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Divinação e Oráculos

A Arte de Adivinhação Pelo Tarô

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Arthur Edward Waite

Excerto de A Chave Pictórica do Tarot, 1911

Chegamos agora à parte final e prática desta divisão de nossa matéria, sobre os meios de consultar e conseguir oráculos através das cartas do Tarô. Os modos de operação são bem numerosos, e alguns deles muito complicados. Deixei de lado os últimos, porque as pessoas versadas em tais questões acreditam que o caminho da sim- plicidade é o caminho da verdade. Também deixei de lado as operações que foram publicadas na seção de O Tarô dos Boêmios intitulada O Tarô Divinatório; ela pode ser recomendada, em seu justo valor, aos leitores que desejem ir mais além que os limites deste manual. Ofereço em primeiro lugar um curto processo que tem sido usado, em caráter particular, há muitos anos, na Inglaterra, Escócia e Irlanda. Não creio que tenha sido publicado — com certeza não em relacionamento com as cartas do Tarô; acredito que ele servirá para todas as finalidades, mas acrescentarei — para variar — em segundo lugar, o que costumava ser chamado na França de Oráculos de Julia Orsini.

Um Antigo Método Céltico de Adivinhação

 Esse modo de adivinhação é o mais conveniente para se obter resposta a uma pergunta específica. Primeiramente, o Adivinho escolhe uma carta para representar a pessoa ou assunto a respeito do qual é feita a consulta. Essa carta é chamada a Significadora. Se o Adivinho deseja saber alguma coisa a respeito de si mesmo, toma a carta que corresponde à sua descrição pessoal. Um Cavaleiro deve ser escolhido para a Significadora, se o assunto da consulta é um homem de quarenta anos de idade para cima; um Rei deve ser escolhido para qualquer homem de menos de quarenta anos; uma Dama para uma mulher de mais de quarenta anos, e um Pajem para uma mulher mais moça.

As quatro Cartas da Corte de Paus representam pessoas muito bonitas, com cabelos louros ou castanhos, cútis clara e olhos azuis. As Cartas da Corte de Copas significam pessoas com cabelos castanhos- claros ou louros e olhos verdes ou azuis. As de Espadas pessoas de olhos castanhos ou verdes, cabelos castanhos-escuros e pele desbotada. Enfim, as Cartas da Corte de Pentáculos referem-se a pessoas de cabelos castanhos muito escuros ou pretos, olhos escuros e cútis pálida ou amarelada. Essas características estão sujeitas, contudo, às seguintes reservas, que impedem que sejam aceitas de maneira excessivamente convencional. Devemos nos guiar, na ocasião, pelo que sabemos sobre o temperamento da pessoa; uma pessoa que é muito morena pode ser muito enérgica, e seria melhor representada por uma carta de Espadas que por uma de Pentáculos. Por outro lado, uma pessoa loura que é indolente e apática deve ser relacionada com Copas e não com Paus.

Se for mais conveniente para a finalidade da adivinhação tomar como significadora o assunto a respeito do qual é feita a consulta, deve ser escolhida a carta menor ou de Trunfo que tenha um sentido correspondente ao do assunto. Suponhamos que a pergunta seja: “Será necessária uma ação judicial?” Nesse caso, toma-se o Trunfo N? 11, ou Justiça, como a Significadora. Ela se refere a assuntos judiciais. Se, porém, a pergunta fosse: “Serei bem-sucedido em minha demanda?” deveria ser escolhida como Significadora uma das Cartas da Corte. Subseqüentemente, podem ser feitas adivinhações consecutivas a fim de mostrar o curso do processo e o seu resultado para cada uma das partes interessadas.

Tendo-se escolhido a Significadora, deve ela ser colocada na mesa, de face pa- ra cima. Depois, embaralha-se e corta-se o resto do baralho três vezes, com as faces das cartas para baixo.

Vira-se a PRIMEIRA CARTA do baralho; coloca-se a mesma em cima da significadora dizendo: “Esta o cobre”. Essa carta mostra a influência que está afetando a pessoa ou a questão objeto da consulta, de um modo geral, a sua atmosfera na qual as outras correntes atuam.

Vira-se a SEGUNDA CARTA, que é atravessada sobre a primeira, dizendo-se: “Esta o atravessa” Essa carta mostra a natureza dos obstáculos na questão. Se é uma carta favorável, as forças opostas não serão sérias, ou ela pode indicar que algo de bom em si mesmo não terá bom resultado em um determinado relacionamento.

Vira-se a TERCEIRA CARTA, que é colocada acima da Significadora, dizendo- se: “Esta o coroa’ Essa carta representa: (a) o objetivo ou ideal do Consultante no caso; (b) o melhor que se pode alcançar nas circunstâncias, mas que ainda não se tornou real.

Vira-se, então, a QUARTA CARTA, que é colocada abaixo da Significadora, dizendo-se: “Esta está por baixo dele” Ela mostra o fundamento ou base da questão, que pode já ter se tornado real e que a Significadora tornou sua própria.

Vira-se a QUINTA CARTA, que é colocada perto da Significadora no lado para o qual a figura não está olhando, dizendo-se: “Esta está atrás dele” Essa carta mostra a influência que já passou ou que está passando.

N.B. — Se a significadora é um Trunfo ou qualquer carta menor que não se possa dizer que está olhando para qualquer lado, o Adivinho deve resolver, antes de começar a operação que lado escolherá.

Vira-se a SEXTA CARTA, que é colocada perto da Significadora, no lado pa- ra o qual está olhando, e diz-se: “Esta está diante dele:’ Essa carta mostra a influência que está entrando em ação e se fará sentir em futuro próximo.

As cartas estão agora dispostas em forma de cruz, cujo centro é a Significadora, coberta pela Primeira Carta.

As quatro cartas seguintes são viradas sucessivamente e colocadas uma acima da outra em fileira, do lado direito da cruz.

A primeira dessas cartas, ou a SÉTIMA CARTA da operação, significa a própria pessoa ou coisa representada pela Significadora e mostra a sua posição ou atitude nas circunstâncias.

A OITAVA CARTA significa a sua casa, isto é, o ambiente e as tendências ali reinantes que afetam a questão — por exemplo, a sua posição na vida, a influência de amigos chegados, etc.

A NONA CARTA mostra as suas esperanças e temores na questão.

A DÉCIMA é o que acontecerá, o resultado final, a culminação provocada pelas influências das outras cartas que foram viradas na adivinhação.

E sobre essa carta que o Adivinho deverá concentrar especialmente as suas faculdades intuitivas e a sua memória, no que diz respeito às significações divinatórias oficiais atribuídas no caso. A carta deve materializar tudo que possa ter sido adivinhado pelas outras cartas colocadas em cima da mesa, inclusive a própria Significadora e a seu respeito, não se excetuando luzes de mais alta significação que podem cair como centelhas do céu se acontecer que a carta que serve de oráculo, a carta destinada à leitura, seja um Trunfo Maior.

A operação está completa agora; mas se acontecer que a última carta seja de natureza duvidosa, da qual não possa ser tirada qualquer decisão final, ou que não pareça indicar a conclusão definitiva do caso, a operação pode ser repetida, tomando-se, em tal caso, a Décima Carta como Significadora, em vez da usada anteriormente. O baralho terá de ser de novo embaralhado e cortado três vezes e as primeiras dez cartas viradas como antes. Com isso, poder-se-á obter uma explicação mais pormenorizada de O que irá acontecer.

Se em qualquer adivinhação a Décima Carta for uma Carta da Corte, isso mostra que o caso sujeito à adivinhação acabará caindo nas mãos de uma pessoa representada por aquela carta e que o seu desfecho dela depende. Em tal caso, é aconselhável tomar-se a Carta da Corte em questão como Significadora em uma nova operação, e descobrir qual é a natureza da sua influência no assunto e o que resultará disso.

Grande facilidade será alcançada por esse método, em um tempo relativamente curto, levando-se sempre em consideração os dons do operador — isso é a sua faculdade de discernimento, manifesta ou latente — e tem a vantagem especial de estar livre de todas as complicações.

Apresento aqui um diagrama das cartas como dispostas nesse modo de adivinhação. A Significadora está aqui olhando para a esquerda.

A Significadora.
1. A carta que a cobre.
2. A que a atravessa.
3. A que a coroa.
4. A que está abaixo dela.
5. A que está atrás dela.
6. A que está diante dela.
7. A própria pessoa.
8. A sua casa.
9. As suas esperanças e os seus temores.
10. O que acontecerá.

Um Método Alternativo de Ler as Cartas do Tarô

Embaralha-se todo o baralho e viram- se algumas das cartas em fileiras de maneira a inverter os seus topos.

O baralho deve ser cortado pelo Consultante, com a mão esquerda. Distribuem-se as primeiras quarenta

e duas cartas em seis maços de sete cartas cada um, com a face para cima, de maneira que as primeiras sete cartas formem o primeiro maço, as sete seguintes o segundo, e assim por diante, como se pode ver no seguinte diagrama:

Toma-se o primeiro maço, estendem- se as cartas na mesa em fileira, da direita para a esquerda; colocam-se as cartas do segundo maço sobre elas, e depois sucessivamente as dos outros maços. Formar-se-ão assim sete novos maços de seis cartas cada um, dispostos da seguinte maneira:

Tiram-se as cartas de cima de cada maço, embaralha-se o maço assim formado e estendem-se as cartas da direita para a esquerda, formando uma fileira de sete cartas.

Depois tomam-se as duas cartas seguintes de cada maço, que são juntadas e embaralhadas e dispostas em duas fileiras abaixo da primeira fileira.

As vinte e uma cartas restantes dos maços são, por sua vez, misturadas e embaralhadas e dispostas em três fileiras abaixo das outras.

Teremos então seis fileiras horizontais de sete cartas cada uma, dispostas da seguinte maneira:

Neste método, a pessoa Consultante — se é do sexo masculino — é representada pelo Mágico e, se é do sexo feminino, pela Alta Sacerdotisa. A carta, contudo, em nenhum dos casos, é tirada do baralho até que as quarenta e duas cartas tenham sido dispostas como se viu. Se a carta procurada não é encontrada entre aquelas dispostas na mesa, deve ser procurada entre as restantes trinta e seis cartas, que não foram distribuídas, e deve ser colocada a pequena distância à direita da primeira fileira horizontal. Se está entre aquelas, deve ser retirada e colocada da maneira que se assinalou, e uma carta é tirada ao acaso das trinta e seis cartas que não foram distribuídas, para ocupar o lugar dessa carta retirada, de modo que continue a haver o mesmo número de quarenta e duas cartas estendidas na mesa.

As cartas são, então, lidas sucessivamente, da direita para a esquerda, a começar da carta N.° 1 da fileira de cima, sendo lida em último lugar a da extrema esquerda, ou N.° 7 da última fileira embaixo.

Esse método é recomendado quando não se faz uma pergunta definida, isto é, quando o Consultante pretende tomar conhecimento, de um modo geral, do curso de sua vida e o seu destino. Se deseja saber o que poderá ocorrer dentro de um certo tempo, esse tempo deverá ser claramente especificado antes de serem as cartas embaralhadas.

Ainda com referência à leitura, não se deve esquecer que as cartas têm de ser interpretadas relativamente ao assunto, o que quer dizer que as significações oficiais e convencionais das cartas podem e devem ser adaptadas para se harmonizarem com as condições daquele caso particular em questão — a posição, tempo de vida e sexo da pessoa Consultante, ou da pessoa para quem é feita a consulta.

Assim, o Bobo pode indicar toda uma ordem de fases mentais entre a simples excitação e a loucura, mas a fase particular de cada adivinhação deve ser julgada levando-se em consideração a tendência natural das cartas, e, nesse sentido, naturalmente a faculdade intuitiva desempenha um papel importante.

Convém, no começo de uma leitura, percorrer as cartas rapidamente, de modo que a mente possa ter uma impressão geral do assunto — a tendência do destino — e depois começar de novo, lendo uma por uma e interpretando os detalhes.

Deve-se lembrar que os Trunfos representam forças mais poderosas e eficientes segundo as hipóteses do Tarô — do que as cartas menores.

E claro que é levado em conta na adivinhação o valor das faculdades de intuição e clarividência. No caso em que elas se apresentem naturalmente ou tenham sido desenvolvidas pelo Adivinho, as disposições fortuitas das cartas formam um elo entre a sua mente e o clima da questão em adivinhação, e então o resto é simples. Quando falha ou falta a intuição, podem ser usadas a concentração, a observação intelectual e a dedução, da maneira mais ampla, para se obter um resultado satisfatório. A intuição, porém, mesmo se aparentemente adormecida, pode ser cultivada pela prática em tais processos divinatórios. Se estiver em dúvida sobre a significação exata de uma carta, recomendam ao Adivinho os versados na matéria pôr mãos à obra, tentar não pensar sobre o que deve fazer, e observar as impressões que surgem em sua mente. No princípio, é provável que isso resulte em mera conjetura e que pode se mostrar incorreta, mas, com a prática, torna-se possível distinguir-se entre uma conjetura da mente consciente e uma impressão surgida na mente subconsciente.

Não me compete oferecer sugestões teóricas ou práticas a esse respeito, mas os seguintes additamenta se devem a alguém que tem mais títulos para falar do que todos os cartomantes da Europa, se pudessem embaralhar só com duas mãos e adivinhar só com uma língua.

Notas Sobre a Prática da Adivinhação
  1. Antes de se iniciar a operação, deve-se formular a pergunta definitivamente e repeti-la em voz alta.
  2. Deve-se esvaziar a mente de qualquer pensamento o máximo possível, enquanto se embaralham as cartas.
  3. Deve-se expulsar do espírito qualquer predisposição pessoal e idéias preconcebidas, tanto quanto possível, pois, de outro modo, o julgamento ficará
  4. Em vista disso, é mais fácil adivinhar-se para uma pessoa estranha do que para si mesmo ou para uma pessoa

O Método de Leitura por Meio das Trinta e Cinco Cartas

Quando termina a leitura, de acordo com o esquema estabelecido no último método, pode acontecer — como no caso anterior — que algo continue duvidoso, ou pode se tornar desejável levar a indagação mais adiante, o que é feito da maneira seguinte:

Tomam-se as cartas não embaralhadas que permanecem de lado, sem terem sido usadas na primeira operação com 42 cartas. As últimas são postas de lado, empilhadas, com a do Consultante, de face para cima, no alto. As trinta e cinco cartas, baralhadas e cortadas como antes, são divididas em seis pacotes, do seguinte modo:

O Pacote I consiste das primeiras SETE CARTAS; o Pacote II consiste das SEIS CARTAS seguintes; o Pacote III das CINCO CARTAS seguintes; o Pacote IV das QUATRO CARTAS seguintes; o Pacote V das DUAS CARTAS seguintes, e o Pacote VI contém as últimas ONZE CARTAS. A disposição será então a seguinte:

Tomam-se, então, esses pacotes sucessivamente, distribuem-se as cartas que eles contêm em seis fileiras, que serão, necessariamente, de comprimentos desiguais.

A PRIMEIRA FILEIRA representa a casa, o ambiente, etc.

A SEGUNDA FILEIRA representa a pessoa ou o assunto da adivinhação.

A TERCEIRA FILEIRA representa o que se está passando fora, acontecimentos, pessoas, etc.

A QUARTA FILEIRA representa uma surpresa, o inesperado, etc.

A QUINTA FILEIRA representa consolação e pode moderar tudo que for desfavorável nas fileiras anteriores.

A SEXTA FILEIRA é a que deve ser consultada para esclarecer os oráculos enigmáticos das outras; a não ser isso, é destituída de importância.

As cartas devem ser lidas da esquerda para a direita, começando-se na fileira superior.

Convém salientar, concluindo esta parte divinatória, que não há método de interpretação das cartas do Tarô que não sejam aplicáveis às cartas de jogar comuns, mas as cartas da corte adicionais, e acima de tudo os Trunfos Maiores, contribuem para aumentar os elementos e valores dos oráculos.

E agora, concluindo toda a questão, deixei para estas últimas palavras — como à feição de um epílogo — um novo e final ponto. Diz respeito à maneira com que considero os Trunfos Maiores como contendo a Doutrina Secreta. Não quero dizer que estou familiarizado com ordens e fraternidades nas quais repousam tal doutrina e implicam mais elevado conhecimento do Tarô. Não quero dizer que tal doutrina, sendo assim preservada e transmitida, possa ser construída como embutida independentemente nos Trunfos Maiores. Não quero dizer que seja algo à parte do Tarô. Existem associações com conhecimento especial de ambas as coisas; em um ou outro caso, as raízes são as mesmas. Também há, todavia, certas coisas que não estão em ordens ou sociedades, mas são transmitidas de outra maneira. Fora de qualquer herança desse tipo, que qualquer um que seja místico considere separadamente e em combinação o Mágico, o Bobo, a Alta Sacerdotisa, o Hierofante, o Imperador, a Imperatriz, o Enforcado e a Torre. Que considere a carta chamada Juízo Final. Elas contêm a legenda da alma. Os outros Trunfos Maiores são os pormenores e — como se pode dizer — os acidentes. Talvez tal pessoa comece a entender o que existe por trás daqueles símbolos por quem quer que seja inventado e contudo preservado. Se assim fizer, verá também por que me preocupei com o assunto, mesmo correndo o risco de escrever acerca de adivinhação por meio de cartas.

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