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Cultos Afro-americanos

O Karma dos Negros

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Os textos a seguir serão apresentados a título de informação sobre uma peculiaridade dos Espíritos de Pretos-Velhos e Pretas-Velhas que freqüentam as tendas de Umbanda; isto porque os Umbandistas têm uma idéia muito bem definida sobre esses espíritos de escravos que se manifestam em suas Giras.

O primeiro texto, extraído de um clássico da literatura espírita, Memórias de Um Suicida, fala do porquê do sofrimento a que foram submetidos os habitantes da África deportados para o Brasil e outras nações na condição de escravos. O texto espírita kardecista, ao que parece, foi inspirador das idéias do segundo, que apresenta outra nuance do mesmo tema e consta da doutrina Umbandista. É um assunto muito delicado mas que não poderia ser, simplesmente, omitido em uma exposição sobre a Umbanda. Esta articulista, no entanto, deixa clara sua repulsa pelas idéias abaixo e limita-se a comentar: “Ninguém merece!”

E que os leitores desenvolvam suas próprias reflexões sobre o assunto:

TEXTO 1

“Sabei que entre os escravos que, sob os céus do Cruzeiro Sublime [do Brasil], choraram vergados sob o trabalho excessivo, famintos, rotos, doentes, tristes, saudosos, desesperados frente à opressão, à fadiga, à maldade, nem todos traziam característicos íntimos de inferioridade… nem todos apresentavam caracteres primitivos! Grandes falanges de romanos ilustres, do império dos Césares: de patrícios orgulhosos, de guerreiros altivos, autoridades das hostes de Diocleciano, como de Adriano e Maxêncio, dolorosamente arrependidas das monstruosas arbitrariedades cometidas em nome da Força e do Poder contra pacíficos adeptos do Cordeiro Imaculado, pediram reencarnações na África infeliz e desolada, a fim de testemunhares novos propósitos ao contato com expiações decisivas, fustigando, assim, o desmedido orgulho que a raça poderosa dos romanos adquirira… Suplicaram… novas conquistas! Mas, agora, contra si próprios, no combate ao orgulho daninho que os perdera! Suplicaram disfarce carnal qual armadura redentora, em envoltórios negros, onde peadas fossem suas possibilidades de  reação… ” [PEREIRA, Ivone A. Memórias de um Suicida. [Pelo espírito de Camilo Cândido Botelho]. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2007.]


TEXTO 2

“A condição de ser negro ou de encarnar na situação física de uma epiderme negra é, ou simples necessidade karmica ou disciplina karmica, também. No primeiro caso, o espírito já vem reencarnando em raças ou famílias de epiderme escura ou negra, dado que não se libertou ainda de uma série de desejos e impressões de fundo nitidamente atávico ou fetichista, inerente à citada raça negra…

Enfim, não se libertou ainda de todo um sistema de impressões atávicas, fetichistas, místicas que se encontram “armazenadas” em seus núcleos vibratórios ou em sua matriz-perispíritica, inclusive das fortes tendências ou vibrações instintivas que continuam em sintonia com seu estado d’alma e que o faz cair na corrente karmica reencarnatória, que o conduz sempre aos mesmos núcleos humanos afins… Fica, portanto, claro que é a Lei Karmica que ajusta, dentro de um processo que a necessidade do espírito requer…

No segundo caso, tudo se relaciona a uma questão de disciplina ou castigo karmico: entram nisso os egoístas, prepotentes, orgulhosos, desapiedados, enfim, seres que tripudiaram sobre a miséria dos outros, quando foram na vida humana “grão-senhores”, assim como altos sacerdotes, cientistas, industriais, senhores feudais (no Brasil – senhores de Engenho), muitos dos quais se serviram dos elementos da raça negra, em passadas encarnações, como escravos, tratando-os mais como animais de carga e por isso tudo recebem como disciplina, reajustamento ou castigo karmico, a condição de reencarnarem ligados a uma epiderme negra…” [DA MATA E SILVA, W.W. [Mestre Yapacany]. Segredos da Magia de Umbanda e Quimbanda.]

Conclusão

Para bom entendedor, meia palavra basta… Essa “lógica” da doutrina espírita assimilada pela Umbanda é de uma crueldade e de um preconceito tão extremos e escancarados que esta articulista, que quase nunca usa a primeira pessoa em seus escritos aqui, neste caso, abre exceção para declarar: “Se existe verdade nesse carma expiatório dirigido a um povo, se EU tiver de acreditar nessa lógica, EU seria mais do que forçada a crer que das duas uma: Deus não existe e se existe está completamente inconsciente, dorme e seu sonho, nós, nossas vidas, é um horrendo pesadelo! Ou o Universo é governado por um demônio possuído de infinita maldade”.

 

por Ligia Cabús

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