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“Satã demanda muito mais trabalho do que simplesmente assinar um pacto de sangue.”
– Anton Szandor LaVey, A Bíblia Satânica
A esmagadora maioria das pessoas pensa que “estar à serviço de Satã” consiste em promover guerra e destruição, derramar sangue inocente de crianças não batizadas e virgens em rituais de sacrifício, invadir cemitérios e violar túmulos, queimar, depredar ou pichar com mensagens de protesto os templos de religiões monoteístas, ou cometer atentados contra os líderes das mesmas. Infelizmente, o que tal conceito tem de errado e distante da verdade, também tem de arraigado no imaginário popular. Isto, é claro, graças à propaganda da Igreja (uma metralhadora de vomitar mentiras), e Hollywood, que obviamente prefere adotar uma postura sensacionalista e faturar milhões do que revelar uma verdade simples e não ganhar nada com isso. Pois como disse o Papa Negro, manchetes de assassinatos na capa de jornais proporcionam mais vendas do que encontros no Garden Club. Se o pessoal do cinema sabia ou não que estava passando uma imagem errada, eu não sei dizer e não vem ao caso. Mas quanto à Igreja, pelo menos os altos escalões certamente sabiam. E aqui vale lembrar uma curiosidade: eles ganharam um bom dinheiro batizando filhos de pais apavorados com a possibilidade de “bruxas” raptarem suas crias – já que só os não batizados seriam escolhidos para sacrifício, ou seja, as bruxas devem ter passado por uma má fase devido à escassez no estoque de bebês não consagrados a Deus, pois a Igreja conseguiu mesmo fazer essa moda pegar berrando o slogan “batize seu filho ou ele será sacrificado!”. E é óbvio, eu não poderia deixar de incluir entre os responsáveis por este retrato distorcido e manchado os pseudo-satanistas que pululam por aí – que ao contrário de fazerem algo em prol de seu “pai”, como dizem, só o difamam mais ainda e pioram sua reputação.
Mas frente a estas palavras, a multidão perguntaria surpresa em uníssono: Se isto não é estar à serviço de Satã, então o quê, afinal, o é?
Talvez os maiores e também melhores exemplos do que é estar à serviço de Satã possam ser encontrados no mito cristão da Serpente do Éden, e no mito grego de Prometeu – que no fundo são absolutamente a mesma coisa. A Serpente do Éden incitou Adão e Eva a provarem o fruto proibido da árvore do conhecimento, e foi punida por isso, tendo que rastejar sobre o seu próprio corpo por toda a eternidade. Com Prometeu não foi diferente: ele ousou levar o fogo dos deuses até a humanidade e seu castigo foi permanecer acorrentado vendo seu fígado ser comido por uma águia e ser regenerado, para que seu suplício fosse eterno. É interessante notar que nenhum dos dois estava agindo por interesse próprio, em outras palavras, não iriam ganhar nada com isso – bem pelo contrário. Aqueles que estão a serviço da humanidade, de sua verdadeira evolução e progresso, sabem muito bem que não devem esperar gratidão ou recompensa alguma – os cientistas queimados em fogueiras são prova e testemunhas disso. Pois da mesma forma que a Serpente, Adão e Eva foram também punidos, e estes condenaram-a igualmente, dando origem ao pensamento “certas coisas é melhor nem ficar sabendo.” Aliás, “saber” vem da mesma raiz da palavra “sabor”. O caminho mais curto para a felicidade é a ignorância, e a sabedoria o atalho direto para o sofrimento. Um exemplo simples e prático é o da pessoa que não sabe que é traída, que é adotada, ou que ainda não sabe que um ente querido morreu. Cada vez mais o Paraíso parece o lugar dos ignorantes e o Inferno a terra dos cientes.
Estar à serviço de Satã consiste em incentivar a busca de respostas, a vontade de saber, a procura pela verdade, o questionamento, estimular a curiosidade. Não é à toa que a Ciência e seus adeptos por muito tempo foram considerados “coisa do Diabo”, como ilustra muito bem Dan Brown em seu livro Anjos e Demônios. Poderíamos até dizer que a Serpente do Éden foi a primeira grande incentivadora da Ciência, e Adão e Eva os primeiros cientistas! A Serpente estimulou-os a saber, a provar, ela sugeriu uma experiência, e eles realizaram-na. Porém, devido a esta experiência eles perderam seu “laboratório” inteiro – experiências sem riscos não existem, se não houver nenhum risco, então na verdade não é uma experiência mas algo que já foi feito de modo que tudo se torna previsível.
Em poucas palavras, estar à serviço de Satã é combater a ignorância – uma das coisas que Satã representa é sabedoria pura. Mas não se engane: não é sair pelas praças como um profeta louco empunhando um cajado e gritando. Plantar a semente da dúvida é o primeiro passo para aquele que deseja agradar ao Diabo e prestar-lhe algum serviço. O que isto quer dizer? O Satanismo, diferentemente das outras religiões, não impõe respostas prontas e inquestionáveis e lhe diz “isso é tudo o que você precisa saber”. Pelo contrário, ele lhe diz que você precisa saber sempre mais, pois o Universo é infinito. O Satanismo não diz que levantou o véu, viu a verdade absoluta e veio trazê-la até a humanidade. Como diz o próprio nome, ele é realmente o oposto, pois só traz perguntas e não respostas como todos os outros sistemas religiosos fazem. Em primeiro lugar, ele fala sobre a existência de um véu, e então deixa por conta das pessoas irem até ele e levantá-lo. Ele provoca, incita e instiga, ao invés de forçar. Estar à serviço de Satã não é tentar enfiar goela abaixo, mas sim preparar algo de cheiro agradável que atraia pessoas com vontade de saboreá-lo. Estar à serviço de Satã não é arrastar alguém até a porta proibida, abrí-la e atirar este alguém lá dentro. É primeiro contar-lhe sobre a existência de uma porta proibida, falar-lhe sobre o que pode existir além dela e deixar que a própria pessoa decida. Em outras palavras, poderia-se dizer que estar à serviço de Satã é exatamente TENTAR. Se você quer que alguém tome conhecimento de uma certa verdade, não deve levar tal verdade nua e crua até ela, mas sim primeiro abrir-lhe o apetite com a DÚVIDA. Pois onde há dúvida há liberdade, e é assim que se “liberta” alguém. A dúvida é a fresta por onde a verdade escorre, sem a dúvida a verdade não pode chegar até ninguém. É verdade que algumas descobertas acontecem por acaso, mas na maior parte das vezes primeiro se pisa no degrau da dúvida e depois no da verdade. Crianças são naturalmente satânicas não só devido a sua capacidade de agir espontaneamente e (ainda) serem elas mesmas, sem qualquer freio ou condicionamento, mas também por sua grande vontade de questionar tudo sem medo de represálias. E é bom lembrar: a convicção pode ser uma inimiga tão perigosa para a verdade quanto até mesmo a própria mentira.
Se diz que a pena costuma ser mais poderosa do que a espada, e isso não deve ser interpretado apenas como uma referência à lei, mas sim à divulgação de idéias ou mesmo para puro e simples ataque a qualquer coisa. Você presta muito mais serviço à Satã escrevendo um livro (declaradamente satânico ou não) do que sendo um Varg Vikernes. Este pelo menos teve o bom senso de nunca se denonimar satanista, mas é um exemplo seguido e “admirado” por muitos que assim se intitulam. Mas escrever é apenas um exemplo dentre uma infinidade de formas de “estar à serviço de Satã”. Por exemplo, um político que cria uma lei dando mais liberdade (em qualquer aspecto) aos cidadãos de seu país está prestando maior serviço ao Diabo do que muitos de seus “filhos” ou “adoradores”, como tantos gostam de se chamar. Este exemplo de um político nos mostra uma realidade interessante: muitas pessoas estão à serviço de Satã sem saber. Poderíamos dizer isso de toda a indústria pornográfica e de muitos artistas, e não necessariamente músicos! Os “agentes” de Satã poderiam ser divididos em três classes: assumidos (pessoas como LaVey, Gilmore, Marilyn Manson e outros), secretos (divulgam o Satanismo disfarçado) e inconscientes (jamais imaginariam que prestam grande serviço à Satã). Num ponto o Satanismo não difere das outras religiões. A palavra religião vem de “religare”, e seu objetivo seria religar o homem à Deus. No Satanismo, nos religamos à Satã, realmente tornando-nos veículo e canal para sua manifestação aqui na Terra. Nos tornamos Satã. Somos a “encarnação do mal”, os agentes da oposição, os enviados de Satã!
Estar à serviço de Satã é trabalhar silenciosamente (ou não) em prol da liberdade – fruto do conhecimento, a verdade o libertará – e evolução, ajudando a firmar e estabelecer a Nova Era. É erigir sobre a Terra o Templo Invisível de Satã, e fazer da Terra este Templo.
Rasgamos a venda que cobre os olhos da humanidade sem esquecer-se de que os cegos continuarão sem ver.
Descosturamos as pálpebras daqueles que são capazes de suportar a dor.
Chamamos os Filhos do Sol sem esquecer que os surdos não podem ouvir tal som que está além de sua audição.
Levamos o fogo dos deuses até a humanidade, para beneficiar quem dele souber fazer uso e queimar os inaptos.
Não almejamos transformar porcos em tigres, mas sim despertar os tigres adormecidos. Pois deve haver mais embaixo do que em cima, como nos ensina a pirâmide. Deve haver mais presas do que predadores. Deve haver mais alimento do que bocas, de modo a garantir a fartura. Num mundo só de predadores, do que eles iriam se alimentar? Que nem todos sejam iguais a nós, porém, que os nossos irmãos não passem pelo sofrimento de caminharem sós!
Os religiosos fanáticos tem mesmo razão quando dizem que certas pessoas “estão à serviço de Satã”. Pois nós estamos a nosso serviço, já que somos Satã. E por extensão, também a serviço da humanidade. Nós somos os enviados do Inferno à Terra.
Então, para o terror e medo das massas ignorantes, nós admitimos e bradamos com orgulho:
SIM, NÓS ESTAMOS MESMO À SERVIÇO DE SATÃ!
We really are K.I.S.S.
Hail Satan!
Por Fênix Constant
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