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Martinismo

Cavalos, carruagens e cocheiros

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Papus

Vistes alguma vez um fiacre (coche, carruagem) transitando pelas ruas de Paris? … se observares atentamente este fiacre, estareis em condições de aprender rapidamente a mecânica, a filosofia, psicologia e sobretudo, a magia. Se minha pergunta … vos parece absurda é que não sabeis ainda observar. Olhais, mas não vêdes; experimentais passivamente sensações, mas não tendes o costume de as analisar, de procurar as relações das coisas. … Todos os fenômenos físicos que ferem nossos sentidos, não são mais do que reflexos das vestes de princípios mais elevados: as idéias. …

Voltemos ao nosso fiacre. Uma carruagem, um cavalo, um cocheiro, eis toda a filosofia, eis toda a magia. … Se o ser inteligente, o cocheiro, quisesse pôr em movimento seu fiacre sem o cavalo, o carro não andaria. … [Entretanto] muitos supõem que magia é a arte de fazer mover fiacres sem cavalos ou, traduzindo em linguagem um pouco mais elevada, de agir sobre a matéria pela vontade e sem intermediários de espécie alguma. … Observastes que o cavalo é mais forte que o cocheiro e que, por meio das rédeas, o cocheiro domina a força bruta do animal que ele conduz? O cocheiro representa a inteligência e, sobretudo, a VONTADE, o que governa todo o sistema … A carruagem representa a matéria, o que é inerte … O cavalo representa a força.

Obedecendo ao cocheiro e atuando sobre a carruagem, o cavalo move todo o sistema. [O Cavalo] é o princípio motor … elo intermediário entre a carruagem e o cocheiro, elo que prende o que suporta (matéria) ao que governa (pensamento, inteligência). [Em outras palavras] … O cocheiro é a VONTADE HUMANA, o cavalo é a VIDA (FORÇA VITAL) … sem a qual o cocheiro não pode agir sobre a carruagem.

… Ora, quando nós nos encolerizamos ao ponto de perder a cabeça, [dizemos que] o sangue “subiu à cabeça” {ou, a força vital, o cavalo descontrolado apoderou-se da mente], isto é, o cavalo “desboca-se” e, céus! Nesse caso, o dever do cocheiro é [manter o pulso firme nas rédeas], e pouco a pouco, o cavalo, dominado por essa energia, torna-se calmo. O mesmo acontece com o ente humano: seu cocheiro – a vontade, deve agir energicamente sobre a cólera, as rédeas que prendem a força vital à VONTADE devem ser mantidas em tensão [sob controle]

A magia sendo uma ciência prática, requer conhecimentos teóricos preliminares, como todas as ciências práticas. Entretanto, há diferença entre um engenheiro mecânico, que passou por um curso universitário e um mecânico técnico ou leigo, que fez um curso rápido ou aprendeu na lida do dia a dia da oficina. Em muitos lugarejos, há leigos em magia que, de fato, produzem fenômenos curiosos e realizam curas, porque aprenderam a fazer estas coisas vendo como eram feitas pelos mais velhos, repetindo tradições cujo fundamento, geralmente, se perdeu. Esses “magos leigos” são os chamados FEITICEIROS.

Sendo prática, a magia é uma ciência de aplicação. Mas, o quê o operador vai aplicar? SUA VONTADE … o princípio diretor, o cocheiro do sistema. Perguntamos ainda: em quê, em qual objeto será aplicada esta VONTADE? Na MATÉRIA? Nunca! Seria como um cocheiro agitando-se na boléia da carruagem enquanto o cavalo ainda está na estrebaria! Um cocheiro AGE SOBRE um cavalo, não sobre a carruagem. … Um dos grandes méritos da ciência oculta é justamente ter fixado este ponto: que o espírito não pode agir sobre a matéria diretamente; o espírito age sobre um AGENTE INTERMEDIÁRIO, o qual, por sua vez, reage (repercute) sobre a matéria. O operador deverá, pois, aplicar sua VONTADE não diretamente na matéria, porém naquilo que modifica a matéria incessantemente, [seu mediador plástico] que, a ciência oculta chama PLANO ASTRAL ou PLANO DE FORMAÇÃO DO MUNDO MATERIAL.

Antes de comandar as forças em ação em um grão de trigo, aprendei a comandar aquelas que agem em vós mesmos e lembrai-vos que antes de ocupardes uma cadeira de Mestre na Sorbonne, é preciso passar pelo Liceu e pela Faculdade.

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