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por Rômulo Guyraúna
Existe uma Tradição de origem indígena, nativa da região nordeste do território brasileiro, que, no presente momento de nossa história, recebe os seguintes nomes: Jurema, Jurema Sagrada, Catimbó, Catimbó-Jurema, Jurema-Catimbó, Culto aos Senhores Mestres.
Esta Tradição possui milhares de anos e teve como seus genitores os povos nativos da citada região – comunidades que, há milhares de anos, à medida que estabeleciam contatos cada vez mais íntimos com a Natureza, conheciam os mistérios do Reino e Vegetal e deles se assenhoravam.
Interagindo com a Natureza, mergulhando cada vez mais profundamente neste Reino, progressivamente identificaram aqueles Seres especiais que nós, atualmente, chamamos “Plantas Mestras” e “Plantas de Poder” – vegetais sagrados que possuem a capacidade de interagir conosco e por nós serem compreendidos: Plantas Mestras são aquelas que têm capacidades transpessoais de interação entre si e com seres de outros reinos evolutivos (dentre os quais encontra-se nosso Reino Hominal) e, exatamente por estarem neste Planeta a muito mais tempo que nossa espécie, interagindo conosco, transmitem-nos conhecimentos diversos que contribuem com nossa Jornada evolutiva.
Os sábios do passado, de ambos os sexos, interagindo com a Natureza, dialogaram com as Inteligências do Reino Vegetal – delas sorvendo e assimilando grande bagagem intelectiva e espiritual que se tornou legado de nossos mestres e pajés (sacerdotes e sacerdotisas) juremeiros contemporâneos.
Mais que entes vegetais, a Jurema Preta e o Tabaco (dentre outros vegetais, mas, principalmente, os dois aqui citados), apresentaram-nos suas Forças e seus Mistérios, autorizando os Sábios do passado a caminharem em suas Ciências. São, esses Vegetais, as colunas da Tradição que atualmente chamamos “Catimbó-Jurema”.
Os Entes Divinos que habitam as citadas Plantas foram cultuados por nossos antepassados e, do conhecimento que tais seres nos legaram, nasceram as chamadas “pajelanças” das quais se destaca o contemporâneo Catimbó.
“Catimbó”, palavra oriunda do Tupi Antigo, também presente no Guarani, que em língua portuguesa significa “fumaça de mato” e “vapor de erva”, está relacionada às vetustas práticas mágicas, cultuais e medicinais, nativas do nordeste do Brasil – mediante as quais pajés e curandeiros, fazendo uso da fumaça do Tabaco e outras ervas, ministram a cura física e espiritual dos necessitados; assim como debelam o mal, expulsando-o de suas aldeias. Conquanto “Jurema” é termo que está relacionado a um Vegetal Mestre com o qual os antigos preparavam uma bebida sacramental, cuja ingestão ritualística proporciona, ainda hoje (para quem a trata com a devida reverência e não a transforma em droga ou recreação), interações positivas com planos existenciais paralelos a este em que nos encontramos.
Conforme dito no início deste artigo, “Catimbó” e “Jurema” são termos que fazem referência a uma Tradição espiritual, cultual, medicinal e mágica, nativa do nordeste brasileiro, cunhada por povos indígenas autóctones – dentre os quais podemos citar os Chumimy (Kariri), Tarairiú e Potiguara, que desde longa data habitam o território do atual estado do Rio Grande do Norte.
Tais etnias delinearam e definiram as bases de “ciências meta positivistas” e corpos de conhecimento por meio dos quais os antigos juremeiros desta região legaram aos seus sucessores o Culto (ou antes a Religião, uma vez que a Jurema possui a capacidade de nos religar a Deus, isto é, à Fonte Onipotente de onde viemos; assim como de nos religar aos nossos ancestrais) que é objeto deste estudo.
Conforme o que os antigos nos passaram, existe um “mundo” ou plano paralelo a este em que vivemos e que o envolve, caracterizado por uma fauna e uma flora espiritual – ou antes por “reinos, cidades e aldeias espirituais” – de onde provém uma série incontável de entidades dispostas a nos socorrer e proteger, sempre que necessitarmos e corretamente as chamarmos. Essas entidades, esses “espíritos”, são, tradicionalmente, chamados “Caboclos, Caboclas, Mestres e Mestras da Jurema”, porém, em realidade, conforme o que pude observar em comunidades indígenas e demais agrupamentos juremeiros, essa grande diversidade de seres provém de várias realidades evolutivas – sendo assim chamados: xerimbabos, os espíritos de animais sagrados; donos(as) da Planta os professores e professoras vegetais, espíritos oriundos das Plantas; entes alienígenas, “Povo das Estrelas”, espíritos provenientes de esferas planetárias extraterrenas (que chamamos Reino Celestial); indígenas de ambos os sexos que, séculos ou milênios atrás, exerceram funções de sapiência entre os seus; curandeiras, parteiras, feiticeiros, bruxas, cabalistas, padres, beatas, africanos e ciganos que, durante o período colonial da história do Brasil, provenientes de Europa e de África, aqui estiveram e conviveram com nativos e caboclos – sendo assimilados pela Jurema à medida que apreendiam os saberes dos povos originários deste lado do mundo, vindo a constituir o que hoje chamamos “Senhores e Senhoras Mestres da Jurema”.
Com o passar do tempo, todos esses seres foram genericamente chamados “encantados”. Afirmavam, os antigos, tanto aqueles nativos deste lado do mundo quanto os demais que provinham do continente europeu, que em determinados lugares da Natureza havia portais que, uma vez atravessados, favoreciam a realização de contatos com seres e realidades mágicas, espirituais, transcendentais, localizadas para além desta estrutura tridimensional com a qual estamos habituados a viver.
Tal realidade, conforme nos ensinaram os antigos juremeiros, recebe tradicionalmente os nomes: “Encanto”, “Inkant” (sendo esta a palavra que, no dialeto Brobó, dos Tarairiú, denomina o ritual através do qual os espíritos são evocados), “Fundo do Mar”, “Debaixo do Chão” e “Juremal”.
Em nossos dias, os rituais conhecidos como “Mesa de Jurema” podem ser considerados sínteses de ritos provavelmente muito maiores, outrora realizados por povos indígenas e caboclos juremeiros, desde os quais os “encantados” se fazem presentes para nos socorrer, debelar malefícios mágicos, combater ações inimigas, proporcionar o restabelecimento de nossa saúde e nos conduzir na profundidade de antigos mistérios – realinhando-nos com Deus (o Mistério dos Mistérios), com nossos ancestrais e com a Mãe Natureza.
Ritualisticamente falando, as sessões de Catimbó, chamadas “mesas”, são dirigidas por um sacerdote ou sacerdotisa (o mestre, a mestra, o pajé ou a kunhã pajé); havendo ainda cerimônias organizadas e realizadas em forma de dança circular (que nas aldeias são chamadas “Toré”). Ambos os ritos podem ser orientados como meios de desenvolver a mediunidade e o psiquismo dos participantes; de proporcionar contatos e obter favores de entidades espirituais; ou ainda como vias de adquirir conhecimentos ocultos próprios do Universo Juremeiro – quando não sejam formas de agradecer aos Encantados as Graças alcançadas.
Em tais cerimônias geralmente encontramos, dentre as ferramentas de trabalho do sacerdote, ao menos um cachimbo (chamado “gaita” ou “marca mestra”) e um maracá (a “marca de tocar”), com os quais os sacerdotes interagem com as Forças Inteligentes da Mãe Natureza e evocam e invocam entidades espirituais. Vale lembrar que, nas cerimônias, a fumaça de Tabaco e a bebida Jurema possuem função sacramental singular – podendo ser caracterizadas como meios através dos quais são estabelecidos contatos com outras ordens de existência.
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