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Muito se escreveu a esse respeito assim eu ( Paul J. Willis ) me contentarei, para não aborrecer o leitor , com um simples relato dos fatos. Levantando-se na manhã do dia 8 de fevereiro de 1855, os habitantes de uma vasta região do sul de Devonshire ( na Inglaterra ) . constataram que , sobre a neve que cobria o solo , entrecruzavam-se um número enorme de rastros estranhos, pequenos e assemelhando-se a cascos de um animal e de uma incrível multiplicidade. Havia, provavelmente, mais de 160 km de rastros!
Os desenhos que reproduzimos ( não estão na msg ) dão uma idéia do aspecto geral das impressões. Elas são decalcadas do desenho publicado no Ilustrated London News de 3 de março de 1855, página 214, e mostra este desenho nos dois sentidos. As pegadas mediam cada uma cerca de 10 centimetros de comprimento por 7 centimetros de largura e estavam regularmente separadas de 20 a 22 cm. Os rastros estavam em linha reta.
Quem os tinha feito? Explicações muito avançadas, que vão de cangurus a passarinhos ( passando por uma idéia expressa em alguns espíritos de que um viajante de uma nave espacial extraterrestre as havia deixado). Parece-me lembrar que o falecido Harold T. Wilkins esposou esta idéia. Por razões evidentes esta hipótese jamais encontrou partidários nos grupos de zoólogos profissionais.
Há alguns pontos relativos ao problema de identificação de quem ou o que deixou estas pegadas, que não foram , em nosso modo de ver , suficientemente ressaltados nos relatos já publicados ou, mais exatamente, nem frequente e nem suficientemente próximas umas das outras . Merece atenção:
a) Se as pegadas forem atribuidas a um animal terrestre qualquer ( compreendendo os passáros), o elemento mai dificil de explicar ( ainda que o mais importante ) é a sua colocação fantástica: “O misterioso visitante passou de modo geral apenas uma vez em cada local e o fez em quase todas as casas de numerosas partes das diferentes cidades assim como nas fazendolas esparsas no arrabalde; esta pista regular, passando em certos casos por sobre os tetos das casas ou por sobre os palheiros , ou por sobre muros muitos altos ( um com cerca de 4,50 metros ), sem deslocar a neve nem de um lado nem do outro e, sem deslocar a neve nem de um lado nem do outro e, sem modoficar as distancias entre as pegadas, como se o obstáculo não fosse absolutamente incomodo. Os jardins cercados de sebes altas ou de muros e com portas fechadas foram visitados , assim como aqueles que não tinham obstáculos nem eram fechados. . .” Um cientista de meu conhecimento informou-me que ele seguiu uma mesma pista através de um campo até um palheiro . A superfice deste palheiro estava totalmente virgem de toda marca mas , do lado oposto , numa direção correspondente exatamente à pista traçada até aqui, as pegadas recomeçavam! O mesmo fato foi observado de um lado e de outro de um muro. . . Dois outros habitantes da mesma coluna seguiram uma linha de pegadas durante três horas e meia, passando sob bosque de groselheiras e de arvores frutiferas em renques; perdendo-se em seguida o rastro e reencontrando-se sobre o teto de casas nas quais suas pesquisas haviam começado. . . (Illustrated London News, 24 de fevereiro de 1855, pag. 187) . O artigo indica igualmente que as pegadas passavam por uma “abertura circular de 30 cm de diametro” e em um “dreno de 15 cm “. As pegadas pareciam atravessar um estuário de quase 3,5 km de largura. De nada serve atribuir a mais de um animal estes rastros ( a conclusão , aliás, parece inevitável ) , porque isto não explica como, qualquer que seja o animal e
qualquer que seja o seu número , possa “passar pelos muros” ou subir aos tetos como se eles não oferecessem nenhum
obstáculo; e, também, ter capacidade de passar por pequenas valas de menos de 30 cm de largura. É igualmente digno de nota , se acreditamos nas descrições , que os rastros não pareciam voltar para trás e nem circundar aleatóriamente , o que é , direi eu, já bastante esquisito.
b) Numerosos são aqueles que propuseram , como solução, o efeito da atmosfera sobre aquelas marcas, mas como seria
possivel que a atmosfera afetasse uma pegada e não a outra? Na manhã em que elas foram observadas, a neve apresentava pegadas frescas de gatos , cães , coelhos, pássaros e homens, nitidamente definidos. Porque então uma pista ainda mais nitidamente definida — tão nitidamente que mesmo a fenda do meio de cada casco era nitidamente visivel — por que então esse traço particular seria, somente ele, afetado pela atmosfera e todas as outras marcas deixadas como eram? Ademais, a circunstancia mais singular levantada a esse respeito era a de que , onde quer que aparecesse essa marca, a neve estava completamente revolta como se tivesse sido talhada com diamante ou marcada com ferro quente. Não falo de seu aspecto depois que foi pisoteada e revolta pelos curiosos nas ruas da cidade e nos arrabaldes. Em um caso, esta pista entrou num celeiro coberto onde a atmosfera não podia afetar e atravessou saindo por uma brecha na parede oposta.
O autor do que precede ( no mesmo artigo , no Illustrated London News ) passou cinco meses de inverno nas florestas do interior do Canadá e tem uma longa experiencia em rastros de animais e de pássaros sobre a neve . Ele assegurou que “jamais viu uma pista tão nitidamente definida e nem uma pista que parecesse tão pouco afetada pela atmosfera”.
Estas circunstancias são desconcertantes; os rastros são feitos, bem entendido, por pressão e mostram sinais nitidos de
compressão na neve que envolve cada pegada. Mas, se estas das quais se trata, são feitas por revolvimento da neve , como explicar esse fato?
c) Um outro pormenor — notado por Fort, mas que eu não encontrei em nenhum outro lugar — é que, segundo uma descrição ( se bem que feita 35 anos após o acontecimento ) , as pegadas de Devonshire alternavam-se por “intervalos enormes, mas regulares , que pareciam ser marcas da ponta de um bastão ( O Livro dos Danados , capitulo 28). O que isto pode significar permanece extremamente problemático.
d) Charles Fort, Rupert T. Gould, Bernard Heuvelmans e Eric Franck Russel mencionaram descrições curiosamente similares provenientes de regiões mais afastadas geograficamente. Não encontrei em pormenores ; notadamente porque algumas destas descrições , senão todas , podem muito bem não ter nenhuma relação com o caso de Devonshire; eu ( Paul Willis) me contento em apresentar a lista dos incidentes relatados: Escócia, 1839-1840 ( Times de Londres, 14 de março de 1840) ; ilha Kerguelen, Oceano Indico 1840 ( Viagem de descoberta e pesquisa nos Mares do Sul e Oceano Antártico, do capitão Sir James Clark Ross) ; Polonia perto de 1855 ( Illustrated London News de 17 de março de 1855, pag 242) ; Bélgica , 1945 ( o artigo de E. F. Russel no Doubt nº 20 , reproduz as medidas das pegadas menores e diferentemente espaçadas das de Devonshire) ; no Brasil, antes de 1954 ( pé de garrafa, B. Heuvelmans, Na pista das besta ignoradas ( Plon, ed. 1955). Os autores se referem a casos que podem ser ou não pertinentes. Um deles diz: “Após o sismo de 15 de julho de 1757 , nas praias de Penzance , na Cornualha , numa zona de uma centena de metros quadrados , foram encontrados vestígios semelhantes a de cascos, salvo que estes não eram em crescentes”( Notar a proximidade de Devonshire . Os vestígios do Brasil não eram em forma de crescente) . Uma menção , ainda mais obscura, diz respeito a um extrato dos anais chineses que se relaciona com o caso de Devonshire: “Da corte de um palácio [. . .] habitantes do palácio, levantando-se uma manhã, encontraram o pátio marcado com rastros, parecendo pegadas de um boi[. . .] supuseram que o demônio os tivesse feito”. Convém observar que alguns destes depoimentos não falam de neve, mas de rastros encontrados na areia ou na lama.
No New York Herald Tribune de 10 de julho de 1953 , a cronica ( “A Proposito de Tudo”) de William Chapman White contava uma história vinda de Burnham-on-Crouch , em Essex , na Inglaterra. Parece que um chefe de escoteiros da vizinhança havia prometido aos seus comandados que um mágico deveria vir ao acampamento, apresentando em seu número “cinco cangurus selvagens”. O mágico não possuia cangurus , mas o diretor utilizou esse anuncio sensacional a fim de aguçar o interesse dos meninos por uma representação bastante banal. Quando o mágico chegou, o diretor forjou a explicação : os cangurus haviam escapado. Desde que essa notícia chegou aos arredores , o diretor recebeu relatos de pessoas que haviam “visto” cangurus até mais de 35 km de distância . . .
Alguma teorias aventadas para explicar os rastros do demonio sugerem um pouco a explicação do diretor a respeito de cangurus fujões. . . Sugere-se um animal e encontram-se fatos que correspodem à explicação; mas infelizmente não muitos fatos.
Pode-se igualmente lembrar a declaração magnificamente sardônica de Fort: “Minha explicação pessoal é de que pelo menos mil
cangurus pernetas, cada um calçando uma pequena ferradura, teriam marcado a neve de Devonshire”
O autor não pretende ter citado tudo aquilo que foi publicado. Entre outros, pode-se mencionar Alfred G. Leutscher que propôs o arganaz ( Apodemus sylvaticus ) como o responsável pelas pegadas de Devonshire ( artigo do Jornal of Zoology de Londres , nº 148, 1966: “Os rastros do Diabo — a solução de um mistério de 100 anos”) . Em carta do dia 21 de junho de 1966 ao autor , o Dr. Burton escreveu que considera a hipotese do Sr. Leutscher, a mais interessante`até agora mas que , “depois que ele completou sua teoria, eu examinei os rastros destes camundongos na neve e, observando-os , parece muito improvável”. Imaginemos como camundongos saltariam sobre tetos ou muros de 4,5 metros de altura.
Extraido ( sem deixar rastros) do livro O Livro do Inexplicável de Jacques Bergier – Hemus – 1973
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