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Magia Sexual

Magia Sexual e Tantra são a mesma coisa?

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Phil Hine

Eu lido com a seguinte questão pressupondo que ambos os temas são muitas vezes confundidos. Tantra e Magia Sexual não são a mesma coisa. Tantra por si sóé um assunto muito vasto, do qual as práticas sexo-mágickas constituem apenas uma pequena parte. Tantra pode ser traduzido no sentido de ‚tradição‛, ‚espalhar‛, e ‚tecelagem‛, que engloba astrologia, yoga, feitiçaria, alquimia, adoração devocional, medicina e a busca pela iluminação. Não é uma religião, embora contenha elementos religiosos, nem é uma filosofia de vida; é uma forma de ação. Mais importante, para realmente entender o que é Tantra, você precisa buscar se iniciar por via de um guru ou pela própria prática.

Magia Sexual, entretanto, pode ser praticada sem estar enraizada em nenhum sistema de crença psico-mitológico em particular, requer não mais que a proposição de um intento, habilidade em técnicas mágicas e uma atitude relaxada para qualquer possível experiência ou efeito. A abordagem da Magia do Caos tem feito muito para distinguir as técnicas e procedimentos mágicos das camadas de dogma ossificadas que se construíram em torno delas.

Muitas teorias do ‚ocultismo sexual‛ não são mais do que crenças difundidas como ‚leis cósmicas‛, problema que será discutido a seguir.

CUIDADO COM TEORIAS QUE JUSTIFICAM O PRECONCEITO ATRAVÉS DA ESPIRITUALIDADE

As abordagens ocidentais sobre magia retêm as influências das futilidades anti-sexuais dos Teosofistas, dos Cabalistas Cristãos e de outros tantos movimentos que se proclamam seguidores do Caminho da Mão Direita. Basicamente, a síndrome RHP (right-handpath) parece apoiar os motes da servidão, do Carma, da divisão entre mente, corpo e espírito e da rejeição da sexualidade. Veja o número de pronunciamentos espirituais que circulam por aí sobre questões quanto fazer sexo-mágickacom alguém que não seja um parceiro estabelecido ou, melhor ainda, com alguém do mesmo sexo. Como qualquer outra arena explorada pelos seres humanos, o ocultismo gera teorias para explicar/entender as inúmeras facetas do comportamento humano. Para alguns, estas teorias não são mais que meras sinalizações, conceitos a serem descartados, tais como o conhecimento do indivíduo ou o desenvolvimento de insights. Para outros, as várias teorias começam como dogmas –crenças fixas que se tornam fortemente enraizadas na psique no indivíduo como manifestações de preconceito: atitudes perpetuadas pela ignorância. Conceitos ocultos sobre a sexualidade não diferem dessesconceitos dados por outros ângulos da sociedade –isto pode ser usado para confirmar o preconceito, e elevado ao plano ‚espiritual‛ ou ‚tradicional‛ de recebimento de sabedoria. Isto se torna claro quando algum ocultista tenta ‚explicar‛ a homossexualidade. Fala-se sobre invocação desbalanceada do chakra, kundalini reverso, almas femininas em corpos masculinos, dentre outros absurdos. O nível de sofisticação pode variar desde ‚não é natural‛ até os extremos das profundas discussões sobre chakras, kundalini e auras danificadas. Mágicka e homossexualidade, desde o início do renascimento ocultista no século passado, têm sido parceiros desconfortáveis, e poucas foram as tentativas de desenvolver uma abordagem gay da magia sexual com qualquer meticulosidade, pelo menos que esteja disponível ao domínio público.

Em parte, isto é devido as atitude arraigadas sobre a natureza ‚mágica‛ da homossexualidade. Boa parte das atuais teorias ocultas em circulação foram geradas no auge da Sociedade Teosófica, para exemplificar a identificação do Caminho da Mão Esquerda como sendo tudo que há de mau e do Caminho da Mão Direita como sendo o dos ‚bons garotos‛; decorre da rejeição teosofista da sexualidade e o seu papel ativo no Tantra.Quando um membro ativo do movimento Teosofista era flagrado em um escândalo sexual envolvendo meninos púberes, o furor resultante não apenas prejudicava o movimento Teosófico como um todo, mas também dava início a rumores da existência de grupos de ‚Magia Negra‛ que obtinham poderes ocultos através da vampirização psíquica de meninos jovens. Tais rumores tiveram um impulso substancial dado por Dion Fortune, que alegou que entre 1920 e 1930 houve uma conspiração ocultista masculina usando‚técnicas homossexuais‛ para criar o que ela chamou de ‚poder astral obscuro‛. Ela também credita que a culpa do declínio dos Impérios Grego e Romano foi proveniente da atitude descontraída que tais culturas tinham em relação à homossexualidade. Embora ela nunca tenha nomeado nenhum desses ‚adeptos negros‛, é bastante claro que ela se referia à C. W. Leadbeater, e talvez também à Aleister Crowley.

A atitude de Crowley em relação à homossexualidade é ambivalente, para dizer o mínimo. Um bissexual ativo e entusiasta, ele tinha muitos amantes do sexo masculino, sendo os mais notáveis o poeta Victor Neuburg, seu parceiro em uma série de operações sexo-mágickas homossexuais conhecidas como A Obra Paris, onde Crowley e Neuburg realizam uma série de invocações através do intercurso anal como meio para atingir a gnose. Os resultados dessas séries mágicas demonstraram para Crowley o poder da Magia Sexual como forma de obter resultados; disso ele escreveu artigos mágicos com os valores mágickos de VIIIº (Auto-sexual), IXº (Heterossexual) e XIº (Homossexual), que foram incorporados na sua reformulação da Ordo Templi Orientis. Crowley também escreveu livros de poemas devotados ao amor entre homens ou, mais precisamente, entre um homem e um garoto: Bagh-I-Muttar: O Jardim Secreto de Abdullah, O Humorista de Shiraz, publicado em 1910. Embora seja uma adição valiosa à coleção da obra de Crowley, o Bagh-I-Muttar não é um livro de instruções práticas. Expoentes do trabalho de Crowley, bem como de Kenneth Grant e do falecido Israel Regardie, têm tentado se desculpar pelo que Grant chamou de ‚a fórmula homossexual‛.

Maioria dos livros-texto sobre magia sexual também ignoram a homossexualidade masculina, ou tomam partido de que o gênero dos parceiros não faz diferença quando se trata de ‚elevar a energia‛. Eles tendem, entretanto, a salientar a importância da magia sexual entre parceiros estabelecidos, e poucas (se é que há alguma) são as referências para as áreas da cultura gay, já que para a sociedade hetero  é tão difícil de lidar –sexo grupal, sadomasoquismo ou sexo anônimo. Claramente, qualquer autor capaz de superar as fobias ocultas gerais quanto a homossexualidade (em especial entre homens –alguns manuais sexuais ocultistas dizem que não há problemas com o Lesbianismo –além disso, o lesbianismo é excitante, não é mesmo?) será de grande valor, em comparação com as brigadas do ‚chakra bloqueado‛, pois ao dizer que ‚as energias são essencialmente as mesmas‛,mas explicar apenas as práticas em termos puramente heterossexuais,descarta a possibilidade de que talvez possa haver algo de diferente na magia homossexual.

A QUESTÃO DA POLARIDADE

Eu trabalhei durante alguns anos no coven Alexandrino, onde a polaridade era um assunto importante; vocês sabem, todas essas coisas sobre masculino-feminino, positivo-negativo, luz-sombra,baixo-alto, ativo-passivo. O ponto sobre masculino-feminino era especialmente marcante, e cada Sacerdotisa tinha de ter o Sacerdote e vice-versa. Os homens refletiam o Chifrudo e as Mulheres a Deusa Trina ou qualquer insinuação de que as coisas poderiam ser de outra forma. Bem, isto simplesmente não acontecia. Então eu aprendi a trabalhar com as Deusas, pois estar em um coven Wicca significava ter um ‚parceiro mágico‛ com quem trabalhar –uma Sacerdotisa. Lentamente um pensamento subversivo foi me penetrando: ‚Porque homens não podem trabalhar diretamente com Deusas, e mulheres não podem invocar o Chifrudo (ou qualquer outro Deus) por eles mesmos?‛ Certo, na época eu era ingênuo, mas nós tentamos isso –sem problemas. Nesta época eu li tudo do Jung que eu sempre quis saber sobre o conceito da natureza masculina e feminina de dentro. A Grande Sacerdotisa disse que homens precisavam entrar em contato com as suas naturezas ‚femininas‛, então estava tudo bem pra mim.

O conceito da  polaridade é, em sua forma mais simplória, a idéia de Deus e Deusa dentro do Self. O problema da ‚polaridade‛ ocorre quando divindade se confunde com condicionamento e com o que se supõe serem qualidades ‚masculinas‛ e ‚femininas‛. Por isso nos dizem o tempo todo que o fogo é masculino e a água é feminina; a capacidade de demonstrar emoções e ser intuitivo é feminino e a análise intelectual é masculino. Mas quem disse isso? A crítica feminista ao condicionamento sustenta o ponto de que nós apenas sabemos o que é masculinidade e feminilidade porque isto foi definido especificamente. Trabalhar além dessas limitações é, com certeza, a primeira tarefa no processo de desenvolvimento. Portanto, muito do discurso passado como sendo ‚leis ocultistas‛ acaba sendo apenas uma justificativa ‚espiritualizada‛ ao condicionamento social e ao preconceito. Para os gays do sexo masculino, por exemplo, a polaridade não precisa ser tão simplista como um parceiro assumindo um papel feminino –você pode reconhecer o feminino e ainda manter o seu pênis em outro homem. Você pode celebrar os elementos masculinos da psique e ainda receber o pau de outro homem em você. Deusas e Deuses não são da mesma ordem que as restrições humanas –se fossem, qual seria a vantagem deles, afinal? Impor as nossas próprias limitações sobre eles destrói qualquer razão de se realizar uma invocação divina. Eu invoco algo sobre mim justamente para ir além das minhas atuais limitações –para me unir momentaneamente com algo superior, ou para fora do meu ego. Ora meu amante se volta a mim como um Deus, ora como uma Deusa –independente do seu gênero humano ou de qual de nós vai receber mais atenção do outro

 


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