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Por Rubens Saraceni.
“Por que a Umbanda cultua, oferenda e reverencia as divindades associadas à natureza terrestre?
A Umbanda é uma religião sincrética, pois fundiu quatro culturas religiosas e criou uma quinta, já com feições próprias, pois não é culto de nação; não é espiritismo; não é pajelança; e não é cristianismo, mas, é Umbanda, a religião brasileira por excelência, e é um reflexo da religiosidade desta nação onde os opostos e as paralelas não só se tocam ou se encontram, como também costumam se fundir, misturar e mesclar, originando novas feições para coisas já tradicionais.
Senão, vejamos:
* A cultura religiosa nativa (indígena) praticamente desapareceu, restando só uns poucos redutos do antigo culto natural aqui existente antes da expansão colonial.
* A cultura religiosa africana, semelhante em alguns aspectos à dos nativos brasileiros, aqui se adaptou tão bem que índios e negros (ambos escravos do branco colonizador) se entenderam religiosamente, já que ambos associavam suas divindades a fenômenos da natureza. Ou não é verdade que “Tupã” é muito semelhante a Xangô, Orixá dos raios, e Iansã, Orixá das tempestades? Tupã era associado aos trovões e aos raios que devastavam as árvores que atingiam e causavam incêndios.
* A cultura religiosa cristã de então, sustentadora em boa parte da crença em santos poderosos, forneceu a chave para o sincretismo entre as divindades nativas e africanas e os santos católicos. Fato este que até facilitou a catequização dos índios, pois os catequizadores, astutamente, lhes diziam que Deus era Tupã e com isso batizavam e convertiam um povo desprovido de uma doutrina religiosa e de uma teologia pensada em termos expansionistas. E o mesmo se aplica aos negros escravizados e separados de suas raízes religiosas do outro lado do Atlântico.
* Quanto ao espiritismo Kardecista, este forneceu a chave que explicou cientificamente tanto a religião nativa quanto os cultos de nação ou afro-brasileiros, pois explicou a possessão religiosa como incorporação dos espíritos em pessoas dotadas com esta faculdade mediúnica.
Nada é por acaso, e aqui vemos claramente a sapiência divina dos arquitetos das religiões, porque elementos religiosos não conflitantes foram sendo reunidos pacientemente, e pouco a pouco os pontos em comum foram servindo de elo entre povos, culturas e religiões distintas.
A Umbanda é esta religião pensada pelos arquitetos e pensadores divinos das religiões, pois é espírita (seus médiuns incorporam os espíritos); é cristã (os santos católicos e o Cristo Jesus ornam seus altares); culto africano (cultuam-se os Orixás e os reverenciam em seus santuários naturais); é pajelança (pois os velhos pajés incorporam e dançam suas danças sagradas durante as sessões de trabalho).
Com isso explicado, passemos ao comentário que justifica a associação entre as divindades da Umbanda (os Orixás) e a natureza terrestre.
É de conhecimento de todos (ou quase) que as antigas religiões (já recolhidas por Deus) possuíam em suas cosmogêneses um Deus criador e pai de muitos “deuses”, sendo que estes eram tidos como os manifestadores divinos do poder D’Ele. Poder este que tanto se estendia sobre os seres quanto sobre a própria criação do nosso planeta e todo o universo.
Sempre havia um Deus supremo, superior a todos os deuses. Mas estes eram os concretizadores da criação e aplicadores dos poderes deste Ser supremo na vida dos seres, na das criaturas e na própria natureza terrestre (geografia e climática).
Oras! Se analisarmos as divindades (os Orixás) a partir da natureza, nós os encontramos nos próprios processos genésicos ou criadores de Deus, fato este que justifica os cultos nos santuários naturais (rios, mar, pedreiras, tempo etc). Tudo o que há de visível na criação de Deus é a concretização ou materialização do que não podemos ver, pois existe em uma dimensão e realidade anterior ao nosso plano material.
– Oxum não é as pedras minerais. Mas estas são a concretização ou materialização de sua energia fatoral agregadora de coisas úteis às criaturas e à própria criação, em todas as suas dimensões.
– Iemanjá não é a água do mar. Mas esta é a concretização em nível físico ou material de sua energia fatoral geradora que desencadeia todos os processos genéticos, já que só a água tem esse poder.
Poderíamos explicar todos os Orixás a partir desse raciocínio, pois ele é correto e verdadeiro.
Sim. Os Orixás são as divindades de Deus que concretizam sua criação e dão sustentação a ela o tempo todo, pois são, em si, os processos criadores de Deus.
– Oxum não é as pedras minerais. Mas estas são a concretização de um atributo exclusivo dele: a agregação dos outros elementos.
– Iemanjá não é a água. Mas esta é a concretização de um atributo exclusivo dela: desencadear os processos genéticos ou geradores.
Logo, as energias agregadoras de Oxum estão no processo formador das pedras minerais e estão sendo irradiadas o tempo todo por elas. Portanto, cultuá-la nas cachoeiras pedregosas ou na própria água doce que corre nelas é o meio mais natural de sintonizá-la vibratória, energética e magneticamente, já que é através do material ou físico que chegamos ao imaterial ou espiritual ou divino.
Oxum não é o cobre ou as pedras minerais. Mas ambos são concretização física desse seu poder divino geracionista.
Voltando ao início do nosso comentário, nem os índios nativos nem os povos africanos adoravam a natureza em si, mas sim as potências associadas aos muitos aspectos desta natureza viva e capaz de alimentá-los ou de castigá-los com inclemência caso lhe fugisse ao controle.
– Quem dominaria uma tempestade ou uma seca, uma enchente ou um incêndio, um raio ou um vulcão? Ainda mais sem os atuais recursos técnicos que temos à nossa tendência. Não é mesmo?
Logo, tanto é correto um católico evocar Santa Bárbara durante uma tempestade quanto um umbandista evocar Iansã e oferendá-la após a passagem da tormenta, pois ambos estão submetidos a um fenômeno climático incontrolável por eles, mas não pelas divindades (a santa ou o Orixá).
Para Deus, não importa muito como O cultuam ou às Suas divindades, mas, sim, importa como fazem isso: com fé, muita fé mesmo!”
Trecho retirado do livro Umbanda Sagrada – Religião, Ciência, Magia e Mistérios.
Texto revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.
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