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Santiago Boaventura
Em Iniciação ao Hermetismo, Franz Bardon coloca como uma de suas primeiras recomendações o que ele chama de “um estilo de vida normal e sensato” e nos diz que “O desenvolvimento do invólucro exterior, isto é, do corpo, também deve andar de mãos dadas com o desenvolvimento do espírito a da alma. Nenhuma parte de nosso eu deve deixar a desejar, ou ser negligenciada.” Embora ao longo de sua obra torne-se óbvio o porque desse conselho, esse estilo de vida vai muito além da alimentação consciênte do banho e ginastica matinal que ele propõe no Grau I.
A saúde física, por sua vez, não deve ser uma obsessão, mas o resultado natural de um estilo de vida equilibrado. Deve-se beber água pura em abundância e consumir alimentos frescos e naturais, evitando excessos de doces e ácidos. Uma dieta regulada e equilibrada contribui para que o corpo seja ágil, flexível e vigoroso. Para combater os milhões de bactérias que diariamente ameaçam o organismo, é necessário adotar hábitos saudáveis como banhos frios, caminhadas matinais e uma respiração correta. A respiração deve seguir um método simples e eficaz: inspirar profundamente pelo nariz, reter o ar por alguns instantes e expirar com força pela boca. Esses cuidados diários não só mantêm a saúde física, mas também preparam o ser para a sincronia com as correntes cósmicas.
A Sacralidade Sexual
Para aqueles que desejam avançar rapidamente em seu caminho do hermetismo é fundamental aprender o que mais adiante ele chama de “Represamento da Energia Vital”. Esse processo começa com o pranayama mas tem seu ápice na retenção das energias sexuais, consideradas a base de toda manifestação de vida e das funções de reprodução. Segundo a sabedoria hindu, a Divindade reside no plexo sacral do corpo humano, onde a força universal repousa em forma de uma serpente enroscada, representando tanto o bem quanto o mal. Quando essas energias são sabiamente guardadas e utilizadas no momento adequado, elas revitalizam o corpo, influenciam a mente e contribuem para a renovação interior.
Os instrutores religiosos, conscientes desse segredo, impuseram a abstinência absoluta aos sacerdotes, e muitas pessoas destinadas a uma vida mais elevada optaram instintivamente pelo celibato. Aqueles que adotaram o matrimônio como parte de suas práticas espirituais encaravam as funções reprodutivas como um ato sagrado, realizado de forma medida e consciente. Dessa forma, a compreensão plena das funções sexuais permitia ao ser humano transmutar essa força não apenas para o prazer ou reprodução, mas também para a energia mental e espiritual, promovendo uma verdadeira regeneração interior.
A Sacralidade do Verbo
Além de preservar a energia sexual, é necessário controlar o verbo. A palavra, quando sabiamente utilizada, possui um poder imenso, pois produz som e vibração que podem ser direcionados para a criação e o bem. A palavra deve ser uma expressão clara e precisa do pensamento que se deseja transmitir. Ditados antigos como “A palavra é prata, o silêncio é ouro” sintetizam a importância de medir o que se diz. Nos templos egípcios, o silêncio era uma norma rigorosa para os Iniciados, enquanto Apolônio de Tiana impunha cinco anos de silêncio aos aspirantes. Tradições religiosas, como a dos trapistas, mantêm a lei do silêncio por toda a vida, refletindo a sabedoria de Cristo ao dizer: “Sejam tuas palavras: sim, sim, não, não.”
A comunicação verbal consome energia, especialmente quando associada a emoções intensas, como a raiva, ou hábitos excessivos de rir ou chorar. O murmúrio e a mentira drenam terrivelmente as energias, enquanto a palavra bem-intencionada e medida promove a reposição imediata das forças. As palavras também moldam a identidade de uma pessoa; por exemplo, os sannyasis, ao iniciar sua vida de renúncia, adotam um novo nome para que o som reflita e reforce seu novo ideal.
A Sacralidade do Olhar
Os olhos também são canais pelos quais as energias podem escapar continuamente. Um exercício de controle visual, praticado por noviços, envolve relatar todas as noites quantas faces humanas observaram durante o dia. O olhar disperso perde tanto força espiritual quanto física. Em contraste, o camponês, habituado à concentração serena do olhar, pode distinguir detalhes a grandes distâncias que o citadino não consegue. O controle sobre os olhos não apenas preserva energias, mas também ajuda a concentrar a visão interna no próprio ser.
O olhar, frequentemente chamado de espelho da alma, reflete o estado interno da mente. Uma mente serena e tranquila se expressa através de olhos de expressão equivalente. Exemplos como o de um sannyasi hindu, que fez voto de não tirar os olhos do céu, ou de São Bernardo, que nunca observou o teto de sua cela, demonstram a disciplina extrema com a qual se pode dirigir o olhar para propósitos elevados. Preservando as energias visuais, ao se olhar, deve-se ver profundamente e com clareza, como se o olhar brilhasse como raios de sol, iluminando tudo ao seu redor e penetrando até os recantos mais ocultos.
A Sacralidade do Tempo
A organização da vida, dos anos e dos dias é essencial para o crescimento espiritual e o equilíbrio interior. Observando a precisão dos sistemas solares e a regularidade das estações, percebe-se que a natureza é regida por leis rigorosas e ordem impecável. Da mesma forma, enquanto a alma deve gozar de liberdade espiritual, as ações e a rotina diária do ser humano precisam seguir uma disciplina rígida e vigilante. É fundamental que a rotina de cada dia se alinhe com as sete correntes cósmicas que dividem o tempo, ajustando o ritmo dos trabalhos ao fluxo natural do universo.
A prática de levantar-se ao alvorecer e dividir as atividades cotidianas com ordem assegura que o tempo seja bem aproveitado. O tempo, afinal, existe apenas como uma medida de duração, e a sensação de sua passagem é influenciada pela forma como dividimos e ocupamos nossas horas. Para quem age com método, há sempre tempo para tudo, pois a organização traz consigo a eficiência e a paz de espírito. O corpo humano, em particular, deve ser treinado para obedecer à vontade consciente do ser, sem receber cuidados excessivos ou ser tratado como um inimigo. Ele deve ser visto como um instrumento a serviço do espírito: se mimado, torna-se preguiçoso; se maltratado, rebela-se; mas, quando dirigido com firmeza, obedece.
Montando o Corcel da Mente
Além da organização diária, é importante alinhar-se com a Grande Corrente Dual, composta de forças positivas e negativas, ativas e passivas, que sobem e descem em um fluxo contínuo. Esta harmonia entre o corpo e as forças cósmicas é fundamental para alcançar o domínio sobre si mesmo. Muitas vezes, a mente pode se enganar, desejando descanso durante o trabalho e se sentindo produtiva no momento de repouso. Esses estados desarmônicos são frutos de uma imaginação volúvel e mal acostumada. No entanto, é crucial persistir nas atividades, mesmo quando a mente está cansada ou aborrecida, pois o trabalho subconsciente continuará avançando, mesmo que a consciência perceba pouco proveito imediato.
Por outro lado, quando uma leitura ou atividade está muito interessante, é prudente interromper por alguns minutos no clímax, evitando que toda a energia mental se consuma e deixando apenas uma vaga lembrança do que foi lido. A pressa excessiva, muitas vezes, impede que se chegue a um objetivo no tempo certo. Em vez disso, é melhor pausar, recolher energias e agir com calma e controle, contrariando o impulso inicial. Acompanhando as ações do dia com palavras como “saúde”, “bem-estar” e “ordem”, reafirmamos mentalmente o estado desejado. O equilíbrio e a distribuição ordenada das forças físicas são reflexos diretos da organização e da atividade das forças mentais, conduzindo a uma vida mais plena e harmoniosa.
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