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Alquimia

Retrogradação

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Rubellus Petrinus

A palavra retrogradação significa voltar atrás ou à origem. Na terminologia alquimia significa voltar ao estado primordial.

É este tipo de simbologia que dificulta aos neófitos a compreensão dos textos como a nós nos complicou também em tempos passados.

Há pelos menos dois grandes alquimistas clássicos que usam nos seus textos o termo “retrogradar”. São eles Ireneu Filaleto e Basílio Valentim.

Vejamos onde Ireneu Filaleto emprega este termo e, por isso, confunde muitos estudiosos que desconhecem o modus operandi da via a que ele se refere.

Ireneu Filaleto na Medula da Alquimia, referindo-se ao poder do Sujeito da Arte sobre o seu acólito metálico (Marte) na via seca do antimónio diz o seguinte:

«É estranho ver um metal rijo e fixo que sabe suportar o golpe atroador de Vulcano e que não se abranda no fogo, nem se mesclará em fluxo com nenhum metal que, no entanto, seja retrogradado pela nossa nova arte, tanto poder tem este penetrante mineral.»

Para quem não conheça um pouco de metalurgia parecer-lhe-á estranho como é que este metal “tão rijo e fixo” que é Marte com todas as características mencionadas possa ser retrogradado, isto é voltar ao seu estado primitivo de mineral.

Efectivamente assim é. O acólito metálico ou Marte na via seca do antimónio, fundido com o nosso sujeito juntamente o fundente, apodera-se o enxofre químico do antimónio ficando ele depois transformado num sulfureto de ferro que é um dos minerais donde é extraído o ferro metálico ou seja a pirite. Como se sabe a pirite é um sulfureto de ferro.

Só que neste caso, o Caput sendo um sulfureto de ferro feito artificialmente, tem juntamente o fundente na forma de um carbonato de potássio. Resumindo: não restam dúvidas que para a o entendimento da época, Marte foi retrogradado artificialmente ao seu estado primordial, ou seja a um sulfureto de ferro.

Mas não ficamos só por aqui. Basílio Valentim do Último Testamento também em relação ao Vitríolo (Vitriol) nos diz o seguinte:

«Ora neste momento, é preciso que aprendas que tal alma ou enxofre áureo, tal sal e espírito se encontra mais forte e virtuoso em Marte e Vénus e, bem assim, no vitríolo, como também Marte e Vénus se podem conduzir por retrogradação em vitríolo muito virtuoso e eficaz, no qual vitríolo metálico se encontra agora sob um céu todos os três princípios, a saber, mercúrio, enxofre e sal e, cada um deles se pode particularmente tirar e obter com pouco trabalho e tempo, como entenderás, quando te fizer, presentemente, uma narração sucinta de um vitríolo mineral que se encontra na Hungria, belíssimo e de alto grau.»

«Todavia, uma tão grande dignidade não foi jamais concedida a nenhum outro metal ou mineral tão vantajosamente como ao vitríolo que é a pedra dos filósofos do qual foram feitas tantas menções…É por isso que os antigos tiveram este mineral escondido até ao último ponto e o ocultaram aos seus próprios filhos, o que fizeram com muita precaução.»

Este texto será muito confuso para um alquimista não experiente. Porque é que Marte e Vénus ou seja, o ferro e o cobre, podem ser conduzidos por retrogradação a um Vitríolo que naquele tempo se considerava um mineral como refere o Mestre?

Efectivamente, nas minas de pirite ou de calcopirite existe um vitríolo natural que por acção das águas pluviais infiltradas no solo, dissolvendo as pirites sulfatadas formam grandes cristais que pendem do tecto das minas como estalactites.

Nós possuímos alguns quilogramas desse maravilhoso e raro vitríolo. Por isso, naquele tempo, o vitríolo era considerado também um mineral.

Actualmente sabemos que não é assim. O vitríolo é simplesmente um sulfato de ferro ou de cobre ou de ambos juntos como o caso do Vitríolo da Hungria.

Mas como o vitríolo era considerado um mineral, daí que o Mestre diga que de Marte e Vénus se poderá obter por retrogradação um vitríolo dissolvendo o ferro ou o cobre ou ambos em óleo de vitríolo (ácido sulfúrico).

É isto que dificulta aos menos experientes a compreensão dos textos e para isso só terão uma alternativa. Estudarem os antigos tratados de química como o Traité de Chymie de Glaser, Paris, 1663.

Basilio Valentim no Paradigma da sua Obra diz: Visita Interiora Terrae Rectificando Invernies Occultum Lapidem.

Isto é apenas um paradigma que deu lugar a muitas especulações infundadas, porque o que realmente nos quer transmitir, como o fez no Le Dernier Testanment, é que a matéria prima para executar a sua obra descrita neste tratado é o VITRIOL. E, como dissemos, o vitríolo não só se encontra nas minas no interior da terra nas raras condições que referimos, mas também em muito maior quantidade no exterior das minas em pequenos lagos formados pela água da chuva que arrasta consigo o sulfato em dissolução proveniente das pirites acumuladas no exterior das minas expostas às intempéries.

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