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Saint Germain

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A Europa do século XVIII testemunhou o aparecimento de uma constelação de notáveis homens espirituais que trabalharam para aliviar o sofrimento humano, apontaram para uma comunidade humana regenerada e tiveram um papel central na transição da noção régia “L´Etat, c’est moi”, para a concepção contemporânea de nação. O Conde de Saint-Germain foi o mais misterioso e enigmático dentre aqueles personagens. Embora ele mantivesse relações familiares com a maior parte das cabeças coroadas da Europa, pouco era conhecido de sua própria vida. Nenhuma data ou lugar podem ser indicados como sendo os de seu nascimento, e sua morte registrada é quase certamente uma falsificação. Mesmo sendo brilhante e talentoso, sua origem e educação são desconhecidas. Viajando incessantemente pelas capitais importantes da época, suas atividades em grande parte eram ocultas. H.P.Blavatsky sugere uma relação estreita entre Mesmer, Saint-Martin, Cagliostro e Saint-Germain, e afirma que Saint-Germain “supervisionava o desenrolar dos acontecimentos” na carreira de Mesmer e indicara Cagliostro para assistí-lo. O vasto período de tempo em que Saint-Germain trabalhou e o nível em que o fez sugerem que sua visão e esforços não eram limitados por nenhum lugar ou período únicos.

Saint-Germain apareceu primeiro em Veneza, no início do século XVIII, aparentando ter quarenta e cinco anos de idade, extremamente bem-apessoado, com olhos intensos e maneiras atraentes. Em torno de 1760 a Condessa von Georgy encontrou-o na corte de Luís XV. Atônita por ver o Conde completamente igual ao que era cinqüenta anos antes, perguntou-lhe se era realmente ele. O Conde não apenas confirmou sua suspeita, mas relatou diversos incidentes que só os dois conheciam.

Em 1710 Rameau elogiou as claras e emocionantes improvisações de Saint-Germain ao pianoforte. O Príncipe Ferdinand von Lobkovitz recebeu uma de suas composições, e outra, com a assinatura do Conde, acabou por chegar às mãos de Tchaikovsky. Duas outras, datadas de 1745 e 1760, estão preservadas no Museu Britânico. Saint-Germain tocava violino igualmente bem, sendo comparado favoravelmente com Paganini por aqueles que haviam ouvido ambos tocar.

O conhecimento de línguas de Saint-Germain era fenomenal. Ele falava francês, inglês, alemão, italiano, espanhol e português fluentemente e sem sotaque. Os eruditos ficavam surpreendidos pela sua facilidade no grego e no latim, assim como no sânscrito, chinês e árabe, que ainda não eram bem ensinados nos liceus franceses. Ele era ambidestro e podia escrever com ambas as mãos ao mesmo tempo. Franz Gräffer testemunhou Saint-Germain escrever rapidamente a mesma carta com as duas mãos em duas folhas de papel. Quando superpostas uma à outra e vistas contra uma janela, as folhas translúcidas revelaram escritas idênticas, “como se fossem cópias de uma mesma matriz”. Ele também era um esplêndido pintor e crítico de arte. Suas obras eram notadas pelo brilho realístico que dava às pedras preciosas que pintava na tela. Embora se suspeitasse que ele misturava madrepérola em seus pigmentos, ele jamais revelou o segredo e suas cores nunca foram reproduzidas.

Seu conhecimento de alquimia e química é bem atestado. Ele admitia que podia fazer pérolas artificialmente e uma vez removeu uma jaça de um grande diamante possuído por Luís XV. Casanova testemunhou uma moeda de prata de sessenta cêntimos ser transformada em uma peça de ouro puro em cerca de dois minutos. Quando Casanova lançou dúvidas sobre o que havia visto, Saint-Germain respondeu simplesmente: “As pessoas que questionam a minha Arte não merecem minha atenção”, e Casanova jamais o viu novamente. Dois meses mais tarde Casanova deu a moeda para o Marechal-de-campo Keith em Berlin. Além desta capacidade de aperfeiçoar os metais, a própria idade imutável e hábitos alimentares únicos de Saint-Germain – ninguém jamais o viu comer – sugerem que ele possuía o elixir da vida. Uma vez que outros alegaram ter recebido benefícios diretos de seus derivados, incluindo vigor recuperado e saúde restaurada, memória aumentada e vida prolongada, parece que Saint-Germain possuía o conhecimento do Azoth, que em suas três formas constitui a Pedra Filosofal, o poder de projeção e o elixir da vida.

Mesmo sem haver evidência de ter alguma vez recebido receitas ou lucro de seus investimentos, Saint-Germain era rico. Suas jóias pessoais eram fabulosas, incluindo um par de fivelas de sapato que valiam duzentos mil francos. Os convites para os seus jantares suntuosos, nos quais ele não comia nada, eram enviados em cartões engastados de pedras preciosas. Ele tinha crédito em todos os bancos e jamais estava em débito. A fonte de sua riqueza, contudo, permanece desconhecida.

Suas origens são igualmente desconhecidas. Dizia-se variadamente que ele era um descendente de Carlos II da Espanha, um judeu da Alsácia, o filho de um rei de Portugal, ou o Príncipe Rakócxy da Transilvânia. o Príncipe Karl von Hesse-Cassel, um amigo do Conde, acreditava, mas não pretendia certeza, que a última identidade era a correta. Saint-Germain ocasionalmente usava o título de Conde Tzarogy, e o Príncipe Karl havia ouvido que quando o irmão e irmã do Conde receberam do Imperador Carlos VII os títulos e nomes de Saint Karl e Saint Elisabeth, ele mesmo adotou o nome de Sanctus Germano, “o irmão santo”. Mas Saint-Germain comprou do Papa o condado de San Germano e seu título. Uma vez ele mesmo disse que havia vivido por um tempo na Caldéia, mas não está claro se ele estava se referindo a uma vida anterior. Uma especulação recente de Jacques Sadoul sugere uma conexão entre o Signor Geraldi, Lascaris e Saint-Germain. Descrições existentes sobre sua aparência e maneiras são muito similares e todos os três eram alquimistas, lingüistas e conversadores notáveis. Geraldi estava em Viena em 1687; desapareceu em 1691. Lascaris apareceu em torno de 1693, realizou muitas transmutações documentadas e sumiu entre 1730 e 1740, logo antes de Saint-Germain chegar à Inglaterra. O astrólogo Etteila arriscou declarar em 1786 que Saint-Germain e Irineu Filaletes eram a mesma pessoa, acrescentando: “Monsieur de Saint-Germain une em sua própria pessoa um conhecimento perfeito das três ciências clássicas”.

Todos os que o encontravam ficavam profundamente impressionados com sua natureza gentil e refinada, sua graça, amabilidade e compaixão, e com sua palestra brilhante e envolvente. Suas histórias sobre tempos antigos, como as sobre Francisco I de França, eram tão animadas e detalhadas que muitos vieram a acreditar que ele tinha centenas de anos de idade. Ao mesmo tempo que realmente sugeria ser muito velho e que tinha conhecimento pessoal dos eventos antigos, ele não pretendia que tudo o que lembrava tivesse ocorrido quando estava no corpo que possuía como ‘Saint-Germain’. Quando uma vez mostrou o retrato de sua mãe para a Condessa de Genlis em 1723, ela notou o traje desconhecido usado na pintura. “A que período pertence esta roupa?”, perguntou ela, mas não recebeu resposta.

‘O Homem-Prodígio’, o ‘homem milagroso’, fascinou toda a Europa cortesã. De todos os cantos vinham relatos de alguma visão estranha, alguma experiência peculiar, de uma história maravilhosa ou alguma atividade misteriosa. A maior parte deles é fragmentária e inclui histórias inventadas, pois se tornara sinal de distinção e prestígio ter algum encontro com Saint-Germain. Ele não tentava encorajar ou suprimir nenhuma história particular, pois elas ocultavam mais completamente seu trabalho verdadeiro dos olhos curiosos e bisbilhoteiros. Ao passo que um número de pessoas notáveis de menor escalão tenha registrado incidentes em sua vida, aqueles que mantinham posições críticas no poder e influência e que freqüentemente o tinham como confidente não escreveram histórias detalhadas dos eventos em andamento.

Em 1723 Saint-Germain estava na França e em relações estreitas com Madame de Pompadour, a quem ela havia dado uma caixa de ágata que, quando levada para perto de um fogo, revelava uma pintura de uma pastora com seu rebanho. Um grupo de nobres austríacos e húngaros eram amigos seus, incluindo o Príncipe Kaunitz e o Príncipe Ferdinand von Lobkovitz. De 1737 a 1742 Saint-Germain viveu na corte do Xá da Pérsia, onde mergulhou em estudos alquímicos. Foi lá, disse ele, que começou a entender os segredos da natureza. Voltou a Versalhes e passava muitas horas com Luís XV. De acordo com Horace Walpole, Saint-Germain, que “canta e toca violino maravilhosamente”, foi à Inglaterra e foi implicado na Revolução Jacobina em 1745. Um inimigo introduziu uma carta, alegadamente escrita pelo Pretendente, no bolso de Saint-Germain e então prenderam-no. Ele imediatamente explicou-se, foi inocentado, e jantou na mesma noite com William Stanhope, Conde de Harrrington e Secretário do Tesouro. No mesmo ano foi a Viena, onde foi calorosamente recebido por Lobkovitz, primeiro ministro do Imperador Francisco I. Durante este período ele também visitou Frederico o Grande em Sans-Souci, e lá teve várias conversas com Voltaire. Embora um cético empedernido, Voltaire sentiu-se movido a escrever que “o conde de Saint-Germain é um homem que jamais nasceu, e jamais morrerá, e que sabe tudo”.

Saint-Germain viajou à Índia com o General Clive. Mais tarde ele escreveu: “Devo meu conhecimento de fazer jóias à minha segunda viagem à Índia, no ano de 1755”. A partir de seu próprio relato, ele esteve também na África e na China, mas não deu datas. Quando voltou à França em 1757, causou profundo impacto no Marechal, o Conde de Belle-Isle, que haveria de se tornar Secretário de Estado com o Duque de Choiseul no reinado de Luís XVI. Nesta altura o Rei deu a Saint-Germain um apartamento no castelo real de Chambord, e formou-se um grupo de estudantes ao seu redor. Entre eles estava o Barão von Gleichen, o Marquês d’Urfré e a Princesa de Anhalt-Zerbst, mãe de Catarina II da Rússia. Algumas lendas fantásticas sobre o Conde se espalharam em toda Paris porque um inglês de nome Lorde Gower se divertia imitando Saint-Germain e fazendo que sua imitação falasse e fizesse coisas tolas. Saint-Germain tinha de suportar a fofoca que surgia nos salões da época e o fez sem queixa.

Luís XV enviou Saint-Germain em missão secreta extraordinária para Haia, para descobrir se os ingleses aceitariam uma paz que era aceitável para a França. Saint-Germain chegou com cartas de Belle-Isle e rapidamente descobriu que o Duque de Choiseul estava trabalhando contra a paz, e que o Conde d’Affry, embaixador francês oficial, era seu aliado. O Conde avisou Madame de Pompadour, explorou os sentimentos de vários diplomatas e convenceu Jorge III de que ele estava agindo em nome do Rei de França. Choiseul soube que Saint-Germain descobrira suas tramas e ordenou que o prendessem. Saint-Germain insistiu que não tinha nada a temer de Choiseul, não obstante, escapou rapidamente pela Frísia Oriental em direção à Inglaterra, onde foi recebido na corte. Quando o Conde de la Watú descobriu a partida súbita, escreveu para Saint-Germain:

“Se um raio me atingisse eu não teria ficado mais confuso do que quando descobri que houvestes partido de Haia… Sei bem, Monsieur, que sois o maior senhor em toda a Terra; só lamento que pessoas vis ousem dar-vos aborrecimentos, e diz-se que ouro e intrigas estão sendo empregados em oposição aos vossos esforços pela paz… Se decidis que posso ser de valia para vós, contai com minha fidelidade; não tenho senão meu braço e meu sangue, mas ponho tudo isso a vosso serviço”.

Quando seus esforços pela paz pareceram falhar, ele voltou a Paris em maio de 1761. Quando o Marquês d’Urfé informou Choiseul da presença do Conde, ele respondeu: “Não me surpreende, pois ele passou a noite em meus aposentos”. Desta discussão surgiu o Pacto de Família, que por fim foi sucedido pelo Tratado de Paris, que deu fim às guerras coloniais. A seguir Saint-Germain é encontrado em São Petersburgo. O Conde Gregor Orloff escreveu ao Margrave de Brandenburg-Anspach que o Conde “teve grande papel na sua revolução” e ajudou a estabelecer Catarina II no trono. Por volta de 1763, contudo, Saint-Germain estava em Bruxelas. O Conde Karl Cobenzl escreveu para o Primeiro Ministro, Príncipe Kaunitz, que ele havia visitado o Conde.

“Possuindo grande fortuna, ele vive na maior simplicidade; ele sabe tudo, e demonstra uma retidão, e uma bondade de alma, dignas de admiração”. Cobenzl descreveu uma transmutação do ferro, vários processos de tintura “e o mais perfeito curtume”, a eliminação do cheiro dos óleos de pintura e a produção de cores brilhantes. Ele então delineou um plano de manufatura sem custo destes itens, pelos quais o Conde recusou recompensa exceto uma fração dos lucros. Nesta época Casanova encontrou Saint-Germain em Tournay e foi informado da fábrica de Cobenzl.

Em algum momento entre 1763 e 1769 Saint-Germain passou um período de um ano em Berlin. Dieudonné Thiébault lembrou em suas memórias que Saint-Germain “era claramente de berço nobre, e transitava na boa sociedade”. Quando Madame de Troussel e o Abade Perteny, “que não tardou em reconhecer nele as características que constituem um adepto”, mencionou a Pedra Filosofal, Saint-Germain ridicularizou os esforços ilógicos da maioria dos alquimistas. “Eles não usam agente nenhum exceto o fogo”, disse o Conde, conforme relatos, “esquecendo que o fogo divide e decompõe, e que conseqüentemente é mera tolice depender dele para a criação de um composto novo”. Thiébault acreditava que Cagliostro havia sido seu discípulo e iniciado pelo próprio Saint-Germain. Cagliostro permaneceu sempre fiel ao seu mestre, mesmo sendo atacado amiúde por homens e mulheres astutos e maliciosos. Mas, diz Thiébault:

“Na história do Monsieur de Saint-Germain temos a história de um homem sábio e prudente que jamais atentou voluntariamente contra o código de honra, ou fez algo que pudesse ofender nosso senso de probidade. Temos maravilhas sem fim, mas nunca algo mesquinho ou escandaloso”.

Em torno de 1770 Saint-Germain viajou para Veneza, onde instalou uma fábrica que empregava centenas de operários trabalhando no tingimento e processamento do linho para que tomasse a aparência de seda italiana. Ele acompanhou a Tunis o Conde von Lamberg, Camareiro do Imperador José II. No mesmo ano o Conde Alexis Orloff acolheu-o calorosamente em Leghorn, onde ele apareceu de uniforme russo e usou o nome de Conde Saltikoff. Nesta época ele também foi visto em Paris por ocasião da desgraça de Choiseul. Heer van Sypesteyn escreveu:

“Todas as suas habilidades, especialmente sua extraordinária bondade, sim, mesmo magnanimidade, que formavam suas características essenciais, o tornaram tão respeitado e amado que quando, em 1770, depois da queda do Duque de Choiseul, seu arqui-inimigo, ele apareceu em Paris novamente, foi só com grandes expressões de tristeza que os parisienses deixaram que ele partisse”.

Por ocasião da morte de Luís XV em 1774 – que havia pronunciado as ominosas palavras “depois de mim, o dilúvio” – Saint-Germain foi para Haia pela última vez e logo seguiu para Schwalbach. Foi visto por Björnstahl em Hanau, com o Lorde Cavendish. Nos dois anos seguintes ele visitou Triesdorf, Leipzig e Dresden. Em 1779 foi para Hamburgo. Lá foi o hóspede ilustre do Príncipe Karl von Hesse, e juntos eles empreenderam alguns experimentos secretos, todos dedicados ao bem da humanidade.

A última fase da carreira pública do Conde é relatada com mais detalhes nos ‘Souvenirs de Marie-Antoinette’, da Condessa d’Adhémar. O livro é apócrifo, e inclui cenas que ela não poderia ter testemunhado pessoalmente, mas documentos a respeito de Saint-Germain foram cuidadosamente preservados pelos descendentes da Condessa e parece provável que a maior parte dos casos relatados no livro sejam baseados nas suas recordações. A Condessa diz que Saint-Germain visitou-a várias vezes e persuadiu-a para usar sua influência sobre a nova Rainha, Maria Antonieta. Em várias ocasiões Saint-Germain detalhou o destino da monarquia francesa: uma conspiração estava em andamento – embora não houvesse um líder único – para subverter toda a ordem social. Uma vez que ela havia surgido por causa das necessidades legítimas das massas, não poderia ser ignorada, mas a menos que Luís XVI tomasse a iniciativa da reforma, outros, especialmente os Enciclopedistas ávidos de poder, usariam o nome do povo em proveito de seus fins complexos, confusos e ignóbeis. Além de certo ponto nada mais poderia ser feito, de modo que o Rei devia agir rapidamente. Infelizmente, Maurepas, de quem o Rei dependia, era ao mesmo tempo um tolo e um inimigo de Saint-Germain. O Rei devia ter a coragem de livrar-se dele.

A triste história da Condessa d’Adhemar é bem conhecida: os esforços do Conde suscitaram a atenção de Luís e de Maria Antonieta, que admitiram mesmo que o Conde enviara a ela cartas anônimas que haviam advertido e protegido numerosas vezes. Mas seus conselhos não conseguiram livrar o Rei da intolerável influência de Maurepas. Saint-Germain previu o resultado final – revolução e república, um império temporário e uma legião de governos controlados por homens ambiciosos e indignos. Diz-se que ele apareceu na decapitação de Maria Antonieta, e novamente em 1804, 1813 e 1820. Exceto por estas breves aparições, ele escreveu à Condessa pela última vez em 1789: “Tudo está perdido, Condessa! Este é o último sol que brilhará sobre a monarquia; amanhã ela já não existirá, o caos prevalecerá, a anarquia sem paralelo… agora é tarde demais”.

Em 1784 o Conde retirou-se para o castelo do Príncipe Karl e, de acordo com o registro paroquial de Eckernförde, morreu depois de uma doença em 27 de fevereiro. Ninguém viu o corpo, e Saint-Germain esteve presente na Grande Convenção Maçônica de Paris em 1785. Com ele estavam Saint-Martin, Mesmer e Cagliostro. Estes quatro também estiveram presentes na Convenção de Wilhelmsbad em 1782. Tendo-se encerrado a vida pública de Saint-Germain, ele continuou a visitar por muitos anos alguns poucos que estavam profundamente envolvidos na obra Maçônica. Franz Gräffer relatou que Saint-Germain lhe disse: “No fim deste século devo desaparecer da Europa, e recolher-me à região dos Himalaias. Eu preciso descansar, eu devo descansar. Dentro de exatamente oitenta e cinco anos as pessoas me verão novamente. Ele consultou o Conde Chalons em 1788 e aconselhou o Barão von Steuben para juntar-se a Lafayette na América. Finalmente, o Mahatma K.H. declarou que foi “na casa de seu fiel amigo e patrono, o benevolente Príncipe alemão, em cuja presença ele fez sua última partida – para O LAR”.

Além de ser chamado de Templário por Cadet de Gassicourt, Deschamps asseverou que Saint-Germain havia pessoalmente iniciado Cagliostro na Ordem. Gräffer relatou que em 1776 Saint-Germain explicou os princípios do magnetismo para Mesmer, que já havia começado ele mesmo a descobrí-los. Depois de sua conversa, Mesmer desistiu do uso dos magnetos e dedicou-se inteiramente ao magnetismo animal. Mais de um escritor da época suspeitou de que a mão diretriz de Saint-Germain estava em um número de sociedades Maçônicas e espirituais secretas, cujos líderes eram desconhecidos. Além dos Fratres Lucis e dos Cavaleiros do Templo, seu nome foi associado com os Irmãos da Ásia, com a Ordem da Observância Estrita, que ajudaram a fundar, e com grupos Rosacruzes.

Embora Saint-Germain supostamente tenha escrito diversas obras, apenas um breve tratado sobrevive. É o famoso ‘A Santíssima Trinosofia’, ocasionalmente atribuído a Cagliostro porque a cópia sobrevivente foi encontrada entre seus pertences pessoais quando ele foi preso em Roma pala Inquisição. A tradição afirma que Cagliostro o recebeu quando foi iniciado nos Templários por Saint-Germain. A conclusão contém diversas páginas de misteriosas figuras hieroglíficas e desenhos. As doze seções anteriores são um texto alegórico sobre a iniciação, escrito por um prisioneiro da Inquisição para seu amigo Filócato, na véspera da sua entrada no “santuário das ciências sublimes”, que está aberto a todos que podem ver e voar em direção ao Trono do Eterno.

“Duas pedras bloqueadoras igualmente perigosas constantemente se apresentarão a ti. Uma delas é o ultraje dos sagrados direitos de cada indivíduo. É o mau uso do poder que Deus terá confiado a ti; a outra, que trará a ruína sobre ti, é a indiscrição… Ambas nascem da mesma mãe, ambas devem sua existência ao orgulho. A fragilidade humana as alimenta; elas são cegas, sua mãe as conduz”.

Ordenam ao protagonista seguir à noite para um altar de ferro em um monte perto do Vesúvio e proferir uma invocação. Ao fazê-lo, ele é envolvido em fina fumaça, e a cena se dissolve, e ele é levado para uma alegoria na qual ele penetra o segredo dos quatro elementos e o mistério do espírito. Aceitando que o relato tem uma precisão simbólica, o texto assume a feição de um relato detalhado do triunfo da natureza eterna sobre as aparências internas e externas, através da obediência, coragem, constância, consciência e desejo de aprender no Palácio da Sabedoria. Depois de muitas provas terem sido ultrapassadas, o protagonista conclui:

“Percebo com espanto que entrei novamente na Sala dos Tronos (a primeira em que me encontrei ao entrar no Palácio da Sabedoria). O altar triangular ainda estava no centro da sala, mas a ave, o altar e a tocha estavam unidos e formavam um único corpo. Perto deles havia um sol dourado. A espada que eu trouxera da sala do fogo estava a poucos passos distante, no assento de um dos tronos: eu tomei a espada e golpeei o sol, reduzindo-o a pó. Então toquei nele e cada molécula sua se tornou um sol dourado como aquele que eu despedaçara. Naquele instante uma voz alta e melodiosa exclamou ‘A obra está perfeita!’. Ouvindo isso, os filhos da luz acorreram a mim, as portas da imortalidade se me abriram, e a nuvem que vela os olhos dos mortais se dissipou. Eu VI e os espíritos que presidem sobre os elementos reconheceram-me como seu mestre”.

A vida de Saint-Germain demonstrou a alegoria espiritual da qual ele escreveu. Ela foi majestosa e maravilhosa demais para qualquer mente compreender, exceto as mais imaginativas e intuitivas. Marie-Raymonde Delarme, em seu recente livro ‘Le comte de Saint-Germain’, conclui que “Na história do século XVIII o Conde de Saint-Germain deixou a imagem de um espírito universal, dotado de rara intuição, capaz de levar à perfeição – em sua própria odisséia espiritual – as múltiplas possibilidades das quais o tempo anunciou a promessa”. Helena Blavatsky resumiu seu caráter e obra com objetividade: “O Conde de Saint-Germain foi com certeza o maior Adepto Oriental que a Europa viu ao longo dos últimos séculos”.

Autor: Elton Hall

1709 – 1788


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