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A Adivinhação – Dogma e Ritual da Alta Magia

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21 – X

Dentes – Furca – Amem

O autor deste livro ousou muito na sua vida e nunca um temor reteve cativo o seu pensamento. Não é, entretanto, sem verdadeiro terror que chega ao fim do dogma mágico.

Trata – se, agora, de revelar ou antes encobrir de novo o grande Arcano, este segredo terrível, segredo de vida e de morte, expresso na Bíblia por estas formidáveis e simbólicas palavras da própria serpente simbólica:

I – Nequaquam moriemini ;

II – Sed eritis ;

III – Sicut Dii ;

IV – Scientes bonum et malum .

Um dos privilégios do iniciado ao grande Arcano e que resume todos os outros é a Adivinhação .

Conforme o sentido vulgar da palavra, adivinhar significa conjeturar o que se ignora; mas o verdadeiro sentido da palavra é inefável à força de ser sublime. Adivinhar ( divinari ) é exercer a divindade. A palavra divinus , em latim, significa mais e outra coisa que a palavra divus , cujo sentido é equivalente ao homem -Deus. Devin , em francês, contém as quatro letras da palavra Dieu , mais a letra N, que corresponde, pela sua forma, ao hebraico alef e que exprime, cabalística e hieroglificamente, o grande Arcano, cujo símbolo no Tarô, é a figura do pelotiqueiro.

Aquele que entender perfeitamente o valor numeral absoluto de alef multiplicado por N, com a força gramatical do N final nas palavras que exprimem ciência, arte ou poder , depois adicionar as cinco letras da palavra Devin , de modo a fazer entrar cinco em quatro, quatro em três, três em dois e dois em um, traduzindo o número que achar em letras hebraicas primitivas, escreverá o nome oculto do grande Arcano, e possuirá uma palavra de que o próprio santo tetragrama é simplesmente o equivalente e como que a imagem.

Ser adivinho, conforme a força da palavra, é, pois, ser divino, alguma coisa mais misteriosa ainda.

Os dois sinais da divindade humana, ou da humanidade divina, são as profecias e os milagres.

Ser profeta é ver adiantadamente os efeitos que existem nas causas, é ler na luz astral; fazer milagres é agir sobre o agente universal e submetê – lo à nossa vontade.

Perguntarão ao autor deste livro se é profeta e taumaturgo.

Que os curiosos procurem e leiam tudo o que ele escreveu antes de certos acontecimentos que se realizaram no mundo.
Quanto ao que teria podido dizer ou fazer, se contasse, e que nisso houve alguma coisa maravilhosa, dariam crédito à sua palavra?

Aliás, uma das condições essenciais da adivinhação é nunca ser forçada e nunca se submeter à tentação, isto é, à prova. Nunca os mestres da ciência cederam à curiosidade de ninguém. As sibilas queimam seus livros quando Tarquínio recusa apreciá – las no seu justo valor; o grande Mestre cala – se quando lhe pedem sinais da sua missão divina; Agrippa morre de miséria antes de obedecer ao que exigem dele um horóscopo. Dar prova da ciência aos que duvidam da própria ciência é iniciar indignos, é profanar o ouro do santuário, é merecer a excomunhão dos sábios e a morte dos reveladores.

A essência da adivinhação, isto é, o grande Arcano mágico, é figurado por todos os símbolos da ciência, e se liga estreitamente com o dogma único e primitivo de Hermes. Em filosofia, dá a certeza absoluta; em religião, o segredo universal da fé; em física, a composição, a decomposição, a recomposição, a realização e a adaptação do mercúrio filosofal, chamado azoth pelos alquimistas; em dinâmica, multiplica as nossas forças pelas do movimento perpétuo; é, ao mesmo tempo, místico, metafísico e material, com correspondência de efeitos nos três mundos; obtém caridade em Deus, verdade em ciência e ouro em riqueza, porque a transmutação metálica é, ao mesmo tempo, uma alegoria e uma realidade, como muito bem sabem todos os adeptos da verdadeira ciência.

Sim, podemos real e materialmente fazer ouro com a pedra dos sábios, que é uma amálgama de sal, enxofre e mercúrio combinados três vezes em azoth por uma tríplice sublimação e uma tríplice fixação.

Sim, a operação é, muitas vezes, fácil e pode ser feita num dia, num instante: outras vezes, exige meses e anos. Mas, para ter sucesso na grande obra, é preciso ser divinus , ou adivinho, no sentido cabalístico da palavra, e é indispensável ter renunciado, para seu interesse pessoal, às vantagens das riquezas, de que nos tornamos, assim dispensadores.

Raimundo Lullo enriquecia soberanos, semeava a Europa de suas fundações e permanecia pobre; Nicolau Flamel, que está bem morto, apesar do que diz a lenda, só achou a grande obra depois de ter, pelo ascetismo, chegado a um desapego completo das riquezas. Foi iniciado pela inteligência que teve repentinamente do livro de Asch Mezareph , escrito em hebraico pelo cabalista Abraão, talvez o mesmo que redigiu o Sepher Yetzirah . Ora, esta inteligência foi em Flamel, uma intuição merecida ou antes tornada possível pelas preparações pessoais do adepto. Creio ter dito o suficiente.

A adivinhação é, pois, uma intuição, e a chave desta intuição é o dogma universal e mágico das analogias. É pelas analogias que o mago interpreta os sonhos, como vemos na Bíblia, que o patriarca José o fazia outrora no Egito: porque as analogias nos reflexos da luz astral são rigorosas como os matizes das cores na luz solar, e podem ser calculadas e explicadas com grande exatidão. É somente indispensável conhecer o grau de vida intelectual do sonhador, e pode – se revelá – lo inteiramente a si mesmo pelos seus próprios sonhos até deixá- lo profundamente admirado.

O sonambulismo, os pressentimentos e a segunda visão são simplesmente uma disposição, quer acidental, quer habitual, a sonhar num sono voluntário ou acordado, isto é, perceber os reflexos analógicos da luz astral. Explicaremos isto até a evidência no nosso Ritual , quando dermos o meio tão procurado de produzir e dirigir regularmente os fenômenos magnéticos. Quanto aos instrumentos adivinhatórios, esses são simplesmente meios de comunicação entre o adivinho e o consultante, e, muitas vezes, só servem para fixar as duas vontades sobre o mesmo signo; as figuras vagas, complicadas, móveis, ajudam a reunir os reflexos do fluido astral e é assim que vemos, nas borras de café, nas nuvens, na clara do ovo, etc., formas fatídicas, e que só existem no translúcido , isto é, na imaginação dos operadores. A visão na água se opera por ofuscação e fadiga do nervo ótico, que cede as suas funções ao translúcido e produz uma ilusão do cérebro, que toma por imagens reais os reflexos da luz astral; por isso as pessoas nervosas, tendo vista fraca e imaginação viva, são mais próprias a este gênero de adivinhação, que tem sucesso principalmente quando é feita por crianças. Ora, não se enganem aqui sobre a função que atribuímos à imaginação nas artes adivinhatórias. Vemos pela imaginação, sem dúvida, e é esse o lado natural dos milagres, mas vemos coisas verdadeiras, e é nisso que consiste a maravilha da obra natural. Convidamos à experiência todos os verdadeiros adeptos. O autor deste livro experimentou todos os gêneros de adivinhação, e obteve resultados sempre proporcionais à exatidão das suas operações científicas e à boa fé boa dos seus consultantes.

O Tarô, este livro milagroso, inspirador de todos os livros sagrados dos antigos povos, é, por causa da exatidão analógica das suas figuras e dos seus números, o instrumento mais perfeito de adivinhação que possa ser empregado com inteira confiança. Com efeito, os oráculos desse livro são sempre rigorosamente verdadeiros, ao menos num sentido, e, quando nada prediz, sempre revela coisas ocultas e dá aos consultantes os mais sábios conselhos. Alliette, que, de cabeleireiro, se tornou cabalista, no último século, depois de ter passado trinta anos a meditar sobre o Tarô, Alliette , que se chamava cabalisticamente Etteilla, lendo o seu nome como se deve ler em hebraico, esteve bem perto de achar tudo o que estava escondido nesse livro estranho; mas só chegou a deslocar as chaves do Tarô, por não nas compreender, e inverteu a ordem e os caracteres das figuras, sem destruir completamente as suas analogias, tanto elas são simpáticas e correspondentes umas com as outras. Os escritos de Etteilla, tornados muito raros, são obscuros, fatigantes e de um estilo verdadeiramente bárbaro; nem todos foram impressos, e os manuscritos desse pai dos modernos tiradores de cartas estão ainda nas mãos de um livreiro de Paris, que teve a bondade de nô – los mostrar. O que se pode ver neles de mais notável são os estudos teimosos e a boa fé do autor, que toda a sua vida pressentiu a grandeza das ciências ocultas, e teve de morrer à porta do santuário, sem nunca poder penetrar além do véu. Estimava pouco Agrippa, fazia grande caso de Jean Belot e nada conhecia da filosofia de Paracelso; mas tinha uma intuição muito exercitada, uma vontade muito perseverante, e mais sonho do que juízo; era muito pouco para ser um mago, mas era mais do que necessário para ser um adivinho vulgar muito hábil, e, por conseguinte, muito acreditado. Por isso, Etteilla teve um sucesso em voga que um mago mais sábio talvez errasse em não pretender, mas que certamente não pretenderia.

Dizendo, no fim do nosso Ritual, a uma última palavra do Tarô, indicaremos o modo completo de o ler, e, por conseguinte, de o consultar, não somente sobre as sortes prováveis do destino, mas também, e principalmente, sobre os problemas da filosofia e da religião, de que dá uma solução sempre certa e da mais admirável exatidão, e se for explicado na ordem hierárquica da analogia dos três mundos com as três cores e os quatro matizes que compõem o setenário sagrado. Tudo isto pertence à prática positiva da magia, e somente pode ser sumariamente indicado e estabelecido em princípio nesta primeira parte, que contém exclusivamente o dogma da alta magia e a chave filosófica e religiosa das altas ciências, conhecidas ou antes ignoradas sob o nome de ciências ocultas.


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