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Paracelso
TRATADO DA ENTIDADE DOS ASTROS SOBRE OS CORPOS INFERIORES (DE ENTE ASTRORUM)
CAPITULO I
(A origem do corpo pela entidade do Sêmen)
A primeira coisa a fazer para se descrever a entidade astral é considerar com a máxima exatidão a essência, a forma e as propriedades dos astros e imediatamente em seguida averiguar os caminhos e o mecanismo pelo qual se produz a atração (eliciatur) de tal entidade sobre os nossos corpos.
Vocês deram à entidade astral uma interpretação purameme astronômica sem outra atenção ou estudo, quando na verdade deveriam ter feito muito mais. Desta maneira, quando ensinam abertamente que o corpo foi formado diretamente (constituere) do céu e dos astros, estão cometendo uma falsidade, já que o homem, ao se constituir, o fez partindo exclusivamente do espírito do sêmen (ens seminis) sem a menor participação dos astros.
Vamos provar a nulidade dos seus conceitos e de suas ideias sobre o assunto. E para começar vamos declarar o seguinte: Adão e Eva foram certamente o resultado da criação, mas continuaram e continuarão até o fim do mundo graças à entidadè do sêmen. De tal maneira que se não tivessem existido, ou não existissem na natureza estrelas ou planetas, as crianças continuariam nascendo com feições diferentes, sem relação alguma com os astros, e sim pelo contrário, com os temperamentos ou aparências físicas dos pais, tanto hoje como nas mais remotas eras. Assim existirão os melancólicos, os coléricos, estes fiéis, outros infiéis, aqueles sóbrios e aqueles outros não, já que a natureza humana, caracterizada por uma entidade de propriedade e especificidade, deriva e resulta da entidade do sêmen e nada tem a ver com os astros. Os astros com efeito não ocupam nenhuma parte do corpo e nem lhe infundem temperamentos, calor, natureza ou substância.
CAPÍTULO II
(Onde se discute a influência dos astros na natureza humana)
Devemos advertir a todo médico que as entidades do homem são duas: a entidade do sêmen e a entidade da potência (ens seminis e ens virtutis), que devem reter cuidadosamente e se lembrar no momento oportuno.
Neste texto iniciatório do “Tratado da Entidade Astral” enunciaremos um axioma que consideramos perfeitamente adequado. É o seguinte: “Nenhum astro do firmamento, seja planeta ou estrela, é capaz de formar ou provocar alguma coisa em nosso corpo, seja a beleza, a cor, força ou temperamento”.
Sem dúvida, como foi dito que a entidade astral pode nos prejudicar de diversas maneiras, devo dizer que isso é falso e que já é hora de tirarem dos espíritos esses juízos absurdos baseados na natureza ou na posição das estrelas, que somente podem nos fazer sorrir.
Neste ponto vamos nos deter sem levar adiante este discurso contra nossos adversários: primeiro porque a finalidade deste parêntesis não é responder a cada instante a todas as questões que nos apresentam, para o que seria necessário uma grande quantidade de tinta e papel, tão grande como a nossa capacidade de contestar, por mais ajudados que estivéssemos pela inspiração e a proteção divina. E em segundo lugar porque, apesar de terem compreendido que os astros não conferem nenhuma propriedade nem natureza individual, continuarão adotando a opinião contrária, baseados no fato de que às vezes são capazes de nos atacar e nos causar a morte.
A verdade é que por não ter nascido sob a influência de Saturno podemos ter uma vida mais ou menos longa; isto é completamente falso. O movimento de Saturno não afeta a vida de nenhum homem e muito menos a prolonga ou abrevia. Fora isso, ainda que este planeta não tivesse feito sua ascensão na esfera celeste, teriam existido e existiriam homens dotados do caráter desse astro. E igualmente existiriam lunáticos se nunca houvesse existido nenhuma Lua na natureza do firmamento.
Também não devem acreditar na ferocidade e na crueldade de Marte como responsáveis pela existência e a descendência de Nero, pois uma coisa é que ambas as naturezas tenham coincidido nesse ponto e outra coisa é que tenham se misturado ou tomado entre si.
Como exemplo do que acabamos de dizer, podemos recordar entre outros o caso de Helena e Vénus. Ambas foram indiscutivelmente da mesma natureza, e sem dúvida Helena teria sido adúltera mesmo que Vénus nunca tivesse existido. A isto ainda acrescentaremos que, mesmo Vénus sendo na História muito mais antiga do que Helena, as cortesãs existiram muito antes que uma e outra.
CAPÍTULO III
(Dissertação sobre a semente e o germe)
Apesar do que acabamos de dizer, devem pensar que o firmamento e os astros foram criados de tal modo que nem os homens e as criaturas animais poderiam viver sem eles, não obstante a incapacidade (dos astros) que têm para fazer alguma coisa por si mesmos. A semente que se deposita na terra, por exemplo, produz o fruto por ela mesma, isto é, porque carrega em si a entidade do sêmen (ou da semente). É verdade que se o sol não tivesse esquentado a terra durante algum tempo a semente não teria germinado, porque isso acontece justamente graças à ação do calor e da digestão que tal estímulo provoca. Sabe-se muito bem o que é a digestão e nós a consideramos como o resultado de um cozinhamento lento (digerere) que reduz as coisas a seus princípios constitutivos essenciais. A digestão é somente a operação estimulada pela temperatura, mas cuja ação está e já existe na coisa mesma que se digere. Sem digestão não poderia prosperar o desenvolvimento dos fetos que se realiza dentro da matriz justamente às custas de sua própria digestão.
Na comparação e exemplo que demos, a digestão da semente se realiza na terra e precisa do sol para isso, enquanto que na matriz a digestão não precisa de nenhum astro, seja o Sol, Mercúrio ou qualquer outro, gerando, crescendo e desenvolvendo-se em feto sem que nada lhe falte.
Os astros precisam efetivamente de poder para mudar a natureza dos homens, que por sua vez não possuem nenhuma disposição para receber sua influência. Consideremos ainda outros exemplos: entre dois soldados ferozes e combativos da mesma maneira, poderão dizer qual dos dois engendra, provoca ou estimula (inegniat) o natural do outro (natural)? Nenhum dos dois! E entre dois gêmeos exatamente iguais, podem saber qual foi o que cedeu sua semelhança para o outro? Nenhum deles também!
Por que então chamar a estes ou àqueles que jupiterinos ou lunáticos quando, como no exemplo dos gêmeos, todos e cada um de nós levamos nossa própria razão de ser em nós mesmos?
Eu digo que o feto vem a ser como a semente de sua própria substância; por isso o gêmeo é segundo a semente que o produz e não uma causa do Sol como se tem sustentado até agora.
CAPÍTULO IV
(Da supremacia do sangue sobre os astros)
Apesar de tudo o que temos dito até aqui, e sem que isto implique em concessão ou redundância, é certo que os astros podem nos ferir ou nos matar. Até agora tem sido ensinado por aí que estamos dirigidos pelos astros e que, por conseguinte, encaminhamos esta inclinação até à natureza particular do planeta que nos domina. E ainda sobre o caso, incluindo a maneira de resistir e combater as influências astrais, escreveu-se bastante. Isso tudo para mim não passa de uma simples perda de tempo.
Pouco importa o sentido que tenham deste provérbio: “O homem sábio tem maior poder que os astros, dispõe, e manda neles”, pois nós também achamos assim como acabamos de enunciar.
Com efeito os astros não coagulam, não adaptam, não formam nem dirigem nada em nós, assim também como não nos fazem conforme sua semelhança. São absolutamente livres por si mesmos, tanto quanto nós também possamos ser em nossa própria e íntima determinação e arbítrio.
Nota-se que a vida não é possível sem os astros: com efeito, o frio, o calor e a digestão das coisas que constituem nosso sustento provém justamente deles.
Por que ficar então remoendo essas minúcias e intermináveis disputas sobre se são eles que parecem conosco ou nós que parecemos com eles?
As coisas são assim por desígnio do Criador e não é possível pretender saber o que está oculto no firmamento, já que ignoramos inclusive a utilidade que possam ter as próprias qualidades dos astros. A glória do Sol, a arte de Mercúrio ou a beleza de Vénus, para dizer a verdade, não nos servem para grande coisa (commodare). Unicamente aproveitamos a luz do Sol e o seu calor, já que sem essas coisas não teríamos as frutas e as formosas estações que as produzem, e as outras muitas coisas que precisamos para viver.
Para terminar esta dissertação e para que aproveitem o máximo o significado deste parêntesis, peço que prestem uma atenção toda especial ao que se segue.
Quando o feto concebido e nascido sob a influência favorável e generosa dos astros assume uma natureza diferente e absolutamente contrária ao que deveria ser, obedece indiscutivelmente a alguma razão. Pois bem; eu direi qual é. Essa razão vem (defluxit) do sangue de seus ascendentes, e isto está plenamente de acordo com tudo quanto sabemos sobre a geração.
Se a hora prescrita para a ação de cada um coincide com a dos planetas, isso se deve ao sangue e nada mais. O que não invalida a lógica de que as boas influências caminhem de acordo com os bons resultados, assim como as más influências com os maus resultados. Sem dúvida insistimos em dizer que entre as duas influências que acabamos de estudar — a astral e a geradora — somente uma possui a potência necessária para atuar como causa determinante. E essa é a segunda, quer dizer, a entidade do sêmen.
CAPITULO V
(Razão da diversidade das formas)
Faremos agora alguns comentários sobre a habilidade ou aptidão com que são distinguidos os corpos. Até hoje, segundo os estudos daqueles que foram seus professores, chegaram à conclusão ‘de que todas as propriedades e virtudes nos vêm dos astros: fortuna e indústria, arte e erudição, força e riqueza…, por mais que umas e outras cheguem até nós de maneira desigual. Vamos destruir estes postulados dando a seguinte interpretação: a sorte provém do trabalho1 e da qualidade do espírito. Isto quer dizer que cada homem se tornará hábil e afortunado para essa ou aquela coisa na medida do seu gênio e do seu espírito, com o que também poderá finalmente alcançar a riqueza (fortunatus).
Assim mesmo vocês dão numerosas razões para explicar as dessemelhanças das formas humanas, quando é notório que desde Adão e durante todos os séculos passados, entre tantas miríades de homens, nunca um rosto foi absolutamente semelhante a outro, exceção feita aos admiráveis e milagrosos parecidos que têm os gêmeos entre si. Bem sei que atribuem a origem dessas diferenças ao influxo dos movimentos dos astros, mas para nós isso não parece suficientemente claro.
Sabe-se melhor que a mesma entidade do sêmen foi criada por Deus de tal maneira que todas as infinitas formas, cores e espécies de homens foram geradas nela e que cada forma não voltará a se repetir até que todos os tipos tenham sido produzidos. Neste momento então os novos homens voltarão ao seu ponto de partida apresentando as mesmas caras que tiveram antes de morrer, há vários séculos atrás. Quando chegar o dia do juízo final todas as cores e variedades de homens já terão sido esgotadas e produzidas. E da mesma forma tudo já terá acontecido, de uma ou outra maneira, o que não permitirá que nasça um homem parecido com um outro nascido anteriormente. Nesse instante terá soado a última hora da primeira grande rotação do primeiro ciclo (circuitus) do mundo.
Este fato não deve nos levar a especulações inadequadas, pelas quais poderão pensar em dividir o mundo em partes ou em épocas, já que se todas as cores e variedades humanas foram manifestadas, é lógico que não possa haver lugar para novas formas. Nesse momento terá terminado o período da verdade (vera oetas) e começarão as novas semelhanças.
CAPÍTULO VI
(Sobre o princípio M)
Essas reflexões têm como objetivo fazer com que compreendam com maior clareza as nossas proposições e ensinamentos. Devem então admitir a entidade astral como aquela coisa indefinida e ;nvisível que mantém e conserva nossa vida, assim como a de todas as coisas no universo dotadas de sentimento e que provém (profluit) dos astros.
Explicaremos isso com um exemplo: o fogo precisa de um combustível para arder, como a madeira, sem a qual ele não existiria. Considerem então que o fogo é a vida e que igualmente precisa de alguma madeira para existir. E lembrem-se disto, por mais grosseiro que seja o exemplo, porque acho que será suficiente e muito bom: o corpo é a madeira e a vida é o fogo. Por assim dizer, a vida “vive” do corpo.
Em compensação é preciso que o corpo tenha algo que impeça sua consumação pela vida e que o faça perdurar (perduret) em sua própria substância. Este “algo” de que estamos falando é o mesmo que emana dos astros ou do firmamento: justamente a entidade astral.
Dirão com muita verdade que se não existisse o ar todas as coisas cairiam tio chão e que morreriam por asfixia todas as que tivessem vida própria. Devo dizer sobre isto que ainda existe algo que sustenta o corpo e que o mesmo corpo alimenta, que se acabasse seria tão insuportável como a perda do ar.
Este “princípio” que faz viver o firmamento, que conserva e acalenta o ar e sem o qual se dissolveria a atmosfera e morreriam os astros, chamamos de M.
Com efeito, nada existe de mais importante e mais digno para ser levado em consideração pelo médico. Por outro lado, este “princípio” não está no firmamento, nem emana dos corpos celestes, nem é projetado por eles até nós — pobres mortais! — sendo muito mais importante que tudo isso junto.
Seja como for, tenham como certo que este princípio conserva todas as criaturas do céu e da terra, vivendo nele e dele todos os elmentos; e aceitem tudo o que acabo de dizer como sendo uma opinião justa que podem incluir em tudo o que diz respeito ao primeiro ser da criação, e a tudo que explicamos sobre M nesta dissertação.
CAPÍTULO VII
(Sobre a bondade suprema do ar livre)
Depois de terem seguido com toda atenção o que dissemos sobre M, peço que considerem atentamente o seguinte exemplo: suponhamos um forno fechado e obstruído. Imediatamente, por uma viciosa combustão sentimos nele um cheiro desagradável. Mas, na realidade, o mal cheiro não nasce do forno e sim de nós mesmos. E todos que cheguem perto também sentirão o vosso cheiro.
Da mesma forma compreendemos que podem, num recinto fechado, provocar doenças ou curas em todos os que estiverem presentes, porque se o ar não vem de vós, o cheiro pelo contrário sim. E mais ainda: quando falamos da entidade astral nos referimos precisamente ao ar.
Vocês acreditam que o ar nasce do movimento dos astros, o que é errado, pois acontece que confundem o ar com o vento e a atmosfera com o sopro, o que, por sua vez, a meteorologia explica perfeitamente.
O ar provém (defluit) do bem soberano e existiu anteriormente à todas as criaturas; só depois foi criado o resto. O mesmo firmamento vive do ar e se conserva no ar como os demais seres, mas não é um produto deste. Pode-se afirmar que se todos os firmamentos deixassem de existir o ar continuaria existindo, pois somente por falta de ar poderia perecei o mundo e o firmamento inteiro, incluindo o homem e todos os elementos.
Concluímos assim que a universalidade das coisas se sustenta no ar e pelo ar.
Isto é o que chamamos de princípio M. Princípio incorruptível e inalterável, refratário à toda espécie de veneno. Os venenos estão no homem e somente passam para o ar extrassubstancialmente, da mesma maneira como na comparação com o forno, que cheira mal porque queima mal o seu combustível. Definitivamente, o que M corrompe (inquinat) existe no corpo e sai precisamente dele.
CAPÍTULO VIII
(De como a entidade astral serve de veículo para o contágio das doenças)
A entidade dos astros é compreendida da seguinte maneira: todos os astros, da mesma forma que os homens, possuem uma série de propriedades e de naturezas e contêm em si mesmos a possibilidade de se tornarem melhores, piores, mais doces, mais ácidos ou mais amargos. Quando estão em estado de equilíbrio não emanam nenhuma espécie de maldade ou prejuízo. Mas quando caem em depravação se transformam imediatamente, dando sequência às suas propriedades malignas.
Recordemos que a entidade astral envolve verdadeiramente (ambire) a ordem universal da mesma forma que a casca envolve o ovo. O ar penetra primeiro através da casca chegando logo até ao centro do mundo. Devem considerar então que certos astros são venenosos e que envenenam o ar pelo contágio, o que significa que os mesmos males aparecerão e se propagarão até o último lugar que tenha alcançado o ar livre venenoso, ou melhor, o malefício do astro. Sem dúvida, esse poder maléfico não alcança a totalidade do ar do mundo, mas somente uma parte, maior ou menor, segundo o poder de sua força. O mesmo acontece com as influências favoráveis.
Resumiremos então dizendo que a natureza da entidade astral (ens astrale) se compõe do cheiro, da respiração, ou vapor, e do suor das estrelas misturado com o ar. Daí origina-se o frio, o calor, a seca e as demais propriedades desse tipo. Deduz-se desta maneira que os astros não podem exercer nenhuma influência por si mesmos (nihil inclinare), se bem que sua emanação (halitus) possa contaminar o princípio M e em seguida, por seu intermédio, nos alcançar e afligir. Nossos corpos podem estar expostos ao bem e ao mal conforme o comportamento que nos ofereça a entidade astral. Quando o temperamento do homem, segundo seu sangue natural, seja oposto (adversatur) ao hábito astral, acontecerá a doença. Em caso contrário não sofrerá nenhum inconveniente. E também quando possuir um temperamento forte e nobre, cujo sangue generoso basta para protegê-lo e vencer todos os malefícios, ou ainda quando tenha sido tratado por alguma medicina que o capacite para resistir aos vapores venenosos dos seres superiores. Disto concluímos que todas as coisas da criação são contrárias ao homem e vice-versa.
CAPÍTULO IX
(Sobre a influência astral dos venenos)
Depois das observações que acabamos de fazer a respeito de M, vamos demonstrar, por meio de um exemplo, como as exalações dos planetas podem prejudicar o nosso corpo.
Temos aqui um lago cheio de peixes por causa do influxo benéfico (probum) do seu M: se por causa de um frio excessivo e persistente este lago gelar, todos os peixes morrerão. E isto porque M, devido à natureza da água, terá também se esfriado em demasia. O frio neste caso não provém de M, mas da natureza do astro que age assim. Se, pelo contrário, as águas se esquentarem excessivamente pelo calor do Sol, os peixes podem morrer da mesma maneira, ainda que neste caso por um mecanismo oposto.
Estes dois fatos emanam simplesmente das propriedades de certos astros. Por sua vez, outros também podem amargar, tornar doce, azedo, arsenificar e impregnar o princípio M com uma infinidade de qualidades e gostos, significando que toda alteração importante pode produzir transtornos no corpo.
Julga-se, depois desta explicação, que se o astro pode chegar a corromper o princípio M, com maior força seremos presas das enfermidades e mesmo da morte se ele estiver na natureza do influxo astral. Conforme acabamos de expor, nenhum médico se assustará ao encontrar escondidos nos astros muito mais venenos que aqueles conhecidos na terra.
Todo médico deve saber que nenhuma enfermidade se manifestará em nenhuma parte sem a presença evidente de algum veneno, sendo ele o principio e a origem de todas as enfermidades sem exceção, sejam elas internas ou externas.
Mais de cem doenças específicas são provocadas pelo arsênico ainda que todas elas provenham do único arsênico do universo. Da mesma maneira devemos considerar as que são originadas pelo sal, pelo mercúrio, pelo enxofre e pelo realgar. 1
Indicamos todas essas coisas para que saibam e compreendam que não é possível alcançar habilidade sobre as enfermidades sem um perfeito conhecimento das origens, ou a origem, já que somente uma pode ser a causa do mal. Quando perceberem bem isto, será fácil conhecer todas as causas. Neste ponto, a observação diária e a prática serão de grande utilidade.
CAPÍTULO X
(Sobre a contaminação da água pelo arsênico dos astros)
Para que alcancem o conhecimento mais profundo sobre essas coisas, é conveniente dizer que não acreditamos que o verão ou o inverno em si sejam prejudiciais aos corpos. O prejuízo ou os danos provém dos planetas ou estrelas, cujas emanações produzidas e acumuladas diariamente, chegam a penetrar no princípio M, temperando-o segundo suas respectivas naturezas. Através das emanações o princípio M se impregna de sal, de arsênico, de mercúrio ou de enxofre, e com ele nossos organismos se tornam enfermos ou sadios, salvo nos casos em que as emanações ou o poder de penetração astral se perdem, como acontece algumas vezes quando os astros se encontram à longa distância. A seguinte observação confirma o que acabamos de afirmar: quando a exaltação das estrelas alcança o centro da terra ou da água, a terra ou a água ficam contaminadas pela potência do arsênico. Quando a água se contamina desta forma, os peixes que nela vivem migram para outras águas, ou se salvam nadando da profundidade para a superfície em busca de água doce ou zonas não contaminadas. Essa é a razão que os faz aparecer às vezes em grandes quantidades nas imediações das praias. Quando em qualquer lugar se reúne uma quantidade de peixes como nunca foi visto em muitos anos, seguramente acontecerá uma epidemia, pois o arsênico que provocou o envenenamento dos peixes acabará por contaminar também os homens, que demorarão mais tempo para adoecerem devido à sua constituição mais forte. O mesmo podemos dizer a respeito das outras espécies de venenos emanadas dos astros, que depois de alterarem o princípio M, não só debilitam os homens e os peixes, mas também envenenam os frutos do campo e todos os seres vivos da terra.
CAPÍTULO XI
(Afinidade dos venenos com suas entidades correspondentes)
Adaptando ao corpo humano o exemplo que acabamos de dar, vemos que é possível comparar o tronco a um lago, e os membros a outros tantos peixes. Quando a vida que existe em todo o nosso ser se corrompe pela-influência do veneno emanado dos astros, a maior debilidade aparece nas pernas, por ser precisamente ali onde se acumula a maior quantidade de veneno. Todas as outras entidades astrais possuem por sua vez o seu próprio veneno. Assim, umas visitam somente o sangue, como o realgar’; outras, os ossos e as articulações como as derivadas do sal; outras somente a cabeça, como o mercúrio, que geram tumores e hidropisias, como as auripigmentadas, e outras ainda que geram a febre, como os amargos.
Para que assimilem melhor tudo o que foi dito, vamos simplificar as coisas com toda prodigalidade, inclusive no que se refere à própria entidade astral. Desta maneira podem ver como algumas dessas coisas penetram profundamente em nosso corpo, afetando até mesmo o licor vital, e produzindo as enfermidades clínicas, enquanto outras que provocam as feridas põem em atividade as potências expulsivas (supuração). Toda a teoria encontra-se universalmente nestas duas coisas.
Fora isso, saber a que estrela corresponde cada veneno, é coisa mais própria da astronomia do que da medicina. De qualquer modo não se esqueçam de que os venenos que geram a hidropisia, por exemplo, são quíntuplos, reunidos num só gênero, mas diferenciando-se em cinco naturezas distintas. Uma delas provém dos astros, as outras quatro das entidades, todas, no entanto, provocando uma só hidropisia. Isso se repete da mesma maneira para os cinco enxofres e para todas as outras coisas dentro desta mesma ordem.
Conhecer a entidade à qual corresponde uma hidropisia determinada, ou saber quais são os melhores remédios que podemos usar na sua cura é um assunto a ser tratado no livro da terapêutica geral das enfermidades.
Neste ponto vamos terminar o estudo da entidade astral acrescentando o seguinte: pretender curar as doenças astrais enquanto a estrela específica da doença permanecer dominante no céu é uma tarefa vã, um trabalho inútil e um tempo perdido, pois o poder astral é sempre superior ao poder do médico.
Com isso podem deduzir como ensinamento e prudência elementar, como convém a um médico de consciência, que observem detidamente o tempo do tratamento e da cura. Pois, por maior que seja o esforço do médico, ele não conseguirá nada nem antes nem depois do tempo verdadeiramente propício para tal fim.
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