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Existem os pequenos e os grandes, os magros e os gordos, os barrigudos, os bochechudos, os estáveis ou instáveis… No reino dos átomos, há também um terceiro estado, uma nobreza e um clero. Há os átomos trabalhadores (o ferro) e aqueles que vivem de renda (a prata).
Espontaneamente ou sob a ação do bombardeamento de partículas energéticas, certos átomos se transformam em outros. Eles ganham peso ou se dividem para dar origem a átomos menores. A transmutação da matéria é um sonho que povoa a cabeça dos homens desde a Antigüidade. Ele “habitou” as retortas dos alquimistas durante séculos. A “grande obra” dos Hermès Trismégiste, Paracelso e outros Nicolas Flamel era criar a “pedra filosofal” capaz, ao mesmo tempo, de transformar os metais em ouro e, quando liquefeita, permitir obter o “elixir da longa vida”, assim como alguns poderes maravilhosos e super-humanos, como o de conferir invisibilidade.
Se a alquimia prefigurou por vezes a química moderna, trazendo algumas verdadeiras descobertas, como o ácido sulfúrico, o antimônio ou o fósforo, e finalmente influenciou de maneira fecunda o desenvolvimento da técnica e da ciência em geral, suas derivas ocultas tiveram razão nela. Assim como o progresso das ciências. Porque, hoje, sabe-se como mudar o chumbo em ouro e sabe-se também quanto custa.
O principal instrumento para sondar as entranhas da matéria é o acelerador de partículas. Esquematicamente um tubo, linear ou em círculo, capaz de acelerar a grandes velocidades átomos e/ou partículas e de precipitá-los uns sobre os outros a fim de quebrá-los em mil pedaços. O estudo desses pedaços permite ver o que os átomos têm no interior do ventre.
Por outro lado, os átomos, artificiais e bastante grandes, são instáveis e têm tempos de vida curtos. O elemento mais pesado observado até hoje, durante 0,9 milissegundos, ocupa o 118o lugar da classificação. Batizado (provisoriamente) unuoctium, seu núcleo comporta 293 “tijolos”, chamados núcleos (118 prótons e 175 nêutrons), contra 2 para o hidrogênio, 12 para o carbono ou 207 para o chumbo. O elemento 118 foi criado bombardeando-se átomos de curium-245 e de californium-249 com núcleos de cálcio-45.
Para passar do chumbo à prata é preciso, portanto, arrancar de uma só vez algumas partículas nucleares. O chumbo tem 208 (82 prótons e 126 nêutrons) e o ouro 197 (79 prótons e 118 nêutrons). Bombardeando-se o chumbo, pode-se, portanto, esperar arrancar suas 11 partículas núcleares excedentes, ou seja, três prótons e oito nêutrons. O que acontece é que a probabilidade para que isso se dê é bastante baixa. Logo, seria necessário que o bombardeamento durasse meses, mesmo anos, para que se obtivesse ouro. E quando se conhece o custo de funcionamento desses aceleradores (alguns milhares de euros por hora (um euro ~ 2,75 reais)), melhor será ir diretamente a um joalheiro, onde o ouro esteja a um preço razoável.
O ouro é reputado como sendo o metal mais nobre de todos, por ser o mais inalterável. Apresenta uma resistência excepcional à oxidação, mesmo a temperaturas elevadas, porque ele se “recusa” a reagir com outros elementos. Por isso, ele se tornou “o queridinho” das jóias e também da alta tecnologia. Ele é, assim, bastante utilizado como indicador de pressão a níveis de pressão superiores a 1 milhão de atmosferas (1 milhão de vezes a pressão atmosférica). Não obstante, uma experiência recente realizada na instalação européia de radiação síncrotron (ESRF, em Grenoble – França) mostrou que mesmo o ouro tinha seus limites. Ele torna-se alterável quando submetido a pressões superiores a 2,4 milhões de atmosferas. Pressão esta, da ordem da que reina no centro da Terra.
O ouro poderia igualmente brilhar onde não se esperava. Assim, o Centro Nacional de Pesquisas Científica (CNRS, na sigla francesa) recentemente criou um grupo especial de pesquisadores encarregado de estudar as aplicações do ouro nas nanotecnologias. Graças à sua não-toxicidade, seu poder catalítico, sua biocompatibilidade e suas propriedades ópticas, o ouro sob forma de nanopartículas (de um tamanho inferior à bilionésima parte do metro) encontrou novas aplicações: circuitos eletrônicos ultraminiaturizados com “nanocabos” de ouro, catalisadores menos caros, tratamento de células cancerosas… Nessa escala nanométrica o ouro perde sua luminosa cor dourada para assumir os reflexos vermelho ou violeta e, sobretudo, tornar-se mais reativo. A verdade é que o ouro nos reserva ainda muitas surpresas!
Le Figaro (http://www.lefigaro.fr/), consultado em 21 de março de 2007. (Tradução/Adaptação MIA/OLA).
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