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A Tábua Esmeraldina foi um dos textos fundamentais que deram origem à alquimia, ao hermetismo e a boa parte do ocultismo e esoterismo que conhecemos hoje. Também conhecida como Tábua Esmeralda, ou O Segredo de Hermes, trata-se de um texto antiquíssimo que influenciou tanto o oriente como o ocidente e que se propões a revelar a natureza do universo e suas transformações. Sua autoria remonta à Hermes Trimegistus, o lendário semi-deus greco-egípcio. Sua origem é incerta mas aponta para o Egito Antigo.
Origem Mítico-Histórica
Um ponto a favor da origem egípcia é que existem frases da Tábua de Esmeraldina que podem ser encontradas no Papiro de Berlim N3024 (2.000 a.C.), nos Livro dos Mortos (1.500 a.C.), no Papiro de Ani (1250 a.C.) e principalmente em papiros do egito helênico, como no “Uma Invocação a Hermes”. É provavelmente neste período histórico que surgiu a sua primeira versão, talvez como uma tentativa de preservar as antigas escolas de mistérios.
Assim pensa Blavatsky em “Alquimia do Século XIX”:
O que de fato se sabe sobre Hermes Trismegisto, ou Hermes três vezes maior? Menos do que sabemos de Abraão, sua esposa Sara e sua concubina Hagar, que São Paulo declara ser uma alegoria. Mesmo no tempo de Platão, Hermes já era identificado com o Thoth dos egípcios. Mas esta palavra Thoth não significa apenas “inteligência”; significa também “assembléia” ou escola. Na verdade Thoth Hermes é simplesmente a personificação da voz da casta sacerdotal do Egito; isto é, dos Grandes Hierofantes.
Quando Alexandre, o Grande conquistou o Egito e tornou-se faraó ele teve acesso aos manuscritos. Quando partiu em direção a Mesopotâmia, teria então escondido as Tábuas e outros documentos encontrados nos famosos Pilares de Thoth em uma caverna na Capadócia. Alexandre morreu em 323 a.C e pediu para ser enterrado em Siwa, mesma região do templo de Amon. Contudo a localização exata de sua tumba e da tumba dos Pilares de Hermes permanecem sendo descobertas arqueológicas reservadas ao futuro.
Apenas após aproximadamente um século de silêncio ouvimos novamente falar da Tábua Esmeraldina quando um rapaz chamado Balinas, explorando as cavernas próximas a cidade de Tyana, na Capadócia e teria redescoberto em 32 d.C o tal tesouro cultural de Alexandre. O jovem estuda seu conteúdo em silêncio e posteriormemente cresce para se tornar conhecido sob o nome Apolônio de Tiana. Alegadamente Apolônio teria preservado a Tábua Esmeraldina consigo por toda sua vida e a trouxe para Alexandria onde escreveu a maioria dos seus livros.
Em um desses livros, que hoje só temos acesso pela tradução árabe “O Sirr al-khalīqa wa-ṣanʿat al-ṭabīʿa” (“O Segredo da Criação e a Arte da Natureza”) também conhecido como Kitāb al-ʿilal (“O Livro das Causas”) Apolônio conta ao leitor como descobriu seus manuscritos em um cofre abaixo de uma estátua de Hermes em Tiana, e que, dentro do cofre, um velho cadáver em um trono dourado segurava a tal Tábua de Esmeralda. Além de transcrever o texto da Tábua o livro é uma verdadeira enciclopédia de filosofia natural da época e conhecimento esotérico perene contendo, entre outras coisas a mais antiga versão da teoria do enxofre-mercúrio como princípios fundamentais da criação.
Com a morte de Apolônio em 97 d.C a Tábua Esmeraldina teria sido preservada em um caixa de ouro e escondida no santuário interno em um templo em Hermópolis. Supostamente uma irmandade chamada “Filhos de Hórus” foi criada para proteger este e outros manuscritos bem como alguns livros secretos de Apolônio. Esta é a última vez que ouvimos falar de alguém tendo alegando ter tido acesso ao material original da Tabua Esmeralda.
A Riqueza da Simplicidade
Como vimos, a mais antiga tradução da Tábua de Esmeralda esta em árabe e um livro de Apolônio de Tiana. Esta tradução foi feita aproximadamente no ano 700 e só chegou a Europa após a conquista moura da Espanha. A primeira tradução em Latim só surgiu trezentos anos depois em 1140 em um livro de Johannes Hispaniensis (João de Sevilha) chamado “Liber Secretorum Creationis” (Livro dos Segredos da Criação). Este texto é dado na íntegra no final deste artigo.
A popularização da relíquia veio pelas mãos do alquimista Albertus Magnus que publicou sua própria tradução em 1200. Esta prática tornou-se comum e muitos dos gigantes do ocultismo como Jabir ibn Hayyan, Isaac Newton, Paracelso e Joannes Grasseus (Hortulanus) fizeram suas próprias traduções e comentários da Tábua de Esmeralda que servia como um guia e uma bússola em seus trabalhos. Também o artista Matthieu Merian, célebre ilustrador de Atalanta Fugiens, um ano depois de sua parceria com Michael Mayer, o artista fez uma ilustração para a obra Opus Medico-Chymicum de Daniel Mylius que acabou se tornando mais famosa do que o próprio livro.
A partir de então ela passou a ser considerada uma chave contendo os principais segredos da alquimia. O Texto da Tabua Esmeraldina é sucinto e alegórico, sua passagem mais célebre diz que “aquilo que está acima é como aquilo que está abaixo” e tornou-se conhecida como a Doutrina da Correspondência, um dos muitos ensinamentos ocultos contidos no artefato. Esta Doutrina doutrina ensina que o Superior é como o Inferior, que o Exterior é como o Interior e que às Leis universais que fazem nosso mundo físico funcional também se aplicam às esferas astrais e espirituais. Vem dai a ideia posterior de Paracelso ao cunhar as palavras macrocosmo e microcosmo.
A força da Tábua Esmeralda está em sua simplicidade. A forma como foi escrita, permite uma série de interpretações diferentes e abre espaço para o exercício da contemplação e uma série de pensamentos profundos de modo que uma pequena pequena passagem como mostrado acima pode ter não duas ou três interpretações, mas incontáveis. Madame Blavatsky chegou a afirmar que a Tabua possui no mínimo setenta e duas camadas interpretativas diferentes, um número que por si só também é passível de interpretação (como os 72 nomes de Deus da cabala)
É tradicional que alquimistas operativos possuam réplicas ou cópias da Tábua de Esmeralda em algum lugar em seu laboratório, para que ocasionalmente meditem sobre ela. De fato, todo estudante de ocultismo, seja de qual vertente for se beneficiará se dedicar um tempo a leitura da tábua e tente absorver seu significado.
O Texto Latino
Segue agora a tradução da versão latina de Johannes Hispaniensis (século XVII) pela qual a Tábua Esmeraldina mais ficou conhecida:
Verum sine mendacio, certum et verissimum
É verdade, certo e muito verdadeiro.
Quod est inferius est sicut quod est superius, et quod est superius est sicut quod est inferius, ad perpetranda miracula rei unius.
Que o que está embaixo é semelhante ao que está em cima e o que está em cima é semelhante ao que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.
Et sict omnes res fuerunt ab uno, mediatione unius, sic omnes res natæ fuerunt ab hac una re, adaptatione.
E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas nasceram desta única coisa, por adaptação.
Pater ejus est Sol, mater ejus Luna, portavit illud Ventus in ventre suo; nutrix ejus Terra est.
O Sol é o pai, a mãe é a Lua, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua ama.
Pater omnes Telesmi totius mundi est hic.
O Pai de toda Telesma do mundo está nisto.
Vis ejus integra est, si versa fuerit in Terram.
Seu poder é pleno, se é convertido em Terra.
Separabis terram ab igne, subtile a spisso, suaviter, cum magno ingenio.
Separarás a terra do fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia.
Ascendit a terra in cœlum, interumque descendit in terram et recipit vim superiorum et inferiorum.
Sobe da terra para o céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores.
Sic habebis gloriam totius mundi.
Desse modo obterás a glória do mundo.
Ideo fugiet a te omnis obscuritas.
E se afastarão de ti todas as trevas.
Hic est totius fortitudinis fortitudo fortis: quis vincet omnem rem subtilem omnemque solidam penetrabit.
Nisso consiste o poder poderoso de todo poder: que vencers todas as coisas sutís e penetrará em tudo o que é sólido.
Sic mundus creatus est.
Assim o mundo foi criado.
Hinc erunt adaptationes mirabiles quarum modus est hic.
Esta é a fonte das admiráveis adaptações e seu mecanismo é este aqui indicado.
Itaque vocatus sum Hermes Trismegistus, habens tres partes philosophiæ totius mundi.
Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegistos, pois possuo as três partes da filosofia universal.
Completum est quod dixi de operatione Solis.
O que eu disse da Obra Solar é completo.
* Thiago Tamosauskas autor do Principia Alchimica, um manual simples e direto dos principais conceitos e práticas da alquimia.
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2 respostas em “Sobre a Tábua Esmeraldina”
[…] Dos verdadeiros livros herméticos resta apenas um fragmento conhecido como a “Tábua Esmeralda“, da qual falaremos agora. Todas as obras compiladas nos livros de Thoth foram destruídas e […]
[…] literatura chegou intacta até os dias de hoje mas entre estas podemos citar duas muito famosas: a Tábua Esmeralda e o Corpus […]