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Sitra Achra

Algumas notas sobre o Ritual de Destruição LaVeyano

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Antes de qualquer ritual de destruição a primeira coisa que eu faço é descobrir se eu não consigo matar o alvo por mim mesmo. Mas não se assuste, quando digo matar por mim mesmo quero dizer excluir totalmente a pessoa do meu universo pessoal. Essa fórmula já estava lá atrás na 8º regra satânica da terra quando laVey sugere: “Não reclame do que você não precisa se submeter”.  Muitas vezes para se livrar de uma mosca não é necessário veneno, apenas abrir a janela.

 

Outro ponto importante é que muitas vezes criamos personagens em nossas cabeças, personagens que amamos odiar mas que são muito diferentes das pessoas reais. Talvez aquele ataque, aquela ofensa ou injustiça que você tenha sofrido não seja nada disso. Talvez a pessoa simplesmente não tenha parado para pensar no seu lado. Esse mecanismo é uma armadilha do ego muito semelhante a aquela quando nos apaixonamos por alguém e mesmo sem conhecer idealizamos a pessoa.

 

O ego é como um cachorro para o Self. É o melhor amigo do seu Eu Superior desde que mantido em seu devido lugar. É fonte de alegria mas também de nossas dores. Para dizer, “Eu me rendo”, “Eu te amo” ou “Eu te odeio” é primeiro preciso dizer Eu. Todos os nossos desejos e como nos sentimos atacados, tudo isso vem de nosso ego. Gostamos tanto de nós mesmos que imaginamos que às pessoas nos amam ou nos odeiam e que agem para nos agradar ou prejudicar. Inconscientemente nós consideramos parte importante da vida de todos os que conhecemos. Mas na maior parte das vezes as pessoas estão ocupadas demais pensando em si mesmas para pensar em você. Por isso faça uma boa autocrítica e então busque estabelecer algum tipo de diálogo. E só então se a pessoa continuar conscientemente sendo um estorvo libere sua raiva. Na verdade esse processo deixará sua ira ainda mais forte e motivada.

 

Por essas razões  eu só usei o ritual de destruição em duas situações na minha vida. Nas duas situações em que entendi que o ritual de destruição era necessário meditei por uma semana – antes de tomar a decisão final. Essa espera, amadure tanto sua magia como seu entendimento. Por outras vezes que senti o impulso de realizar o procedimento, foi essa mesma espera que, me fez enxergar melhor a situação, sem utilizar o óculos da raiva e então procurar uma maneira positiva de virar a situação ao meu favor.

 

O que se chama ‘pacifismo’ é muitas vezes mero bom senso. Vivemos ainda pela lei da Selva, sempre seremos animais e ainda estamos sob o olhar do mais forte. Como satanistas, não podemos negar a realidade tampouco fantasia-la. Devemos procurar agir com discernimento e procurando ser o mais justo possível, avaliando as situações e aplicando esse tipo de ritual apenas em situações calamitosas.

 

Meu primeiro ritual de destruição foi dentro de um contexto pessoal. Eu tinha dezesseis anos na época, estava me aventurando em goécia e outras artes negras. Já era membro da antiga Igreja de Lúcifer e com o contato dos outros membros, expus a minha situação – ao reverendo Óbito, que por ser meu amigo e mais velho que eu, pude confiar a ele. Após olhar a situação através de um angulo externo e sem nenhuma inflamação emocional, concordou em me auxiliar. Procedemos da seguinte forma:

 

Não tínhamos desenvolvido nada semelhante a Urna Negra que só criamos no Templo de Satã então na ocasião estávamos só eu e o Óbito no local onde costumávamos fazer as reuniões. Seguimos então o roteiro das trevas  descrita na Bíblia Satânica, começando com a declamação da Invocação a Satã na tradução do Ahriman seguida do chamamos os nomes infernais. Foi curioso que, senti que um dos nomes específicos – Sammael – estava pronto para me atender. Na hora pensei ser algo da minha cabeça, e puxei este assunto depois com o reverendo. Falarei disso mais a frente.

Chamamos os nomes dos quatro príncipes do Inferno e então procedemos ao chamado de destruição. Procurei realizar o chamado de maneira mais intensa possível, já que aproveitando o fato que não havia vizinhos no andar em que o reverendo morava, pude expressar a chama negra que queimava em mim. Então eis que chegou a hora de realizar os atos de vontade – simbolizar a vítima de alguma forma e então destruir seu símbolo.

Aqui vai uma dica prática para quem for fazer um ritual assim. Compre carne moída e coloque dentro de plastico e este dentro de uma meia. Faça então o boneco com essa meia com a foto do rosto da pessoa. Isso dará ao seu alvo o peso, formato e tamanho próximo de um recém nascido, com toda a fragilidade e vulnerabilidade própria dos mesmos.

 

Foquei todo meu ódio naquele momento, enquanto o reverendo focava toda sua concentração e indignação, naquele ato  de assassinato simbólico. Por fim, queimamos o boneco em um caldeirão enquanto entoávamos as chaves enoquianas apropriadas. Nesse caso, usamos a décima primeira e a décima terceira.

 

O sentimento de paz que prosseguiu o ritual era o sinal necessário de que havíamos conseguido conjurar as forças das trevas e então trabalhar com elas de forma adequada. Esse sentimento deve ser seguido após todo ritual, pois ele indica que você conseguiu expressar sua vontade de forma clara e que estava em harmonia com as forças evocadas. O Reverendo, na época assim como hoje muito mais experiente que eu, me explicou muito sobre os efeitos posteriores desse ritual, tanto em mim como no alvo.

 

Expus o sentimento que tive ao chamar o nome de Sammael e então o Obito me disse algo muito importante. Não me recordo as palavras exatas mas não me esqueço sua lição. As aspas são só para me ajudar a encaixar as palavras em sua boca:

 

“Nós estamos acostumados a esperar vozes e imagens saindo das sombras e da fumaça do incenso. Demônios não funcionam assim – eles podem ser sutis como um simples pensamento ou então uma sensação. A maior parte dos magistas erram por esperar grandes efeitos e ignorar os pequenos. O diabo literalmente está nos detalhes.”

 

A frase dele me capturou. Hoje entendo que não há diferença entre algo que ocorre na sua cabeça e algo que ocorre fora dela. Qualquer manifestação que ocorra terá que necessariamente passar pela sua cabeça para que você possa percebê-la então não há diferença prática para o magista. Gosto da política de lado diurno e noturno do Temple of The Vampire então dou ainda mais ênfase a coisas que acontecem dentro da câmara ritual. Minha sugestão é que se você “acha” que experimentou alguma coisa durante um ritual considere que experimentou.  Portanto resolvi conhecer, procurar e interagir mais com Sammael, mas isso fica para outra história.

 

Terminado o ritual fomos jantar e depois fui para a casa da minha namorada. Ela me disse que eu estava diferente, não sabia o porque, mas estava. Durante a semana seguinte tive vários sonhos com o alvo, sonhos profundamente vividos que me faziam ficar refletindo se, eu estava me auto sugestionando ou se realmente estava acontecendo algo mágico. Até que duas semanas depois, eis que o Diabo mostra seus chifres: o alvo bate o carro. É internado. Precisou fazer cirurgia e acabou tendo um membro decepado. Ele ficou aproximadamente dois meses no hospital. O pouco que chegava a mim, era que apareciam constantes complicações que impediam a sua alta.

 

Por outro lado eu também estava um pouco atormentado. Eu tinha pesadelos vividos com várias situações e não me recordava por completo ao acordar. Via vultos constantemente. Por vezes, peguei escutei me chamarem. Logo o que eu entendia como tormento na verdade, era a forma deles dizerem suas boas vindas. E é importantíssimo entender isso – estava lidando com as forças das trevas. Eu não havia ainda lido Jack Parsons mas não precisei do liber 49 para aprender que estas formas não são “más” por natureza, mas forças cegas, direcionadas pelo magista.

 

Acredito que, por mais que o banimento do pentagrama inverso que eu eu praticava diariamente, as forças que evoquei no ritual não eram banidas pois tinham se tornado parte de mim. E esse entendimento me foi importante pois daí pude compreender o quanto trabalhar com forças destrutivas estava sendo benéfico para meu crescimento. Pude enfrentar meus medos e me tornar indiferente a “perturbações”. Este foi o maior presente que recebi das Trevas.

 

Por fim, quero deixar um pequeno alarde: quando se pratica rituais de destruição tende-se a gostar do gosto de sangue e o vício é um perigo real. Conforme você vê os efeitos, se sente poderoso, mas este é só mais um truque do seu ego. É justamente aí aonde a maioria dos satanistas caem – eles querem ser poderosos, sombrios e vingativos. Avisei isso quando traduzi a goécia em 1999 e agora, aviso novamente. Magia não pode se tornar uma muleta e tampouco uma desculpa. Magia precisa ser prática e resolver as situações de sua vida. E magia de destruição precisa ser feita somente em casos realmente graves, não por qualquer ofensa.

 

Afinal, quando se coloca no lugar Deus, deve pensar e agir como Ele. Deus não se ofende com qualquer blasfêmia, pelo contrário, ri delas assim como de seus blasfemadores.

por Morbitvs Vividvs


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