Este texto foi lambido por 336 almas esse mês
Por Steve Dee.
“Mulheres são divindades, mulheres são vida, mulheres são joias.”
– Yoni Tantra.
“Interiormente, um Shakta [1]; exteriormente um Shaivita [2]; no mundo um Vaishnava [3]. Esta é a regra.”
– Kaula Upanisad.
Leitores regulares deste site estarão cientes de minhas explorações anteriores da contribuição que Mike Magee fez para o desenvolvimento da corrente Thelêmica dentro do mundo do ocultismo contemporâneo aqui. Por meio do impacto da Ordem Amookos que ele fundou (a Ordem Arcana e Mágica dos Cavaleiros de Shambhala) e sua tradução acessível, mas erudita, dos principais textos sânscritos, Mike ajudou a estabelecer uma base significativa de como nós, praticantes de magia no século XXI integramos fontes não ocidentais em nossa prática.
A gênese da Amookos é frequentemente considerada o resultado do relacionamento iniciático de Mike com Sri Mahendranath (Dadaji) e o impacto sísmico que isso teve em seu universo mágico pessoal. Embora o encontro com Dadaji tenha sido indubitavelmente poderoso, ele também entrou no contexto de seu trabalho com Kenneth Grant e sua Ordem Tifoniana. O próprio Grant foi significativamente influenciado pelos ensinamentos orientais e pelo material de origem (conforme descrito no At the Feet of the Guru, Aos Pés do Guru [4]) e Mike é bastante aberto sobre como a presença desse material em seu trabalho com Grant catalisou sua própria jornada para o Oriente. Antes de viajar para a Índia e encontrar Dadaji, Mike já havia começado o trabalho com mantras, embarcou em estudos aprofundados de astrologia sideral e sânscrito e estava familiarizado com o Shaivismo da Caxemira. Enquanto o relacionamento de Dadaji com Mike e a Amookos infelizmente se deteriorou devido ao início da demência no final da vida de Dadaji, Mike foi capaz de utilizar suas próprias habilidades significativas como tradutor e intérprete para seguir em frente no caminho e este volume atual é um excelente exemplo de sua contribuição.
Para mim, este livro representa uma brilhante destilação de mais de 40 anos de prática, tradução e interpretação da tradição tântrica Shri Vidya (focada na Deusa). Para aqueles que sabem, o trabalho de Mike mantido no site shivashakti.com há muito representa algumas das traduções da mais alta qualidade de textos primários relacionados ao caminho Kaula Nath (no qual a Amookos se baseia) e tradições tântricas mais amplas. Este livro nos fornece uma excelente compilação de material relacionado aos aspectos mais sombrios da Deusa e especificamente da Grande Mãe Kali.
O livro tem um prefácio de Phil Hine e contém vários desenhos lindamente ilustrados de Jan Bailey. A introdução de Mike contém uma excelente visão geral dos temas centrais, métodos e abordagens que são frequentemente utilizados para abordar “a Devi primordial que é a raiz de todos os Grandes Conhecimentos… Ela destrói o tempo, ela é o tempo e ela é a noite da eternidade”. Caramba! E estamos apenas na página 4! Como praticante e estudioso, Magee não se esquiva da complexidade do terreno que procura retratar e das diferentes culturas e períodos históricos de onde emergiu esse material. Embora isso esteja longe de ser uma tentativa simplificada de reduzir a Grande Mãe a alguns pontos, oferece ao explorador determinado um portal vital através do qual podemos apreciar a contradição e a complexidade teológica que suas tradições incorporam.
Kali Magic é ao mesmo tempo erudito e altamente prático, com seções sobre Sadhana que exploram técnicas e tecnologias essenciais, como o mantra [5], o yantra [6] e o nyasa [7]. O livro contém explicações úteis sobre os principais Kali Yantras e como suas percepções podem fornecer chaves vitais de como nossa prática pode ser fundamentada no corpo e no espaço ritual (real ou imaginário) dos locais de cremação. Na última parte do livro, Mike nos fornece traduções vívidas de material de origem primária que permitirão que nossa exploração prática se baseie firmemente nas profundezas das tradições históricas. Pessoalmente, achei esses Upanishades [8] e Tantras [9] da Deusa poderosos e chocantes em sua franqueza física. Como Mike enfatiza, o caminho da Grande Mãe e do Caminho da Mão Esquerda é cru e implacável em sua exploração de como fluidos corporais e práticas sexuais podem ser habilmente utilizados na promoção dos processos alquímicos mais profundos:
“O milagroso Yoni Tattva Tantra [10] é o melhor de todos os tantras. Por causa do amor por você, este tantra muito oculto é revelado. O único mal na relação sexual é a aversão por sangue e sêmen. Aquele que os mistura com vinho está discriminando na adoração”.
– Yoni Tantra, Terceiro Patala [11].
Fonte: https://theblogofbaphomet.com/
NOTAS (por Ícaro Aron Soares):
[1] Um Shakta é um devoto da Shakti, a Deusa Cósmica.
[2] Um Shaivita é um devoto de Shiva, o Deus da Destruição Cósmica.
[3] Um Vaishnava é um devoto de Vishnu, o Deus da Preservação Cósmica.
[4] O livro At the Feet of the Guru (Aos Pés do Guru), de Kenneth Grant, já encontra-se em tradução para posterior publicação no presente site.
[5] Mantras são cânticos sagrados, a exemplo do maha-mantra (Hare Krishna), o Gayatri, os hinos dos Vedas, etc.
[6] Yantras são imagens que funcionam como portais.
[7] Nyasas são técnicas de toques em certas partes do corpo enquanto ocorre a entoação de mantras.
[8] Upanishades são tratados filosóficos da Índia, abrangem diversos assuntos e classicamente contados em 108, mas há muito mais do que esse número.
[9] Tantras são textos indianos acerca de magia e outros assuntos não convencionais.
[10] Yoni é a Vulva (ou a Vagina) nas tradições tântricas, Tattvas podem ser traduzidos como os 4 Elementos. Yoni Tattva Tantra, ou, simplesmente Yoni Tantra, é um texto tântrico que aborda o diálogo entre Shiva e Shakti, sobre diversos temas, a exemplo da Magia Sexual e da Glorificação da Yoni, e será publicado no presente site.
[11] Patalas são sistemas planetários (ou universos) inferiores, o termo também é utilizado para níveis inferiores de consciência.
Texto enviado por Ícaro Aron Soares.
Alimente sua alma com mais:
Conheça as vantagens de se juntar à Morte Súbita inc.
Uma resposta em “Resenha do livro Kali Magic, de Mike Magee.”
Este é um trabalho verdadeiramente significativo que representa uma vida inteira de erudição e devoção e, embora profundo e exigente, também captura a beleza crua de Kali e não faz rodeios ao abrir uma porta para seus mistérios. Altamente recomendado para aqueles praticantes de magia que desejam trabalhar com as correntes tântricas de forma profundamente consciente do material original, de modo a evitar o reducionismo ou a apropriação consumista. Como nós, como pagãos e ocultistas, buscamos evoluir e fortalecer nossa teologia e sadhana para destacar a poderosa validade de nossos caminhos espirituais escolhidos, trabalhos como Kali Magic oferecem uma contribuição vital e valiosa para esses processos de crescimento.