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Demônios e Anjos Martinismo

A Concessionária de Luz Celestial

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Sar Naquista

“Não são todos os anjos espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?”
– Hebreus 1,14

Neste exato momento há uma enorme equipe trabalhando incansavelmente para o fornecimento de luz e energia. Uma divina organização transcende os limites terrenos e emana conhecimento acadêmico de um lugar que não conseguimos ver. Iluminando o caminho dos perdidos e fornecendo sabedoria celestial ininterrupta. Sem seus especialistas celestiais estaríamos sem duvida para sempre  nesse apagão espiritual chamado que aconteceu com a queda do Adam Kadmon. Se você está com as contas em dia, chegou a hora de conhecer melhor os principais departamentos deste empresa celestial.

Dionísio, o Areopagita

Essas informações serão baseadas nos ensinamentos de uma figura enigmática chamada Dionísio, o Areopagita, que tem fascinado estudiosos e pesquisadores ao longo dos séculos. Seu nome real é desconhecido mas s chama Dioníso desde que foi chamado assim por escritor sírio no século V para se referir a um pensador cujas ideias tiveram uma influência monstruosa na filosofia neoplatônica e na teologia cristã. Embora as fontes de sua filosofia sejam variadas, incluindo o pensamento de Proclus e a tradição dos patriarcas da Igreja, a visão de Dionísio sobre o divino e o mundo angelical continua a oferecer um rico material para reflexão e estudo.

Antes de tudo, precisamos sacar que Dionísio, o Areopagita, é um sujeito pra lá de misterioso de quem sabemos bem pouca coisa. Os estudiosos e teólogos de hoje em dia fazem questão de ressaltar que o autor que atende por esse nome é um cara cuja identidade é um verdadeiro ponto de interrogação. Os “Atos dos Apóstolos” (Atos 17:34) mencionam um tal de Dionísio, o Areopagita, que era um figurão na suprema corte de justiça de Atenas e acabou se convertendo ao cristianismo graças a São Paulo. Por muito tempo, acreditou-se que esse fosse o mesmo sujeito do qual Dionísio, o Areopagita, se trata. Mas lá pelo século XV, a galera começou a suspeitar que era bem improvável que o membro do Areópago de Atenas e o autor do “Corpo Dionisíaco” fossem a mesma pessoa. Foi só no século XIX que se conseguiu provar de uma vez por todas que o autor era, na verdade, um escritor sírio do século V, que escolheu o nome de um discípulo grego de São Paulo como pseudônimo. Por conta disso, os historiadores costumam se referir a ele como “Pseudo-Dionísio, o Areopagita”. Para facilitar a compreensão desse manuscrito e evitar maiores confusões, vamos simplesmente chamá-lo de Dionísio.

A Teologia das Trevas

A teologia negativa de Dionísio foi tão profunda e impactante que inspirou um monte de místicos famosos como Bernardo de Clairvaux, Santa Teresa de Ávila, São João da Cruz, Nicolau de Cusa, Mestre Eckhart e até Jacob Boehme. Dionísio pode não ser tão conhecido no Ocidente, mas no Oriente ele é considerado um verdadeiro fenômeno intelectual. Ele escreveu “A Hierarquia Celeste“, onde ele explica detalhadamente a ordem hierárquica dos seres angelicais e “A Hierarquia Eclesiástica“, que faz uma comparação entre a Hierarquia Celeste e a estrutura da igreja. Depois veio com “Os Nomes Divinos“, onde ele explora como podemos nos aproximar de Deus, mesmo sabendo que Ele é um baita de um mistérios. Por último, mas não menos importante, temos “A Teologia Mística“, onde Dionísio solta o verbo sobre sua Mística das Trevas, que veremos a seguir.

Basicamente, a filosofia de Dionísio foi nutrida por duas fontes pra lá de interessantes. Primeiramente, ele pegou pesado na onda neoplatônica, bebendo do pensamento de Proclus. E, em segundo lugar, ele também se beneficiou da herança transmitida pelos patriarcas da Igreja. Esse camarada afirmava que Deus era algo tão incognoscível que beirava o impossível de entender, mas ainda assim era acessível aos seres humanos. Como assim, você pergunta? Bem, por um lado, era através dos poderes divinos e, por outro lado, através dos anjos. Resumindo, Dionísio construiu sua teoria sobre o Divino com base naquilo que chamamos de “apofático” ou “teologia negativa”. Nesse esquema, a Divindade é completamente indescritível, ou seja, não dá para definir Deus sem acabar deturpando tudo; só podemos dizer o que Ele não é. O pensamento apofático vai além e afirma que não podemos afirmar nada sobre Deus, nem positivamente, nem negativamente. Em outras palavras, a única forma de nos aproximarmos de Deus é por meio do desconhecimento. E é por causa disso que precisamos dos anjos como intermediários nesse contato espiritual entre o ser humano e a Divindade.

Dionísio tinha uma visão de que Deus, mesmo sendo super difícil de entender, é compreensível para nós, meros mortais, por meio de suas energias divinas. E olha só, essas energias têm nome, meu caro! São os famosos nomes de Deus que a gente encontra nas Sagradas Escrituras. A gente tá falando de coisas tipo: o Eterno, o Todo-Poderoso, o Pai, o Senhor, o Espírito, o Verbo, a Providência e por aí vai. Esses nomes todos representam a Divindade, sendo que alguns mostram Deus como um todo, enquanto outros representam diferentes graus de manifestação divina. Segundo Dionísio, se a gente usar esses nomes como base para nossas preces e meditações, aquilo que os martinistas chamam de Via Cardíaca, a gente consegue estabelecer um contato com Deus e chegar bem pertinho d’Ele.  Ele argumentava que esse contato é o ponto mais alto da jornada mística e só acontece se a gente se livrar de qualquer noção intelectual sobre a Divindade e mergulhar na tal “escuridão luminosa” d’Ele. Isso mesmo, se o “Abismo olha para você” é porque a luz chega lá. Essa escuridão luminosa é um estado transcendental em que a gente se desapega de todas as concepções intelectuais da Divindade e se entrega a uma espécie de união mística com o Criador. É uma experiência profunda, intensa e cheia de mistérios. Dionísio garantia que, ao mergulhar nessa escuridão luminosa, a gente alcança a comunhão suprema com Deus, superando todas as barreiras da mente e das palavras.

A  Hierarquia Angelical Martinista

A questão é como a luz foi parar lá? Ocorre que existe toda um equipe imensa cujo objetivo é a Reintegração dos Seres em sua Primeira Propriedade, Virtudes e Poderes Espirituais Divinos e fazer a luz chegar até aqui embaixo. Por isso vamos precisar agora mergulhar no no incrível mundo angelical de Dionísio. Em sua famosa obra intitulada “A Hierarquia Celeste“, nosso querido Dionísio classificou os anjos em nove coros, agrupados em três tríades fantásticas: a ordem superior, a intermediária e a inferior. Na ordem superior, temos os Serafins, os Querubins e os Tronos, que são a Diretoria da corporação. Já na intermediária, encontramos as Dominações, as Virtudes e as Potestades, que são os gerentes, analistas e a galerinha do ar condicionado. E, por fim, no chão de fábrica, temos os Principados, os Arcanjos e os Anjos, os anjos mais “pé no chão”.

Dionísio não foi o pioneiro a usar essa classificação. Na verdade, ele se inspirou em Proclus, um filósofo neoplatônico que pintou e bordou no século V. A partir do século X, graças ao incentivo do imperador Luís, o Piedoso, que o livro do Dionísio começou a ser divulgado em larga escala, se tornando uma referência top de linha na angelologia.

Ah, e por que Dionísio usou o termo “coro” para descrever essas diferentes categorias de anjos? Bem, é porque cada coro tem a função de soltar a voz e cantar louvores a Deus e com isso ajudar a humanidade a subir gradativamente em direção a Ele. Além disso, cada coro angelical é responsável por receber e transmitir a divina Luz aos diferentes níveis. Ou seja, cada tríade tem uma tarefa menor do que a que está acima dela. Segundo Dionísio, a tríade menos elevada ajuda na purificação do ser humano, a segunda tríade é uma iluminadora de primeira e a terceira tríade favorece a união com a Divindade. Resumindo, cada tríade tem um papel fundamental no processo de elevação da alma humana até Deus, até aquele momento épico em que a alma se une ao C.E.O.

A Primeira Triade: Serafins, Querubins e Tronos

Agora vamos nos aprofundar na natureza e função dos nove coros angelicais. Para isso vamos usar os escritos super chiques de Dionísio, retirados do  “A Hierarquia Celeste”.  A primeira tríade como vimos é a Diretoria, a tropa de elite celeste capazes de entrar e sair da sala do chefão. Eles recebem a Luz divina em todo o seu esplendor, como se fosse uma versão deluxe sem nenhuma impureza. Essa primeira tríade faz uma rodinha sagrada e permanente em volta do Conhecimento Eterno. E olha só, Dionísio diz no livro dele que Deus:

“transmitiu aos habitantes da Terra cerros hinos que cantam esta primeira hierarquia e nos quais se manifesta santamente a eminência da iluminação, a mais alta de todas, que lhe pertence”.

O primeiro coro da primeira tríade celestial é o dos Serafins, que Dionísio define de uma forma super interessante. São considerados os “superstars” do mundo angélico, o seres divinos de maior nível na hierarquia celestial, segurando o título de “os que estão mais próximos de Deus” – basicamente, os VIPs do reino espiritual. Ele diz:

“Seu movimento eterno e constante em torno de realidades divinas, o calor, a penetração, a efervescência deste eterno movimento contínuo, seguro e estável, eis o que revela o nome dado aos Serafins. Este caráter bastante elevado é expressado pelo nome deles. Na verdade, ‘Serafins’ significa ‘Aqueles que queimam’ ou ‘Aqueles que aquecem’ Ora, segundo o simbolismo do fogo, os Serafins consomem toda a impureza para se harmonizarem plenamente com Deus e se apresentarem diante d’Ele com Amor”

O segundo coro que faz parte da tríade superior são os Querubins, e o nome deles significa ‘Aqueles que espalham’ a sabedoria. Os Querubins são conhecidos por sua sabedoria celestial e profundo conhecimento dos mistérios divinos. Eles são os guardiões do conhecimento sagrado e os pesquisadores celestiais por excelência. Quando você tem uma pergunta sobre os segredos do universo, é com os Querubins que você deve conversar. Isso porque segundo Dionísio, essas entidades têm o poder de ver Deus e conhecê-lo. Eles conhecem todas as senhas, sistemas e podem entrar livremente na sala do patrão,

“para receber o mais alto dom da luz e para contemplar, no seu poder primordial, o Esplendor teárquico”.

Só pra esclarecer, o adjetivo ‘teárquico’ se refere ao substantivo ‘tearquia’, que deve ser o nome do crachá pois é uma palavra que significa o próprio Reinado Divino. O terceiro coro da primeira tríade é composto pelos Tronos, e Dionísio nos conta algo bem interessante sobre eles. Ele diz:

“Sua pureza sem misturas os afasta de toda complacência pelas coisas vis; eles elevam-se em direção ao alto e afastam-se deliberadamente de toda baixeza; e se apresentam – de forma estável e bem equilibrada em todos os seus poderes – ao redor Daquele que é verdadeiramente o Altíssimo”.

Os Tronos também são conhecidos por seu papel justiça divina. Eles são como os juízes celestiais, assegurando que cada ser receba a recompensa ou punição adequada de acordo com suas ações. Imagine-os como os inspetores divinos, sempre garantindo que todos sigam a Missão e Valores da empresa.

A Segunda Tríade: Dominações,  Virtudes e Potestades

Na celestial dança da hierarquia, a segunda tríade assume um papel intermediário. Ah, as Dominações! De acordo com o sábio Dionísio, elas são verdadeiras divas:

“elevam-se livremente sem nenhuma condescendência com relação àquele que esta’ abaixo. Como convém aos seres livres, eles governam, como Dominações inflexíveis, tudo o que leva a uma servidão degradante”.

A Virtudes, segunda classe da segunda tríade são verdadeiros artistas celestiais, mestres da manipulação das forças divinas. Eles são responsáveis por infundir poder e energia nos eventos cósmicos, como se fossem os maestros de uma grandiosa sinfonia celestial. Esses anjos virtuosos têm a incrível habilidade de canalizar e transmitir as virtudes divinas para o mundo ao seu redor. Eles são como condutores de uma corrente elétrica divina, capazes de impulsionar a manifestação dessas qualidades sagradas em todas as esferas da existência. São eles que fazem a ponte entre a primeira e a segunda tríade

Sobre as Potestades Dionísio nos conta que

“Sua igualdade de posição com as Dominações e as Virtudes, o que lhes permite receber os dons divinos. Com entusiasmo e boa ordem, elas elevam a si mesmas, e elevam com bondade os espíritos de posição inferior em direção às realidades divinas”.

Potestades são como um nível gerencial da corporação. Aqueles que se apequenam aos que estão acima e se engrandecem aos que estão abaixo, mas ao contrário dos executivos humanos fazem, sempre interessados na ascensão da carreira de toda equipe.

A segunda tríade celeste, brilhante e radiante, é iluminada pela primeira tríade, que está mais próxima de Deus, a Fonte da mais pura Luz. Assim, resumidamente o papel das Dominações, das Virtudes e das Potestades é transmitir uma segunda luz, um segundo brilho. Essa transmissão vai enfraquecendo na terceira tríade da Hierarquia Celeste, que corresponde à ordem interior até chegar naquela Teologia das Trevas de que falamos onde ninguém enxerga uma trave no próprio olho.

A Terceira Tríade: Principados, Arcanjos e Anjos

Agora, vamos à última tríade, cheia de personalidade. O primeiro coro é formado pelos Principados. Dionísio nos conta que eles trabalham de forma impecável:

“seu principado e hegemonia deiformes são exercidos dentro de uma ordem sagrada. Voltando-se inteiramente para o Principio mais do que primeiro e exercendo um principado sobre os outros ao comanda-los, eles recebem, tanto quanto possível, a impressão deste mesmo Principio de onde provém todo principio”.

Confuso né? O que Dionísio está falando é que os Principados também desempenham um papel importante como intérpretes celestiais. Eles recebem hierarquicamente as iluminações divinas, transmitidas por meio das Virtudes, e as revelam aos anjos.  São como os mensageiros celestiais, levando consigo as revelações divinas e compartilhando-as com os demais seres celestiais.

E os Arcanjos, o segundo coro dessa tríade? Dionísio nos explica que são os verdadeiros embaixadores celestiais, intermediários entre os Principados e os anjos comuns. Eles desempenham um papel multifacetado e

“Com os Principados, eles se voltam em direção ao Principio superessencial, recebem suas impressões tanto quanto possível e unificam os anjos pelos poderes de comando que eles exercem na ordem e na harmonia, de forma invisível. Pertencem também à ordem dos intérpretes, pois recebem hierarquicamente as iluminações divinas por intermédio das Virtudes e as revelam aos Anjos”.

Como terceiro coro da última tríade celestial, nós, os Anjos que segundo nosso amigo Dionísio, tem um trabalho muito bem definido: garantir que a escalada humana rumo a Deus aconteça. os Anjos são nossos colegas de trabalho seniores com a missão de iluminar os seres humanos com a divina sabedoria, adaptando-a de acordo com sua capacidade de absorção e transmissão,

 “para as hierarquias humanas, a fim que se realize, de forma ordenada, tanto a ascensão em direção a Deus quanto a conversão, a comunhão e a União Divina. ”

Isso encerra nosso resumo sobre a visão que Dionísio tinha do mundo angelical. Nós também fazemos parte deste, que provavelmente é o único esquema de pirâmide com um final feliz. Ao elevarmos nossas almas pela meditação, oração e relacionamento com nossos colegas celestiais, podemos dar um upgrade em nosso plano de carreira através da purificação de nossa essência. E quando a gente sobe, todo mundo sobe. E sabe o que acontece? Aí vem o bônus da vida: recebemos uma iluminação da própria Sabedoria Divina! E não é só isso, ao seguirmos as orientações e luz que nos são inspiradas pelos anjos, podemos até alcançar o ramal do chefe e nos unir ao próprio Deus, com tudo que isso implica: inspiração cósmica, conhecimento celestial e, claro, as costas mais quentes possíveis.

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