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Magia Sexual

As Prostitutas da Antiguidade

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Em determinadas épocas do ano, sacerdotisas e mulheres de todas as classes sociais uniam-se sexualmente a reis, sacerdotes ou a estranhos.

Para os povos antigos, a lua era andrógina, como disse Plutarco, “chamase a Lua (Artemis) a mãe do universo cósmico; ela possui uma natureza andrógina”. Na Babilônia, o deus-lua Sin é andrógino e quando foi substituído por Istar, esta conservou seu caráter de androgismo. Igualmente no Egito, Ísis é denominada Ísis-Neit, enquanto andrógina.

Pelo mesmo fato de a lua ser andrógina, o homem-lua, cujo representante na terra era o rei ou o chefe tribal, passava a primeira noite de núpcias com a noiva, a fim de provocar a fertilização dela, da tribo e da terra. Tal hábito, permaneceu na França até a Idade Média com o nome de Le Droit du cuissage du Seigneur.

O fato de todos dependerem dos préstimos da lua para a propagação da espécie, da fertilização dos animais e das plantas, enfim, da boa colheita anual, em todos os sentidos, é que provocou, desde a mais remota antiguidade, um tipo especial de hieròs gámos, de casamento sagrado, uma união sagrada, de caráter impessoal. Trata-se das chamadas hierodulas, literalmente, “escravas sagradas”, porque adjudicadas, em princípio, a um templo, ou ainda denominadas “prostitutas sagradas”, mas sem nenhum sentido pejorativo.

Em determinadas épocas do ano, sacerdotisas e mulheres de todas as classes sociais uniam-se sexualmente a reis, sacerdotes ou a estranhos, todos simbolizando o homem-Lua, com o único fito de provocar a fertilização das mulheres e da terra, bem como de angariar bens materiais para o templo da deusa (Lua) a que serviam. Tudo isso parece muito estranho para nossa mentalidade ou para nossa ignorância das religiões antigas.

Puta, em latim, era uma deusa muito antiga e muito importante. Provém do verbo putare, “podar”, cortar os ramos de uma árvora, pôr ordem, “pensar”, contar, calcular, julgar, onde Puta era a deusa que presidia à podadura. Com o sentido de cortar, calcular, julgar, ordenar, pensar, discutir, muitos são os derivados de putare em nossa língua, como deputado, amputar, putativo, computar, computador, reputação. O sentido pejorativo, ao que parece, surgiu pela primeira vez num texto escrito entre 1180-1230 d.e.c. Não é difícil explicar a deturpação do vocábulo. É que do verbo latino mereri, receber em pagamento, merecer uma quantia, proveio meretrix, “a que recebe seu soldo”, de cujo acusativo meretrice nos veio meretriz, que também, a princípio, não tinha sentido erótico. Mas, como putas e meretrizes, que se tornaram sinônimos, se entrevam não só para obter a fecundação da tribo, da terra, das plantas e dos animais, mas também recebiam dinheiro para o templo, ambas as palavras, muito mais tarde, tomaram o sentido que hoje possuem.

Não eram, todavia, apenas mulheres que “trabalhavam” para a deusa-Lua. Homens igualmente, embora fosse mais raro, após se emascularem, entregavam-se ao serviço da deusa. Na Índia, segundo W. H. Keating, os homens de Winnipeck consideram o sol como propício ao homem, mas julgam que a lua lhes é hostil e se alegra quando pode armar ciladas contra o sexo masculino. Desse modo, os homens de Winnipeck, se sonhassem com a lua, sentiam-se no dever de tornar-se cinaedi, quer dizer, homossexuais. Vestiam-se imediatamente de mulher e colocavam-se ao serviço da lua.

Cibele era a grande deusa frígia, trazida solenemente para Roma entre 205 e 204 a.e.c., durante a segunda Guerra Púnica. Identificada com a lua, protetora inconteste da mulher, seus sacerdotes, chamados Coribantes, Curets ou Galos e muitos de seus adoradores, durante as festas orgiásticas da Bona Mater, Boa Mãe, como era chamada em Roma, se emasculavam e cobriam-se com indumentária feminina e passava a servir à deusa-Lua Cibele.

No Egito e na Mesopotâmia as deusas-Lua Ísis e Istar sempre tiveram um grande número para os templos, para elas trabalhavam infatigavemnte. No judaísmo, as hierodulas causaram problemas sérios. Para Astarté, deusa-lua semítica da vegetação e do amor (a Afrodite do Oriente), as hierodulas,, sobretudo em Canaã, operevam, quer ao longo das estradas, quer nos próprios santuários da deusa. O dinheiro arrecadado, a que se dava o nome de “salário de meretriz” ou “de cachorro”, era entregue aos santuários. Sob a influência cananéia, o abuso penetrou também no culto israelítico, embora a Lei se opusesse energicamente a isso e proibisse que o dinheiro fosse aceito pelto Templo. Sob Manassés e Amon (séc. VII a.e.c.), as prostitutas sagradas instalaram-se no próprio Templo de Jerusalém. Foi necessário que Josias mandasse demolir suas habitações. Mais tarde, à época da desordem total, até pagãos as procuravam no Templo da Cidade Santa.

Na Grécia, à época histórica, emludar de oferecer seu corpo e sua virgindade em honra da deusa-lua, as mulheres ofereciam sua cabeleira.

A Afrodite, divindade do prazer pelo prazer, do amor universal, que circula nas veias de todas as criaturas, porque, antes de tudo, Afrodite é a deusa das “sementes”, da vegetação, estavam ligadas, à maneira oriental, as célebres hierodulas, as impropriamente denominadas prostitutas sagradas. Essas verdadeiras sacerdotisas entregavam-se nos templos da deusa aos visitantes, com o fito, primeiro de promover e provocar a vegetação e, depois, para arrecadar dinheiro para os próprios templos. No riquíssimo (graças às hierodulas) santuário de Afrodite no monte Érix, na Sicília, e, em Corinto, a deusa era cercada por mais de mil hierodulas, que, à custa dos visitantes, lhe enriqueciam o santuário. Personagens principais das famosas Afrodísias de Corinto, todas as noites elas saíam às ruas em alegres cortejos e procissões rituais. Embora alguns poetas cômicos, como Aléxis e Eubulo, ambos do século IV a.e.c., tivessem escrito a esse respeito alguns versos maliciosos, nos momentos sérios e graves, como nas invasões persas de Dario (490 a.e.c) e Xerxes (480 a.e.c.) se pedia às hierofuldas que dirigissem preces públicas a Afrodite. Píndaro, talvez o mais religioso dos poetas gregos, celbrou com um (skólion), isto é, com uma canção convival, um grande número de jovens hierodulas que Xenofonte de Corinto ofertou a Afrodite, em agradecimento por uma dupla vitória nos Jogos Olímpicos.

por Prof. Junito de Souza Brandão


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