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Rodrigo Lamore (@rodrigolamorerock)
Desde a adolescência eu tenho o costume de ler tudo sobre ocultismo, esoterismo, religiões (primeiramente as orientais e atualmente africanas). Comecei primeiro com a leitura de livros sobre parapsicologia, depois sobre espiritismo e então, fui entrando em coisas “mais pesadas”, como sociedades secretas, rituais, Rosa-Cruz, Astrologia Hermética, Árvore da Vida, etc. Sempre com a intenção de evoluir espiritualmente, fisicamente e mentalmente, só que de maneira acelerada, atropelando etapas importantes e consequentemente, prejudicando o processo de aprendizado e prática. E foi então que descobri algo muito poderoso, porém muito simples: a meditação.
É muito comum achar que grandes feitos místicos são apenas possíveis a partir de grandes coisas, grandes conhecimentos, grandes façanhas, mas ao se aprofundar nos estudos, chega-se à conclusão de que antes do grande, é preciso passar pelo pequeno. Antes de chegar ao ensino superior, é necessário primeiro o pré-escolar, e as práticas de meditação representam o início de tudo, e ninguém conseguirá chegar ao nível de Mestre do Templo sem antes aprender a meditar. Esse é o básico e a escola primária do ocultismo.
Antes de tudo, o indivíduo precisa ter o controle dos seus pensamentos, controle sobre a sua respiração; suas decisões precisam ser conscientes. A pessoa para se tornar um Mago, precisa se conhecer profundamente, saber daquilo que gosta, suas paixões, seus amores, suas vocações, o que não gosta, o que odeia, suas habilidades e fragilidades. A título de curiosidade, saiba que, aquilo que chamamos popularmente de “fazer macumba pra alguém” ou “magia de amarração” ou “olho gordo”, etc, só são possíveis, graças ao método usado pelo responsável pelo ataque astral, que é basicamente em descobrir quais as suas vulnerabilidades, para a partir dessa brecha, lhe atacar. Exemplificando de forma bem básica, se você tem medo de baratas, o ataque será: você sonhar com baratas, ver muitas baratas constantemente, ter cenas com baratas nos filmes e séries que você estiver assistindo, etc, levando você à loucura.
A capacidade de criar imagens mentais, também conhecido como visualização, habilidade indispensável em qualquer ritual, básico ou avançado; a habilidade da respiração, que também serve para o autocontrole emocional no dia a dia do ser humano; tudo isso só são possíveis após o domínio da meditação, aí sim será possível passar para as próximas fases de desenvolvimento.
Aparentemente, eu poderia dar a entender que estou tentando criar uma nova Grade Curricular das Escolas Esotéricas, onde eu enfatizaria primeiramente os estudos de meditação, para então permitir que o iniciado passasse para os outros graus, que na minha opinião, não seria ainda nem o de Neófito, nem o de Probacionista. Quando Crowley criou o grau de Estudante, ele tinha essa mesma preocupação, mas ainda assim, no meu ponto de vista, não resolveu o problema. Já vi muito aloprado frequentando as reuniões abertas de algumas Ordens, e também depois que fui iniciado, continuei a ver. Eu tenho sorte de ser uma pessoa que adora ler e pesquisar, porque caso contrário, um desses loucos poderia ser eu também.
Além dessas críticas que eu faço às Ordens, por elas terem práticas avançadas demais para graus inferiores, como o de Neófito, também vejo uns problemas em alguns mestres ocultistas, intencionalmente ou não, impondo certas tarefas aos iniciantes do Oculto, que, ao meu ver, não deveriam fazer. Isso deveria ser óbvio. Por mais que uma criança sonhe em ser um Químico famoso e respeitável no mundo científico, não é razoável colocar essa mesma criança em contato com um laboratório, onde é obrigatório seguir regras de higiene, biossegurança, ética, e isso que estou listando é menos que o básico do necessário. Ou então, colocar uma criança que queira ser um professor, pra dar aula numa escola pra outras crianças.
Se todos concordamos que “Magia funciona”, deveríamos aumentar nossos cuidados pra evitar erros e até tragédias.
E se levarmos em consideração que muitos se envolvem nesse mundo como um tipo de fuga existencial, ou alguma forma de procurar respostas para problemas que nem mesmo a própria pessoa sabe dizer, os resultados desses pulos de etapas aceleradas, podem causar mais danos ainda.
Com o intuito de evitar casos de auto sabotagem (“aiiinnn, eu procurei na internet e não achei nada sobre isso; desisto”), vou descrever aqui algo super simples de se fazer, e por ser exageradamente simples, é possível que muitos não irão praticar, por causa do nosso hábito de ser sugado pelo espetacular e o fantástico (por isso os charlatões ficam ricos). Primeiramente é necessário a compreensão de que vivemos num regime capitalista, e que “tempo é dinheiro” e não temos tempo pra quase nada, e nossa mente sabe disso, e irá te desviar constantemente de atividades que “não dão dinheiro”. Dessa forma, é fundamental inserir, aos poucos no dia a dia, aspectos da meditação, começando pela respiração. Comece a respirar com a barriga e não com o peito, como a maioria das pessoas fazem. Já viu um bebê respirando? Ele respira movendo a barriga, mas os adultos respiram movendo o peito. Apenas essa pequena mudança e também, apenas mudando o seu foco pra sua respiração, já causam uma modificação no seu ser, porque você se volta para si. Dependendo do nível de prisão mental que você estiver, isso poderá causar um princípio de pânico, pois falando metaforicamente, é como se o carcereiro se apavorasse ao descobrir, que o prisioneiro conseguiu uma cópia das chaves que abrem as portas das grades. Respirar pela barriga, e de forma profunda e lenta. No começo você irá esquecer, mas sempre que lembrar, volte a respirar assim.
Depois que estiver dominado essa parte (não apresse as coisas, faça devagar, mesmo que isso leve anos), passe a observar o seu corpo, em sua totalidade. Como você caminha na rua? É igual quando você caminha dentro de casa? Como fica sua expressão facial diante de casos como, uma briga familiar, uma discussão no trabalho? Como seu corpo reage a situações desagradáveis? Como fica a sua respiração? Conseguiria manter a mesma respiração em situações de alegria, tristeza ou raiva? Qual o tom da sua voz em diversos ambientes e com pessoas distintas?
E com relação a sua mente? O que você pensa todos os dias? (além de ficar lembrando dos boletos). Quando se está descansando, ou prestes a dormir, o que vem à mente? Algum pensamento repetitivo? Fica se imaginando discutindo com alguém ou lembrando de alguém que nunca mais viu? Diz coisas sem pensar?
Tanto no caso da observação do corpo e da mente, como no caso da respiração, a tarefa aqui é tomar consciência de si próprio, sem precisar parar pra fazer isso. Um dos problemas da meditação é que, quando alguém reserva um tempo para os exercícios, nunca há êxito. Ou o sujeito dorme, ou não aguenta permanecer parado durante muito tempo. Pra muita gente, 2 minutos é o máximo. E esse autoconhecimento é muito importante, pois durante um ritual, sozinho ou em grupo, caso você sinta algo estranho, irá saber se é alguma manifestação sobrenatural, ou é apenas a sua barriga roncando de fome, porque você esqueceu de almoçar.
Após passar por todo esse ciclo, e conseguir incorporar no seu cotidiano essa conduta de auto observação e consciência, poderá entrar na fase mais famosa da meditação que é, sentar, fechar os olhos, respirar profundamente e ir observando os pensamentos viajando pela sua mente, como objetos separados, sem vida e sem importância, pois esse é o objetivo final, nesse momento: saber que você não é os seus pensamentos, e esse é o segredo. E por você não ser seus pensamentos, e eles serem coisas desassociadas do nosso ser, podemos ter a liberdade e o controle mental de ir para a próxima fase, que é a visualização. Mas isso fica pros próximos episódios.
Sabendo agora disso tudo, é mister a compreensão da consequência primal de qualquer começo de qualquer hábito, seja ele de cunho magístico ou não; diversas ocorrências e fatos que irão tentar lhe desviar e fazer desistir de continuar com a aplicação desses conhecimentos. Você poderá pegar um resfriado ou irá passar a frequentar locais de grande poluição na atmosfera que vão dificultar as práticas de respiração. Você irá tropeçar ao observar-se caminhando. Você irá gaguejar numa reunião importante do trabalho ao observar-se falando e se expressando. Sua mente irá te dizer que estarás “passando vergonha”, fazendo essas coisas de meditação, etc. Continue e não dê importância a nada disso. O adversário se manifesta de diversas formas e nosso trabalho enquanto aspirantes à Mestre é colocá-lo no seu devido lugar. “Vá de retro”, ou seja, “Fica atrás de mim e não na minha frente”.
Portanto, o ocultismo, assim como qualquer outro conhecimento, precisa começar pelo início, ao invés de querer tudo ao mesmo tempo e rápido demais; se a pessoa realmente tem o desejo de aprender e se desenvolver, ela irá fazer dessa forma, respeitando sempre, não só os momentos e a ordem de importância de cada fase desse conhecimento, mas também, entender que cada um possui seu ritmo, sua forma de estudar, sua maneira de praticar e entender que, como se diz em Thelema: “todo homem e toda mulher é uma estrela”, ou seja, cada ser humano vive a sua própria órbita e seu próprio conjunto de valores e crenças, assim sendo, deve-se adaptar os estudos a cada um à sua maneira particular, para que assim, juntamente com as etapas respeitadas, chegue-se aos graus superiores. A prática da medição é a porta de entrada para o céu, que é a mente, a partir do templo, que é o corpo humano.
Rodrigo Lamore, cantor, inYoutubestrumentista, compositor, produtor musical, ocultista nas horas vagas, thelemita autodidata, conheceu o mundo mágiko durante a adolescência navegando na internet. Baiano, veio pro Rio em 2012 pra viver de música e foi iniciado na F.R.A. em 2014, saindo dois anos depois por discordar de comportamentos de alguns membros. Aquariano praticante.
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