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Comentado por Ya’aqov, seguidor de Ya’aqov

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Todo texto sagrado tem como objetivo apresentar uma série de ensinamentos destinados a revelar o próprio sagrado. Com o enfoque naquilo o que é essencial, ele pode fazer uso de situações do cotidiano ou até mesmo tidas como fantasias para alcançar o seu objetivo. Por ter o enfoque no que é sagrado, por mais que ele possa fazer uso de fatos, o seu objetivo não é contar uma narrativa histórica, isto é, ele não está preocupado com a acurácia dos acontecimentos, ele não visa contar algo de maneira fidedigna. Ele modifica os fatos para fazer com que eles se adequem ao ensinamento que busca transmitir.

Por isso, não devemos ler um texto sagrado como um documento que transmite exatamente os contextos sociais e os acontecimentos experienciados na época na qual a sua história se passa. Estes contextos e acontecimentos podem até ser reais, mas esta não é a preocupação do texto sagrado.

Aquele que apega a literalidade do texto, ou encontrará divergências sobre as mesmas situações e, por isso, o tomará como falacioso, ou tentará distorcer o que está escrito, fingindo que as contradições não existem. Porém, aquele que sabe que as narrativas de situações são ferramentas para se passar ensinamentos superiores, conseguirá ver para além das palavras e começar a desvelar os seus mistérios. Tomemos uma das situações mais famosas dentro dos textos evangélicos como exemplo.

Durante a narrativa do chamado “Sermão do Monte”, encontramos a seguinte descrição no Evangelho segundo Mateus:

Mateus 5 : 1-2

“Vendo ele as multidões, subiu à montanha. Ao sentar-se, aproximaram-se dele os seus discípulos. E pôs-se a falar e os ensinava, dizendo:”

Pela literalidade do texto, incluindo a passagem anterior, interpretamos que Jesus, quando estava nas proximidades de Cafarnaum, viu uma multidão de pessoas que estavam, no mínimo, curiosas com o que ele tinha para dizer. Então, percebendo a quantidade de pessoas que buscava pelos seus ensinamentos, ele se deslocou para um local de destaque, no qual a maior parte da multidão poderia vê-lo e, talvez, pela própria estrutura física do local, ouvi-lo. Sentou-se, aguardou que os seus discípulos se aproximassem para também ouvir o que ele tinha a dizer e, por fim, proclamou o famoso “Sermão do Monte” ou as chamadas “Bem Aventuranças”.

Entretanto, ao lermos a descrição da mesma situação, mas no Evangelho segundo Lucas, encontramos:

Lucas 6: 17-20

“Desceu com eles e parou num lugar plano, onde havia numeroso grupo de discípulos e imensa multidão de pessoas de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e Sidônia. Tinham vindo para ouvi-lo e ser curados de suas doenças. Os atormentados por espíritos impuros também eram curados. E toda a multidão procurava tocá-lo, porque dele saía uma força que a todos curava. Erguendo então os olhos para os discípulos, dizia: Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus.”

Em uma interpretação do texto evangélico, vemos que Jesus saiu de um lugar mais elevado e encontrou os seus discípulos e a multidão em um lugar plano, no qual começou a curar as pessoas até que, em determinado momento, ele olha para cima, vê os discípulos e inicia a proferir as suas “Bem Aventuranças”. O ato de olhar para cima e ver os discípulos pode indicar ou que Jesus poderia estar sentado e os discípulos em pé; ou que os discípulos eram todos mais altos do que Jesus, posto que, estando todos em um local plano, Jesus via os discípulos quando olhava para cima; ou que alguns discípulos continuaram na montanha de onde Jesus estava vindo e, quando Jesus olhou para cima, ele estava vendo esses discípulos.

Apesar de todas essas possibilidades envolvendo o porquê de Jesus ver os discípulos quando olhou para cima, quando comparamos o texto dos dois Evangelhos, percebemos uma série de aparentes contradições.

Enquanto em Mateus, Jesus subiu uma montanha, em Lucas, Jesus desceu e falou do plano. Em Mateus, apesar de Jesus estar sentado, ele parece falar de cima para baixo, mas, em Lucas, apesar de Jesus estar em pé, ele parece falar de baixo para cima. Ou seja, os Evangelhos narram fatos distintos acontecendo, supostamente, na mesma situação.

Assim, se formos tomar a literalidade dos textos, deveríamos estabelecer que ou toda a situação é falsa; ou que um dos Evangelhos é verdadeiro e, consequentemente, o outro é falacioso; ou que a situação talvez tenha acontecido, mas que não se sabe como ela se desenrolou. Seja qual for a conclusão na comparação entre os textos, uma coisa é certa, ela nos afastaria dos ensinamentos esotéricos ali presentes.

Entretanto, se sabemos que o texto é de natureza esotérica, isto é, que ele busca, acima de tudo, transmitir ensinamentos sagrados, de contato com o divino, além das questões sobre moral, ética, costumes e história, conseguimos descortinar os seus ensinamentos e perceber que cada um dos Evangelhos possui uma linha de pensamento própria e, consequentemente, um maior enfoque em determinados símbolos. Enquanto o Evangelho segundo Mateus dá um enfoque baseado naquilo o que é superior e indica que todas as nossas partes que se conectam com o chamado mundo profano se dirijam aos céus, àquilo o que é Sagrado; o Evangelho segundo Lucas tem uma abordagem mais focada nas práticas chamadas profanas e na sua transformação em atos sagrados.

Desta forma, o Evangelho segundo Mateus nos instiga a, uma vez que encontramos algo sagrado, a conduzir todas as nossas energias e atos em sua direção. Ao passo que o Evangelho segundo Lucas nos instiga a levar o Sagrado aos nossos atos e, assim, transformá-los. Tais referências são feitas baseada na perspectiva da figura de Jesus. No primeiro caso, ele está no alto e se dirige àquilo que está em um nível inferior, que, por sua vez, busca a sua orientação. No segundo caso, ele se coloca no mesmo nível das coisas ditas inferiores e, ali, olha para cima, indicando que as práticas “profanas” devem ser feitas “ancoradas” no que é superior.

Com tais perspectivas em mente, podemos aplicá-las nos mais diversos contextos de nossas vidas. Ao nos encontrarmos diante de um dilema em nossas vidas, podemos nos colocarmos em uma posição elevada, no sentido de praticar o que é moralmente superior e não de parecer superior, fazendo com que toda a situação caminhe para este local, como ensina o Evangelho segundo Mateus; e/ou podemos perceber que a solução do nosso dilema não se encontra no “plano” no qual ele se desenrola, mas que devemos olhar de um “plano” superior, como leciona o Evangelho segundo Lucas.

Assim, Mateus parte do princípio de que nós sabemos o que é mais elevado e nos instiga a conduzir todas as nossas partes, ações, pensamentos e sentimentos em sua direção. E Lucas parte do princípio de que, talvez, a gente não saiba o que é o melhor, por isso que devemos sempre mirar o alto, e conduzir todas as nossas porções “mais baixas” em sua direção. No primeiro, o condutor sagrado vai a frente guiando o caminho. No segundo, ele segue no final garantindo que ninguém ficará para trás.

Outra questão associada à construção de um texto sagrado, principalmente quando fazem uso de narrativas, está no fato de que, apesar de a história contada seguir uma certa cronologia, os ensinamentos e as interpretações não devem ser feitos da mesma maneira. Numa narrativa, as circunstâncias presentes geram as circunstâncias futuras, fazendo com que a gente estude um contexto e veja as possibilidades possíveis ali e qual foi a que aconteceu, isto é, a história te guia em direção a um evento que é considerado o seu ápice, no caso dos Evangelhos, a volta de Jesus Cristo. Porém, um texto sagrado, é um organismo vivo, no qual todas as informações se entrelaçam ao mesmo tempo e geram ensinamentos.

Tal qual o corpo humano que possui diversos órgãos que se comunicam e desempenham as suas funções com base nas suas conexões com o restante do sistema, um texto sagrado funciona da mesma maneira. No caso do corpo humano, não existe órgão mais importante, todos eles cumprem a sua função e, por isso, o “objetivo” do corpo é alcançado, continuar vivo. No caso do texto sagrado é a mesma coisa, não existe parte mais importante, nem mesmo a volta de Jesus Cristo após a crucificação, todas as suas partes cumprem a sua função em conexão com as demais, e, assim, o “objetivo” do texto é alcançado, conduzir o seu estudante ao sagrado.

E é esta característica de conexão e igualdade entre as partes que faz com que cada parte do texto sagrado possa ser interpretada de diversas maneiras, de acordo com as partes com as quais ela está se conectando naquele momento. Assim, uma mesma passagem guarda em si camadas de ensinamentos, que só podem ser acessadas se o estudante possuir a capacidade de ler para além da literalidade e conseguir conjugar a parte dentro do todo.

O nascer de novo, no ensinamento de Jesus indicando que só verá o Reino de Deus quem nascer de novo (João 3:3), pode ser interpretado como sendo a conversão aos ensinamentos proferidos por Jesus; como um indicativo da ocorrência da reencarnação; como algo que só vai acontecer após a morte, pois precisaríamos renascer em outro mundo existencial; como um indicativo de que devemos deixar velhos hábitos para trás e começar a vivenciar novos hábitos, com uma perspectiva de sacralizar a vida e, portanto, estaríamos nascendo constantemente em nossas vidas; bem como mais uma série de interpretações. E, por se tratar de um texto sagrado, todas essas interpretações estão corretas, pois são ensinamentos que extraímos de acordo com as conexões feitas dentro do próprio sistema que é o texto sagrado. Uma interpretação não exclui a outra. Elas se complementam e nos passam as mais diversas chaves de ensinamento de acordo com a conjuntura e as conexões realizadas dentro do próprio sistema.

E essa conexão sistêmica de um texto sagrado faz com que, para quem  tem olhos de ver, veja que inúmeras situações descritas no texto são, na verdade, a repetição de um mesmo ensinamento, mas aplicado em um novo contexto, a uma nova conjuntura. Essa percepção nos aponta ao sentido de que não basta conhecer os ensinamentos como um todo, é necessário saber realizar o seu enquadramento de acordo com as circunstâncias presentes numa situação, em um contexto. A Lei de Deus, por mais absoluta que seja, se expressa tal qual a própria manifestação, de maneira relativa e, portanto, adequada a cada situação. E, por isso, a Lei é Absoluta, pois ela está em todos os lugares, por mais variados que eles possam se mostrar.

Outrossim, a questão do uso de histórias, como a adotada nos textos evangélicos e na bíblia hebraica, mais que do que contar fatos, facilita o resgate na memória, posto que o uso de uma narrativa ou de uma canção, como o caso dos Salmos, é mais fácil de se lembrar. Basta alguém contar um trecho ou cantarolar a melodia, que, pouco a pouco, toda a narrativa é relembrada. Ao passo que um texto descritivo de práticas, tem a ser mais difícil de ser resgatado.

O próprio uso de histórias também possibilita a apresentação de costumes, hábitos locais, facilitando a identificação dos personagens e, inclusive, o estudo futuro. Pois, se eu entendo como um grupo, de maneira mediana, se comporta, eu entendo o que um determinado ato significa para além da descrição do próprio ato. Se eu entendo que a Pessach (פסח) é a comemoração da saída do Egito, a entrada no deserto, pós libertação, eu entendo o que os seus ritos significam, como o consumo de matzá e, consequentemente, eu compreendo o porquê de Jesus ter escolhido o pão como símbolo da sua carne na chamada “Santa Ceia”. Da mesma maneira que eu entendo que toda a “Semana Santa” é uma repetição dos ensinamentos encontrados no Êxodo, quando há a saída do cativeiro da matéria e o encontro com a divindade para o estabelecimento de Suas leis.

E, para além de todas essas questões, o estudo de textos sagrados visa fazer despertar em nosso íntimo aquela luz oculta e que tem a capacidade de esclarecer toda a vida material, iluminando-a com a sacralidade. Nos faz pensar sobre a gente. Pois, assim como Deus para se conhecer como Ser, manifestou-se no Universo[1], o indivíduo, para se conhecer, projeta mentalmente em si a sua imagem. Diante dela, ele pensa a respeito de cada ponto e, por fim, se vê, reconhecendo-se como Ele mesmo.

Entendendo tudo isso, o texto sagrado nos mostra que eu não sou o que eu faço, mesmo que naquilo o que eu faça tenha um pouco de mim. Se eu sou (qualidade do Ser), não estou. E tudo o que eu faço está e não é, logo não sou os meus atos e, por isso, eles não podem me definir. Assim, eu, quanto ser manifesto, não sou Deus, embora um pouco de Deus exista em mim. Porém, eu, como aquele que é, sou o próprio Deus.

Mas, para compreendermos todas essas coisas, precisamos nos manifestarmos no transitório, a fim de entendermos a diferença entre o que É e o que está. Compreendermos que tudo o que estamos, não somos, mas o que Sou em tudo está, pois a ilusão, embora não seja a Realidade, existe como Sua projeção a fim de que o Ser se reconheça como o que é, Ele mesmo.

Então, que faça-se a Luz (יהי אור).

1-3 : O Evangelho de Jesus

Os 3 (três) primeiros versículos, nos apresentam o contexto no qual se insere aquilo que será conhecido como o  Evangelho de Cristo. Entendemos quem é Jesus, e que características o tornam propício para ser chamado de Filho de Deus.

A expressão “Evangelho”, também presente em português como “bom anúncio”, tem origem no grego, na palavra euangélion (εύαγγἐλιον). Ela é composta por um sufixo (eu-), que significa “bom” e a palavra angelía, que significa “anúncio, mensagem”. Na antiga Grécia, principalmente nas obras de Homero, a expressão refere-se a quem traz a boa mensagem, porém, no período romano, a expressão muda de significado para indicar a subida ao poder de um novo imperador. Assim, a expressão Evangelho presente no texto bíblico anuncia que a boa notícia ou que o bom anúncio é a de que um novo Rei está sendo empossado.

Traçando um paralelo com nossas jornadas, também podemos encontrar significados esotéricos que nos auxiliam a perceber momentos pelos quais passamos ou estamos enfrentando. Percebendo nossa natureza dúplice, feitos de matéria, mas também de Espírito, começamos a entender as forças que atuam em nosso íntimo e para onde elas nos conduzem. O Espírito nos convida a encontrarmos a nossa filiação divina, ao ponto que a matéria parece querer nos afastar dela, sem perceber que a sua saturação faz parte dos próprios desígnios de Yahweh para nos fazer entender essa dualidade, bem como gerar a maturação necessária para trilharmos o caminho do Espírito.

 

(1) Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.

Em nosso estudo, é importante destacarmos a escolha feita pelo autor da versão do Evangelho objeto da presente obra, tanto para estabelecer o corte histórico de onde a sua narrativa teria início, quanto na escolha das palavras para abrir o seu texto.

Diferentemente de outras versões do Evangelho, que abordam momentos anteriores da vida de Jesus, ou como no caso do Evangelho segundo João, que se inicia no processo de cosmogonia, o Evangelho Segundo Marcos tem início indicando o contexto do batismo realizado por João Batista àquele que chamamos por Jesus. Ademais, seu primeiro versículo estabelece que é neste momento que se inicia o Evangelho de Jesus Cristo, isto é, ele conta o princípio da Boa Nova, dos ensinamentos difundidos por Jesus, o Ungido. Nesse sentido, torna-se importante destacarmos que se é, a partir deste momento, que começa o Evangelho de Jesus Cristo, tudo o que aconteceu anteriormente, por mais relevância e ensinamentos de natureza espiritual que possa ter, não fazem parte da jornada de Jesus como O Ungido.

A expressão ungido (mashiach), da qual deriva o termo Cristo ou Chrestos, é uma referência à prática judaica de se ungir o rei da sua nação, como aconteceu com Davi, o escolhido por Yahweh para suceder Samuel.

 

1 Samuel 16 : 1

“Yahweh disse a Samuel: ‘Até quando continuarás lamentando Saul, quando eu próprio o rejeitei, para que não reine mais sobre Israel? Enche de azeite o teu chifre e vai! Eu te envio à casa de Jessé, o belemita, porque vi entre os seus filhos o rei que eu quero’.

 

1 Samuel 16 : 12-13

“Jessé mandou chamá-lo: era ruivo, de belo semblante e admirável presença. E Yahweh disse: ‘Levanta-te e unge-o: é ele!’ Samuel apanhou o vaso de azeite e ungiu-o na presença de seus irmãos. O espírito de Yahweh precipitou-se sobre Davi a partir deste dia e também depois. Quanto a Samuel, ele pôs a caminho e partiu para Ramá”.

 

Assim, ao informar que Jesus é Ungido, ou que Jesus é Cristo, a ideia que se busca passar é que ele é O Rei, o soberano ao qual toda a população se encontra vinculada. O estabelecimento de um Rei determinar a ocorrência de uma unidade, na qual todo o povo está unido ao Rei[1], bem como uma relação hierárquica, na qual o Rei determina e o povo deve seguir os seus desígnios.

Este entendimento da realeza atribuída a Jesus é ratificado com a expressão “Filho de Deus”, utilizada no próprio versículo para estabelecer uma diferenciação entre ele e os demais, que são filhos de homens. Ademais, a expressão também estabelece a filiação de Jesus com Yahweh, no sentido de que Jesus Cristo é o Filho, aquele que, dentre outras coisas, é o responsável por dar continuidade[2] à obra do Pai[3].

A noção de herança decorrente da percepção do prolongamento da ação de Yahweh por intermédio de Jesus Cristo é uma das questões que torna possível a frase “Eu e o Pai somos um”:

 

João 10 : 29-30

“Meu Pai, que me deu tudo, é maior do que todos e ninguém pode arrebatar da mão do Pai. Eu e o Pai somos um.”

 

Por ser um com o Pai, isto é, com Yahweh, descobrimos que Jesus cumpre apenas os Seus desígnios em todas as suas ações, diferentemente do que acontece com os demais, que ainda se encontram sob a influência da matéria e, por isso, ainda não atingiram a maturidade espiritual.

 

Gálatas 4 : 1-5

“Ora, eu digo: enquanto o herdeiro é menor, embora dono de tudo, em nada difere de escravo. Ele fica debaixo de tutores e curadores até a data estabelecida pelo pai. Assim também nós quando éramos menores estávamos também reduzidos à condição de escravos, debaixo dos elementos do mundo. Quando, porém, chegou à plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para resgatar os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial.”

 

Essa compreensão é importante, pois, assim como verificamos na passagem transcrita, o Filho de Deus nasce de uma mulher, isto é, ele nasce decorrente de um processo material. Como todo processo, e a própria cosmogonia, a criação do Universo (Manifestação), é um processo[4], a senda espiritual, aquela que nos leva da ignorância até conseguir ver Yahweh, é regida por uma Lei. Verificamos, assim, que o nascer como Filho de Deus também se trata de uma atividade dinâmica, que possui uma sucessão de etapas que conduzem até o propósito criativo determinado por Yahweh.

Assim, quando o Evangelho contextualiza o início do Evangelho de Jesus Cristo como o momento do batismo de Jesus por João Batista, é possível estabelecermos que, anteriormente a este momento, aquele que passamos a conhecer como Jesus Cristo, Jesus Nazareno ou, simplesmente, Jesus, ainda não possuía as características necessárias para ser intitulado como Filho de Deus, como Cristo.

Também percebemos este processo de transformação ao acompanharmos o início do Evangelho segundo Mateus, que, ao traçar a ascendência de Jesus, estabelece a linhagem de José (Mateus 1:1-17). Ou seja, Jesus é o quadragésimo segundo, na linhagem que se inicia em Abraão, o primeiro a reconhecer e aceitar Yahweh como o único Deus[5].

 

Mateus 1 : 17

“Portanto, o total das gerações é: de Abraão até Davi, quatorze gerações; de Davi até o exílio na Babilônia, quatorze gerações; e do exílio da Babilônia até Cristo, quatorze gerações.”

 

Na transcrita passagem, verificamos que, para Jesus ser o representante da décima quarta geração, a décima terceira, no próprio texto bíblico, no versículo anterior ao da passagem transcrita, é representada por José. Em outras palavras, aquele que chamamos de Jesus é caracterizado como sendo filho de José (Yeshua ben Yoseph). É o seu herdeiro, aquele que dá continuidade à sua obra. Inclusive, cabe destacarmos que, enquanto é o ventre materno que garante o pertencimento ao povo de Israel, é obrigação do genitor promover a circuncisão do filho varão. A circuncisão é o símbolo, na carne, da aliança feita com Yahweh[6].

Assim, a figura de Jesus possui uma característica dúplice, ele é Filho do Homem, pois nasceu da matéria e tem linhagem material, a sua filiação com José e Maria, da mesma forma que se torna Filho de Deus, pois tem linhagem espiritual, a sua filiação com Yahweh.

 

Mateus 17 : 22-23

“Estando eles reunidos na Galileia, Jesus lhes disse: ‘O Filho do Homem será entregue às mãos dos homens e eles o matarão, mas no terceiro dia ressuscitará.”

 

Lucas 9 : 22

“E disse: ‘É necessário que o Filho do Homem sofra muito, seja rejeitado pelos anciãos, chefes dos sacerdotes e escribas, seja morto e ressuscite ao terceiro dia.”

 

Neste sentido, verificamos que Jesus possui uma linhagem material e que toda a manifestação se opera por intermédio de processos. Então, para que Jesus viesse a se tornar o Ungido, era necessário o seu desenvolvimento. Este desenvolvimento, alinhado com a escolha do Evangelho para estabelecer o momento do batismo como o início do Evangelho de Jesus Cristo, nos leva a crer que, até o momento do batismo, Jesus ainda não era Jesus Cristo.

Inclusive, podemos dizer que é provável que o próprio nome “Jesus” não fosse utilizado por ele até este momento. E, apenas após a sua cerimônia de batismo, é que ele passou a fazer uso do nome de Jesus, que passou a ser um título, de forma similar ao que ele fez com Simão, filho de Jonas, que, ao aceitar o chamado feito por Yahweh, recebe o nome de Pedro.

 

Mateus 16 : 17-19

“Jesus respondeu-lhe: ‘Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, e sim meu Pai que estás nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, sobre esta pedra edificarei a minha assembleia de chamados, e as portas do Hades [Mundo dos Mortos] nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus’.”

 

Da mesma forma com que, tanto Abrão (אברם) se tornou Abraão (אברהם) (Gênesis 17:5), quanto sua esposa Sarai (שרי), tornou-se Sara (שרה) (Gênesis 17:15). A mudança de nomes é uma constante dentro da Bíblia, simbolizando uma transformação na maneira de se pensar e agir de um determinado personagem, a exemplo de Jacó (יעקב), que se torna Israel (ישראל):

 

Gênesis 35 : 10

“Deus lhe disse: ‘Teu nome é Jacó, mas não te chamarás mais Jacó: teu nome será Israel.’ Tanto que é chamado Israel.”

 

Ademais, nos próprios relatos ocorridos em outros Evangelhos, quando abordada a situação da fecundação de Jesus, há sempre a menção de que ele “será chamado”, isto é, sempre há uma referência no tempo futuro. Embora esta referência, de maneira isolada e analisada em sua literalidade, pode transparecer a ideia de que Jesus será o nome recebido após o nascimento da criança ou da cerimônia do brit milá[7], quando conjugamos essas passagens com outras, como as abordadas até agora, uma nova interpretação surge.

A esta análise conjunta das passagens evangélicas, soma-se o entendimento de que textos sagrados carregam em si mais do que o seu significado literal, assim, a ideia de que Jesus possuía um nome “mundano”, antes de seu batismo, ganha força e, inclusive, explica tanto o porquê de o Evangelho segundo Marcos se iniciar dizendo que o Evangelho de Jesus começa no contexto do batismo realizado por João Batista, quanto o fato de não serem encontrados documentos ou vestígios da existência de um Jesus mundano, pois, as referências feitas e ele, em todo ou em maioria, estariam com o seu nome profano, da linhagem de José, e não com o seu nome divino, da linhagem de Yahweh.

Outro ponto relacionado à dificuldade de se encontrar registros sobre o Jesus mundano, pode decorrer da própria tradição judaica.

Com o nascimento, a criança recebe um nome que, geralmente, remete aos costumes locais e, posteriormente, recebe um nome judaico. No caso daqueles que nascem com o sexo biológico masculino, o recebimento do nome judaico ocorre na cerimônia do brit milá. Esta cerimônia acontece no oitavo dia do nascimento[8], o que equivale ao sétimo dia de vida da criança[9], e é quando o mohel, um rabino especializado para celebrar esta cerimônia, realiza a circuncisão, confirmando a aliança feita por Abraão com Yahweh.

Ao receber o nome judaico[10], este nome tem fins religiosos, isto é, não é utilizado na chamada vida civil da pessoa, mas consta em registros de atos de natureza religiosa, como num indicativo de sepultamento, segundo a tradição da comunidade local. Desta forma, mesmo se desconsiderarmos que Jesus é um nome “iniciático” e pensarmos como sendo o seu nome judaico, adquirido no brit milá, continuaríamos a ter dificuldade de encontrar documentos referentes a alguém chamado Jesus (Yeshua[11]), seja por conta das circunstâncias da sua morte, em conflito com o Sinédrio, seja pela posterior destruição do Templo, onde ficariam os registros dos atos religiosos celebrados em Jerusalém.

Quanto aos registros religiosos, no judaísmo, tradicionalmente, só existe um documento[12], a ketubah, que, literalmente, significa documento ou coisa escrita. A ketubah é o contrato matrimonial[13], estabelecido no segundo século da “era judaica” como mecanismo de proteger a mulher no caso de divórcio e viuvez. É a ketubah que determina os deveres matrimoniais, incluindo a obrigatoriedade de o marido, no caso de sua morte, deixar quantia de bens e direitos para que a viúva possa sustentar a si e aos filhos[14].

Outro lugar que se grava o nome religioso é na matzeivá, a pedra tumular[15] (Gênesis 35:20). Contudo, tradicionalmente, esta gravação ocorre após o shloshim[16], isto é, após o cumprimento das obrigações dos primeiros 30 (trinta) dias do luto pelo falecimento[17]. Tendo em vista que, nos textos sagrados, consta que, no terceiro dia (ainda no cumprimento das obrigações do shivá), Jesus volta dos mortos, os ritos associados ao luto se encerram e, consequentemente, não há a gravação do seu nome na matzeivá.

É claro que, como toda narrativa esotérica, o Evangelho também fala sobre a gente, nos dois significados da nossa individualidade. Isto é, Jesus, para além de um personagem histórico e da própria história contada no Evangelho, também significa a nossa jornada individual, como personalidade e como individualidade.

 

(2) Conforme está escrito no profeta Isaías: Eis que eu envio o mensageiro diante de ti a fim de preparar o teu caminho;

Este versículo costuma despertar estranheza, pois, em sua primeira parte faz referência ao profeta Isaías, que pregava a vinda do Mashiach, enquanto a segunda parte é uma citação do Livro de Malaquias (Malaquias 3:1). Tal estranheza ocorre pelo apego à literalidade do texto e não à mensagem que ele busca passar.

No versículo anterior, ficou estabelecido que está se apresentando o Evangelho de Jesus Cristo, isto é, o texto contido no que se chama de Evangelho segundo Marcos apresenta a obra do Ungido. Então, é normal, se verificar o contexto da sua ocorrência, posto que inúmeros ensinamentos foram apresentados no passado para auxiliar na sua identificação.

O extenso livro de Isaías[18] é dividido, para fins didáticos, em partes e, logo no início da sua segunda parte, comumente intitulada “livro da consolação de Israel[19]”, encontramos o chamado “anúncio da libertação”. Essa libertação traz em si uma referência ao Êxodo, mais precisamente ao período no qual os israelitas deixam o Egito em direção à Terra Prometida, evento lembrado e comemorado na festa de Pessach (פסח). Liderados por Moshé, ouvem o chamado de Yahweh e deixam a sua condição de escravos e peregrinaram pelo deserto por 40 (quarenta) anos. Assim, encontramos em Isaías:

 

Isaías 40 : 1-5

“‘Consolai, consolai meu povo, diz vosso Deus, falai ao coração[20] de Jerusalém e dizei-lhe em alta voz que seu serviço está cumprido, que sua iniquidade foi expiada, que ela recebeu da mão de Yahweh paga dobrada por todos os seus pecados’. Uma voz clama: ‘No deserto, abri caminho para Yahweh; na estepe, aplainei uma vereda para o nosso Deus. Seja entulhado todo vale, todo monte e toda colina sejam nivelados; transformem-se os lugares escarpados em planície, e as elevações, em largos vales. Então a glória de Yahweh há de revelar-se e toda carne, de uma só vez, o verá, pois a boca de Yahweh afirmou.’”

 

Além da sua literalidade, a transcrita passagem nos indica que, após um período de demandas materiais, com as quais podemos traçar um paralelo com o período no Egito, Yahweh enviará a sua dádiva. Esta dádiva indicará a mudança de percepção, capaz de nivelar todas as questões da vida, mas que se torna necessário que, enquanto estivermos no deserto, a gente abra caminho para chegarmos a Yahweh.

Da mesma forma com que aconteceu no Êxodo, o trecho do Livro de Isaías nos indica a ocorrência de 3 (três) momentos. O primeiro é o período da vida na matéria, equivalente ao período no Egito, quando éramos escravos da materialidade e vivíamos conduzido pela Nephesch (Alma). O segundo, após se ter alcançado a maturidade da Matéria, é o percurso no deserto, no qual devemos nivelar todo o cenário, isto é, perceber que tudo é uma única coisa, equivalente à nossa jornada simbólica em direção à Terra Prometida, quando alcançamos a maturidade da Alma e percebemos que somos Espírito. E, por fim, o terceiro período é aquele onde encontramos a glória de Yahweh com todas as nossas partes, pois alcançaremos a Terra Prometida, a maturidade do Espírito.

A fim de compreender melhor esta passagem, podemos fazer uso do Livro de Malaquias, tal qual consta no Evangelho objeto do presente estudo.

 

Malaquias 3 : 1-5

“Eis que enviarei o meu mensageiro para que prepare um caminho diante de mim. Então, de repente, entrará em seu Templo o Senhor que vós procurais; o Anjo [Mensageiro Divino], que vós desejais, eis que ele vem, disse Yahweh dos Exércitos. Quem poderá suportar o dia da sua chegada? Quem poderá ficar de pé, quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do fundidor e como a lixívia dos lavadeiros. Ele virá para fundir e unificar a prata. Ele purificará os filhos de Levi e os acrisolará como ouro e prata, e eles se tornarão para Yahweh aqueles que apresentam a oferenda conforme a justiça. A oferenda de Judá e de Jerusalém será, então, agradável a Yahweh como nos dias antigos, como nos anos passados. Eu me aproximarei de vós para o julgamento e serei uma testemunha rápida contra os adivinhos, contra os adúlteros, contra os perjuros, contra os que oprimem o assalariado, a viúva, o órfão, e que violam o direito do estrangeiro, sem me temer, disse Yahweh dos Exércitos.

 

Isto é, quando estivermos prontos, Yahweh mandará o nosso mensageiro interior a fim de nos auxiliar a preparar o caminho para a vinda do Chrestos. O momento deste acontecimento, não sabemos, apenas Yahweh tem conhecimento[21]. Esse mensageiro entrará em nosso Templo, ou seja, em nossa morada íntima, posto que o Templo não é feito por mãos humanas.

 

Atos Apostólicos 7 : 47-50

“Foi Salomão, porém, que lhe construiu uma casa. Entretanto, o Altíssimo não habita em obras de mãos humanas, como diz o profeta: O Céu é meu trono, e a terra, o estrado de meus pés. Que casa me construireis, diz o Senhor, ou qual será o lugar do meu repouso? Não foi minha mão que fez tudo isto?

 

Assim, quando cumprida a maturidade na matéria, Yahweh mandará o seu mensageiro para o nosso Templo Interno. E o processo de fusão do material com o espiritual terá início, limpando nossas vestimentas existenciais para que elas se tornem dignas.

 

(3) voz que clama no deserto; preparai o caminho do Senhor, tornai retas suas veredas.

Este versículo contém a continuação da citação da passagem contida em Malaquias 3, porém, faz referência ao texto do Livro de Isaías, com ligeiras modificações, pois, em Isaías 40 : 3 encontramos “Uma voz clama: ‘No deserto, abri caminho para Yahweh; na estepe, aplainei uma vereda para o nosso Deus”. Essa sutil diferenças nos remete a uma outra fonte hebraica, os Provérbios, onde encontramos:

 

Provérbios 3 : 5-8 (como adquirir sabedoria)

“Confia em Yahweh com todo o teu coração[22], não te fies em tua própria inteligência; em todos os teus caminhos, reconhece-o, e ele endireitará as tuas veredas. Não seja sábio aos teus olhos, teme a Yahweh e evita o mal, e será a saúde do teu corpo e refrigério para os teus ossos.”

 

Ou seja, apesar de Yahweh nos ter enviado o seu mensageiro, é importante separarmos o que é a nossa inteligência material e qual é a sabedoria que Yahweh nos envia. Enquanto a inteligência material, isto é, a dos sentidos, da sobrevivência na matéria, nos fez andar por vales tortos, a Sabedoria de Yahweh irá nos guiar pelo caminho reto até a iluminação, a Terra Prometida[23]. Porém, se continuarmos a seguir velhas práticas, o nosso tempo de maturação no deserto se estenderá[24]. Por isso, há a indicação de tornar o nosso caminho reto, não no sentido literal, mas no sentido de seguir os desígnios de Yahweh, entendendo a Sua Lei.

Desta forma, verificamos o caminho que Jesus trilhou até o momento do início do Seu Evangelho. Ele trilhou o caminho da matéria, atingiu a sua maturidade, recebeu o mensageiro de Yahweh, seguiu no caminho da retidão espiritual e se habilitou para que Yahweh se revelasse a ele, mesmo percurso que devemos percorrer.

 

João 14 : 6-7

“Diz-lhe Jesus: ‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim. Se me conheceis, também conhecereis meu Pai. Desde agora o conheceis e o vistes”.

[1] Os súditos são ligados ao Rei, como uma extensão deste.

[2] Embora a Torá não estabeleça o que acontece após a morte, inúmeras linhas de pensamento dentro da cultura judaica estabelecem que um (ou o) aspecto da imortalidade da alma se encontra no trabalho realizado pelos seus descendentes, que continuam a sua obra, praticando os seus ensinamentos e agindo no mundo (malkuth), transformando-o.

[3] Um ponto que nos cabe destacar é que o sétimo dia da criação (Shabat) estabelece que Yahweh criou todo o Universo, estabelecendo a sua Lei, porém, a própria criação ainda teria continuidade segundo à Lei e, por isso, é necessária a criação da humanidade (Adam). Gênesis 2:1-3 “Céus e terra, e todos os seus componentes foram assim completados. Com o sétimo dia Elohim terminou todo o trabalho que Ele havia feito. Ele assim cessou [shavat], no sétimo dia, de todo trabalho que Ele tinha feito. Elohim abençoou o sétimo dia, e Ele o declarou santo, pois neste dia que Elohim cessou todo trabalho que ele tinha criado do modo que iria continuar a funcionar.”. E, imediatamente após esclarecer este momento no qual a criação foi cessada [shavat], é realizada a formação do Homem (Adam), Gênesis 2:4-15.

[4] Ao acompanharmos a narrativa contida no Gênesis, verificamos que Deus não criou o Universo e todas as coisas de uma só vez. Pelo contrário, ele faz uso do ensinamento simbolizado nos seis dias, gerando, gradativamente, cada coisa que deve se manifestar no Universo e, no sétimo dia, Ele descansa. Um dos pontos relacionados a este descanso divino se encontra no fornecimento da sua linha de sucessão, isto é, Yahweh deixa a sua obra inacabada e delega a sua continuidade aos seus herdeiros, à humanidade (Adam Kadmon), responsável, dentre outras coisas, por nomear aquilo o que foi criado, tal qual o próprio Yahweh o fez.

[5] A própria contagem geracional apresentada no início do Evangelho segundo Mateus apresenta, pelo menos, três informações relevantes ao estudo do evangelho como um todo:

– A primeira informação está vinculada a divisão do processo de sucessão da linhagem filial em 3 (três) fases. Esta divisão trina ocorrerá em outras partes da Bíblia, mas também pode ser verificada nas fases de maturação experimentadas por Moshé (Moisés), nas quais ele passa um período no Egito, no qual aprende a dominar a matéria, depois um período no seu auto isolamento, quando conviveu com a família de Jetro, no qual aprende a dominar a sua alma, e, por fim, um período no deserto, no qual passa a dominar o Espírito.

– A segunda informação se encontra presente na análise da quantidade de gerações que compõem cada uma das fases, 14 (quatorze). No estudo da guematria, realizamos a redução do 14 (1 + 4), e encontramos o número cinco (5), que, em hebraico é representado pela letra ה (He). Além de ser uma letra e um número, ה carrega consigo outro significado dentro da guematria cabalística, o da “passagem pelo portal”.

– A terceira informação se encontra na guematria cabalística do número geracional correspondente a Jesus. Enquanto José é o 41º da linhagem, representando, novamente o ה) 4+1=5), Jesus é o 42º. Fazendo a redução, encontramos o número 6, correspondente a letra ו (Vav), que, na guematria cabalística significa a “multiplicação da sabedoria divina”.

Por mais que o chamado “Novo Testamento” não tenha sido escrito em hebraico, o que poderia afastar o uso da análise guemátrica, é importante lembrarmos que ele, apesar de ter sido escrito em outros idiomas, segue a linha de pensamento teológico de base hebraica. Portanto, a compreensão do pensamento judaico da época, bem como dos seus costumes, torna-se importante ferramenta para se compreender os significados ocultos no texto evangélico.

[1] No Gênesis, Bereshit, numa transliteração direta do hebraico, inicia o processo de manifestação fazendo uso da letra Bet (ב). Bet significa casa, morada, local no qual se habita, além de ser o número 2 (dois). A compreensão desta questão nos traz, dentre outros significados, a ocorrência de Deus está oculto, posto que não se vê o Aleph (א). Soma-se a isso, o fato de que o radical da palavra Bereshit é Rosh, que significa cabeça, primeiro, princípio. Assim, o processo descrito no Gênesis é algo que acontece inteiramente na mente da própria divindade e, consequentemente, é todo pensamento da própria divindade.

[6] Gênesis 17 : 11 “Fareis circuncidar a carne de vosso prepúcio, e este será o sinal da aliança entre mim e vós.”

[7] Lucas 2:21 “E quando se completaram oito dias de circuncidá-lo também foi dado o nome a ele Jesus, o dado pelo núncio antes de ser concebido ele no ventre”.

[8] Determinação contida na Torá e dada à Abraão por Yahweh, em Gênesis 17:12 “Através de todas as gerações, todo varão será circuncidado quando tiver oito dias de idade”. E também presente em Levítico 12:3.

[9] Em contagens na tradição judaica, tem-se por hábito contar o dia no qual alguma coisa acontece, assim, ao dizer que a circuncisão deve acontecer ao oitavo dia do nascimento, isso significa que o primeiro dia é o dia do parto, fazendo com que o oitavo dia ocorra uma semana seguinte. Desta forma, um menino que nasceu numa sexta-feira, será circuncidado na sexta-feira seguinte, que será o oitavo dia do nascimento.

[10] Lucas 2:21 “E quando se completaram oito dias de circuncidá-lo também foi dado o nome a ele Jesus, o dado pelo núncio antes de ser concebido ele no ventre”.

[11] Yeshua ( ישוע) é considerado o nome em Hebraico de Jesus, que, na grafia hebraica, é a mesma forma como se escreve Josué. Josué, filho de Nun, é aquele que sucede Moshé (Moisés) como líder do povo hebreu (Deuteronômio 34 : 7-9).

[12] Atualmente, é comum em comunidades judaicas a entrega de “certificados” decorrentes de práticas, como no próprio brit milá, no bar mitzvá e no bat mitzvá.

[13] O divórcio não é proibido pela Torá e, consequentemente, ele pode acontecer. Importante destacarmos que a Torá determina algumas obrigações negativas, isto é, o que não pode ser feito. Então, tudo aquilo que a Torá não estabelece como obrigação negativa pode ser feito, contudo, não necessariamente é feito por conta dos costumes sociais. Então é fundamental termos em mente que existe uma diferença entre o que a Lei (Torá) proíbe e o que os costumes (sociedade) estabelecem como algo que não deve acontecer. Essa distinção é fundamental para entendermos o que é a base religiosa

[14] Como historicamente as mulheres não tinham como se sustentar, a ketubah visava garantir a sua subsistência no caso de viuvez ou de divórcio. Por isso a ketubah é um contrato, posto que ele é amparado na Lei (Torá).

[15] O ato de gravar o nome na Matzeivá é estabelecido, dentro da cultura judaica, com a eternização daquele nome, posto que se encontra gravado na pedra. Esta é, inclusive, a origem da expressão “escrito da pedra”.

[16] Literalmente, trinta.

[17] Com o falecimento, além de estabelecer quem é o enlutado, a Lei judaica estabelece três períodos concomitantes de luto, nos quais o enlutado deve cumprir algumas obrigações (tanto positivas, quanto negativas): shivá, shloshim e avelut, que possuem, 7 (sete) dias, 30 (trinta) dias e 1 (um) ano de duração, respectivamente.

[18] Considerado o mais completo a respeito dos requisitos e do contexto para o surgimento do Mashiach.

[19] Apesar de Israel ser o nome adotado por Jacó de acordo com o determinado por Yahweh, ele é utilizado para designar a sua linhagem e, consequentemente, a todo o povo.

[20] Importante destacarmos que, enquanto, atualmente, o coração é a sede simbólica das emoções, dentro da cultura judaica antiga, o coração é a sede do pensamento, onde se cria o raciocínio. Enquanto a emoção está ligada à alma (Nephesch).

[21] Marcos 13 : 33-37 “Atenção, e vigiais, pois não sabeis quando será o momento. Será um homem que partiu de viagem: deixou sua casa, deu autoridade a seus servos, distribuiu a cada um sua responsabilidade e ao porteiro ordenou que vigiasse. Vigiais, portanto, porque não sabereis quando o senhor da casa voltará: à tarde, à meia-noite, ao canto do galo, ou de manhã, para que, vindo de repente, não vos encontre dormindo. E o que vos digo, digo a todos: vigiai!”

[22] Importante destacarmos que, enquanto, atualmente, o coração é a sede simbólica das emoções, dentro da cultura judaica antiga, o coração é a sede do pensamento, onde se cria o raciocínio, enquanto a emoção está ligada à alma (Nephesch).

[23] Esta diferenciação entre os tipos de conhecimento é representada em várias passagens da Torá com o simbolismo da cobra. A cobra é tanto aquela que rasteja, anda na horizontalidade da matéria, conhecendo todo o aspecto material, quanto aquela que se ergue, exercendo a verticalidade espiritual.

[24] Dentro da tradição judaica, uma das explicações para o período no deserto, após a saída do Egito, ter sido tão longo, foi justamente pela ocorrência da adoração do “bezerro de ouro”.

[A continuação desta série trará os comentários do Capitulo 1 do Evangelho de Marcos]

Uma resposta em “Comentários Rosacruzes ao Evangelho”

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