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Faz dez anos praticamente que entrei nas garras da mão esquerda num projeto vivo, que dois anos depois, ingressei em um patamar mais profundo. O Sigillum Albus é, o circulo externo do Templo de Satã, que apesar de ser relativamente difícil a entrada, eu consegui com insistência. Mas tinha muita gente lá, satanistas diversificados e não me agradava. Eu queria o Sigillum Nigger, o circulo do Sacerdócio do Templo e então, pedi para o Obito me treinar.
E o desobedeci.
Eu não me importava quão perigoso ou quais eram os modos que o Obito usava. Eu não queria ser igual o Obito e por mais que sempre tivesse sua opinião e ajuda, eu sempre seguia minha própria cabeça. Queria minha própria experiencia. Ainda que, vira e mexe cruza-se com a opinião inicial proposta dele, ainda sim, eu o via como um amigo que respeitava minha desobediência. A experiencia do Obito é dele. Ele teve suas razões nesses 53 anos em que ele lida com goetia, para ter a visão que tem. Ele pode me passar, mas não é por causa da idade ou experiencia dele, que vou me submeter a visão dele. Eu queria a minha experiencia. Para mim, pensar igual á ele, era abominante. Eu não queria me padronizar ou venerar o cérebro dele. E a parte mais bela, é que diante da minha rebeldia, ou imaturidade, ele apenas sorria. Ele sabia que um bom demônio, é sempre desobediente.
A fonte de todo tipo de revolução é a desobediência ao padrão e uma visão inovadora da realidade que estava no momento. Eu me recordo de, quantas vezes conversando com o Morbitvs, entravamos em convergência de opiniões, numa das vezes, me recordo claramente dele dizer “gosto de quando você discorda de mim”. Acho que se não fosse por mantermos conflitos saudáveis, não seriamos tão apegados quanto somos. A personalidade alternativa dele chamada Obito que o diga, que se fosse uma pessoa comum, já teria estourado comigo a muito tempo. Ele apenas sorria. Sabia que não iria longe se fosse seguir os seus passos, não porque ele não foi longe, mas sim, pois estaria prostituindo meu potencial por uma adoração barata. E o Obito como sempre, fugindo de multidões, sonhos e de pessoas-adoradores.
Apesar de ter tido um pai/irmão com duas personalidades por estes dez anos, sei que, o que justamente o fez pegar apegar apreço por mim, foi a qualidade satânica de dizer, “não” á eles, de negar o que me propunham, de seguir minha propria intuição. De desafiar ele em lista interna do Templo e depois vendo que estava errado se desculpar. De não baixar a cabeça para o titulo dele, ou simplesmente, negar qualquer tipo de cargo superior, simplesmente porque não me fazia bem a idéia dele versus eu.
Eu fazia tudo que não deveria ser feito. Todo tipo de ritual psicótico que achava na web, estava fazendo. Pouco me importava se era caos, vampirismo, satanismo ou goetia, eu estava fazendo. Eu não queria saber o perigo ou o quão difícil seria, se tivesse tudo apropriado, ótimo. Se não, improvisava. Me lembro de claramente de traçar circulo/triangulo com giz e quando não tinha giz, pegar roupa suja na maquina e fazer um triangulo de goetia com algumas calças jeans – para evocar o Orobas, na beira dos meus 15 anos. Foda-se o que o espirito iria achar e no meio das dezenas de incensos acesos e uns 30 minutos repetindo aquelas evocações monótonas, uma forma disforme apareceu. E realizou o que eu queria.
Eu acostumei a acreditar em mim mesmo, porque, eu era o único tesouro que tinha. Amanhã ou depois, eu poderia perder qualquer amizade, ou qualquer ligação. Então se era para botar todas as minhas esperanças, eu colocaria-as em mim. E todas as culpas também. A ideia de um líder de um rebanho de satanás, era asquerosa para mim. Mesmo sabendo da diferença de idade, ou da experiencia do Morbitvs e do Obito, eu os tratava como amigos. Não conseguiria me render á um titulo de sacerdócio. Até porque, foi por não me render, que consegui esse titulo.
E eu ia aprendendo assim, duvidando de tudo quanto é tipo de esteriótipo ou ocultista poderoso. Duvidando de todo tipo regra e tentando á meu jeito. Eu era arrogante o suficiente para crer em meus próprios métodos e criar meus próprios rituais, sem ao menos ter base para isso. Porém, entre um desfalque ou outro, quase cem porcento deles atingiam o objetivo. E se davam certos, eles estavam certos. Então eu estava certo. Palmas para meu ego. Quando não dava certo eu consultava outras pessoas, geralmente mais de um. Nada de me apegar a quem quer que seja. Nada de construir um padrão na visão de alguem. Eu preciso de mim mesmo e a minha experiencia, certa ou errada, é que deve ser anotada. Se eu acertava ou errava tanto faz. Nem o erro, nem o acerto iriam me fazer parar ali, estacionar naquele local. Eu queria mais.
Eu não queria saber o quão era perigoso e foi a falta de medo que justamente me levou longe. Para entrar em Lilith, na Cabalá Negra, eu teria que evocar a Nahemá. Tudo bem e depois de ter evocado arqui-demônio por aqui-demônio, obtive uma nova visão deles. Depois de ter posto minha cabeça em cada esfera ou me projetado em uma por uma, eu pude entender como aquilo funcionava. Eu não queria credencial de ordens, muito menos aceitação de ocultistas famosos. Eu queria experiencia. E eu tive. Independente de quantas vezes acordei com Moloch me enforcando ou de ter ficado com febres bizarras depois de cagar com Ashmedai. Eu não iria parar se algo desse errado, porque não queria parar. Se aquele era o preço, ótimo. O que me fez ir adiante foi o que justamente mantem bem.
Toda vez que observo o ocultismo atualmente e a necessidade que, as pessoas tem de um ‘mestre’ ou de ‘ordens’ de um ‘superior’ primeiramente eu me revoltava. Hoje eu entendo que, não é por ser da mão esquerda que, eu posso esperar inteligencia de alguém. Nem esperar ousadia, capacidade. Algo que inicialmente deveria ser a base do que chamam de esquerda, é na verdade, algo difícil de achar. O que mais vejo são, satanistas, luciferianos, vampiros que literalmente só sabem lamber os pés de qualquer tipo de renome ocultista. Se é que, isso existe. A Mão Esquerda deveria ser, uma senda onde o Individuo e sua experiencia pessoal seriam exaltadas, ao invés do Certo-Errado da Coletividade. Mas não, o que chamam de Mão Esquerda hoje em dia, é a mesma coisa que a Mão Direita. Só apagaram as luzes e acenderam umas velas pretas, escutando black metal e adorando Satanás á meia noite. Um bando de porcos de preto.
Existe uma diferença entre aquilo que chamamos de real e a realidade por si só. Existe uma realidade na nossa cabeça ou na cabeça de vários e uma concreta lá fora. Muitas vezes, há somente fantasias sobre o objeto desejado, fugindo paradoxalmente da realidade daquilo. O fruto está maduro por fora e podre por dentro. Pessoas geralmente carregam isso – a necessidade de mostrar que sabe, ou que é misterioso ou poderoso, ou que é X ou Y, é o que há de mais idiota no ocultismo atual e entretanto o mais comum. Abandone rótulos, ordens ou leis. Ir pela cabeça alheia, atrasa mais do que ir pela sua propria cabeça. Acreditar em X, porque ele tem um suposto ‘renome’ é o mesmo que se prostituir para as crias da Thelema/Crowley ou o teatral satanismo laveyano.
Se existe algo que preciso elogiar, é Lúcifer. Não o Lúcifer-entidade-anjo-demônio-deus-merda, mas sim, o Lúcifer que habita em cada um de nós. A nossa pontada de rebeldia, que nos faz ir adiante, passar os padrões de certo-errado e construir uma nova visão daquilo que nos foi passado. Eu me recusaria a fazer pacto com Lúcifer altamente vendido na internet e em rituais bizarros dentro de grupos bizarros de São Paulo. Mas aceitaria de bom grado, recusar o reino de Jeová-Obito-Morbitvs para criar o meu próprio Reino.
E foi assim que me tornei uma parte daquilo que neguei obedecer. Thaumiel o gêmeo de Deus, ainda é parte de Kether. E Jeová incorporou no Inkubus, porém, continuava sendo Obito e Morbitvs. Se Cristo e Lúcifer são irmãos ou faces da mesma moeda. Palmas á Ele. Tanto faz isso para você, não deve se render á qualquer crença, rótulo ou autoridade. Não se deve abaixar a cabeça a qualquer “não”, á qualquer tipo de “cuidado”. Erga-se. Levante teu reino. O que fez Crowley ser Crowley, foi justamente ele ultrapassar a margem do certo e errado. Foi enquanto todos viam algo de uma forma, ele distorcia e adaptava ao seu proprio modo.
A razão do ocultismo, não é e nunca será perpetuar um tradicionalismo barato ou acirradas crenças coletivas, aonde todo mundo que dizer não, é visto como Adversário. Desafie-se. Desafie as crenças que leu pela web, desafie a experiencia alheia, desafie os proprios limites. Não tenha medo de explorar, ou de se machucar. Ninguem cresce senão pela Dor. O Cuidado é um amigo traiçoeiro que aconselha demais e te faz perder oportunidades únicas de crescer. Abandone a amizade dele.
O ocultismo internauta está cheio de mestres – cheio de visões e de pessoas prontas para ditar o que deve ou não ser feito. Largue tudo de mão. Agora olhe para dentro de si e veja aonde quer chegar. O que quer obter. Nada de se preocupar com regras ou se isso é certo ou errado. Faça. Seja egoísta o suficiente para alimentar seu animal interior. Dê espaço para si mesmo se expressar – nada mais fracassado no ocultismo atual que essa história de crescimento espiritual – não se prenda a nenhum tipo padrão e sempre que puder, quebre-o.
Lembre-se que todos os livros, assim como pessoas são apenas mapas. E você pode explorar mais. Pode ir além. Não ceda sua criatividade por causa de x ou y. Não se deixe domesticar por qualquer ordem oculta.
Faça seu próprio caminho.
Por King
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