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Tradução:R.C.Zarco, Extraído de:Eric Towers,”Dashwood: o homem e o mito”,Somerset:Crucible Publishers,1987
” ‘O infame Hell Fire Club de West Wicombe,organizou missas negras celebradas sobre os corpos desnudos de garotas recrutadas entre os locais camponeses.Era costumeiro aos que participavam de tais ritos,sorverem um pouco de vinho consagrado do umbigo destas garotas.A decoração interna do clube era alguma cousa incrível até mesmo para esta era degenerada;por exemplo,uma lanterna padrão consistia de um enorme morcego artificial completado com um pênis erecto.Essencialmente,as cerimônias eram criadas para servirem de paródia ao ritual orthodoxo da Igreja Católica Apostólica-Romana,mas aqui os participantes variavam suas atividades entre a luxúria e a cantoria de um lascívio hino.Lindas mulheres,totalmente nuas abaixo de robes de freiras,submetiam-se jubilosamente aos cuidados da gangue selvagem, que também tinha o incesto como uma de suas práticas correntes.É pouca surpresa que muitos dos participantes homens já eram impotentes quando atingiam trinta anos de idade.’
Este vívido relato das horas de lazer de Sir Francis Dashwood e seus amigos pode ser achado no ‘O Mundo Negro das Bruxas’,publicado em 1962,por Eric Maple.Isto não é de maneira alguma atípico dos elevados vôos de fantasia no quais os escritores que tratam de Dashwood indulgem à si mesmos.
Samuel Johnson,que viveu na mesma época que Sir Francis Dashwood,deu à sua opinião naquilo que poderia ser o trabalho mais instrutivo a ser escrito no que deveria ser a história da Magia.Claramente ele não era familiar com ‘A System of Magick,or a Theory of the Black Arts’,publicado por Edmund Curll em 1726 e supostamente escrito por Andrew Morton,na verdade um pseudônimo de Daniel DeFoe.Em sua própria época,muitas histórias de bruxaria,magia,feitiçaria e satanismo foram escritas por este Dr.Johnson que dificilmente saberíamos por onde começar.Em muitos de seus livros,Dashwood é representado como um excepcional exemplo de depravação humana.
A primeira ambiciosa biografia de Dashwood foi ‘Hell-Fire Francis’ de Ronald Fuller em 1939.As seguintes palavras,demonstram o tom do livro*:
‘Eu tenho tentado reunir ao longo das seguintes páginas tudo que se é conhecido ou adivinhado sobre as atividades do grupo de excêntricos,conhecidos entre nós como os ‘Frades de St.Francis de Wycombe’,e para o externo e menos elegante mundo como o ‘HellFire Club’.Um espetáculo de uma turba de exibicionistas e pervertidos construindo altares para as suas próprias obsessões não é algo moralmente edificante,nem é provável que somos nós curados de nossas próprias tolices pela cópula com as tolices de nossos ancestrais…Ainda assim é a função do historiador explorar não somente as iluminadas avenidas,mas também as ruelas e as ruas de cortiço**.Por mais repelentes e depravados que eles possam ter sido,as atividades dos Frades de Medmenham ocupam um obscuro nicho em nossa história.’
Fuller tinha o benefício do ‘Lives of the Rakes’ do chanceller E.Beresford,publicado em 1924,e a desvantagem de não conceber que o chanceller não fez distinção entre fato,fofoca e ficção.O ano de 1939 foi dificilmente um tempo favorável para o livro de Fuller ser publicado,e, no período de carnificina civil e militar que se seguiu,a atenção pública estava cativada pelos mais imediatos problemas do que a um recital da depravação do século dezoito.Em 1958 Donald McCormick julgou que tal interesse tinha suficientemente revivido,e os modos mudaram,para publicar ‘The Hellfire Club’.Embora ele apresentou o seu trabalho como uma séria investigação dos membros e das perversidades dos ‘Frades de St.Francis’,McCormick não possuiu escrúpulos ao entreter seus leitores com uma totalmente imaginária conversação de sua própria forja entre o poeta Paul Whitehead e uma jovem virgem nomeada Agnes,na taverna ‘George and Vulture’ em Londres.Para esticar a credulidade ainda mais para longe,ele também construiu uma ainda menos convincente entrevista entre outro poeta,o Rev. Charles Churchill,e uma jovem mulher que era evidentemente nenhuma virgem,sendo emprestada de uma sociedade meretrícia do senhor Hayes para o entretenimento dos Frades.
Como bases para o seu livro,McCormick aceitou que Dashwood reunia-se em intervalos regulares com uma dúzia ou mais de seus amigos para embebedar-se por toda uma noite em culminâncias na Abadia de Medmenham,perto de Marlow.Após a ceia mulheres passavam envolta da mesa com vinho do porto.As culminâncias foram transferidas,para as cavernas de Dashwood no condado de West Wycombe após 1763,quando elas tornaram-se mais sinistras.A autoridade para esta afirmativa foi o Dr G.B. Gardner,proprietário em 1950 da ‘Witches’ Mill and Teahouse’ em Castletown na Ilha do Homem.Este era Gerald Gardner (1884-1964),um homem de Merseyside que trabalhou por muitos anos no Extremo Oriente como dirigente de plantação e retirou-se novamente para a Bretanha em 1937.Em seus tardios anos,ele procurou reviver o que entendia serem os rituais de bruxaria medieval***.Este desfrutou de enorme popularidade na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos,sendo,geralmente, pensado que o título de Doutor foi garantido a Gardner como uma cortesia feita por seus seguidores.O rito principal gardneriano consistia de jovens homens e mulheres nus chicoteando uns aos outros suavemente dentro de um círculo desenhado com giz,um entretenimento do qual o Dr.Gardner derivou muitas horas de deleite inofensivo.
Deixando de lado a veracidade de suas autoridades em bruxaria e outras formas de associação satânica,McCormick apresentou Dashwood como um genial bêbado com um escárnio latino**** em seus lábios e com suas mãos ocupadas com as saias da mais próxima mulher amável.Este autor está tão longe da verdade quanto Fuller esteve em 1939 com os ditados de moralidade:
‘Afirmar que o Império Britânico foi inspirado e criado através da influênca de tais homens como os libertinos de Medmenham é tão ultrajante quanto entitulá-los de satanistas e decadentes. Todavia,pode ele ter sido criado por caprichosos,voluntariosos,libertinos e enlouquecidos como os Mendemenhamitas,os quais são nenhuma cousa a mais do que uma escusa para a ânsia nostálgica por dias mais espaçosos.Existem certos fatos sobre o declínio e queda da libertinagem dos quais explicam em parte,ao menos os políticos e sociais,pecados de omissão pelos quais tem suplicado a vida Britânica por mais de um século.’
Por mais dedicado que um homem possa ser ao sorver vinho de umbigos de garotas,é óbvio que ele ainda deverá ter muitas horas para outras menos lascivas transações.Com isto em mente,Dr.Betty Kemp,um professor universitário de St.Hugh,Oxford,publicou em 1967 ‘Sir Francis Dashwood,an Eighteenth-Century Independent’,um livro que descreve em detalhes sua carreira política.Sua visão do escopo era favorável ao extremo:
‘Na vida privada,Dashwood era um homem de inteligência,discrição e alguma originalidade. Honesto, corajoso, indômito, sensato, são frases usadas pelos contemporâneos para descrever sua conduta política;frases similares – desatentas à popularidade,sagacidade e generosidade,prontos patronos de novas idéias – são comentários atuais de seu caráter.’
Dr.Kemp atribiuiu a uma maledicente fofoca tudo que foi escrito sobre as reuniões em Medmenham,sua agradável teoria era que a Abadia fora usada como base para piqueniques e festas de canoagem.Seu retrato de Dashwood era de de um valioso e franco,talvez levemente sombrio,reformista.
Tamanho grande desvio da tradição de maldade não poderia ser permitida perdurar.Em 1970 um escritor americano,Daniel Mannix,reestabeleceu o equilíbrio com a publicação de ‘The Hellfire Club’,o mesmo título usado por McCormick somente dez anos antes.Mannix foi capaz de colocar orgias em seu progresso,mas achou à si mesmo de alguma forma perdido de como empreender alegações sobre satanismo.Resolveu esta problemática questão,decidindo que Dashwood e seus amigos eram mentalmente perturbados:
‘A capela era enroupada em negro e haviam missais em exibição contendo paródias obscenas das escrituras.De resto,a cerimônia provavelmente seguia as linhas gerais da tradicional Missa Negra ocasionalmente praticada hoje em dia por grupos mentalmente erráticos.A Missa era celebrada no corpo desnudo de uma mulher deitada no altar e a congregação bebia o vinho sacrificial de seu umbigo.O crucifixo era invertido e velas negras acesas.’
Talvez Mannix tenha sido inspirado pelas novelas de Dennis Wheatley,pois não existe nenhuma fonte para qualquer cousa disto.Mannix achou um lugar em seu livro para o imoral morcego com pênis erecto,do qual ele pegou emprestado de Mapple,o qual pegou emprestado de McCormick,aquele que parece ter sido o criador desta desagradável invenção.
Culpado mas não insano,foi o veredito aceitável para Geoffry Ashe em sua publicação de 1974 ‘Do What You Will’.O subtítulo de seu trabalho é ‘A História da Anti-Moralidade’,o que afirma o seu tema com exatidão.Ashe idealiza a tradição de viciosidade esboçada desde François Rabelais,derrotado monge transformado médico e escritor,através de Philip – Duque de Wharton,playboy,bêbado e maçom,passando pelo Marques de Sade,novelista e sodomita, Algernon Swinburne,masoquista e poeta,Aleister Crowley,magista negro e insano,para Charles Manson,falido cantor pop e genocida.Dentro desta perniciosa-doentia linha de sucessão,Ashe engenhosamente adequou Dashwood.É evidente que no tempo em que escrevia,Ashe foi consternado pela imoralidade de seu próprio tempo mas,diferente de Fuller em 1939,sentiu que talvez pudéssemos ser curados de nossas tolices com o choque das tolices dos nossos ancestrais.
Mesmo no tempo de Dashwood foi sugerido que os Franciscanos de Medmenham eram,atrás da fachada de bebedeiras e abuso de jovens camponesas,uma conspiração política secreta que tencionava destruir toda a liberdade civil.A sugestão ocorreu em ‘The Fruit-Shop’,uma publicação anônima,levemente pornográfica e dedicada a um aberto sarcasmo para com o Rev.Laurence Sterne,autor de ‘Tristam Shand’:
‘…um certo clube que se reune em uma casa não muito longe de Thames e que adquiriu para si uma notoriedade universal(nós deixamos para nossos leitores estabelecer em que sentido) por alguns de seus últimos procedimentos,nos quais eles deixam vazar seus entendimentos,para serem os abastardados e prostituídos instrumentos das maquinações ambiciosas de um único homem.’
É improvável que mesmo os originais leitores de ‘Fruit-Shop’ entenderam quem era o vilão citado.Ainda nesta obscura sentença,Ashe propôs que este era o ministro do Hell-Fire,pelo qual ele quis dizer do governo do qual Lord Bute foi por um curto período de tempo o líder e Dashwood chanceller do Ministério da Fazenda.Dentro desta superexcitada forma, Mannix pegou a mesma pista e pintou o quadro dos Franciscanos conspirando tenebrosamente contra a liberdade dos coloniais norte-americanos,sem dúvida nos períodos de descanso entre as Missas Negras.
Quando veio a tratar dos eventos na Abadia de Medmenham,Ashe procedeu mais cuidadosamente:
‘Wilkes eventualmente afirmava – não com conhecimento de primeira-mão,ele nunca foi do círculo interno – que os ritos ocorridos dentro da Abadia eram ‘Mistérios Saxônicos de Elêusis’ e libações eram feitas para ‘Bona Dea’ ou a Mãe Divina.Hoje em dia isto poderia ser saboreado como neo-bruxaria,Deusa,cultos de fertilidade e Robert Graves.Então deveria ser o número de membros internos treze,um ‘coven’.Na Inglaterra de George III a teoria antropológica estava ausente.Mas qualquer bom estudante clássico(e a ordem poderia adquirir um),deveria ter ao menos alguma vaga idéia da Grande Mãe com suas múltiplas formas e aspectos,e sagradas orgias e rituais de semeadura-e-colheita.As principais cerimônias de Elêusis eram empreendidas no meio-setembro,um tempo muitíssimo bem concordante com muitas indicações de importantes reuniões…’
O que foi proposto aqui é um ressurgimento de uma antiga religião de mistério como uma alternativa para o completo satanismo,pensa-se evidentemente que Ashe não aprovava ambas.
Outros incluíram Dashwood num compreensivo esquema de suas próprias fabulações.Um relato do desenvolvimento de uma Missa Negra foi publicado por H.T.F. Rhodes em 1954 como ‘The Satanic Mass’,um trabalho do qual o Dr.Johnson talvez tivesse considerado como útil,aquém do seu óbvio apelo para teólogos,exorcistas e estudantes das Artes Negras.Entre a seção dos serviços de aborto providos por Madame La Voisin para as senhoras de Paris no tempo do Rei Luis XIV,e a estória de fundacão de uma seita apocalíptica em 1840 por um gerente de fábrica de caixas de papelão,Rhodes trata com os eventos na Abadia de Medmenham.Lamentavelmente,muito do que ele tinha para dizer era meramente um longo parafrasear de Chrysal,novela de 1765 a qual retorna como um refrão na maioria dos relatos dos Franciscanos.É instrutivo examinar o pedigree deste muitíssimo parafraseado trabalho.Seu título completo é ‘Chrysal;ou as aventuras de um porco’ e era tencionado a ser uma novela satírica.Esta é construída de laboriosos escritos e não-conectadas séries de episódios escandalosos.O narrador é um porco dourado,do qual,conforme passa de mão em mão dentro do curso de transações ordinárias de pecúnia,observa as travessuras de seus variados donos.O recurso não foi um original e muito do conteúdo de Chrysal foi roubado de escritores anteriores.
Este curioso,sempre reimpresso,e muito citado trabalho foi escrito por Charles Johnstone,um advogado descendente de escoceses mas nascido na Irlanda e educado na Universidade de Dublin. Surdez progressiva tornou-lhe impossível a prática da lei,assim virou-se para a escrita como forma de viver.O primeiro volume de ‘Chrysal’ teve gênese em 1760 e vendeu bem o suficiente para encorajar o autor a continuar,pelos seguintes cinco anos,com os volumes dois,três e quatro.A descrição no frontispício ajuda muito para explicar o seu sucesso:
‘Aqui dentro são exibidas Visões de muitas Cenas impactantes,com Curiosas e interessantes Anedotas,das mais Notáveis Pessoas em cada ‘Rank’ da Vida na América,Inglaterra,Holanda,Alemanha e Portugal.’
Isto deve-se admitir:Johnstone insinuou abertamente que seus personagens eram bem-conhecidos membros da Sociedade e que seus leitores estavam sendo inseridos dentro da estória,um plano usado com grande sucesso comercial em seu próprio tempo.’Chrysal’ foi publicado de forma anônima,o que pareceu ser um indicativo de que Johnstone estava apreensivo do que as ofendidas ‘Notáveis Pessoas’ pudessem fazer em retaliação.Na ocasião,ninguém pensou que valesse à pena tomar qualquer sorte de ação.O volume que apareceu em 1765,continha uma longa seção sobre o grupo de ‘Notáveis Pessoas’ que se encontravam numa ilha em Thames em uma construção erigida por ‘uma pessoa de flutuante imaginação no modo dos monastérios que ele tem visto em outros países’ para o propósito de indulgência em inomináveis viciosidades e venerações ao diabo.Johnstone incluiu estes capítulos porque John Wilkes,um agitador popular,foi expulso da baixa Casa do Parlamento Britânico no ano anterior por publicar um sensacionalista jornal.Ao mesmo tempo,Lord Sandwich feriu a moral de Wilkes postando-se lendo para a alta Casa do Parlamento Britânico um imoral poema,o célebre ‘Essay on Woman’,composição da qual Wilkes entusiasticamente contribuiu.Qualquer conto que ligasse Wilkes e Sandwich de uma maneira vergonhosa era certo que venderia bem.
A passagem no ‘Chrysal’ na qual acusações de Satanismo em Medmenham tem sido baseadas desde então,narra uma invocação do Diabo pelo grupo de ‘Notáveis Pessoas’ em sua privativa capela.Um dos presentes,mais cético que o resto,escondeu um babuíno no peito ‘vestido em uma fantástica vestimenta na qual infantes imaginações vestem demônios’ e,no clímax da funesta cerimônia,libertou-o.Tão assustadoramente sem raciocínio,uma das outras ‘Notáveis Pessoas’ gritou:’Poupa-me,gracioso Diabo,Eu não sou nada mais que um meio Pecador.Eu não tenho sido tão malévolo quanto tencionava!’
Johnstone deixou subentendido que Wilkes era o praticante da piada e que Sandwich era o tolo aterrorizado.Neste conto pode ser detectado um eco distante de uma travessura feita pelo próprio Dashwood muitos anos antes na Capela Cestina em Roma,a qual será recontada no seu devido lugar,e que pôde ter atraído a atenção de Johnstone na forjação da humorística fofoca.Mais provavelmente, Johnstone usurpou o incidente de Ned Ward,do qual o livro ‘The Secret History of Clubs’ foi publicado em 1709 quando Dashwood não possuia mais do que um ano de idade e nem Sandwich ou Wilkes eram nascidos.Neste trabalho de duvidosa autenticidade,Ward afirmou que um dos muitos clubes em Londres naquele tempo era o ‘Atheistical Club’,composto por libertinos que escarneciam a Cristandade, blasfemavam incrivelmente e ‘faziam valer a causa do Diabo’.Eles foram guiados por um piadista que se vestia de Diabo e surgia em sua convocação vindo de uma alcova secreta.
Johnstone nunca foi convidado para Medmenham,e tem sido dito que ele foi ajudado em suas invencionices pelo rev.Charles Churchill,o qual morreu de bebedeira alguns meses antes deste volume de ‘Chrysal’ ter sido publicado.Churchill foi a pelo menos um jantar em Medmenham como convidado de Wilkes,embora não tenha dado um passo dentro do trancado aposento da capela.Rhodes,em ‘Satanic Mass’,aceitou tal como:'(…)não existe nenhuma informação detalhada concernente aos ritos e cerimônias feitas por Sir Francis Dashwood e seus monges na Abadia de Medmenham,onde eles veneravam o Demônio…’. No entanto,Rhodes insiste que ‘Chrysal’ foi fundamentado em fatos largamente considerados como certos.Para o seu crédito,recusou aquiescer com a teoria proposta por Mannix aonde os Franciscanos eram mentalmente perturbados,e,em seu lugar,deu gênese à sua própria teoria alternativa:
‘Enterrado abaixo de muitas camadas de sexual e dionisíaca asneira,estava o deus-duas-faces com especial ênfase sobre o Satânico.Parece que duma confusa e enlameada forma Sir Francis tenha sido o iniciador das idéias,desenvolvendo depois este mal como um processo,não uma substância.Assim para chegar-se ao bem,o mal deve ser experimentado primeiramente.Não articulado o suficiente para formular esta teoria,alguma cousa deste tipo foi refletida em seu inconsistente comportamente ético e na de seus imitadores.’
Rhodes,aqui,parece estar apresentando Dashwood como um Existencialista nascido antes de seu tempo,um precursor de Jean-Paul Sartre e seus depressivos seguidores do pessimismo,porém saído do do século dezoito.
Talvez,pensando bem,escrever uma ‘History of Orgies’ deveria ser também uma difícil empreitada,pois este ramo de entretenimento ordinário assume lugar no ambiente privado e raramente,se alguma vez,por participantes poucos.Ainda em 1966,Burgo Partridge publica tal livro.O título é enganador,pois pouco é dito sobre orgias.Partridge começa com alguns menos-conhecidos episódios na História da antiga Grécia e Roma,pincelando algo sobre a rainha irlandesa do século dezessete de quem por capricho expôs a menor metade de sua persona em público,e notou alguns desagradáveis incidentes na vida do papa João XXII e o Lord Castlehaven,que foi decapitado em 1631 após ter sido declarado culpado por sodomia e por ter dado suporte no estupro de sua mulher e filhas.Em esperado curso,Dashwood faz uma aparição:
‘Era ele que fazia a função de sacerdote no sinistro preparatório para as cerimônias dentro da capela,aquele que administrava o pervertido sacramento para o babuíno de Medmenham,aquele que iniciava novos irmãos dentro da ordem,aquele que oferecia libações para o Demônio.’
Este novo ítem de informação,que Dashwood administrava o sagrado sacramento da Igreja Cristã para um macaco,foi roubado por Partridge de ‘Memoirs’ de Sir Nathaniel Wraxall,um colecionador de fofocas do início do século dezenove,e que talvez tenha sua origem no bem conhecido incidente mencionado por Horace Walpole:Marinheiros britânicos sob o comando do Almirante Vernon,desembarcaram em uma das ilhas italianas e,achando os nativos na igreja,pegaram o crucifixo do padre e penduraram-no em volta do pescoço de um macaco de estimação que pertencia a um dos bucaneiros a fim de zombar do Catolicismo.Na versão de Partridge das orgias satânicas,não existia menção ao gigantesco morcego com o pênis erecto de Maple.De fato,Maple per se,desenvolveu algumas dúvidas quanto a autenticidade do seu ofensivo ‘object d’art’,pois em sua publicação de 1973,’Witchcraft’,ela tinha desaparecido.Existem outras notáveis mudanças em relação ao seu anterior livro,citado no início de seu capítulo:
‘Durante o século dezoito,elevou-se entre certos aristocratas ingleses uma mórbida obsessão pela veneração do Diabo e sacrifício humano.Dentro de apenas uma década da abolição da lei contra bruxaria,já estavam virando suas atenções para a direção da Missa Negra.Em 1745,um grupo destes cavalheiros estabelece o Hell Fire Club nas ruínas da Abadia Cistina de Medemenham em Thames, próximo a Marlow;posteriorente,o Club foi transferido para High Wycombe.Entre os membros, incluiam-se alguns dos maiores nobres em terra e o seu mestre de cerimônias era Sir Francis Dashwood,um culto libertino.A decoração do clube demonstrava belíssimas estátuas de sátiros e ninfas em posturas sugestivas,e havia em adição à capela um local onde novos membros eram solenemente dedicados a Lúcifer.Ávidas garotas eram recrutadas de bordéis de Londres para tomar parte das orgias,que eram tão intensas ao indivíduo que muitos dos jovens cavalheiros eram reduzidos à impotência antes de terem atingido a idade dos trinta.’
Numa matura reflexão,Maple aqui substituiu sacrifício humano para o menos espetacular crime de incesto,enquanto profissionais de Londres tiveram de substituir a totalidade de garotas camponesas. O sinistro morcego deu lugar a estátuas de sátiros e ninfas.Todavia,Maple continuou a insistir que a impotênca na idade dos trinta foi o principal destino destes degenerados.A fonte para esta interessante,mas caluniosa afirmação,foi certamente a bem conhecida novela erótica do século dezoito,’Fanny Hill’:
‘Aos escarços trinta ele já tinha reduzido a sua força de apetite para uma amaldiçoada dependência de forçados provocativos,encontrava-se deformado pelo poder natural de um corpo exaurido e demolido a sedimentos pelos constantemente repetidos excessos de prazer no qual foi feito o trabalho de sessenta invernos em apenas algumas primaveras de vida…’
É uma fortuna que o Marques de Sade,um contemporâneo de Dashwood,nunca tenha visitado a Inglaterra,pois alguns dos mais impalatáveis episódios de suas novelas poderiam agora serem considerados como relatos de testemunhas oculares dos procedimetos dos Franciscanos.
Em sua ‘History of Witchcraft,Sorcerers,Heretics and Pagans’,publicado na Inglaterra em 1980,o professor Jeffery Russell da Universidade da Califórnia aproximou-se da lenda dos Franciscanos com algum ceticismo:
‘Sir Francis Dashwood presidiu o ‘Hellfire Club’,o qual pôde jactar-se de conter un número não inexpressivo de distintos e liberados espíritos,incluindo Benjamin Franklin.O clube,reunia-se nas cavernas naturais de Buckinghamshire para usufruir de comida,bebida,jogos e sexo.Como na velha tradição,secretamente encontravam-se à noite no subterrâneo praticando alguma cousa análoga a orgias.Porém,fizeram isto em ridente paródia.Aproveitaram-se de suas reputações de dissolutos,mas nenhum deles acreditava no inferno ou no Diabo – suas saudações para Satã eram inteiramente jocosas…’
O professor Russell,foi induzido ao erro por sua distância histórica e infeliz escolha de guias bibliográficos.Em sua “Bibliografia”,viam-se listados os trabalhos de H.T.F. Rhodes,Eric Maple e o de Gerald Gardner donde McCormick retirou grande suprimento.
Nenhum relato de lendas populares sobre os Franciscanos poderia ser completo sem a opinião do experimentado rev.Montague Summers,autor da definitiva versão inglesa do “Malleus Maleficarium” – um guia para queimadores-de-bruxas,uma vez em grande demanda.Em “Witchcraft and Black Magic”,primeiramente publicado em 1926,ele escreveu:
‘Para um satanista como Sir Francis Dashwood,a fundação de uma demoníaca fraternidade e a celebração do seu ritual goécio no atual santuário onde uma vez o Santo Sacrifício tinha sido oferecido dia após dia e togados monges ajoelhado-se em penitência e oração,deu alguma cousa de um extra e refinado tirilintamento de maldade que ele duramente esperou para indulgir e deleitar…Os visitantes de Medmenham eram lascivos dissolutos que se encontravam para as práticas de desenfreada obscenidade e, obviamente,um fato além de questão,faz-se que é certo que entre os vis estavam os mais vis ainda,os eleitos,ou,em claras palavras,os satanistas,os devotados à veneração do demônio.’
As rolantes cadências da prosa de Summers,resumem uma certeza moral que oculta somente por um momento que as afirmações não são fundadas no fato,pois ele imediatamente faz citações do “Chrysal” e falha ao mencionar que este era uma novela satírica,não um relato de uma testemunha ocular.
Quiçá seria tedioso refutar,ponto a ponto,os erros de fato,desconhecidos surrupios e vôos de imaginação com os quais os relatos populares sobre os Franciscanos são adivinhados.Em sumário,Dashwood pousa acusado de uma impressionante quantia de crimes envolvendo conduta anti-social,assassinato,incesto e blasfêmia.Isto sem mencionar os menores e menos deploráveis crimes de viciosidade e libertinagem com garotas camponesas,além de comprazer-se com conhecidas prostitutas.Tudo isto,é útil ,- se insatisfatório – de relembrar,é no fundo baseado numa novela cômica propondo-se a revelar os mistérios de uma trancada capela em Medmenham.Os muito poucos que tiveram acesso a esta capela,deixaram nenhum relato para quais propósitos fôra usada.
Com exceção do dr.Kemp,historiadores profissionais relegam Dashwood a uma desconsiderada nota-de-rodapé em uma análise da curta vida administrativa de Lord Bute. Fazendo isto,reforçam a impressão dada por mais estéreis escritores de que ele era um obscuro degenerado,puxado da rudeza rural para preencher um importante posto no governo de uma nação em algo muito similar ao imperador Calígula do qual é dito ter apontado seu favorito cavalo como cônsul.A origem de tal desgosto e recriminação nasceu em Dezembro de 1708,como o mais velho filho de um rico homem de negócios que adquiriu o baronato.Como um mancebo, viajou largamente,interessando-se em política até depois de eleito na baixa Casa do Parlamento Britânico por vinte anos e na Alta Casa do Parlamento Britânico por outros quase vinte,servindo como Chanceller do Ministério da Fazenda em 1762/3.No curso de uma longa,ocupada,e deleitante vida,exerceu a função de liderança na fundação de uma esclarecidade sociedade e construiu uma “casa-país” itálica em West Wycombe.No meio de seus quarenta anos,esrabeleceu banquetes de verão em Medmenham,os quais tem sido fonte de selvática especulação por mais de duzentos anos.
O curso da vida de Dashwood é mais divertido e instrutivo do que imaginários contos de veneração do Diabo e arrebatação de virgens.As razões destes contos,e de seus ficcionais autores,serão examinadas em seu apropriado lugar.O propósito deste livro é expulsar as acumuladas camadas de ficção que,como papel-de-parede de mau gosto,são colocadas sobre um mural original.Em suma,mostra-se o gosto do colocador do papel-de-parede enquanto esconde alguma cousa muito mais interessante e de mérito.
Notas do Tradutor:
*O seguinte parágrafo estava,no escrito original saxônico,excertado no parágrafo precedente da tradução.Contudo por questões cognitivas,decidi transformar os pregressos períodos,contidos no parágrafo anterior,em um novo parágrafo independente.
**A expressão “ruas de cortiço” foram uma tentativa de traduzir a palavra inglesa “slum”,a qual não possui paralelo imediato no Português.Tal palavra,significa algo como:”Ruas sórdidas e altamente superpopulosas pela freqüência por pessoas de baixa renda”.Assim,achei a expressão(por mim forjada) “ruas de cortiço” como perfeitamente articulada com o significado do supracitado verbete.
***O autor,aqui,parece desprezar totalmente a obra de Gerald Gardner(a despeito do que se segue em sua narrativa e este dá a entender ao longo do livro).Na realidade,Gardner tentou ressuscitar/recriar as religioes pagãs e a bruxaria anteriores à formação do Cristianismo, portanto pertinentes a uma época anterior a Idade Média,intertextualizando-as para uma ótica condizente com a postura do Homem pós-moderno.Assim,Gardner tornou-se um dos criadores o que viria a ser conhecido como Wicca:Uma sorte de neo-paganismo que funde a concepção pagã clássica às concepções culturais pós-modernas e religiosas thelêmicas(recorde-se que Gerald,viu-se mui influenciado em suas percepções pela figura de Crowley e por seus anos de “estadia” na O.T.O).
****A palavra “latino” aqui se refere ao idioma latino(Latim),e não a uma relação étnica(povo latino).
1658 – 1724
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