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Aparte do manuscrito que foi batizado com seu nome, Wilfryd Voynich era em si um mistério também. Assim que chegou em Londres ele não possuia um tostão e não falava uma palavra de inglês, sua futura esposa também vinha de uma família pobre, e mesmo recebendo uma herança conseguiu se manter por alguns anos estudando na Alemanha antes de voltar para Londres. Em apenas alguns anos Wilfryd passa de um angariador de fundos para imgrantes Russos para um livreiro reconhecido e abre uma livraria especializada em livros raros em um dos metros quadrados mais caros da cidade, Soho Square 1, repeleto de raridades históricas e escrevendo catálogos atrás de catálogos sobre tais livros. De onde teria vindo o dinheiro para financiar tal operação e de onde teria vindo o conhecimento de Wilfryd para reunir tantas excentricidades em um só lugar?
É sabido que o casal Voynich se relacionou com muitas figuras famosas, Lily, por exemplo, conheceu e viajou por um período com um emigrante Russo conhecido como Georgi Rosenblum, que ficou conhecido posteriormente como Sidney Reilly, um espião famoso que muitos afirmam ser a inspiração para os contos de Ian Fleming sobre o agente 007. No ano de 1897 ela escreve The Gadfly, um livro que se torna um best-seller na Russia, vendendo mais de 2.5 milhões de cópias. Algumas pessoas sugerem que juntamente com isso as viagens que Lily e Reilly fizeram juntos poderiam fazer parte de alguma operação para o serviço secreto britânico, já que ela já possuía uma grande experiência com contrabando de informações e documentos entre Inglaterra, Alemanha e Russia essa informação pode não ser tão exagerada, e isso talvez resultasse em uma renda extra para o casal.
Por outro lado, na mesma época que Lily e Reilly viajavam, Wilfryd se encontrava na Itália com Erla Rodakiewicz, uma experte em Inglês antigo que demonstrava grande interesse em manuscritos antigos, em correspondências existentes até os dias de hoje Erla escreve que Wilfryd era um antigo amigo, muito querido. Nesta époce ele pode ter sido apresentado a um grupo de pessoas com interesses em manuscritos antigos e raros, o que explicaria seu foco comercial.
Todas essas suposições mostram que o casal cada um a seu modo acabou se envolvendo com grupos fechados de pessoas que tinham interesse em informação “secretas” e antigas, seria então uma coincidência que de todas as pessoas, justamente Wylfrid acabasse tomando posse do manuscrito misterioso?
Quem apresentou Wilfryd para os Jesuitas da Villa Mondragone foi um frade de nome Strickland. Os jesuitas precisavam vender parte de uma coleção de mais de 1000 manuscritos para levantarem dinheiro para pagarem pelas restaurações da vila. O comprador deveria concordar em manter a compra em segredo e após uma concorrência com um judeu desconhecido de Padua, Wilfryd foi aceito pelos jesuitas como comprador. Ele adquiriu aproximadamente 30 manuscritos, alguns deles extremamente valiosos. Em 1912 outros 300 manuscritos do Collegio Romano foram comprados peo Papa Pio X e foram doados por ele para a biblioteca do Vaticano, esta compra é descrita em um catálogo feito por J. Ruysschaert. Esse catálogo descreve alguns detalhes sobre a origem dos manuscritos, incluindo que eles pertenceram ao Collegio Romano, mas não menciona de onde eles vieram antes disso, mas descreve a compra feita por Wilfryd.
Wilfryd então dá início a uma campanha para estabelecer que o Manuscrito Voynich era um dos documentos mais importantes da história da ciência, como ele mesmo relata:
Em 1912 […] eu fui de encontro a uma maravilhosa coleção de manuscritos preciosamente ilustrados. Por muitas décadas estes volumes permaneceram esquecidos, guardados dentro dos baús nos quais os achei, em um antigo castelo ao sul da Europa, onde a coleção aparentemente foi guardada em consequência da agitada condição política emq ue a Europa se encontrava no início do século XIX.
[…]
Ao examinar as manuscritos, com o objetivo de adquirir ao menos parte da coleção, minha atenção foi capturada por um volume em especial. Comparado aos outros manuscritos ele era como o patinho feio do conto, seus irmãos adornados com cores vivas e ouro, e isto só fez aumentar meu interesse. Eu descobri que ele foi escrito inteiramente em cifra. Com um breve exame do pergaminho com o qual ele foi composto, da caligrafia, das ilustrações e dos pigmentos que o compõe sugerem a segunda metade do século XIII como origem do tomo. Os desenhos indicam que ele possuiu uma natureza enciclopédica sobre filosofia natural.
[…]
o fato deste manuscrito ser um escrito totalmente encriptado datado do século XIII me convenceu de que ele é um trabalho de importância excepcional, e que eu saiba a existência de um manuscrito de tal data escrito totalmente em cifras é totalmente desconhecida, por isso o incluí entre os manuscritos que comprei desta coleção.
[…]
dois problemas se apresentam logo de cara – o texto deve ser decifrado e a história do manuscrito deve ser traçada.
[…]
Somente após algum tempo em que já tinha o manuscrito em minhas mãos que eu li o documento portando a data de 1665 (ou 1666) que veio anexado à sua capa.
[…]
Este documento, que é uma carta de Joannes Marcus para Athanasius Kircher oferecendo o manuscrito como presente é de grande significado.
Sua primeira apresentação pública dos documentos que havia adquirido na Villa Mondragone e em outros lugares da Europa aconteceu em 1915 no Instituto de Arte de Chicago. Após sua morte em 1931 sua viuva, Lily Voynich, herdou o manuscrito e uma das primeiras coisas que fez foi fazer cópias para enviar à Universidade Católica de Washington, endereçadas ao professor Henri Hyvernat. Tanto ele quanto seu assitente, Theodore Petersen, ficaram imediatamente intrigados pelo códice, curiosamente o professor foi aluno do Collegio Romano, mas aparentemente nunca havia visto o manuscrito antes. Pouco antes da morte do marido Lily percebeu que ela era a única outra pessoa que sabia da origem do manuscrito e tratou de escrever uma carta que só deveria ser aberta após sua morte dando os detalhes que ela se lembrava a respeito do tomo, a carta dizia o seguinte:
WILFRYD M. VOYNICH, 33 WEST 42ND STREET, NEW YORK.
LONDON:- 175, PICCADILLY, W.1
Telefone: Longacre 9019
O Manuscrito Cifrado foi comprado por W.M. Voynich em, ou cerca de, 1911. Ele era propriedade do Vaticano e estava em (em castelo em?) Frascati.
O intermediário através do qual ele se aproximou das autoridades do Vaticano foi o Padre Jesuita inglês (?) Strickland, que possuia, eu acredito, alguma conexão com Malta. O Padre Strickland, que se encontra morto, sabia da venda de alguns manuscritos, caso se encontrasse um comprador confiável e discreto. Se a causa deste sigilo foram as relações com o Quirinal, eu não sei dizer. Padre Strickland deu sua palavra pessoal de que W.M.V. era de confiança e por causa dessa garantia ele pode comprar, após dar garantia de que o segredo seria mantido. Ele me disse na época, em segredo, que alguém deveria saber disso caso ele morresse. Pelo mesmo motivo eu estou deixando este depoimento no cofre, para o caso de minha morte.
E.L. Voynich.
Julho 19. 1930.
[capa do envelope]
Aberto por A.M. Nill
Ago. 9, 1960
A Respeito do Manuscrito Cifrado
Não deve ser aberto até após a minha morte, e somente por A.M. Nill ou a pessoa responsável qeu estiver em seu lugar.
Novamente não apenas o sigilo envolvendo a aquisição do manuscrito, mas também o respeito a esse sigilo faz muitas pessoas pensarem que os Voynich faziam parte de algum grupo ou escola secreta, na verdade isso pode demonstrar apenas que Wilfryd era uma homem honrado e de palavra assim como sua companheira.
Com a morte de Lily, sua amiga íntima e antiga secretária de seu marido, Anne Nill, herdou o manuscrito, e foi somente então que tomou conhecimento da carte de Lily e ficou sabendo da origem do manuscrito e sobre a Villa Mondragone e sobre o fato de que naquele tempo havia alguma controvérsia entre o governo da Itália (o Quirinal) e a igreja (o Vaticano). Anne tentou vender o manuscrito, seguindo as especificações deixadas por Wilfryd, de que a venda do tomo só poderia ser concretizada caso o comprador fosse aprovado por um comitê formado por 5 pessoas: sua esposa, a própria senhorita Nill, Manly, Bishop e James Westphal Thompson, não existem evidências dessa regra ter ou não sido seguida, mas quando o comprador foi encontrado, um senhor de nome Hans. P. Kraus, Anne começou a enviar cartas para todas as pessoas que haviam recebido cópias do manuscrito para que as devolvessem, pois o comprador em potencial desejava comprar o códice apenas com a condição de possuir os direitos exclusivos de publicação. Evidentemente Kraus ainda tinha esperanças de que o manuscrito possuisse uma grande importância científica. Algumas das pessoas escreveram de volta devolvendo suas cópias, outras apenas disseram que não publicariam nada nem fariam cópias para outras pessoas sem antes entrar em contato com o comprador do tomo. Após a compra do manuscrito Klaus tentou revendê-lo pela quantia de U$ 160.000 dólares, mas sem sucesso, finalmente ele doou o livro para a biblioteca de Yale, onde permanece até hoje, junto com todo material que Voynich reuniu a seu respeito, seus cadernos de anotações e várias correspondências que ele enviou e recebeu.
por Obito
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