem fim, uma maré brincalhona que destrói tudo o que veio antes, erodindo-o, batendo contra a rocha imóvel até que seja transformada em sedimento, a areia das eras, carregada por Suas marés.

Babalon é o Psychopomp, a Anima, a Iniciadora. Ela é a Deusa das Trevas que fica atrás do santuário, esperando. Ela é a força das marés e o canto das árvores. Ela é o centro da terra, latente. Ela é a sutileza que nos mantém cambaleando. E como a desejamos! Babalon é a Deusa do Agora, a Esposa da Eternidade. Brincar sob Seu véu efervescente e inconstante é um êxtase de imagens. Ela tem mil millhares de nomes e mil milhares de rostos. Aproxime-se de Sua Presença. Olhe para Sua Santa Face. Beba de seu copo.

O Capítulo 17 do livro bíblico do Apocalipse descreve uma visão de Babilônia, a Grande Prostituta que cavalga sobre a Besta:

E veio um dos sete anjos que tinham as sete taças e falou comigo, dizendo-me: “Vem, mostrar-te-ei a condenação da grande prostituta que está assentada sobre muitas águas; com a qual fornicaram os reis da terra; os que habitam na terra se embebedaram com o vinho da sua fornicação.” Então o anjo levou-me em espírito a um deserto e vi uma mulher assentada sobre uma besta de cor de escarlate, que estava cheia de nomes de blasfêmia e tinha sete cabeças e dez chifres. E a mulher estava vestida de púrpura e de escarlate, e adornada com ouro, pedras preciosas e pérolas; e tinha na sua mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua fornicação. E o nome escrito em sua testa era um mistério: A grande Babilônia, a Mãe das Prostituições e Abominações da Terra.

Em 1587, enquanto visitava a Boêmia do Sul (hoje República Tcheca), o famoso estudioso e mago John Dee e seu assistente Edward Kelly passaram por uma série de trabalhos mágicos, com Kelly buscando visões em um espelho de obsidiana. Eles fizeram contato com um espírito chamado Madimi, que apareceu na figura de uma jovem, e ofereceu a Kelley a seguinte visão:

Eu sou a filha da Fortidude e arrebatada a cada hora de minha juventude. Pois eis que sou a Compreensão e a ciência habita em mim e os céus me oprimem. Eles me cobrem e me desejam com infinito apetite; pois ninguém que é terreno me abraçou, pois eu sou obscurecida pelo Círculo das Estrelas e coberta pelas nuvens da manhã. Meus pés são mais velozes que o vento e minhas mãos são mais doces que o orvalho da manhã. Meus adornos são do princípio e minha morada é em mim. O leão não sabe por onde ando nem a besta dos campos me entende. Eu sou deflorada e ainda assim virgem; Eu santifico e não sou santificada. Feliz é aquele que me abraça: pela noite eu sou doce e de dia cheia de prazer. Minha companhia é uma harmonia de muitos símbolos e meus lábios mais doces que a própria saúde. Eu sou uma Prostituta para aqueles que me arrebatam e uma virgem para aqueles que não me conhecem. Pois eis que eu sou amada por muitos e uma amante para muitos; e todos quantos vierem a mim como devem, terão entretenimento.

 

Purifiquem suas ruas ó filhos dos homens e lavem suas casas; santificai-vos e praticai retidão. Lança fora tuas velhas prostitutas e queimem suas roupas; se abstenham da companhia de outras mulheres que são impuras, que são indecentes e não tão belas quanto eu; então eu virei e permanecerei entre vós: e eis que eu lhe darei filhos e eles serão os Filhos do Conforto. Eu abrirei minhas vestes e ficarei nua diante de ti, para que seu amor seja mais inflamado em minha direção.

Essa é a primeira aparição de BABALON, cujo nome é uma tradução de uma palavra em Enoquiano que significa perversa. A visão concedida à Kelly tem uma impressionante semelhança com a deusa sem nome do antigo texto cóptico “Trovão: Mente Perfeita”, um dos manuscritos encontrados na biblioteca de Nag Hammadi em 1945.

O infame e decadente Aleister Crowley tentou copiar o experimento de Dee, primeiro em 1900, e novamente em 1909, dessa vez com o auxílio de seu amante Victor Neuburg. Esta segunda invocação, que ocorreu no deserto da Argélia foi um sucesso e os dois fizeram contado com a própria Grande Deusa.

Eu sou a prostituta que abalou a Morte. Esse abalo dá paz a Luxuria Saciada. Imortalidade jorra do meu crânio,
E música da minha vulva.
Imortalidade jorra também da minha vulva,
Pois a minha prostituição é um perfume doce como um instrumento afinado sete vezes Jogado ao Deus Invisível, o governante de tudo,
Que percorre dando o grito estridente do orgasmo.[1]

[1] A invocação do 2º Aethyr, chamado ARN. Qualquer buscador com um interesse sério em Babalon faria bem em ler este texto e meditar sobre seu conteúdo.

Hoje muitas pessoas de diferentes caminhos e tradições realizam a Obra de Nossa Senhora; eles geralmente podem ser reconhecidos por Seu sinal, que é um septagrama.

Babalon é uma Deusa Moderna. Ela se ergueu como uma corrente em resposta à repressão do Divino Feminino no Ocidente nos últimos dois mil anos. Babalon é representada em uma série de arquétipos: o Divino Feminino, a Grande Mãe, a Súcubo, a Iniciadora e a Prostituta Sagrada. Ele é geralmente vista como o impulso sexual feminino, ou também como a Luxúria, mas estas são falsas simplificações. Em vez disso, nós devemos compreender que através do trabalho com Babalon nós podemos experimentar a divindade em todos os aspectos da fisicalidade. Ela é Força – Alegria – Gozo – Êxtase. Ela é a própria Glória da Vida, da paixão, do desejo, do instinto, do conflito, da guerra, da crueldade e do próprio amor. Ela é a Mãe Divina que mata tudo que cria e esta é a Glória do Mundo.

Ao lado de sua Grande Besta Ela representa os Mistérios da Polaridade, que são a base do Sexo, mas também de toda as diferenças e alteridades no mundo. Ela simboliza a grande Força potencial e a atração, chamado e a profundidade evocativa que geralmente aparecem como passividade. Ela nos diz que os Mistérios do Sexo não são como aparentam e não são diferentes dos Mistérios da Morte.

A Natureza do Trabalho

Este é o segredo do Santo Graal, que é o vaso sagrado de Nossa Senhora, a Mulher Escarlate, Babalon, a Mãe das Abominações, a noiva do Caos, que cavalga sobre nosso Senhor, a Besta. Tu drenarás teu sangue que é tua vida no cálice de ouro de suas fornicações. Tu misturarás tua vida com a vida universal. Tu não reterás uma gota.

Na mão estendida de Babalon está a Taça das Abominações. Esta Taça é o Santo Graal. Representa o potencial para a divindade e o infinito que está dentro da carne; o Segredo do Santo Graal é o Mistério da Divindade que seu corpo físico, sua pele e hormônios e nervos e memórias e desejos e todos os seus eflúvios grotescos, são capazes de criar. Babalon é outra maneira de dizer: Você é Santo e Divino; não apesar de sua carne, mas por causa dela.

Muitos acreditam que o êxtase é o ponto de partida do Trabalho com Nossa Senhora; eles não estão errados, desde que não pensem que o êxtase seja encontrado na fuga. O trabalho com Nossa Senhora começa com silêncio e espaço – dentro, não fora. Requer humildade, castidade e paciência. Suportar essas coisas até ouvir Suas vozes é o que muitas vezes é chamado de “Conhecimento e Conversação”.

Uma vez alcançado isso, o buscador está pronto para se aproximar do Abismo, que é um símbolo das profundezas das estruturas do próprio Ego, da própria personalidade, no sentido mais profundo. Progredir através de Seus Mistérios requer um trabalho complexo: a elaboração e elaboração de todos os condicionamentos culturais que são carregados dentro de seu corpo.
Quanto mais profunda e sagrada a linha parece, mais profundamente ela deve ser limpa. Uma citação do diário de Leah Hirsig pode fornecer alguma clareza:

Para abordar os problemas das “convenções” das pessoas, sugiro duas linhas principais:

1. para o simples — faça a pergunta “O que mais o incomoda na vida”.

2. para o animal mais complexo – Force-o com uma lista de todos os crimes possíveis e peça-lhe para mencionar aquele que ele acha pior, mais “perverso” ou “nojento” ou algum termo semelhante.’

Lembre-se que o nome dela significa ‘iníquo’; o trabalho de Babalon é o trabalho de questionar o que você foi ensinado a considerar como mal. Graças às doutrinas de Platão e Santo Agostinho, na sociedade ocidental o mal sempre pode ser reduzido, em última instância, às qualidades inerentes ao corpo e à carne; especificamente, que pode ser corrompido e que morre. No entanto, essas mesmas coisas, quando vistas da perspectiva de Babalon, são a fonte da Alegria; a carne é temporária, mas através da nossa carne podemos experimentar a divindade, que é infinita. Nossa Senhora revela o potencial para experimentar esta divindade em nossos corpos físicos, algo que só pode acontecer depois de descascar as camadas de vergonha que deixamos crescer ao longo dos anos.

Leitura Adicional

  • The Vision and the Voice, Crowley and Regardie
  • Liber Cheth vel Vallum Abiegni
  • From Ritual to Romance, Jessie Weston
  • The Sea Priestess, Dion Fortune
  • The Esoteric Philosophy of Love and Marriage, Dion Fortune
  • On Redemption as a Woman, Soror Absorbeo
  • On the Scarlet Woman, J. Cornelius
  • KAOS, ed. Joel Biroco
  • La Morte D’Arthur, Mallory
  • Caliban and the Witch: Women, the Body and Primitive Accumulation, Silvia Federici
  • Divine Feminine: Theosophy and Feminism in England, Joy Dixon
  • Satanic Feminism, Per Faxneld
  • Seduction, Jean-Luc Marion
  • The Chalice of Ecstasy, Frater Achad
  • The Book of Lies, Crowley
  • The Sacred Prostitute: Eternal Aspect of the Feminine, Nancy Qualls-Corbett
  • The Grail Legend, Emma Jung and Marie-Louise von Franz
  • Psyche and Eros: The Psychic Development of the Feminine, Erich Neumann
  • The Great Mother, Erich Neumann
  • The Great God Pan, Arthur Machen The Goat-foot God, Dion Fortune The Mystical Qabalah, Dion Fortune
    The Wise Wound, Shuttle and Redgrove
  • Theurgia, Iamblichos
  • The Trickster and the Paranormal, George P. Hanson

Traduzido por João Marcus Jardim e Tamosauskas

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