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ELIPHAS LEVI
COMENTÁRIOS W. WYNN WESTCOTT
Tradução portuguesa: Sociedade Ciências Antigas
Prólogo
Os manuscritos originais desta obra inédita, na letra do próprio Eliphas Levi, foram encontrados entre as folhas de uma cópia impressa de uma obra de Trithemius de Spanheim intitulada “De Septem Secundeis”, publicada em Colônia com data de 1567. Essa obra de Abade Trithemius é uma dissertação curiosa e interessante sobre o governo do mundo pelos sete grandes Arcanjos, a cada um dos quais corresponde, sucessivamente, um período de 354 anos e 4 meses. Os Arcanjos representam os Planetas dos antigos. Seus períodos de domínio sucessivos seguem a seguinte ordem:
Orifiel representa Saturno
Anae ” Vênus
Zacarias ” Júpiter
Rafael ” Mercúrio
Samael ” Marte
Gabriel ” Lua
Miguel ” Sol
A primeira fase desses soberanos acabou no Anno Mundi 2480. O Dilúvio de Noé aconteceu em 1656, durante o reinado de Samael. A destruição da Torre de Babel (ver a Carta XVI do Tarô) aconteceu durante o segundo reinado de Orifiel, Abraham viveu no segundo reinado de Zacarias, Moisés viveu durante o segundo reinado de Rafael, Pitágoras, Xerxes e Alexandre Magno no segundo reinado solar de Miguel.
A era de Jesus Cristo começa no Terceiro Reinado de Orifiel. O terceiro reinado de Anael começou em 109 dC.
O terceiro reinado de Zacarias começou em 463 dC. O terceiro reinado de Rafael começou em 817 dC. O terceiro reinado de Samael começou em 1171dC. O terceiro reinado de Gabriel começou em 1525 dC. O terceiro reinado de Miguel começou em 1879 dC.
A FINALIZAÇÃO DA GRANDE OBRA
segundo Eliphas Levi
Parece que Levi ficou muito impressionado com esse sistema de governo dos Arcanjos, e Edward Maitland juntamente com a Dra. Anna Kingsford, fala positivamente sobre esse volume. Sob o título de “Comentário” W. W. Westcott faz uma breve descrição de cada Carta do Tarô no final de cada capítulo. Também inclui algumas notas sobre o significado místico atribuído por Levi ao Tarô em outras de suas obras. Foram acrescentadas algumas das opiniões de P. Christian.
O leitor não especializado que não tenha estudado de forma específica os escritos de Eliphas Levi ou da Cabala talvez pense que a relação entre os capítulos e os detalhes incluídos sob o título de “Comentário” e o Tarô é ínfima, por muito interessante que o tema possa ser. Deve-se entender que em todos os casos existe uma relação direta entre a carta do Tarô e o tema, mas as chaves para conectá-los foram omitidas pelo autor de maneira deliberada e só podem ser decifradas através do estudo de outras obras de Levi.
As vinte e duas cartas do Tarô possuem relação com números e letras. Apenas alguns poucos estudiosos, membros das escolas Herméticas, sabem das atribuições reais, sempre que elas possam ser estabelecidas.
As ilustrações que acompanham esta obra são cópias dos próprios desenhos de Levi. Acrescentam muito encanto ao livro e orgulham tanto a edição como o artista que as realizou.
I – O Mago
Escutai as palavras com as quais Salomão falou a seu filho Roboão: “O medo de Deus é o princípio da sabedoria, mas o final da sabedoria é o conhecimento e o amor a Ele, fonte de toda bondade e razão suprema de onde procedem todas as coisas”.
Adonai tinha passado uma eternidade no Céu, e então criou o homem. Portanto, é dado ao homem um tempo na terra para compreender Adonai. Em outras palavras, o conhecimento que um homem consegue do Ser Supremo nasce das faculdades que sua criação outorgou-lhe, para que ele possa, por sua vez, formular uma imagem do Ser que o enviou a este mundo.
Através de sua inteligência, o homem concebe o ideal de Deus, e através da Vontade deveria realizar boas obras, mas a vontade humana está morta quando carece de obras, ou quando é apenas um vago desejo. O mesmo acontece com um pensamento que não seja expressado pela linguagem: não é uma palavra mas só um sonho da inteligência. A imaginação não é uma coisa realizada, é apenas algo prometido, ao passo que um ato é uma realidade. Pela mesma razão não há piedade sem oração e não há religião sem adoração. As palavras são a realidade social e formal dos ideais, e as cerimônias são as religiões na prática. A fé não é verdadeira se não for
demonstrada com ações. Uma expressão formulada em palavras e confirmada por atos demonstra os dois poderes da alma humana. Para trabalhar é necessário a Vontade, e para ter essa Vontade é necessário formular um desejo. Os atos necessitam de ideias ainda que os ideais não se traduzam sempre em atos.
O pensamento é a vida da inteligência, as palavras mostram a força criativa do pensamento, enquanto as ações são o último esforço e o complemento desejável das palavras. As palavras foram pronunciadas, o pensamento se transformou em ação, através do ato de criar nasceu o discurso.
Uma palavra é a fórmula necessária de um pensamento, um ato é a demonstração da vontade. Tudo isso faz da oração uma necessidade que pode conseguir tudo o que pede. Uma oração é um ato de vontade acabado, é um laço que une as palavras humanas com a Vontade divina. Todas as cerimônias, consagrações, abluções e sacrifícios são orações em ação, fórmulas simbólicas. São as orações mais potentes porque são a transformação das palavras em atos e demonstram o poder da vontade e da persistência, requerem uma atenção mais forçada que a oração silenciosa ou a oração que se expressa com palavras. É por isso que constituem uma obra verdadeira, e essa obra necessita de toda a energia do homem.
Comentário
A Primeira Carta do Tarô leva o nome de “Le Bateleur”, em português “O Mago”. Em uma de suas obras Levi afirma que em alguns dos desenhos mais antigos os braços e o corpo da figura guardam certa semelhança com a primeira letra do alfabeto hebraico, Aleph. Mas o estudioso deverá consultar sua intuição quando busque a verdadeira atribuição dessa ou de qualquer das outras cartas do Tarô.
O Mago está atrás de uma mesa, em sua mão esquerda segura uma varinha mágica. Diante dele, na mesa, se encontram outros instrumentos adequados para sua tarefa: uma adaga, uma taça e um pantáculo. Seu rosto demonstra segurança e a inteligência brilha em seus olhos.
Em outra fonte, Levi identifica seu sentido oculto com Deus, o espírito, a unidade, e o homem como um reflexo de Deus. P. Christian, em sua “Historie da Magia”, afirma que essa carta representa no mundo Divino, a Unidade e no mundo Físico, o Homem. Como Deus, o homem deveria trabalhar sem cessar, porque o estado de não desejar nada e não fazer nada nunca é melhor do que trabalhar mal.
II – A Sacerdotisa
A profundidade é igual à altura, a escuridão contrasta com a claridade, a matéria é a vestimenta do espírito. O que está embaixo é igual ao que está encima. O alento de Deus nasce encima das águas, e as águas se mantém acima, levadas pelo alento de Deus. Isso que chamamos de Alento de Deus é a Essência da Vida estendida nos mundos, é esse cálido fluido luminoso que dá alma aos planetas, é a fonte comum da vida progressiva dos animais, a base universal da harmonia entre os corpos e o instrumento do amor entre os homens, é o veículo da vontade e a base comum de todas as modificações do Mundo Criativo. O Alento da boca de Deus leva até o alento humano correspondente. Deus disse: “Vamos fazer o homem” e o homem respondeu “Vamos fazer um Deus para nós”. Quando Deus fez a Criação como um templo, iluminou os planetas como portadores da luz, decorou a terra com flores como um altar, deu propriedades misteriosas aos metais e às plantas e desenhou, com seus dedos círculos, triângulos e a cruz, como pantáculos eternos traçados com puro fogo na imensa abóboda celeste. O Mago deveria imitar seu Deus na Terra, sua morada.
O Conhecimento, a Vontade e o Ato são essenciais para a real alta magia sacerdotal. A matéria e a forma são instrumentos em poder do Mago, seus atos devem depender da palavra, assim não se perderá nenhuma de suas ações e seus ensinamentos serão protegidos.
Tu que desejas entender os mistérios dessa ciência e realizar maravilhas, trema se não puder alcançar a sabedoria e o conhecimento, porque assim estará à borda do abismo. Pare antes que seja muito tarde.
Mas, se conseguiste a Lâmpada e a Varinha da Iniciação, se sabes os segredos dos Nove, se nunca falas de Deus sem a luz que procede dEle, se recebeste o batismo místico dos Quatro Elementos, se rezaste no cume das Sete Montanhas, se sabes como se move a Carruagem da Dupla Esfinge, se captaste o dogma que explica porque Osíris é um deus negro, se es livre, se es um rei, se es um verdadeiro sacerdote no tempo de Salomão, age sem medo e fala, porque tuas palavras serão todo- poderosas no reino espiritual. O Alento de Deus seguirá as palavras de tua boca e os poderes do céu e da terra te obedecerão.
Comentário
A segunda carta do Tarô representa uma mulher sentada, coroada com uma tiara e com um livro nas mãos. Está coberta parcialmente por um manto, usa um véu ao redor da cabeça e diversas cartas antigas mostram os cornos de Isis em sua touca. Alguns autores, que negam a origem e o esplendor egípcio dos símbolos do Tarô, afirmaram que essa carta pretende representar a imaginária Papisa Joana. Dizia-se que esse personagem era uma mulher inglesa de grande cultura, habilidade e astúcia que foi nomeada Papa no ano de 855 d.C., sucedendo Leão IV. Tanto os Protestantes como os Católicos Romanos rejeitaram a história qualificando-a de ficção sem fundamento. Levi, em seu “Dogma e Ritual da Alta Magia”, aponta a possibilidade de que, talvez essa carta represente o deus grego Juno e lhe dá como significados ocultos a casa de Deus e do homem, o santuário, a Gnose, a Cabala, a dualidade, a mulher e a maternidade.
Os Rosacrucianos consideraram que essa carta era Isis, a Grande Mãe, a alma da Natureza. P. Christian lhe dá como significado a Ciência Oculta que espera o iniciado na porta do santuário.
III – A Imperatriz
Antes de mais nada deverias estudar e entender as leis sagradas da Natureza. Perceber o Pai, Espírito e a Mãe Espírito e reconhecer o sexto aspecto dos dois alentos e a alma de seus movimentos, aprender como a fêmea negra busca as carícias do macho branco e porque o macho branco não desdenha a mulher escura.
O homem branco é o Dia, o Sol, e a mulher negra é a Noite, a Lua. É preciso saber os nomes e os poderes das doze pedras preciosas da coroa de ouro que remetem ao Sol, e os nomes que correspondem ao maior dos poderes da Lua. Deverás então estar familiarizado com os caracteres das Cinquenta Portas, o segredo dos Trinta e dois Caminhos e os caracteres dos Sete Espíritos.
Esses Sete Espíritos são: Miguel do Sol; Gabriel da Lua; Samael de Marte; Rafael de Mercúrio; Zacarias de Júpiter; Anael de Vênus e Orifiel de Saturno. Esse governo do mundo em ordem sucessiva e a finalização de suas sete idades de poder constituem uma Semana do Tempo de Deus.
Deves aprender também sobre as plantas, as cores, os perfumes e as notas musicais que correspondem aos sete poderes planetários. É essencial que retenhas essas correspondências com a máxima exatidão. Assim, quando realizes obras mágicas perfeitas, o procedimento a ser seguido segundo o dia será diferente em muitos detalhes.
No domingo deves usar uma túnica púrpura, tiara e braceletes dourados. Deves colocar no altar coroas de louro e girassol. Deves usar como incenso canela, açafrão e sândalo vermelho. Na mão direita deves segurar uma varinha dourada com um rubi ou um crisólito (berilo). As operações devem ser feitas entre uma hora depois da meia-noite e as oito da manhã, ou entre as três da tarde e as dez da noite.
Na segunda, deves usar uma túnica branca com adornos de prata, com um colar de três fileiras de pérolas, cristais e selenitas e uma tiara amarela com as letras de Gabriel em prata. Os perfumes apropriados são os de cânfora, sândalo branco, âmbar e sementes de pepino. As coroas do altar devem ser de artemísia, primorosa noturna e ranúnculo amarelo. Evita qualquer coisa de cor negra, não uses copo ou vasilha de ouro, apenas de prata, de porcelana chinesa ou de cerâmica. São válidas as mesmas horas antes mencionadas para o Sol, mas é preferível que uses as horas noturnas.
Na terça, a túnica deve ser de cor vermelho vivo, tijolo ou cor de sangue, com braceletes de metal. A varinha deve ser de metal magnetizado, também pode-se usar uma espada ou um punhal consagrados, coroas de losna e arruda. Também deves usar um anel de estanho e ametista.
Na quarta, a túnica deve ser de seda verde ou furta-cor, a gargantilha de pérolas ou de contas de vidro com mercúrio. Os perfumes são o benjoim, a mirra e o bálsamo. As flores para as coroas
são mercurial, fumária e manjerona. A pedra preciosa é a ágata.
Na quinta, a túnica deve ser escarlate com uma medalha de estanho na frente, com o símbolo de Júpiter e as três palavras: Giazar de Fogo, Bethor de Água, e Samgabiel, também em vermelho vivo. Os perfumes para o incenso são o âmbar cinza, o cardamomo, grãos do paraíso (pimenta da Guiné) melissa, macis (casca da semente da noz-moscada) e açafrão. O anel deve ter uma esmeralda ou uma safira. Os adornos de carvalho, álamo, figueira ou romãzeira. A varinha deve ser de vidro ou resina e a túnica deve ser de lã ou de seda.
Na sexta a túnica deve ser azul celeste, as decorações de cor verde ou rosa, a varinha de cobre polido, os perfumes de almíscar, algália e âmbar. A coroa deve ser de violetas, e os adornos de flores de rosas intercaladas com ramos de mirto e oliva, o anel deve ser adornado com uma turquesa. O lápis-lazúli e o berilo devem decorar a coroa ou diadema. O operador deve usar um leque de plumas de cisne e deve usar ao redor do tronco um aro, uma medalha de cobre gravado com o nome Anael, com seu sigilo num círculo que envolve as palavras Ave Evah; Vade Lilith.
No domingo a túnica deve ser preta ou marrom escura, com desenhos adequados bordados com seda de cor laranja. Ao redor do pescoço deve usar uma corrente e uma medalha feitos de chumbo com o nome de Saturno e seu sigilo gravado, além das palavras Almalec, Aphiel e Zarahiel. Os perfumes apropriados para o incenso são escamônia, áloe, sulfeto e assa-fétida. A varinha deve ser decorada com uma pedra de ônix, e as coroas adequadas são de fraxinus, cedro e helleborus negro. Sobre o ônix na varinha, deve haver uma ferramenta consagrada durante as horas de Saturno, e uma figura de Janus, de dupla face.
Comentário
A terceira carta do Tarô, a Imperatriz, representa uma figura feminina sentada num trono e coroada por doze estrelas. Em sua mão esquerda segura um cetro arrematado por um emblema em forma de diamante ou por um globo terrestre. Possui asas e segura um escudo com o brasão de uma águia negra. A figura é da deusa grega Afrodite-Urânia, e corresponde à figura da visão de São João, vestida com o Sol e coroada por doze estrelas com a lua sob seus pés.
Em seu “Dogma e Ritual da alta Magia” Levi lhe dá como significados o Mundo, o ternário, a plenitude, a fecundidade e a natureza. Waite identifica essa carta com Isis, no entanto essa identificação é errônea, pois nunca foram encontradas representações da Imperatriz com cornos, enquanto várias cartas da Sacerdotisa, dos tipos mais antigos, mostram os cornos de Isis sobre sua cabeça.
IV – O Imperador
As roupas do Mago devem ser novas, limpas e tecidas por uma virgem. Os instrumentos mágicos devem ser novos e consagrados por orações e incenso. O Mago precisa ser abstinente, casto e dedicado à Obra. Seu espírito e seu coração devem ser livres de outras demandas, e seu poder de vontade consagrado por completo, com perseverança e com fé inteligente no êxito de qualquer grande obra e no resultado de suas operações de ciência oculta. As operações mágicas devem começar com o exorcismo do ar, da terra, da água, e devem finalizar com consagrações com o fogo.
O exorcismo do Ar é realizado soprando para frente nos quatro pontos cardeais, através da palavra, e através da repetição desta invocação:
“O Espírito de Deus planava sobre as Águas, e Deus infundiu no homem o alento da vida.
O Espírito de Deus encheu o Universo, nele existem todas as coisas e nele está a Palavra de Poder.
Que a palavra esteja em meu espírito e todas as coisas me sejam servis.
Sede agora exorcizados, vós seres do Ar, em nome dEle cujo alento foi o primeiro a preencher todas as coisas com o Espírito Santo. Amém”.
Então deve-se recitar a Oração das Sílfides. (que pode ser encontrada completa no “Dogma e Ritual da Alta Magia” e, em inglês, em A. E. Waite “Mysteries of Magic”. O único erro está no título “Prayer for the Sylphs” (Oração para as Sílfides), que é na realidade a oração das Sílfides, devido a uma relação mais próxima com a divindade).
O exorcismo da Terra é realizado através de umas gotas de água consagrada, do sopro, pela palavra, e pela queima de incenso adequado ao dia da cerimônia. Então se recita a Oração dos Gnomos. (Ver Levi, “Dogma e Ritual da Alta Magia” e Waite).
O exorcismo da Água se realiza através da imposição das mãos, do sopro, da palavra, e da adição de sal consagrado misturado com um pouco de cinza do incensório devidamente consagrado à água. A Água deve ser pulverizada com uma escova de raminhos de verbena, congoça, sálvia, menta, valeriana e manjericão. Essas ervas devem ser unidas por um pedaço de pano tecido por uma virgem a uma asa feita de madeira de uma nogueira na qual ainda não tenham nascido frutos. Nessa asa deves gravar, com o punhal mágico, os caracteres dos Sete Espíritos.
O Sal é consagrado pela recitação da seguinte oração latina:
“In isto Sale sit sapientia, et ab omni corrup- tione servet mentes nostras et corpora nostra, per Chokmah, et in virtute Ruach Chokmael; recedant ab isto phantasmata hylae ut sit Sal celestis, Sal terrae et Terra Saalis, ut nutrietur bos triturans, et addat spei nostrae cornua tauri volantis. Amén”.
Essa oração latina sobre as cinzas do incensório:
“Revertatur cinis ad fontem aquarum viventium, et fiat terra fructificans et germinat arborem jucunditatis, et incensum suavitatis, per tria nomina Binah, Chokmah et Kether, in principio et in fine, per Alpha et Omega, qui sunt in Spiritu Azoth. Amén”.
Enquanto colocas o sal misturado com as cinzas na água, recite:
“Emittes Spiritum O Tiphereth, et creabuntur omnia nova in his ergo sit semen venturi saeculi. Amén”.
Exorcismo da Água:
“Pai Todo poderoso, Deus de Abraham, de Isaac e de Jacó, cuja voz se ouve nas grandes águas, que separou as águas do Mar Vermelho para fazer uma passagem para as crianças de Israel, e então fez com que o mar tragasse os egípcios que os estavam perseguindo, Mi Kamoka Baalim Jehovah, tu cujo altar, composto das Doze Joias, está debaixo da água do rio sagrado, digna-te abençoar esta água e a desterrar todas as influências funestas, Shaddai, Shaddai, Shaddai (respira três vezes sobre da água).
“Pelos grandes nomes, Araritha, Eloah va Daath, Elohim Tzabaoth e Elohim Gibor, que esta água seja consagrada a serviço daqueles que estão a ponto de invocar os Poderes Divinos para o proveito de suas almas. Amém”.
Então deve-se recitar a Oração das Ondinas (pode ser encontrada no “Dogma e Ritual da Alta Magia”).
Para realizar o Exorcismo do Fogo, lançar sobre ele sal, incenso, sulfeto, enquanto pronuncias os nomes: Anael, Miguel e Samael. Logo deve-se recitar a oração das Salamandras (pode ser encontrada no “Dogma e Ritual da Alta Magia”).
Deves compreender perfeitamente que os seres elementais são almas de tipo imperfeito que não se elevaram ainda na escala da existência humana, e que só podem manifestar seu poder quando o adepto as chama para que atuem como ajudantes de sua vontade, através desse fluido astral universal no qual vivem. O reino dos Gnomos está no Norte, o das Salamandras no Sul, o das Sílfides no Leste e o das Ondinas no Oeste.
Esses seres elementais se relacionam com as pessoas e têm influência sobre elas, segundo eles pertençam a um ou outro dos quatro temperamentos: os Gnomos se relacionam ao tipo melancólico, as Salamandras ao otimista, as Ondinas ao fleumático, e as Sílfides ao temperamento enfermiço.
Seus símbolos são o touro para os Gnomos, o leão para as Salamandras, a águia para as Sílfides, e o signo de aquário para as Ondinas.
Seus governantes são respectivamente Ghob, Djin, Paralda e Nicsa.
A combinação desses quatro tipos de rostos e seres representa o Universo criado, uma entidade completa e eterna, o homem de fato, o microcosmo. Essa é a primeira fórmula da explicação mística do enigma da Esfinge.
Comentário
A quarta carta do Tarô representa um imperador coroado, reclinado num trono, com um cetro em sua mão direita que termina numa flor de lótus. Nos tarôs modernos o trono é decorado com uma águia negra. O desenho mais antigo mostra o corpo do imperador representando um triângulo orientado à direita em traços gerais, com suas pernas cruzadas. A figura resultante sugere o athanor do alquimista. Levi, em seu “Ritual”, dá os seguintes significados a esta carta: a porta, o governo dos orientais, a iniciação, o poder, o Tetragramaton, o quaternário e a pedra cúbica.
Christian considera que, no plano humano, esta carta significa a realização das ações dirigidas à ciência da verdade, o amor à justiça, à força de vontade e à obra orgânica.
V – Hierofante
Controlar o poder da Vontade e subordiná-lo à lei da Inteligência. Essa é a grande obra de nossa arte sacerdotal. As cerimônias são usadas para educar o poder através da imaginação. As cerimônias realizadas sem inteligência e sem fé, sem as aspirações mais altas da alma, não são mais que observações supersticiosas que tendem a degradar àqueles que tomam parte nelas. É um erro atribuir o poder mágico aos cerimoniais, porque o poder mágico existe apenas quando é preparado pela Vontade do operador. Por essa razão é verdadeiro o axioma mágico que diz que o Sanctum Regnum, o Reino Divino, o Reino de Deus, está em nós. I.N.R.I. – Intra Nobis Regnum Dei e, desse modo também é verdade que o Pentagrama, que é o selo do microcosmos, pode mostrar as grandes maravilhas já que o microcosmos é o reflexo do macrocosmos. O microcosmos é o homem e sua Vontade humana, ele é o reflexo do universo, o macrocosmo. O homem cuja inteligência recebeu cultura pode, com sua força de vontade exercida através do pentagrama, controlar e governar os poderes e entidades dos elementos, e refrear os elementais malignos em suas obras perversas.
O Hexagrama é o símbolo do macrocosmo. Às vezes é chamado de Selo de Salomão. Consiste em dois triângulos entrelaçados, o triângulo ascendente é da cor das chamas, o descendente é de cor azul. No espaço do centro pode estar desenhada uma cruz tau ou o tau triplo dos altos maçons. Aquele que com inteligência e vontade estiver armado com esse emblema não precisa de outra coisa, pois será todo- poderoso, porque esse é o signo perfeito do Absoluto.
Esse é o Monograma da Verdade Hermética. Representa o sujeito da Grande Obra. É feito de letras hebraicas, gregas e
latinas e a maneira de expressar este ideal em presença dos não iniciados é através da palavra Azoth, ou do nome Magnes. Outros Magos lhe deram os nomes de dragão voador de Medeia e da serpente do Éden místico.
Esse é o alto e incomunicável Tetragrama traçado em desenho Cabalístico e Hermético. Todos os iniciados, inclusive os do primeiro grau, logo entenderão seu simbolismo. Esse emblema é o monograma da Gnose Universal. É formado por letras gregas e latinas. Expressa, através desses símbolos, os segredos da Roda de Ezequiel e o Livro de São João Evangelista. Inclui o signo do Labarum de Constantino. Esse emblema mostra de maneira natural a palavra ROTA, mas à luz da Cabala, a palavra TARÔ.
Esses caracteres, com a Cruz Filosófica, incluem todas as ciências in esse, e aqueles que são iniciados no Grande Arcano não precisam de mais símbolos ou emblemas, como tampouco precisam deles os adeptos que conhecem os verdadeiros, ainda que ocultos, significados e poderes das palavras JAKIN e BOAZ, que estão relacionadas com os dois Pilares na Galeria do Templo, um dos quais era de mármore branco e o outro de mármore negro, os dois decorados com ornamentações de latão. Graças a esses caracteres os espíritos do mal estão sujeitos e sob controle, graças a eles também, se o operador é justo e puro, os anjos se dão a conhecer e pode fazê-los ceder em seus objetivos. Por que nas artes mágicas realmente nada pode resistir aos poderes combinados do Pentagrama, do Hexagrama e do Tetragrama divinos.
Todos os outros signos, selos e símbolos são arbitrários, e as chaves de seus significados devem ser encontradas na Steganographia ou na Polygraphia do abade Trithemius de Spanheim, ou sinal deles nos tratados mágicos de Pedro de Abano, Paracelso, Arbatel ou Cornelius Agrippa.
Comentário
A quinta carta do Tarô, chamada o Papa, Hierofante ou Júpiter, representa um governador coroado que segura uma varinha de três cruzes em sua mão esquerda. Está sentado entre dois pilares. Os significados que Levi dá a essa carta são: a
religião, a filosofia, o simbolismo, a lei, a instrução e a demonstração. A mão direita do Papa nos dá o signo da sabedoria oculta e não a bênção papal habitual.
P. Christian assegura que essa carta significa no Mundo Divino, a Lei Universal; no Mundo Intelectual, a Religião e no Mundo Físico, uma inspiração como a que comunica a força fluida astral.
VI – Os NAMORADOS
Lembra-te sempre que o equilíbrio é o resultado da oposição de forças. O ativo não existe sem o passivo, a luz sem a escuridão não produz nenhuma forma, a afirmação só pode ganhar da negação. O amor adquire força a partir do ódio, e esse inferno é a terra ardente daquelas plantas que devem manter as raízes no céu. Também se
deveria saber que o agente fluido, chamado “Alma do Mundo”, que é representado com uma cabeça com os cornos da vaca de Isis para expressar a fecundidade, é uma força cega.
O poder que o Mago possui é composto de duas forças opostas que
se unem no amor e se separam na discórdia. O amor associa os contrários, enquanto o ódio faz com que similares sejam
rivais e inimigos. O ódio substitui o amor quando, por saturação, o vazio se enche, a menos que o cheio não possa esvaziar-se. O resultado habitual é uma saturação equilibrada devida a repulsões mútuas.
A partir dessas considerações, no entanto, pode-se deduzir a existência e as causas da simpatia e da antipatia entre as pessoas e, portanto, pode-se mostrar os
instrumentos para fazer amar aqueles que são bons, sábios e inteligentes.
O amor sexual é uma manifestação física, aqueles que estão sob seu influxo devem esquecer-se da repugnância e da dor. Essa é uma forma de embriaguez que nasce da atração entre dois fluidos contrários, e na conjunção de polos positivos e negativos surge o êxtase e o orgasmo durante o qual o amado parece o brilhante fantasma de uma visão.
Quando a conjunção devolve o estado de equilíbrio, a repulsão substitui a atração e muitas vezes um amor exagerado leva injustamente a compartilhar o desgosto.
Todos os seres criados participam, seja na atitude positiva ou na negativa, do fluido de compreensão universal, e podem ajudar a manter ou a restabelecer a compreensão. Mas é necessário desconfiar do conhecimento imperfeito, e não expor-se ao risco de administrar venenos ao sugerir remédios. O encantamento através de qualquer objeto que pertenceu ao amado é, às vezes, uma operação magnética cujos resultados são inúteis e perigosos. É melhor estabelecer correntes de força para produzir o vazio onde existe a saciedade, porque o meio mais seguro para conseguir de novo o afeto de um homem ou de uma mulher é através da concessão de alguns sinais de amor ao outro.
Considera as desordens físicas e mentais como resultado da solidão e das congestões fluidas que as acompanham como consequência do desejo de equilíbrio. Essas são as enfermidades nervosas: a histeria, a hipocondria, o emagrecimento, os vapores e as desilusões dementes. Também será possível entender as enfermidades das donzelas e das mulheres de idade desconhecida, das viúvas e das castas. Inspirando-te na lei natural que estamos considerando, às vezes podes predizer o curso futuro da vida e podes curar muitas dessas enfermidades, com frequência conseguindo distrair a atenção indevidamente fixada. O Mago pode converter-se, então, num grande físico como Paracelso ou num adivinho de renome como Cornelius Agrippa. Chegarás a entender as enfermidades da alma, e o fato de que, às vezes, pessoas educadas e castas ficam famintas depois de terem manifestado os prazeres do vício. Pode-se observar, então, que os homens e as mulheres submergem nos vícios como consolação da virtude. Então podes predizer, sem nenhum erro, estranhas conversões e pecados inesperados, e te surpreenderás pela facilidade para discernir os segredos mais cuidadosamente guardados dos corações e dos lares. Através dessa forma de adivinhação as jovens e as mulheres podem ver em seus sonhos a imagem de seu amante e marido. Essas confidências são potentes ajudantes nas artes mágicas, nunca abuses de tua posição, nunca esqueças teus interesses, porque são bons presentes para o Mago. Para possuir um influxo seguro nas mentes e corações das mulheres, é essencial obter o favor de Gabriel, o anjo da Lua, e Anael, o Anjo de Vênus.
Alguns demônios femininos malignos podem ser superados e derrotados. Os mais destacados são estes: Nahémah, princesa do Succubi dos sonhos dos homens. Lilith, rainha das Estriges, tenta à libertinagem e destrói o desejo maternal. Nahémah preside as carícias estéreis e ilícitas. Lilith se regozija estrangulando em seus berços as crianças cuja origem está manchada pela mão de Nahémah.
O verdadeiro mestre sábio da Cabala entende os significados ocultos desses nomes e desses poderes malignos demoníacos, que também são chamados de envoltórios materiais ou cascas da Árvore da Vida, engendrado e enegrecido pela escuridão exterior. São como ramos que estão mortos, tendo sido arrancados da Árvore, de onde vem a luz, a vida e o amor.
Comentário
A sexta carta do Tarô, que nos jogos franceses se chama “L’Amoureux”, é comumente chamada de “Os Namorados”. O desenho mostra o Sol acima, de onde sai
Cupido armado com um arco e uma flecha. Abaixo está um homem entre duas mulheres, que representam a Virtude e o Vício. Os significados que Eliphas Levi lhe dá são: o equilíbrio, o antagonismo, a união, o entrelaçamento e o conflito entre dias tríades.
P. Christian diz: “No Mundo Divino essa carta mostra o conhecimento da bondade e da maldade; no Mundo Intelectual, o equilíbrio entre
a necessidade e a liberdade, e no Mundo Físico, a relação entre a causa e o efeito”.
VII – O CARRO de Hermes
O Carro de Hermes tem, unidas à sua carta, uma esfinge branca e uma esfinge negra. Cada um desses animais simbólicos propõe um enigma ao neófito. A palavra da Esfinge Branca é Jachin. A palavra da Esfinge Negra é Boaz. A primeira palavra significa Amor, a segunda Poder. Samael guia a Esfinge Branca, Anael guia a Esfinge Negra, já que essa atração se estabelece entre contrários. Hermes, sentado no Carro, toca a Esfinge Negra com a ponta de uma espada de aço, mas a Esfinge Branca ele toca com um cetro de ouro.
Graças ao demonstrado por Hermes Trismegisto, o Mago aprende como usar a Varinha Mágica e a Espada para controlar os poderes malignos e benignos.
Os seres malignos temem a espada porque suas formas astrais podem ser feridas e cortadas por essa arma. Os espíritos brancos obedecem à varinha mágica porque corresponde à varinha do mago enviado de Deus, Moisés.
FORmAçóO e CONsAgRAçóO dA EspAdA MágicA
A folha da espada de aço deve ser forjada nas horas de Marte e devem ser usados instrumentos de ferraria novos. O pomo deve ser de prata, oco e conter um pouco de mercúrio. Os símbolos de Mercúrio e da Lua, com os monogramas de Gabriel e Samael, devem ser gravados em sua superfície. A empunhadura deve ser revestida de estanho e deve ter gravados o símbolo de Júpiter e o monograma de Miguel (ver Cornélius Agrippa, “De occulta Philosophia”, livro III, cap. 30). Deve ter uma pequena medalha triangular de cobre da empunhadura até a folha da espada e a pouca distância, em cada lado, devem estar gravados os símbolos de Vênus e de Mercúrio.
O guarda-mão deve acabar em duas placas curvadas de cada lado. Nelas devem
ser gravadas as palavras Gedulah e Netzach num lado, e Geburah e Hod no outro. No meio, entre ambas, deve-se gravar o nome sefirótico Tiphereth. Na própria folha, gravar numa das faces Malkuth, e na outra face as palavras Quis ut Deus.
A Consagração da Espada Mágica deve ser feita no domingo durante a hora solar e sob a invocação do poder de Miguel. Cubra o altar, prepare o trípode e queime nele a madeira de louro e de cipreste, consagre o fogo e então crave a espada nele pronunciando as palavras: “Elohim Tzabaoth, pelo poder do Tetragramaton, em nome de Adonai e de Mikael, que esta espada se transforme numa arma de poder para dispersar os seres do mundo oculto, que seu uso na guerra traga paz, que seja brilhante como Tiphereth, terrível como Geburah, e piedosa como Chesed”. Tire a espada do fogo e coloque-a para esfriar num líquido composto de sangue de réptil mesclado com a seiva de louro verde. Então dê brilho na espada com as cinzas de verbena queimada, com muito cuidado.
VARINHA MAGICA
Escolha a madeira de uma amendoeira ou de uma nogueira que acabe de florescer pela primeira vez. O ramo deve ser cortado de um só golpe com a foice mágica. Deve ser aberta uniformemente de ponta a ponta sem nenhuma fresta ou ferida e deve-se introduzir uma agulha de aço magnetizada da mesma longitude. Uma das pontas deve ser fechada com um adorno de cristal transparente e a outra por um adorno similar, de resina. Cubra as duas pontas com sachê de seda. Introduza dois anéis perto do meio da varinha, um de estanho e outro de zinco, e consiga duas porções de correntes finas dos mesmos metais, enroladas ao redor da varinha e fixe as pontas na varinha perto de seus extremos. Então deves escrever na varinha os nomes dos Doze Espíritos do Ciclo Zodiacal e acrescentar seus sigilos.
Áries Sarahiel
Touro Azaraziel
Gêmeos Saraiel
Câncer Phakiel
Leão Seratiel
Virgem Schaltiel
Libra Chadakiel
Escorpião Sartziel
Sagitário Saritiel
Capricórnio Semaqiel
Aquário Tzakmqiel
Peixes Vacabiel
No anel de estanho deves gravar em letras hebraicas, da direita para a esquerda, as palavras “O Santo Jerusalém” H QDSHH JRUSHLIM, e no Anel de zinco grave em letras hebraicas da direita para a esquerda as palavras “O Rei Salomão”, H MLK SHLMH, Heh Melek Shelomoh.
Quando a varinha estiver completa, deve ser consagrada com invocações dos espíritos dos Quatro Elementos e dos Sete Planetas com cerimônias que durem até sete dias de uma mesma semana, e com o incenso e as orações especiais descritas para cada dia.
A Varinha consagrada e todos os instrumentos mágicos devem ser guardados envoltos em seda, e não se deve permitir que estejam em contato com outra cor que não seja o preto, e é bom também guardá-las numa caixa de cedro ou ébano.
Com essa varinha fabricada de forma devida e consagrada plenamente, o Mago
pode curar enfermidades desconhecidas, pode encantar uma pessoa ou fazer com que durma segundo sua vontade, pode governar as forças dos elementos e fazer com que os oráculos falem com ele.
Comentário
Neste capítulo Levi descreve a sétima carta do Tarô, o Carro. Em seu “Ritual” lhe dá os seguintes significados: arma, espada, sagrado setenário, triunfo, realeza e sacerdócio.
P. Christian escreve com respeito a esta carta que, no Mundo Divino se refere à dominação do espírito sobre a força natural; no Mundo Intelectual, ao Sacerdócio e à autoridade; e no Mundo Físico, a submissão material à inteligência e ao poder da vontade do homem.
VIII – A JUstiçA
Nunca deves esquecer que o sacerdote é um rei, o homem sábio é um juiz. Neste mundo existe o débil e o forte, o pobre e o rico, o ignorante e o culto. Os primeiros são sempre servidores dos segundos, mas se os primeiros fazem seu trabalho de maneira meritória podem chegar a ser dignos de admissão ao nível dos mestres. É bom, pois, ensinar os homens a servir bem, para que possam chegar a um posto de poder. Todas as coisas acima deste mundo, e todas as coisas abaixo dele, pertencem ao domínio do homem.
Todos os seres criados rugem, gemem, silvam, sussurram e tecem ao redor do homem, que é o centro. O homem é o único que fala a seus companheiros e a Deus, e a voz de Deus no mundo fala através do homem. A ciência da vida está escrita no Livro da Natureza, mas só o homem pode lê-lo. O sábio e poderoso traduz as palavras desse livro em credos e símbolos para a instrução do débil e ignorante. Quando fales àqueles que são como crianças, fale como às crianças. Não vendas os segredos da sabedoria, não os divulgue aos caprichos da curiosidade.
Um homem deveria formar suas opiniões em liberdade, e dessa maneira deveria parecer-se ao ideal da divindade. Não lances as pérolas da ciência mística diante daqueles de mente maligna e inferior que não têm conhecimento, aqueles para quem o Testamento é difícil. Para essas pessoas, quer digas a verdade ou a mascares, não haverá mais do que mal entendidos, o engano os persegue, julgam todas as coisas com uma consciência defeituosa. Podes deslumbrar-lhes com a visão da espada para não deixar que se aproximem da varinha ou da clavícula. Se desejas não ter que temer uma pessoa má, faz com que ela te tema. Recorda a conduta de Moisés diante do Faraó. Não deposites tua fé na benevolência de um sacerdote de ídolos, nem a sinceridade de um pretendente à sabedoria, porque esses homens te odiarão como destruidor de seu meio de vida e de sua dominação. Mantém uma vigilância firme que impeça o perigo das carícias de uma mulher, recorda como Sansão foi atraído com
promessas por Dalila. Não tomes confianças com uma mulher quando estejas a sós com ela ou na escuridão, recorda Orfeu e Eurídice. Faz-te querer pelas mulheres, torne-as mais felizes, mas nunca queiras tanto uma mulher que não possas ser feliz sem ela. Com relação aos seres dos elementos, o amor que têm pelo Mago os faz imortais, sejam Sílfides, Gnomos, Ondinas, ou Salamandras, mas o amor de um Mago por elas é insensato e pode destruí-lo. Seja sempre inteligente e justo para com esses seres elementais e serás recompensado com a felicidade graças a tuas boas ações.
Comentário
A oitava carta do Tarô, chamada Justiça, representa uma figura feminina sentada, vestida e coroada. Sustenta uma espada com sua mão direita e uma balança com a esquerda. Levi lhe dá o significado do equilíbrio da repulsão e a atração. P. Christian lhe dá significados similares: no Mundo Físico se refere à Justiça Humana, que é sempre falível e permeada de razões e emoções pessoais.
IX – ERMITÂO
Quando o adepto conseguiu a Espada e a Varinha Mágicas, ainda precisa de uma Lâmpada mágica cuja luz assustará todos os fantasmas da escuridão (a lâmpada está desenhada no “Dogma e Ritual da Alta Magia” de Éliphas Levi, mas não corresponde muito com a descrição que é dada aqui). Quatro metais devem entrar em sua composição: ouro, prata, latão e ferro. O pé de ferro, o corpo de latão, o depósito de prata, e um triângulo dourado encima dele. De cada lado sai um braço composto por três tubos de ouro, prata, e latão, enroscados entre si. Há nove queimadores de mecha, três em cada braço e três encima do triângulo sobre o depósito. No pé de ferro está gravado um triângulo Hermético, com os símbolos de Mercúrio na parte superior, e do Sol e a Lua abaixo.
Ao redor da borda da base semiglobular há uma serpente de latão, e encima da parte globular, entre esta e o corpo de latão deve ter uma figura andrógina com cabeça masculina e feminina, cujos braços estão estendidos ao redor do globo. Grave diversas formas no corpo de latão, e encima do depósito de prata deve pôr o Hexagrama com as letras do Tetragramaton no centro. Grave na parte superior do triângulo dourado um Deus rodeado de raios como símbolo da fecundidade de infinito e eterno. Em cada lado do depósito para o azeite ponha um anel e pendure correntes nesses anéis, uma de prata e outra de ferro. Através dessas correntes a lâmpada ficará suspensa ou poderá ser levada pelo mago. As mechas do queimador devem ser de tela de linho novo, mas tingidas, as três da direita de azul, as três da esquerda de vermelho e as três mechas do centro de dourado.
A lâmpada deve ser acesa com fogo consagrado, mas o maior efeito se produz quando a Lâmpada queima sem mecha e sem parafina, acesa pela Luz do Agente Fluido Universal ou por um dos elementais da Água.
A luz dessa Lâmpada Mágica deve fazer maravilhas, deve iluminar as consciências dos homens e das mulheres para que possas lê-las, e deve tornar possível que reconheças cada tipo de ser espiritual. O mago não deveria realizar nenhuma cerimônia seria antes de ter a Varinha e a Lâmpada iluminada. Como na vida normal, se queres caminhar com segurança na escuridão deves levar uma vela e reconhecer o solo com um bastão.
Comentário
A nona carta do Tarô é chamada de Ermitão. Representa um homem ancião envolto num manto que se apoia num bastão e que carrega um farol. Os significados que Éliphas Levi lhe dá são os da sabedoria, da bondade e da moralidade.
P. Christian escreve: “No Mundo Divino o significado é a sabedoria absoluta; no
Mundo Intelectual, a prudência; e no Mundo Físico, a circunspecção, o guia apropriado
das ações humanas”. A Lâmpada Mágica foi desenhada por Levi no “Dogma e Ritual da Alta Magia”.
X – A RODA DA FORTUNA
A Roda de Ezequiel é o modelo no qual se baseiam todos os desenhos dos Pantáculos da Alta Magia. Quando o adepto está em posse de todo o conhecimento dos poderes do Selo de Salomão e das virtudes da Roda de Ezequiel, que é correspondente em seu simbolismo
completo ao de Pitágoras, tem suficiente experiência para desenhar talismãs e pantáculos para qualquer uso mágico.
A Roda de Ezequiel contém a solução do problema da quadratura do círculo e demonstra as correspondências entre as palavras e as figuras, as letras e os emblemas. Mostra o tetragrama de caracteres análogos aos dos elementos e às formas elementais. É um glipto de movimento perpétuo, mostra o triplo ternário. O ponto central é a primeira Unidade.
São acrescentados três círculos, cada um com quatro atribuições, desta maneira se pode ver o dodecaedro. O estado de equilíbrio universal é sugerido pelos emblemas equilibrados e os pares de símbolos. A Águia voadora equilibra o homem, o rugidor Leão contrapesa o laborioso Touro.
Kether, a Coroa; Tiphereth, a Beleza; e Yesod, o Fundamento, formam o eixo central enquanto a Sabedoria, Chokmah, se equilibra com a Compreensão, Binah. E a Severidade da Justiça, Geburah, faz contrapeso com a Piedade da Justiça, Chesed. Concepções similares são as lutas entre Eros e Anteros, entre Jacó e o Anjo, Samael e Anael, Marte e Vênus. A Cruz Filosófica e o monograma grego de Christos podem ser comparados também a esta roda mágica.
Para que um talismã consagrado dê toda ajuda real deve-se compreendê-lo bem e devem ser realizadas as correspondências, porque um Pantáculo
é um ideal materializado, visível, portátil e pode conter tanto conhecimento como um livro. É uma imagem de alguma parte de Deus e de seu Trabalho, é como uma carta do reino eterno.
Considera bem o objetivo e os poderes a invocar; escolhe os símbolos, emblemas e letras com o maior cuidado possível, buscando Chokmah e Binah desde a chispa do Divino que te eclipsa, e então traça, marca ou grava o desenho que tenha escolhido numa medalha de ouro ou de latão de Coríntio, ou corta-o em pedras preciosas, ou desenha-o num pergaminho virgem. Quando a obra estiver finalizada habilmente e com precisão, submete-a à consagração com orações e invocações do Quatro e do Sete, usando incenso com os perfumes
adequados. Depois envolva o talismã em seda limpa e coloque-o num cofre de cedro. Será efetivo se o levares sempre contigo.
Comentário
A décima carta do Tarô se chama “Roda da Fortuna”. A carta mostra uma roda suportada por dois raios ascendentes. Hermanubis está num, e Tifão no outro. Encima está a esfinge segurando uma espada em sua boca de Leão. Eliphas Levi alega que Etteilla, que fez um estudo superficial do Tarô, é o responsável por uma forma mais
moderna dessa carta, na qual os seres que rodeiam a roda são um homem, um rato e um macaco.
Os significados dessa Carta são a paternidade, a força viril, a manifestação e o princípio. P. Christian lembra que no Plano Físico a carta faz referência às mudanças variáveis do chamado destino ou fortuna. Essa carta Levi desenhou em sua “Chave dos Mistérios”.
XI – A FORÇA
Escutai agora os segredos da força. Um gotejar constante desgastaria uma pedra e no final a perfuraria. O objetivo no qual coloques tua força de vontade será conseguido com sobra. Começas a ter êxito tão logo o deseje. A verdadeira força de vontade não é um privilégio ao alcance das multidões. Para exercer verdadeira força de vontade deves ser livre. Ninguém das multidões é livre. Ser livre é ser o governante de tua vida e das outras vidas. Aprender a desejar é aprender a exercer domínio. Mas para ser capaz de exercer força de vontade deves saber antes porque a força de vontade aplicada ao capricho é loucura, morte e inferno.
Confundir os meios com o fim é um absurdo. Confundir o fim com aquilo que não é nem sequer um meio é o cúmulo do absurdo. És o mestre de todos os acontecimentos que podes superar. As coisas pelas quais sentes necessidade imperiosa te governam. As coisas que possuis o direito de desejar possuis também o poder para obtê-las.
Deves ser sempre cuidadoso quando exerças tua vontade, e estar atento para não cair numa posição de dependência por falta de esforço, por simples preguiça. Os homens que competem juntos numa corrida passam por um longo e duro treinamento.
As cerimônias mágicas devem ser consideradas como uma espécie de exercício da força de vontade e, por essa razão, todos os grandes professores do mundo as recomendaram como adequadas e eficazes. Em qualquer seita religiosa só aqueles que fazem as práticas externas são reconhecidos como autênticos defensores da causa. Quanto mais alguém faz, mais poderá fazer no futuro.
Viver uma vida governada pelo capricho do momento é levar a vida de um animal.
É possível que essa seja uma vida inocente, mas é uma vida de submissão.
Aqueles que observam, aqueles que jejuam, aqueles que rezam, aqueles que se afastam do prazer, aqueles que põe o corpo sob a vontade da mente, podem unir todos os poderes da natureza para que se submetam a seus objetivos. Esses são os governantes do mundo, esses homens fazem obras que sobrevivem a eles. Nunca confundas os escravos da superstição e o medo com esses governantes da natureza.
Abster-se das coisas prazerosas através do medo é escravizar a vontade. Essa conduta costuma baixar tua posição em vez de elevá-la. Viver como um anacoreta, sem a ignorância supersticiosa que o leva a esse tipo de vida, isso é sabedoria de verdade, e a recompensa é o poder.
Comentário
A décima primeira carta do Tarô representa uma figura feminina reta, vestida e coroada, fechando com suas mãos nuas a boca de um leão furioso, mostrando calma e auto controle. Seu significado é a força perseverante e a energia indomável. Christian considera que ela exemplifica o princípio que destaca a exibição do poder, depois a força moral e, finalmente a força física.
XII – O ENFOCADO
O número doze completa um ciclo, e essa carta altamente mística representa a finalização da Grande Obra. Esse surpreendente desenho também pode ser representado por uma cruz encima de um triângulo num Tau, isto é, por quatro multiplicado por três e consagrados no Universo.
O jogo das cartas do Tarô, ou o Livro do Tarô (cuja palavra é um anagrama de Rota, uma roda ou um ciclo) consiste, na realidade, num verdadeiro alfabeto mágico, hieroglífico e cabalístico, ao qual se acrescentam quatro décadas e quatro quaternários, que atesouram o significado místico da Roda de Ezequiel. O verdadeiro fim da Grande Obra é volatilizar o fixo depois de conseguir fixar o volátil.
Através de uma retificação e uma posterior limadura se consegue a Medicina Universal, e assim é também como se consegue a arte da transmutação de metais, arte pela qual inclusive as substâncias mais brutas e impuras podem transformar-se em ouro puro e vivo. Mas ninguém poderá ter êxito nessa transmutação mágica até que tenha aprendido a desprezar as riquezas terrestres e esteja satisfeito com a sagrada pobreza do verdadeiro adepto. Então, se alguém consegue esse sublime segredo, o apreciará com um cuidado quase sobre humano, que nunca será divulgado a outro ser humano, pois cada um deve conseguir por si mesmo. A sustância secreta do filósofo se compõe de Sal volatizado, de Mercúrio que foi fixado, e de Enxofre purificado. Essa substância perfeita é o Azoth dos filósofos. O Sal deve ser volatizado por condensação dos Sete Raios do Sol, que são as essências das respectivas almas dos sete metais. O Mercúrio deve ser fixado por saturação da essência Solar. O Enxofre é purificado pelo calor dos Sete raios luminosos.
Quando um homem está completamente iniciado, tem conhecimento de todos esses processos e sabe que guarda esses segredos sob pena de morte. O Tarô pode proteger-te do perigo desse castigo fazendo-te incapaz de cometer esse crime. Recorda as histórias de Prometeu e de Tântalo. O primeiro roubou o fogo sagrado do céu e o trouxe para a terra. O segundo violou a privacidade da natureza para obter os segredos da divindade. Recorda também o destino de Ixion, que tentou violar a Rainha do Céu. Recorda ainda a Cruz e a Estaca. Reflete sobre o longo martírio de Ramón Llull, os sofrimentos inconcebíveis de Paracelso, a loucura de William Postel, a vida errante e o miserável final de Cornelius Agrippa. Ama a Deus, ganha sabedoria e mantém um silêncio inalterável.
Comentário
A décima segunda carta do Tarô, chamada o “Enforcado”, é o hieróglifo mais oculto do Tarô. Seu significado real é conhecido por muito poucos e existe dúvida de que o próprio Levi o conhecesse. Papus, que escreveu uma obra sobre o Tarô, dá uma explicação claramente errônea. Nem Etteilla nem Court de Gebelin conheceram seu significado oculto. Seu significado foi buscado às vezes em visões extrassensoriais e outras vezes pela intuição. Tem a chave aqueles que sabem a que letra hebraica pertence e as correspondências dessa letra. O desenho mostra um homem com suas mãos atadas atrás das costas, uma corda está presa a seus tornozelos, o outro extremo está unido a um raio. Quando se olha a carta com seu número na parte superior, o homem parece estar pendurado pelos pés. Levi, em seu “Dogma” afirma o seguinte:
“Esse homem pendurado é o Adepto ligado a seus compromissos, espiritualizado, como mostra sua posição inversa. Ele é Prometeu sujeito à tortura interminável como castigo por seu roubo glorioso. Ou é Judas, o traidor, e seus sofrimentos ameaçam qualquer um que revele o Grande Arcano. Finalmente, para o Cabalista, esse homem pendurado, que corresponde a seu décimo segundo dogma, o do Messias Prometido, é um protesto contra esse Salvador que os cristãos veneram, e parece que dizem a Jesus, “Como pedes para salvar outros, tu que não pudeste salvar-te a ti mesmo?”
XIII – A MORTE
Agora deve-se fazer um esforço para compreender a verdade sobre o maior consolador e o mais formidável dos Arcanos Maiores, que respeita à Morte. Na realidade, a Morte não é mais que um fantasma de tua ignorância e de teu medo. A Morte não existe no Sanctum Regnum da existência. Uma mudança, por muito espantosa, demonstra movimento e o movimento é vida. Apenas aqueles que tentaram despojar o espírito das vestimentas tentaram criar uma morte verdadeira. Todos nós morremos e nos renovamos a cada dia, porque cada dia nossos corpos mudam até certo ponto. Preocupa-te de não manchares ou rasgares tuas vestimentas corpóreas, teu abrigo de pele, mas não temas abandoná-lo quando chegue o momento de ter um período de repouso do trabalho deste mundo.
Não deixes teus ornamentos materiais para sempre, até que chegue o momento da tua partida, isto é, não destruas tua própria vida, porque é possível que te levantes e te encontres nu, com frio e envergonhado. Pode ser também que esse corpo sinta sua própria necrose. Não tentes manter os corpos dos mortos, deixa que a natureza faça seu trabalho de uma vez, não deixes que se venere um corpo morto, porque só representa as roupas velhas e andrajosas de uma vida.
Não chores a morte de uma pessoa querida, porque ela está mais viva do que tu. Se lamentas a perda de seu afeto e apoio, podes ainda amar sua memória. Leva-lhe mensagens pelo ar e talvez recebas uma resposta, porque com a ajuda das Chaves de Salomão as barreiras daquele mundo, o plano dos seres sem corpo e inclusive do céu, podem levantar-se por um momento.
Entende bem que a corrente da vida do progresso das almas é regulada pela lei do desenvolvimento que leva o indivíduo sempre para cima, e não há tendência a uma caída natural. As únicas almas que descem são aquelas que escolhem descer e viver o mal em vez do bem. O plano material no qual vives é uma prisão para ti, e se as almas caem e voltam a ele, voltam a estar aprisionadas.
Mas esteja prevenido de muitos enganos, porque as almas imaginadas podem não ser mais que fantasmas elementais do ar, sombras da humanidade vigorizadas pelos seres elementais, meras formas astrais sem sentidos, e sem mais valor que o espelhismo dos sonhos.
A Necromancia e a Goécia, que são magias malignas,
produzem esses cascões e demônios, aparições de engano. No entanto, se es um adepto da Verdadeira Alta Escola Branca, condenarás sempre e desafiarás a prática dessa ciência mortal. O único modo de comunicação possível com as almas de uma esfera mais elevada, aquelas que passaram além da aura terrestre devido à mudança chamada Morte, é através do sonho ou do êxtase. Mas quando despertes para a consciência comum não terás nenhuma lembrança do que passou, porque, devido à mudança de plano, cada ideia sofre necessariamente uma mudança de forma. A recorrência de um sonho ou um retorno ao êxtase permite recordar o que aconteceu antes.
É um fato curioso que a maioria das pessoas não possa recordar nada dos sonhos felizes e benignos, mas às vezes recordam sonhos de pecado, loucura e absurdo, já que eles são mais próximos, ao passo que os ideais bons são menos próximos e os primeiros estão relacionados com nossas vidas de mentalidade material na terra.
Agora, se o adepto de mentalidade pura e aluno da Alta Magia aspira seriamente à comunhão com as almas do plano acima dele, a verdadeira maneira de conseguir é a descrita a seguir, mas novamente deves ser advertido de que a menos que o aspirante seja puro, forte, com saúde e sábio no procedimento, haverá um grave risco de transtorno mental, catalepsia, ou inclusive de morte.
Cada pensamento pueril deve ser eliminado da mente, porque se isso não for feito, se alguém entrar numa cerimônia dessas por mera e vã curiosidade, por frivolidade, haverá um momento quando o temido “Rei da Terra” aparecerá e castigará. A mente e as emoções devem então elevar-se a um ponto de sublime exaltação, que provenha de um amor puro, desinteressado. Traga à memória todas as palavras doces da pessoa que se foi, lembra-te dos objetivos e bons esforços dela, recolhe a teu redor tudo o que lhe pertencia e lembra-te de seu rosto, aparência e personalidade. Observa as datas de seu nascimento e morte (e de qualquer acontecimento especial que os tenha unido) e escolhe um dia desses. Prepara-te para essa data retirando-te todos os dias para um quarto silencioso, se for possível onde a pessoa tenha vivido ou onde tenha estado, e passa ali uma hora na escuridão, ou ao menos com os olhos fechados, e reflete sobre suas palavras e ideias, conversa em tua imaginação com ela como se escutasses suas respostas. Quando o dia se aproximar, deves durante sete dias, ou inclusive durante quatorze, abster-te rigorosamente de comunicações inúteis com outras pessoas, de loucuras, de demostrações de afeto aos demais, e de qualquer forma de excesso mental e físico. Toma apenas uma refeição por dia e não bebas nenhum líquido estimulante ou narcótico.
Quando chegue o dia fatídico, tome um retrato da pessoa amada, um desenho de sol é melhor (fotografia) e se for uma pintura deve ter sido feita com o maior cuidado e detalhes. Com muito cuidado e delicadeza prepare o quarto e reúna os objetos que pertenciam à pessoa morta, deixe-os limpos, sem nenhuma mancha e dê especial atenção ao retrato. Ponha-o numa posição boa e decore com as flores que a pessoa amava. Durante o dia deves passar várias horas sozinho no quarto, sentado e contemplando o retrato e as ideias e reminiscências da pessoa morta.
Quando chegue o momento deves banhar-te e vestir-te de linho limpo e pôr um manto branco. Entre na habitação sagrada, feche a porta e realize a Conjuração dos Quatro Elementos. Queime madeira de louro, com áloe e incenso. Não deve haver outra luz na habitação. Quando a madeira e o incenso se tenham reduzido a cinzas e o fogo tenha chegado ao ponto de extinção, então numa voz solene e profunda chame por três vezes sucessivas o nome da pessoa amada. Deves fazê-lo com toda a força do coração e do espírito, com intensa força de vontade. Feche os olhos, cubra-os com as mãos, ajoelha-te e reza.
Então, finalmente, depois de uma pausa solene, chame suavemente e com voz doce a pessoa amada três vezes, abra teus olhos e olhe.
Comentário
A décima terceira carta do Tarô, chamada a “Morte”, representa um esqueleto humano, armado com um alfanje que limpa o solo coberto de erva onde se veem restos humanos.
A essa carta Levi, em seu “Ritual”, dá os significados do domínio e do poder, o renascimento, a criação e a destruição.
P. Christian escreve: “No Mundo Divino o significado é a mudança constante da forma; no Mundo Intelectual, a ascensão do espírito humano à esfera divina; e no Mundo Físico, a morte natural que segue à decomposição do envoltório material”.
XIV – A TEMPERANÇA
Se desejas uma vida longa e saudável evita todos os excessos, não leves nada ao extremo, mantém o equilíbrio. Não deves nem abandonar-te às benignidades de Chesed, nem restringir-te às rigorosidades de Geburah.
Quando tenhas passado além da esfera mortal através dos atrativos do êxtase, volta a ti mesmo, busca o repouso e desfruta dos prazeres que a vida proporciona aos sábios, mas não os consintas demasiado livremente.
Se te sentes fatigado pela tentadora fascinação de um jejum prolongado, então come e bebe, mas se perdeste o apetite de uma dieta generosa, então jejua com todas tuas forças. Se sentes a sedução das mulheres, busca o alívio das mulheres.
Deves aprender a superar todas as paixões e conquistar todas as tendências à loucura, mas não permitas que haja mal entendidos. Para vencer o inimigo não pode haver fuga, a verdadeira vitória só pode ser conseguida depois de encontrar-te cara a cara com ele, unindo-te à batalha e mostrando teu poder sobre ele.
Diz-se que Paracelso se intoxicava a cada dia, e voltava a cada dia de forma violenta. Dessa maneira se transformou num homem forte com sangue frio, mas que possuía toda a animação da estimulação alcoólica.
Deverias repousar um período tão longo como o que se requer para a preparação e a realização das operações de magia. Passa horas de
repouso sobre o peito da Mãe Natureza e no casto abraço restaurador da natureza, o sono. Passa alternativamente do triângulo ao círculo, e do círculo ao triângulo.
Modera o vinho com água, e retifica a água com vinho. O vinho é o símbolo da verdade, mas tampouco é bom dá-lo puro aos homens e mulheres comuns, uma diluição com água é mais desejável. Deves saber que o Setenário Luminoso tem como inimigo e obstáculo, ainda que algumas vezes ele também atue como ajudante, o Setenário Escuro das forças contrárias. Se um homem abusa das forças do setenário de poderes, seus erros formam os Sete Pecados Capitais.
Dá só um pouco de vinho a quem se intoxica rapidamente e, da mesma maneira, dá poucas instruções ocultas àqueles que abusam em vez de usar, e assim mudam a verdade em erro.
Comentário
A décima quarta carta do Tarô, chamada “Temperança”, mostra o Anjo da Sabedoria e do Poder oculto sustentando uma taça em cada mão, e vertendo de uma para a outra as duas essências cuja união forma o Elixir da Vida.
Levi, em seu “Ritual”, dá a essa carta os significados de céu do Sol, temperaturas, estações, movimento e as possibilidades e mudanças da vida.
P. Christian afirma que a figura representa o gênio do Sol, no Mundo Divino, as perpétuas alternâncias da vida; no Mundo Intelectual, a criação das ideias que constituem a vida moral e no Mundo Físico, as combinações das forças naturais.
XV – O Diabo
Vamos aqui e agora considerar sem medo essa grande carta, o pesadelo do credo cristão, o fantasma de Ahrimán, a monstruosa esfinge andrógina de Mendes. É a síntese das forças desequilibradas: um demônio. O demônio é uma verdadeira força cega. Se ajudas os cegos, serás servido por ele, se deixas que os cegos te guiem, estás perdido.
Cada elemento e todos os números têm seu demônio, porque cada elemento e todos os números atesouram uma força cujo desconhecimento pode ser posto a serviço de fins malignos. A mesma espada com a qual defendes teu pai pode também matá-lo.
Deves saber então que a força demoníaca de cada entidade deve ser conquistada pelo conhecimento e pelos bons objetivos. Evita a escuridão onde o poder demoníaco prefere manifestar-se; luta com ele em plena luz e sem medo. O demônio, um dia, com o desejo de parar o progresso de um adepto, rompeu uma roda de seu carro, mas o adepto obrigou o demônio a enrolar-se na roda e a agir como roda para ele, e assim continuou conduzindo, e alcançou sua meta inclusive mais cedo do que teria feito se o demônio o tivesse deixado só.
Medita profundamente sobre esse velho epigrama alegórico, Aude et Tace, e quando tenhas chegado a seu sentido oculto, não contes a ninguém teu êxito. A representação simbólica do demônio mostra uma espécie de esfinge múltipla, desarmônica e anárquica, típica da confusão e da desordem. Leva em conta esta máxima: um demônio é uma corrente magnética constituída pela concorrência das vontades cegas e perversas.
Quando certos místicos supersticiosos relegaram a inteligência e a razão ao demônio, inverteram o Absoluto. Isso significa que escolheram como seu Deus aquele que era realmente o demônio, e atribuíram a maldade verdadeira de Satã ao Deus Verdadeiro. Não há nenhuma criança com sentido,
inclusive comum, que não seja mais culta que o demônio. O demônio é de um grau inclusive menor que os seres dos Elementos. É, sem dúvida mais potente, mas é tão cego como se tornou o pobre Sansão. Para permitir que demônio destruísse os pilares de um templo, terias que levá-lo até os pilares e dizer-lhe “ali estão”.
Nenhum mago verdadeiro jamais fez alguma tentativa de invocar o demônio, porque sempre sabe onde pode encontrar o demônio. Mas pode mandar que o demônio obedeça, e o demônio o obedece. Na magia negra, o demônio significa o emprego do Grande Agente Mágico para um fim malvado através de uma Vontade pervertida.
Comentário
A décima quinta carta do Tarô é, segundo Levi, a única que Etteilla entendeu. Etteilla era um cabeleireiro e peruqueiro iluminado que publicou uma obra sobre o Tarô, na qual fez sérias alterações dos desenhos reunidos por Court de Gebelin, uma autoridade muito mais fiável. Seu verdadeiro nome era Alliette.
A carta mostra um altar sobre o qual está um demônio com forma humana na qual se acrescentaram cornos, longas orelhas de cabra e asas de morcego. Segura uma tocha na mão esquerda. Dois demônios menores, um masculino e o outro feminino, estão de pé no chão, junto ao altar. Alguns autores dizem que essa figura é de Baphomet, o ídolo que se diz que os Cavaleiros Templários adoravam.
Christian alega que esse demônio representa o Tifão do Egito, o gênio da desgraça e, no que diz respeito aos três mundos, refere-se à predestinação, ao mistério e à fatalidade.
XVI – A TORRE
Sabes porque a Espada Ardente de Samael se estende no jardim do deleite, que é o berço de nossa raça? Sabes porque se ordenou o Dilúvio, para apagar da terra cada vestígio da raça dos gigantes? Sabes porque o Templo de Salomão foi destruído?
Esses fatos aconteceram necessariamente porque se revelaram os verdadeiros Grandes Arcanos do Conhecimento de Deus e do demônio. Os Anjos caíram porque tentaram divulgar esse grande segredo. É o segredo da Vida, e quando se trai sua primeira palavra, essa palavra se torna fatídica. Se o próprio
demônio pronunciasse essa palavra, morreria.
Essa palavra destruiria cada um que a dissesse, e cada um que a ouvisse. Se fosse pronunciada em alta voz e fosse ouvida por uma cidade, essa cidade se destinaria à anátema. Se essa palavra fosse sussurrada sob a cúpula de um Templo, então em três dias as portas do Templo se abririam, uma voz gritaria, o habitante divino partiria e o edifício se reduziria a ruínas. Não haveria refúgio para aquele que a revelasse, se subisse à parte mais alta de uma torre um raio luminoso o atacaria, se escondesse nas cavernas da terra, uma torrente o levaria em redemoinho, se buscasse refúgio na casa de um amigo, seria traído, se fosse para os braços de sua mulher, ela o abandonaria com terror.
Em sua paixão e desespero renunciaria à sua ciência e a seu conhecimento e, condenando-se a si mesmo à mesma cegueira de Édipo, gritaria: “Profanei a cama de minha mãe”.
Feliz é o homem que resolveu o enigma da Esfinge, mas infeliz é aquele que vende a resposta a outro. Aquele que resolveu o enigma e guarda seu segredo é como o “Rei da Terra”, desdenha as simples riquezas, é inacessível a qualquer sofrimento ou medo do destino, pode esperar com um sorriso o
choque dos mundos. Esse segredo é profanado e falsificado por sua mera revelação e nunca há uma ideia verdadeira ou justa que provenha de sua traição. Aqueles que o possuem o encontraram. Aqueles que o pronunciam para que os outros o ouçam já o perderam.
Comentário
A décima sexta carta do Tarô é a “Le Maison de Dieu” comumente chamada de “A Torre de Babel”. Representa uma torre atacada por uma luz, onde se vê dois homens caindo de cabeça. Diz-se que representam Nimrod e seu ministro principal. Levi dá vários significados a essa carta: a debilidade, as mudanças, as subversões e o céu da Lua.
Christian explica essa carta atribuindo-lhe o significado do castigo do orgulho, a ruína de uma tentativa tão ímpia como o de penetrar nos segredos da divindade e, no plano humano, os reveses ocasionais da fortuna.
XVII – A ESTRELA
Deves conhecer os planetas e as estrelas fixas. Quando domines seus nomes, deves aprender suas influências, deves descobrir as horas particulares e em que signo da psique do mundo se vertem de suas duas taças as águas da vida como dos rios.
Aprende tanto as horas do dia como da noite, para que possas selecionar quais são as mais adequadas para a obra que desejas realizar.
A meia-noite está marcada por uma tendência especial à aparição dos fantasmas. A primeira e a segunda hora são solenes e tristes para aqueles que estão enfermos ou que não dormiram. Durante a terceira hora o que sofre de insônia dorme. A quarta, a quinta e a sexta são calmas e levam a um repouso saudável no sono.
As horas sétima e oitava da manhã são de natureza voluptuosa, a nona, a décima e a décima primeira são muito adequadas para obras de amizade. O meio-dia é de inconsciência e languidez no verão, e de um sentimento de bem-estar no inverno.
Deves encontrar teu próprio planeta particular no céu, tua intuição te guiará na hora de descobri-lo. E quando o encontres, deves saúda-lo com reverência a cada noite em que o vejas brilhando acima de ti. O gênio dessa estrela deve ser invocado em tuas conjurações, e o nome atribuído à estrela deve ser procurado pelas tábuas aprendidas e pelas permutações cabalísticas desenhadas por Trithemius e Agrippa.
Então, deves fazer um talismã de afinidade para conectar as forças planetárias contigo. Faça-o do metal do planeta que preside teu nascimento (o senhor do ascendente de teu nascimento). Grava sobre a medalha de metal o sinal do microcosmos com os números de teu nome, os números relacionados com o planeta ou a estrela e o nome do gênio.
Quando busques inspiração divina olha tua estrela enquanto seguras o talismã com tua mão esquerda e o pressionas contra teu corpo. Se for de dia, ou a estrela não for visível, olha o próprio talismã e recita o nome do gênio ou do espírito da estrela três vezes.
Quando vejas a estrela brilhar em resposta à tua aspiração, tenha boas esperanças de êxito, mas se a vires demasiado pálida quando a olhes, então sê prudente e tem o maior cuidado contigo mesmo.
Comentário
A décima sétima carta do Tarô se chama a “Estrela”. Representa uma figura feminina completamente nua ajoelhada entre a terra e o mar. Verte um líquido de uma jarra em cada mão que se transforma nas correntes de um rio a seus pés. Encima há uma estrela de sete raios rodeada por sete estrelas menores. Há uma árvore espessa à sua direita, e sobre ela o pássaro de Hermes ardendo.
Os significados que Levi dá a essa carta do Tarô são: a imortalidade, o pensamento, a influência da ideia na forma e o céu da alma.
Christian lhe dá como significados: a imortalidade, a iluminação interna que guia os homens a escolher um caminho melhor e a esperança. Diz que essa figura é representada nua para transmitir a ideia de que inclusive quando roubam o homem de todas suas posses, ele pode conservar a esperança.
XVIII – A LUA
A Lua exerce uma influência considerável sobre o fluido magnético da terra, tal e como mostra o fluxo e refluxo da água dos mares. Deverias então examinar cuidadosamente os efeitos da influência da Lua em suas várias fases, e tomar nota dos dias e horas do curso da Lua. O quarto crescente da Lua é favorável para o início de todas as iniciativas mágicas. O quarto crescente dá uma influência de calor, a Lua cheia uma influência de secura e o quarto minguante, uma influência fria.
Esses são os caracteres especiais dos dias da Lua, diferenciados por vinte e duas chaves do Tarô e os signos dos Sete Planetas.
I. O Malabarista ou o Mago. O primeiro dia do curso Lunar: a Lua foi criada, diz o Rabino Moisés, no quarto dia.
II. A Gnose ou a Papisa. O segundo dia, cujo gênio se chama Enodiel, o peixe e os pássaros foram criados, é propício para as obras de ciência oculta.
III. A Mãe ou a Imperatriz. O terceiro dia viu a criação da humanidade. Os Cabalistas chamam às vezes a Lua pelo nome de Mãe, e lhe dão o número três. Este dia é propício para a geração.
IV. O Déspota ou o Imperador. O quarto dia é funesto, porque nesse dia nasceu Caim, mas é um dia poderoso para os atos injustos e tirânicos.
V. O Papa ou o Sacerdote. O quinto dia é o dia da felicidade; foi o dia do nascimento de Abel.
VI. Os Amantes ou a Luta. Nascimento de Lamec. Um dia marcado pela luta e pela raiva, adequado para as conspirações e as revoltas.
VII. O Carro. Nascimento de Hebron, um dia muito propício para as cerimônias religiosas.
VIII. A Justiça. Morte de Abel, dia de expiação.
IX. O Ermitão. Nascimento de Matusalém, um dia para as crianças.
X. A Roda da Fortuna. Nascimento de Nebuchadnezzar, um dia para as conjurações de pragas. É um dia nefasto: reino da força bruta.
XI. A Força. Nascimento de Noé. As visões deste dia são enganosas, mas as crianças nascidas nesse dia gozarão de saúde e viverão longo tempo.
XII. O Enforcado, o Tau. Nascimento de Samael, um dia favorável para a Cabala e a consecução da Grande Obra.
XIII. A Morte. Nascimento de Canaã, o filho maldito de Cam, um dia maligno e um número maligno.
XIV. A Temperança. Bênção de Noé. Esse dia é presidido por Casiel da hierarquia de Auriel.
XV. O demônio ou Tifão. Nascimento de Ismael, um dia de reprovação e exílio.
XVI. A Torre. Nascimento de Esaú e Jacó, este último estava predestinado a destruir Esaú.
XVII. A Estrela. A Ruína de Sodoma e de Gomorra, este dia está sob o governo de Escorpião. Saúde para as boas pessoas, ruína para as más pessoas, perigoso quando cai no Sábado.
XVIII. A Lua. Nascimento de Isaac, um bom dia para os augúrios.
XIX. O Sol. Nascimento de Faraó, um dia de perigo.
XX. O Juízo. Nascimento de Judá, um dia propício para as revelações divinas.
XXI. O Mundo ou a Esfinge. Nascimento de Saul, um dia para a força física e a prosperidade material.
XXII. Saturno. O nascimento de Job.
XXIII. Vênus. O nascimento de Benjamin.
XXIV. Júpiter. O nascimento de Jafet.
XXV. Mercúrio. A décima praga do Egito.
XXVI. Marte. A Passagem do Mar Vermelho pelos israelitas.
XXVII. Lua. A vitória de Judas Macabeu.
XXVIII. Sol. Sansão arrasou as portas de Gaza.
XXIX. A Carta do Tarô chamada “Le Fou”, o homem insensato, um dia de aborto.
Comentário
A décima oitava carta do Tarô representa a Lua no céu deixando cair gotas de orvalho. Abaixo está a terra na qual há duas torres, e entre elas um cachorro e um lobo.
Em primeiro plano há água na qual nada uma lagosta. Os significados ocultos atribuídos a esta carta por Levi são: os elementos, o mundo visível, a luz refletida e o simbolismo.
Christian diz que os significados são o abismo do infinito, a sombra que envolve o ego humano quando aceita o governo dos instintos livres de objetivos espirituais e, no plano mais baixo, os assaltos dos inimigos ocultos.
XIX – O SOOL
O Sol é o centro e a fonte de toda a força mágica, e essa força nutre e renova sem pausa a Luz latente, o grande agente que se manifesta no magnetismo e na energia vital.
O Sol é o magneto central e universal das estrelas. Tem dois polos, um possui a força de atração e o outro a força de repulsão. É apenas através do equilíbrio dessas duas energias que o equilíbrio cósmico e o movimento universal são mantidos. O Sol confere radiação aos planetas e meteoritos, é o princípio do Fogo, e neste mundo é a fonte da fosforescência do mar e inclusive do brilho do vaga-lume. É o calor do Sol que constitui a essência estimulante do generoso vinho da uva, e o que leva à perfeição a deliciosa doçura das frutas. É o Sol que desperta as energias adormecidas de todos os seres na primavera e o que provoca o desfrute de todos os doces mistérios do sexual. É a força do Sol que corre por nossas veias e palpita em nossos corações, e é a luz do Sol que tinge de vermelho nosso sangue e o faz parecer-se com a cor do vinho. O Sol é o santuário dos seres espirituais que se libertaram dos laços da vida terrena, e ali está o tabernáculo aceso onde reside a Alma do Messias. Coloca teus altares onde os raios do Sol os ilumine, e renovarás o fogo sagrado com seus raios. Quando consagras o talismã ou o pantáculo, abres um caminho pelo qual os raios solares passarão durante a cerimônia.
Quando o adepto busca curar o enfermo ou aliviar qualquer dor levanta suas mãos para a Luz e o Calor do Sol e então, baixando-as, toca o enfermo e diz: “Sejas curado se tens fé e vontade”. As flores e folhas perfumadas que devem ser usadas como incenso devem ser secas pelos raios do Sol, apesar de que as flores e as folhas recolhidas na escuridão têm mais potência do que as que foram arrancadas à luz do dia, porque as plantas exalam seu aroma à luz do Sol, e cerram seus poros e os conservam durante a ausência dos raios solares. O ouro é o metal especial do Sol e tende a aumentar a força solar em tudo o que se ponha em contato com ele. Uma medalha dourada aplicado na testa torna a mente mais aberta e receptiva às influências divinas.
Um talismã de ouro colocado no peito encima do coração
incrementa a força das emoções que são boas e benevolentes, enquanto tende a apagar as paixões impuras.
Comentário
A décima nona carta representa o Sol brilhando nos céus e lançando seus raios sobre duas crianças levadas pela mão, atrás deles se vê uma parede de tijolos. Em algumas cartas antigas essa parede está adornada com flores.
Os significados que Levi dá em outras fontes são: o príncipe dos céus, o cume e a cabeça. Levi nos diz que alguns exemplares antigos dessa carta mostram um menino montado num cavalo branco movendo uma bandeira escarlate. Christian considera que essa carta representa a passagem da vida terrena para um futuro desconhecido.
XX – O JUIXO FINAL
Estes são os privilégios e poderes do Mago, primeiro recitarão os Sete Grandes Privilégios:
Aleph. 1. Vê que Deus é capaz de estar em íntima comunhão com os Sete Gênios ao redor do trono.
Beth. 2. Está acima da influência de todos as dores e medos.
Ghimel. 3. Tem autoridade sobre os Poderes Espirituais Superiores e pode ordenar as forças Infernais.
Daleth. 4. É o amo de sua própria vida e pode influenciar as vidas de outros homens.
Heh. 5. Nunca pode ser colhido de surpresa nem ser debilitado, nem superado.
Vau. 6. Entende as razões do Presente, Passado e Futuro.
Zain.7. Possui o segredo do significado da Ressurreição dos mortos.
Os Sete Poderes Maiores são:
Cheth. 1. O Poder de fazer a Pedra Filosofal.
Teth. 2. A Posse da Medicina Universal.
Yod. 3. O conhecimento do modo do Movimento Perpétuo e da Quadratura do Círculo.
Kaph. 4. O poder de transformar qualquer metal inferior em ouro.
Lamed. 5. A habilidade de dominar as bestas selvagens e encantar as serpentes.
Mem. 6. Possuir a arte notória do conhecimento universal.
Nun. 7. O poder de discorrer com conhecimento e sabedoria sobre qualquer matéria, inclusive sem estudo prévio.
Os Sete Poderes Menores são:
Samech. 1. Saber num momento os pensamentos ocultos de qualquer homem ou mulher.
Ayin. 2. Obrigar qualquer pessoa a agir com sinceridade.
Peh. 3. Adivinhar qualquer acontecimento futuro que não depende da vontade de um ser superior.
Tzaddi. 4. Dar conselhos sábios e consolações adequadas.
Qoph. 5. Estar sempre alegre e calmo na dor mais adversa.
Resh. 6. Não sentir nem amor nem ódio a menos que seja planejado.
Shin. 7. Possuir o segredo da riqueza constante e nunca cair na indigência ou na miséria.
Esses privilégios são o grau final da perfeição humana, podem ser obtidos pelo escolhido, por aqueles que se atrevam, por aqueles que nunca abusarão deles e que sabem quando guardar silêncio.
Tau. Concluindo, os magos podem controlar as forças elementais, acalmar as tempestades, curar os enfermos e levantar os mortos. Mas essas coisas estão seladas com o triplo Selo de Salomão: os iniciados sabem delas, isto é suficiente. Com relação às outras pessoas, se riem de ti ou as invade o medo diante de tua audácia, o que importa a ti?
Comentário
Levi reproduz todo esse capítulo em seu “Dogma”, como marca, talvez, deste tratado. Essa vigésima carta do Tarô mostra, à primeira vista, a representação do dia do Juízo. Um anjo toca uma trombeta e carrega uma bandeira que ondula no alto. Abaixo se vê uma figura que, dando as costas ao espectador, se levanta de uma tumba. Levi lhe dá como significado a força geradora da terra, a vida vegetal e a toda a vida.
Christian descreve esta carta como o símbolo da ressurreição.
XXI ou 0 – O LOUCO
Não te unas, seja por afeto ou por interesse, a ninguém que não seja um estudante sério da vida superior, a menos que possas dominá-lo completamente, e inclusive deves estar seguro que o recompensa ou castiga segundo seu mérito, porque as pessoas profanas ouvem muitas verdades mas não entendem nenhuma, suas orelhas são longas mas não tem discrição. O profano passa sua vida aturdido pelos riscos, enganado com vãos desejos, escutando conversas imaginárias e com seus olhos fixos em visões fantasiosas. Podes pensar que ele está contente com teus objetivos, mas a verdade é que o profano não aprecia a verdade e não sente afeição verdadeira. O profano é imprudente e desavergonhado, revela coisas que deveriam ser mantidas em segredo e atrai para si mesmo as forças brutas que podem devorá-lo. Veste seus vícios como uma bandeira, mas são cargas sempre presentes para ele e não compreendem que são uma força constante de debilidade. Tem como regra segura da vida, evitar sempre:
1. Aqueles que estão sempre julgando e condenando seus progenitores, desprezam seus pais e não sentem afeto real pelas suas mães.
2. Todos os homens que não mostram coragem, e todas as mulheres que não tem modéstia.
3. Aqueles que não conservam suas amizades.
4. Aqueles que pedem conselho e não o seguem.
5. Aqueles que nunca estão errados.
6. Aqueles que estão sempre buscando o impossível e que são injustos com os outros de maneira obstinada.
7. Aqueles que, quando o perigo está presente, buscam só sua própria segurança.
Todas essas pessoas não merecem tua confiança nem teu amor. Teme que te contaminem, evita-os. Mas, tu mesmo deves evitar as loucuras da vida, tem cuidado de não pôr-te numa atitude de superioridade frente às condições da existência
simplesmente por um falso orgulho. Não te rebaixes nunca ao nível da criação bruta, eleva-te acima das formas de vida ordinárias, nunca te tornes escravo do costume e da convenção. Trata os hábitos da vida ordinária como os outros tratam a debilidade da infância. Distrai as massas para prevenir as injúrias pessoais, mas nunca te dirijas a ela senão através de parábolas e enigmas. Esse foi o modo de comportamento de todos os grandes Mestres da Magia, e nessa atitude se encontra a sabedoria.
Comentário
Encontramo-nos agora diante de uma dificuldade inesperada, já que Levi não escreveu neste capítulo, que segue o capítulo n° 20, o Juízo, referência alguma de que a carta da qual fala não seja a número 21, que é o Universo, a única Carta não
numerada do jogo. Com respeito a outros autores, alguns numeraram a Lua ou o Louco com o número 0 ou 22. No entanto, em todos os jogos o Universo tem o número 21, e neste tratado será considerado depois do seguinte capítulo que, claramente, se refere a ela.
No capítulo, onde o autor se refere tão frequentemente ao profano, a Carta “Le Fou” é indicada claramente. Representa um caminhante numa estrada com uma carga sobre seu ombro e um bastão na mão direita. Por atrás é atacado por um tigre que já se agarrou a suas roupas, enquanto seu rosto mostra que ainda ignora esse ataque. Em seu “Ritual”, Levi lhe dá os significados, em certo sentido incongruentes, do sensível, da carne e da vida eterna.
Christian dá outra descrição da carta. Em vez do desenho descrito anteriormente, diz que a vigésima carta deveria representar um homem cego que carrega uma carteira e que entra em contato com um obelisco quebrado, no qual está estirado um crocodilo com a boca aberta. O significado que lhe dá é o do inevitável castigo do pecado. O homem cego, diz, é o símbolo da humanidade, que é escrava cega da matéria. Ele dá a esta carta o número 0, mas a coloca entre os números 20 e 21.
XXII – O MUNDO
Entendes agora o enigma da Esfinge? Conheces o pensamento que existe na cabeça humana? O amor que domina o peito da mulher? O trabalho que significa o lombo do touro? A batalha que pode liberar as garras do leão? As crenças e a ciência das asas da águia? Sim, tu sabes que a Esfinge se refere ao homem. Mas sabes que a esfinge é uma e única, e permanece inalterável, enquanto o homem, não é cada um uma esfinge de diferente síntese? Algumas têm a cabeça de um Leão, tal e qual se desenha nos talismãs de Fogo. Essas são descendentes das Salamandras. Outras tem a cabeça de um Touro, ou de uma Águia ou de uma íbis. Cada uma tem uma homóloga divina, e é essa que os homens sábios do Egito descreveram nas figuras hieroglíficas que os eruditos profanos de nosso tempo acham tão ridículas e enganosas.
Que sejam perdoadas as voltas e revoltas da tumba do divino Hermes. É por causa dessa diversidade de inspiração divina e de sua influência sobre a vontade humana, que os sábios criaram esses pantáculos e talismãs diversificados. Todos os iniciados tiveram fé na eficácia dos símbolos e dos emblemas. De que outra maneira se poderia expressar a Palavra sem letras nem caracteres, e porque não podem as letras e os caracteres expressar o poder da Palavra que representam.
Escreve as palavras “Eu amo” sobre uma joia de ouro e leva-a em teu peito, então, cada vez que sintas seu contato, não surgirá a ideia de teu amor na mente? E te digo que essa joia, magnetizada por tua vontade e tua fé, não se desviará de ti e extinguirá todos os ataques dirigidos contra ti. Se passas através do calor do fogo, será como uma brisa de ar fresco para ti. Se estás em perigo de afogar-te, isso te levantará sobre as águas. Nunca condenes o uso de amuletos, pantáculos, talismãs. Desafortunado é o homem a quem não impressiona a aparição de nenhuma imagem e que não inclina sua cabeça diante de nenhum símbolo.
Cada homem sábio deveria ter seu amuleto ou talismã, como cada Mestre tem sua clavícula. Esses são os talismãs de
Hermes e há outros, os de Salomão, do Rabino Chaël e de Thetel e há outros signos usados por Paracelso, por Agrippa e Alberto Magno. Os símbolos de Abraham, o Judeu, deram origem a desenhos emblemáticos de Nicolás Flamel, que uma vez mais diferem dos de Basil Valentine e Bernardo de Treves. Todos eles representam as mesmas ideias, mas segundo a forma especial de consagração falam outro idioma da linguagem dos hieróglifos.
Se te tornas iniciado farás e mudarás teus próprios talismãs e pantáculos, escolherás tuas próprias horas, elegerás teus perfumes e comporás tuas próprias invocações, seguindo os modelos que encontres nas diferentes Clavículas de Salomão.
Reflete atentamente sobre este axioma: “O homem que se dirige a um Poder desconhecido, faz uma oração tenebrosa ao espírito da escuridão”, em outras palavras, invoca o demônio. Tudo o que acontece no mundo, isto é, o que carece de justiça e correção, tem como autor o demônio. Recorda também que aquele que consulta os oráculos renuncia em parte à sua liberdade e faz um chamamento às forças funestas.
O verdadeiro sábio se dirige ou corrige o oráculo, mas nunca o consulta. Saul já estava conquistado e perdido quando consultou a bruxa de Endor. Nas dificuldades da vida consulta preferencialmente a Esfinge:
Se necessitas tomar uma decisão, pergunta à cabeça humana. Se é afeto o que desejas, pede-o ao peito da mulher.
Se necessitas ajuda e proteção, pede às garras do Leão.
Se es pobre e ignorante, invoca o poder do touro e trabalha tu mesmo.
Se as batalhas da vida te esgotam, toma as asas da Águia e eleva a ti mesmo acima da terra.
A Esfinge só devora aqueles que não chegam a compreendê-la. Ela obedecerá a qualquer um que tenha aprendido seu sentido. Todas as forças da Natureza correspondem à força humana e dependem da vontade em sua esfera de ação, o uso constante da força de vontade estende o âmbito de ação.
O Homem (e em homem não incluo os loucos nem os profanos) merece qualquer coisa que ele acredite merecer, pode fazer qualquer coisa que se sinta capaz de fazer, faz qualquer coisa que deseje fazer e pode tornar-se qualquer coisa que queira ser.
Ele, que não estava louco, e no entanto podia dizer “Eu sou o único Filho de Deus”, era o único Filho de Deus. Os exemplos do passado podem ser reinterpretados: os modelos continuam existindo e podem ser levados à ação.
Te converterias num Moisés, ou num Elias? Reviverias a carreira de Paracelso ou de Ramón Llull? Então aprende tudo o que eles sabiam, põe fé nas doutrinas nas quais eles acreditavam; realiza os atos que eles realizaram e, enquanto esperas o resultado, mantém-te sóbrio no corpo, calmo na mente, trabalha e reza.
Comentário
A última carta, de número 21 nas cartas do Tarô reais, numerada aqui por Éliphas Levi como 22, é chamada “O Mundo” e representa uma figura angélica ou humana flutuando no ar, quase nua, e segurando uma varinha curta em cada mão. A figura é mais feminina do que masculina. Ao seu redor há uma coroa ovalada de folhas e, fora desta nos quatro cantos, estão os emblemas querúbicos de um homem, um leão, uma águia e um touro. Essa figura diz Levi, é a Verdade, e seu significado místico é o microcosmos, ou o resumo de todos em todos.Christian desenha a coroa circular formada de rosas, os Querubins são colocados nos quatro pontos cardeais, e não nos ângulos do desenho. Ele afirma que seu significado é a recompensa eterna de uma vida bem vivida.
A ORAÇÃO CABALISTA
Sê favoráveis a mim, oh vós, Poderes do Reino Divino.
Que a Glória e a Eternidade estejam em minha mão esquerda e direita, e possanconseguir a Vitória.
Que a Piedade e a Justiça devolvam à minha alma sua pureza original.
Que a Compreensão e a Sabedoria Divina me conduzam à Coroa Imperecível. Espírito de Malkuth, tu que trabalhaste e venceste, põe-me no Caminho do Bem.
Leva-me aos dois pilares do Templo, a Jakin e Boaz, que possa descansar sobre eles. Anjos de Netzach e de Hod fazei com que meus pés permaneçam firmes em Yesod.
Anjo de Gedulah consola-me. Anjo de Geburah castiga-me se assim deve ser, mas fazei-me mais forte para que possa tornar-me merecedor da influência de Tiphereth.
Oh Anjo de Binah dá-me Luz.
Oh Anjo de Chokmah dá-me Amor.
Oh Anjo de Kether confere-me Fé e Esperança.
Espíritos do Mundo Yetzirático afastai de mim a escuridão de Assiah.
Oh triângulo luminoso do Mundo de Briah fazei-me ver e compreender os mistérios de Yetzirah e de Atziluth.
Oh Sagrada Letra ש, Shin.
Oh tu Ishim, ajuda-me em nome de Shadai.
Oh tu Querubim, dá-me força através de Adonai.
Oh Beni Elohim sê meus irmãos em nome de Tzabaoth. Oh Elohim luta por mim pelo Tetragramaton Sagrado.
Oh Melakim protege-me por Jehovah.
Oh Seraphim dá-me teu santo amor em nome de Eloah.
Oh Chashmalim ilumina-me com as tochas de Eloi e Shekinah. Oh Aralim, anjos do poder, sustentai-me por Adonai.
Oh Ophanim, Ophanim, Ophanim, não me esqueças e não me expulses do Santuário. Oh Chaioth ha Kadosh chia tão forte como uma águia, fala como um homem, ruge e brame.
Kadosh, Kadosh, Kadosh, Shadai. Adonai, Jehovah, Ehyeh asher Ehyeh. Aleluia. Aleluia. Aleluia.
Amém. Amém. Amém!
Esta oração deve ser recitada a cada manhã e noite como introdução a todos os grandes cerimoniais mágicos e cabalísticos. Deve ser recitada voltado para o oriente e com os olhos levantados para o céu ou fixos no símbolo cabalístico do supremo Tetragramaton, que encontrarás desenhado para tua instrução numa destas páginas.
Tão logo tenhas aplicado teu corpo e tua alma à Magia Superior terás que defender-te contra todas as forças cegas do mundo e do Hades. A Terra enviará as Bacantes de Orfeu e a tentadora que se lançou sobre Sansão e Salomão, inclusive as pedras se levantarão e rolarão até ti. Hades enviará seus Espectros e Fantasmas para atacar-te. Como defesa possuirás o Mundo Divino, a aura, a espada mágica, a varinha magnética, a água consagrada e o fogo sagrado, mas acima de tudo, o poder vigilante de tua invocação.
Se es Real podes apoiar-te nas revoltas e nas conspirações para obrigar as forças espirituais a obedecer-te. Realiza a conjuração dos Quatro com o Pantáculo de Ezequiel, e procede através do método do Setenário e da Tríade, e através do Pantáculo do Hexagrama de Salomão, que é o símbolo do macrocosmos.
Para a conjuração da Tétrada, dos Quatro, podes acionar os poderes dos quatro elementos devidamente consagrados, e deves traçar no ar e sobre a terra os pentagramas de fogo e de água, então fazer quatro aspirações, e recitar fazendo a cruz: Nicksa, Ghob, Paralda, Djin.
FIAT UDOR PER SPIRITUM ELOHIM
Deixai que as águas fluam, através da energia espiritual de Elohim, ou vós, Ondinas, devereis retroceder através da influência desta água consagrada.
MANeAt teRRA peR AdAm
Deixai que a terra se mantenha sólida através de Adão. Trabalhai, vós Gnomos, como eu farei, ou voltai à terra onde possa aprisioná-los com este Pantáculo.
FiAt FiRmAmeNtUm peR ElOhim
O firmamento deve persistir através de Elohim. Submetei-os, vós Sílfides, ou morrei com a corrente de meu sopro.
FiAt jUdiciUm peR igNem
Deixai que o decreto seja realizado pelo fogo. Vós Salamandras, estai calmas, ou sede atacadas pelo fogo sagrado.
Podes imaginar as Ondinas como uma forma angélica com os olhos da morte, os Gnomo como touros alados, as Sílfides como águias encadeadas e as Salamandras como serpentes escorregadias.
INvOcAçóO LAtiNA
O caput motuum impero tibi per vivium Serpentem Kerub impero tibi per Adam
Aquila impero tibi per alas Tauri
Serpens impero tibi per Angelum et Leonem
A Conjuração da Heptada, os Sete, se faz com a Varinha Mágica e as fumigações através dos Sete Espíritos Planetários!
Conjuraçao Planetária
Em nome de Miguel, a quem Jehovah decretou que ordenasse Satã Em nome de Gabriel, a quem Adonai decretou ordenar Belzebu
Em nome de Rafael obedece a Elohim, tu Sachabiel
Por Samael Tzabaoth, e em nome de Elohim Gibor, abandona as armas, tu Adramelek. Por Zacarias e Sachiel Melek, submete-te ao poder de Eloah, tu Samgabiel.
Pelo nome divino e humano de Shadai, e pelo poder de Anael, de Adão e de Chavah, tu Lilith, retira-te, deixa-nos em paz, tu Nahemah.
Pelo sagrado Elohim, e pelo poder de Orifiel, em nome dos espíritos de Cassielm, Schaltiel, Aphiel e Zarahiel, volte-se, tu Moloch, aqui não há crianças que possas devorar!
Deves traçar no ar e sobre a terra, com a Varinha Mágica, o famoso e potente Hexagrama, o Selo de Salomão.
A Conjuração dos três se realiza com o Tetragramaton, pronunciando três vezes com voz profunda e sonora as Três letras do Grande Nome, traçando no ar e sobre a terra os signos dos quatro raios da Visão da Roda de Ezequiel, com as palavras Yod,
Heh, Vav, Heh e faça o sinal da Cruz.
Deverias entender bem que os nomes Satã e Belzebu e outros similares, não significam personalidades espirituais, mas legiões de espíritos impuros. Meu nome é Legião, disse o Espirito da escuridão, porque somos inumeráveis. No inferno, o reino da anarquia, o número é que faz a lei e o progresso é inverso, porque ali os mais degradados são os menos inteligentes e os mais fracos. Então, a lei da fatalidade obrigou os demônios a descer quando acreditavam e queriam elevar-se. Assim, aqueles que eu chamo os Líderes são os menos poderosos e os mais desprezíveis de todos.
Os espíritos malignos que formam a massa tremem diante de um Líder que é desconhecido, implacável e mudo, nunca fala, e cujo braço está sempre levantado para golpear. A esse fantasma se dá o nome de Lúcifer, Adramelek e Belial, mas esse fantasma não é mais que a sombra de Deus desfigurada por sua perversidade, e permanece entre eles para atormentá-los e aterrá-los para sempre.
Seja cauteloso nas palavras que dizes. Não fales de Deus, a menos que estejas iluminado. Todas as imagens que pensem serem de Deus ou de outros ideais ficam impressas nesse meio luminoso, a Luz Astral da alma e do mundo. Existe esse Livro da Consciência que deve ser aberto e seus documentos revelados no Último Dia.
Deves saber que o cérebro humano, ainda que receba não produz nenhum documento visível das impressões, senão estariam gravadas na matéria do cérebro e os anatomistas as veriam ali.
A substância nervosa não faz nada mais que perceber e recolher, pela razão de sua essência (a Luz Astral), os desenhos vivazes e inapagáveis da atmosfera espiritual que evocas. Podes, por afinidade presente ou passada com os desejos, evocar as impressões de outras pessoas, e é dessa maneira que podes comunicar-te com aqueles que estão mortos e que, inclusive, podem perceber a forma corpórea que deixaram para trás e que devem retomar quando chegue a grande consumação e o mundo se transfigure.
Às perguntas como e onde estão situados o Paraíso e o Inferno deves responder: o Paraíso existe sempre que digas a verdade e faças o bem, o Inferno está presente sempre que digas o que é falso ou faças o que é mau.
O Paraíso e o Inferno não são lugares, são estados, e os estados contrastados permanecerão para a eternidade, como o bem deve permanecer em oposição ao mal, como a personalidade essencial se opõe à da existência inteligente, que é a Liberdade.
O meio plástico universal, a substância insubstancial, que é a luz, o movimento e a vida, essa força magnética andrógina recebe, preserva e comunica todas as formas e as imagens que são as impressões do Mundo. Isso é o que dá forma e cor às plantas, o que plasma no fruto do útero da mulher a impressão de seus pensamentos e desejos.
É esse que produz as aparições e as visões sensíveis da exaltação e do êxtase quando os Poderes Espirituais Superiores se comunicam conosco através das correspondências do mundo, ou quando os espíritos Inferiores buscam subir ao nosso plano por atração pelas nossas paixões.
Não há verdadeiro isolamento neste mundo, não há nenhum ponto de forma nem variedade de pensamento que tenha sua correspondência, artigo por artigo, por analogia com aquilo que está acima, como com aquilo que está abaixo, nos mundos finitos e infinitos. Este é o verdadeiro ideal da Escada mística de Jacó, cujos degraus estão unidos pelos dois Pilares de Luz, e que proporcionam a circulação ininterrupta da Inteligência e do Amor nas grandes áreas do Universo.
Não acontece nada completamente novo sob o Sol. As causas levam a novas causas e os efeitos as seguem. As intuições proféticas não são mais do que as considerações das analogias entre o passado e o futuro, lê neste volume luminoso composto desses caracteres móveis, ainda que incorruptíveis, como são as ondas do mar.
Daí deriva que adivinhar seja o mesmo que ver. Cada homem leva seu futuro
terreno em seu caráter natural, e tem o caráter impresso em seu rosto e em suas mãos, em seus movimentos naturais, em seus olhares e em sua voz.
Cada vontade pessoal terá à sua disposição três modos de força: o poder moral, o poder instintivo e a energia física. O poder moral é a solidariedade que existe entre as almas verdadeiramente espirituais, o poder instintivo é a solidariedade que se dá entre as simpatias e as antipatias que existem na aura magnética, enquanto a energia física é a solidariedade subsistente entre os impulsos e as resistências das substâncias materiais. A cada uma dessas forças corresponde uma forma de vida.
A força média ou instintiva atua sobre nós sem nossa participação ativa quando nossa força moral está suspensa, e quando se deseja deixá-la agir livremente deve-se dormir profundamente, ou no mínimo dormir bem. Há um sono profundo voluntário, assim como há um sono involuntário ou psicológico. O sono voluntário é de alguma maneira lúcido, porque não rompe de maneira absoluta com a reminiscência.
A Profecia e a Taumaturgia são faculdades naturais. A reanimação dos mortos no caso de homens, sob certas circunstâncias não é uma coisa impossível por natureza. No momento da morte a alma se vê livre, ainda que na vizinhança terrena que acaba de deixar, e se os órgãos vitais não foram destruídos pode ser lembrado por alguém cuja vontade tenha uma força tremenda. A Morte só é absoluta quando os órgãos vitais perderam sua integridade.
Exemplos de reanimação não são pouco frequentes, mas quando acontece se nega a ocorrência da morte e os fatos que se observaram são explicados dizendo que a pessoa só estava sob transe ou em letargia.
Oh, tu que não es sábio, tu foste uma criança e em quem se transformou essa criança? Morreu, mas tu segues vivendo. Foste um jovem, morreu, mas tu continuas entre nós. Foste uma vez um homem jovem, em quem se transformou esse homem jovem? Segues vivendo. Agora es um homem de idade, ou talvez inclusive um ancião. O que será de ti, velho homem? Morrerás, mas existirás para sempre. És o cadáver que te impressiona e te provoca terror? No entanto, cada um de teus estados de desenvolvimento deixou seu cadáver, a única diferença é que não o viste. Então, acredita que não poderás apreciar teu último cadáver e assim descansarás numa pacífica imortalidade.
Só tens que sofrer uma transformação mais antes de retornar a essa fonte de vida da qual surgiste uma vez. A transformação é a consequência do movimento eterno, que é uma lei essencial da vitalidade, comprova-o e força a estabilidade em cada fase da evolução e criarás uma morte verdadeira. Mantem-te então, por lei natural, imortal. Serás para sempre escravo de causas secundárias, ou serás tu quem as controles?
Te submeterás a elas, ou escolherás a alternativa elevada de dirigi-las? Se vais converter-te num Mestre, libera teu espírito e confia na Força Hermética, e exerce tua Força de Vontade através da Palavra transmutada em Ação. Une a uma inteligência, liberada de verdade, uma vontade todo-poderosa, e verás que te converteste em Mestre dos poderes dos Elementos.
L.P.D. – Liberdade, Poder, Despotismo. O Poder é o equilíbrio correto entre o despotismo e a liberdade. Esta é a solução ao Enigma de três letras que Cagliostro, o Iniciado, formulou para representar a Cabala da estabilidade política e social.
A Liberdade é Chokmah. O Despotismo é Binah.
O Poder caritativo é Kether. A Liberdade é Gedulah.
O Despotismo é Geburah.
O Poder caritativo é Tiphereth. A Liberdade é Netzach.
O Despotismo é Hod.
O Poder caritativo está em Yesod.
Na essência da Primeira Causa, a Liberdade tem a Necessidade como contrapeso, essa Necessidade é o Despotismo da Razão Suprema, e desse Equilíbrio resulta um Poder Sábio e Absoluto. Se buscas ser absoluto, sê primeiro sábio; e se es sábio, sê então absoluto. Para ser um Mestre hás de ser livre; para ser livre deves ter obtido a maestria sobre ti mesmo.
A Liberdade é Jakin. O Despotismo é Boaz.
O Poder está representado pela Porta do Templo que estava entre eles. Quatro frases constituem e incluem tudo o que se requer para possuir o Poder da Alta Magia.
Saber.
Atrever-se.
Querer.
Manter-se silencioso.
O Conhecimento é representado pela cabeça Humana da Esfinge. A Coragem, por suas asas de águia.
A Vontade, pelas garras do Leão e o lombo do Touro.
O Segredo, por seu silêncio sepulcral e por sua oculta reposta ao enigma.
Quando o discípulo captou o significado desses requisitos e pode levá-los à prática, é possível que receba a permissão de Amar.
Cada força corresponde a todas as forças, e podem converter-se todas elas em poderosas nas mãos daquele que sabe como dirigi-las e usá-las. Cada forma de debilidade tem semelhanças com todas as debilidades, e pode converter-se em escrava de alguém forte e que sabe como aproveitar-se dela. Através do conhecimento desse segredo, o Mago pode mandar igualmente nas forças do céu e nas do inferno, e estas não poderão fazer nada mais que obedecer a sua Vontade.
Dá-te conta de que uma inteligência que é livre é por necessidade justa e sábia. Nero e Calígula estavam possuídos de uma vontade despótica, foram atacados pela vertigem. A força de vontade absoluta guiada pela Razão correta é a quinta-essência do demônio, e aqui está a explicação dos segredos da magia negra, que conduz à loucura e ao envenenamento do corpo. Daí que se diga que o feiticeiro dá a si mesmo ao demônio, e no final o demônio torcerá seu pescoço.
Agora precisarás aprender o último segredo da força mágica e o último grau do poder humano. É a resistência à atração universal, é a conquista da natureza, é a autoridade real da alma sobre o corpo, é sua continência. Ter o poder e a oportunidade de fazer o que produz prazer, mas abster-se porque quer, isso mostra o poder real da alma sobre o corpo.
Feliz é o homem que pode situar-se nesse lugar e agir. Dessa maneira o mais sublime uso da Liberdade continua existindo. Essa é a maneira como os Magos adoraram Cristo no estábulo em Jerusalém. Cristo, esse filho de Deus, o maior dos iniciados, e o último iniciador. Mas Cristo tinha, como todos os grandes mestres tiveram, um ensinamento para a gente e também uma doutrina esotérica. A João, o estimado discípulo, confiou o mais profundo mistério da sagrada Cabala, e João depois de anos o
descobriu e o velou em seu Apocalipse, que é de fato uma síntese de todas as profecias mágicas anteriores, as obras cabalísticas. O Apocalipse requer como chave ou Clavícula a Roda de Ezequiel, que está explicada nos hieróglifos do Tarô.
MáximAs OcUltAs e ReligiOsAs dO mANUscRitO de ÉliphAs Levi
Cada palavra frívola é uma falta.
Demonstra teu conhecimento com tuas ações. A Palavra é Vida e o Primeiro Princípio da Vida. A qualidade da vida se mostra em suas ações.
Uma palavra frívola ou carece de sentido ou é da natureza das mentiras. Uma palavra frívola em questões de religião é um pecado.
Aquele que se conforma com palavras frívolas é como se estivesse morto. Aquele que não manifesta sua adoração não tem religião.
É melhor a superstição que a impiedade.
Deus julga as ações mais que os pensamentos vãos.
Aquele que é religioso fará obras de acordo com a Palavra de sua religião, aquele que não tem religião e não acredita em nenhuma Palavra também deve ser julgado por suas ações, porque se deve julgar cada homem por suas obras.
A verdadeira religião é aquela que mostra uma forma de adoração pura e viva, a perfeição da adoração, de todas maneiras, reside no auto sacrifício que é completo e duradouro. A beleza do auto sacrifício é ensinada na Igreja de Cristo, Católica e Romana. É um artigo de fé que qualquer um que negar a si mesmo e tomar a cruz, e seguir o Mediador até o Altar, assume de uma só vez os ofícios de Sacerdote e Vítima.
Nenhum homem viu nunca Deus.
Antes do amanhecer do microcosmos, Azoth era a Águia voadora e o real Leão era o mastodonte da terra e o Leviatã do mar. Quando a Esfinge de cabeça humana apareceu, Azoth se transformou num homem entre os homens e em espírito entre os elementais. Cada substância pode e deve converter-se em Azoth por adaptação.
Em Azoth está o princípio da Luz, que é a quinta-essência do esplendor e do ouro. Este é o grande segredo da transmutação universal. Nenhum homem jamais viu a Luz, mas graças a ela vemos aqueles objetos que refletem a luz.
Não existe nada oculto que não deva ser conhecido, não existe nada escondido que não deva ser revelado.
O Reino de Deus está em nós.
A Iniciação passa de Leste a Oeste. A Inteligência passa de Norte a Sul. A Palavra é a vestimenta da Verdade.
Deus não exerce poder absoluto, mas regulado.
Dizer a Verdade para aqueles que não podem entendê-la é mentir-lhes. Revelar a Verdade a essas pessoas é profaná-la.
CONCLUSÃO DE LEVI
Ainda fica uma última palavra a dizer. Quando o Templo esteja reconstruído, não se farão mais sacrifícios em seus altares. Passaram séculos desde que Hermes e Zoroastro viveram e ensinaram. Uma voz maior do que a da alma do Mundo impôs o silêncio nos Oráculos.
A Palavra se fez carne, um novo símbolo da salvação através da água sagrada substituiu as cerimônias mágicas do dia da Lua. Os sacrifícios a Samael no dia de Marte foram limitados pelas severidades heroicas da penitência. O signo do dom das línguas e o código cristão substituíram os sacrifícios a Mercúrio.
O dia, uma vez consagrado a Júpiter, se dedica agora ao signo do Reino de Deus no homem pela transubstanciação do amor sob as formas do pão e do vinho. Anael derrotou Vênus. Lilith e Nahemah foram encomendadas ao Hades, e o rito sagrado do matrimônio da aprovação divina às alianças de homens e mulheres. Finalmente, a Extrema-unção, que prepara o homem para a morte em paz, substituiu as tristes oferendas a Saturno e o sacerdócio da luz da iluminação no dia consagrado ao Sol.
A Glória há de ser para Cristo, que levou até a finalização os mistérios anciãos e quem preparou o reino do conhecimento com a fé. Serás agora superior a todos os Magos? Esconde tua ciência nos recônditos de tua mente. Torna-te em cristão, simples e dócil, sê um servidor fiel da Igreja, crê, mortifica-te e obedece.
FIM
Alimente sua alma com mais:
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