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Lovecraft Magia do Caos

Racionalizando o Irracional – Psiconomicon

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Ao contrário do que possa parecer em um primeiro instante, a adoção e adaptação do material desenvolvido por Lovecraft, nos contos que fazem parte do Mito de Cthulhu, por parte de magos não é algo menos plausível do que o uso de qualquer outro sistema oculto ou doutrina mágica, disponíveis hoje para os praticantes e estudiosos dos Segredos Arcanos. A Magia, ou Grande Ciência, Grande Arte, ou qualquer nome pelo qual seja chamada, é baseada no irracional, no intuitivo, no desconhecido que não pode ser visto, literalmente naquilo que é “oculto” ou está velado, e que então é evocado com propósitos pessoais ou coletivos, através do ato de correlacionar suas relações casuais com o universo material. Desde o início da prática da escrita até os dias de hoje, a impressão que o estudante de magia tem é que já foram dedicadas mais páginas e mais tempo ao assunto de tentar compreender do que a magia se trata, do que com manuais práticos sobre o assunto. Para as pessoas não acostumadas com a prática mágica fica difícil compreender exatamente o que são as forças evocadas pelos magos e feiticeiros e como elas funcionam. Serão deuses? Espíritos? Alguma força que cerca a tudo mas poucos percebem? Apenas imaginação ou faz-de-conta? Ela apenas tem um efeito social e psicológico ou lida de fato com poderes acessíveis para poucos?

Qualquer tentativa de explicar ou quantificar a magia se tornaria apenas um exercício para justificar a crença dos magos de que ela funciona. Mas para nosso objetivo podemos ilustrá-la nos conceitos dos primeiros magos eruditos europeus, que a chamavam de Filosofia Natural; eles acreditavam que tudo o que existia estava ligado por uma força invisível, então eles buscavam o conhecimento sobre esse magnetismo natural, de forma que ao conseguir trabalhar com um elemento, o que estivesse ligado a ele, através desse magnetismo, também fosse afetado, da mesma forma que a agulha de uma bússola pode ser afetada por um magneto que passe perto dela.

Os diferentes grupos mágicos e as diferentes filosofias trabalham de formas que podem ser comparadas a esta analogia. Descubra o que liga diferentes elementos e manipulando este meio você manipula os elementos. Os mecanismos para isso são inúmeros, mas se baseiam principalmente no uso de símbolos, pessoais ou já existentes. Os símbolos são usados como uma ponte entre o consciente e o inconsciente, entre o racional e o irracional. É esta ponte que liga o mundo que é percebido como “real” com a vontade do mago, e ela não é uma via de mão única, essa ponte criada pelos símbolos também é utilizada para levar o praticante a uma fonte de conhecimento e poder, que não podem ser descritas de outra forma.

Praticamente cada sistema mágico existente nos dias de hoje se derivou de jornadas de um indivíduo, ou grupos de indivíduos, rumo a essa fonte oculta, e da maneira que essas pessoas usaram para interpretá-las de maneira consciente. Esse processo não é muito diferente daquele usado por um músico para compor uma obra, ou de um artista ou escritor que vai pintar ou criar um livro. Muitas dessas pessoas, artistas, músicos, escritores, muitas vezes descrevem com assombro esse processo criativo, muitos afirmam que não compuseram uma música ou escreveram um livro, eles os descobriram e apenas troxeram para o “lado de cá” o que viram, muitos artistas ficam inclusive frustrados em não conseguir reproduzir com suas ferramentas as visões que tiveram em toda a sua grandiosidade. Da mesma forma nascem as escolas de filosofia e de ciências, veja que Euclides quando começou a desenvolver os princípios da Geometria e de alguns conceitos matemáticos, partiu de axiomas, Descartes também, ao desenvolver o processo que hoje chamamos de Cartesiano, partiu de premissas verificadas por ele mesmo e confirmadas como verdadeiras por sua própria razão. Assim, o que termina diferenciando os processos é que muitos céticos, ou cínicos, afirmam que esse conhecimento parte do próprio indivíduo, é apenas um exercício de razão e lógica que oferece uma percepção sensata das coisas, como por exemplo: duas retas paralelas nunca se cruzarão e qualquer número elevado a 0 é igual a 1. E mesmo essas deduções lógicas não são inteiramente verdadeiras, Nicolai Lobachevsky e Janos Bolyai nos mostraram evidências de uma geometria chamada de hiperbólica onde em um ponto externo a uma reta passam duas paralelas e Georg Bernard Riemann trabalhando com a geometria elíptica onde não existem linhas paralelas. Além disso da mesma forma que qualquer número elevado a 0 é igual a 1, 0 elevado a qualquer número é igual a 0, qual o resultado da operação 00?

Já pessoas mais crédulas ou criativas, afirmam que esse conhecimento já existe além do ser-humano, e que tudo o que podemos fazer é tentar buscar, nas visões daqueles que conseguem atravessar o véu e vislumbrar o que há do outro lado, uma forma de traduzir e interpretar aquilo que foi percebido. O livro ‘Conversations on Mind, Matter and Mathematics’ mostra um diálogo entre Alain Connes, um dos maiores especialistas em algebra operacional e professor na Collège de France, na IHES e na Universidade Vanderbilt, e o neurobiólogo Jean-Pierre Changeux, onde Connes passa a defender a matemática como algo que existe além do ser humano, possuindo uma existência própria e independente afirmando que “independentemente da mente humana, existe uma realidade matemática crua e imutávle”.

Outro aspecto importante da interação com essa fonte central é que a maneira que você a aborta influencia no tipo de resposta que terá, isso é simples de se compreender. Existem muitas conexões entre a matemática e a música, inclusive é comum que as turmas de matemática consigam montar orquestras com seus alunos e professores, e apesar do processo criativo e dos insigths serem basicamente os mesmos para deiferentes pessoas, um matemático quando busca relacionar um problema pensa em números, equações, harmonias entre os números, um músico irá ter sua inspiração de forma diferente, não pensando em frações, mas em oitavas, não em harmonia entre números, mas harmonias entre notas. Agora imagine um mago cristão que busca essa fonte de poder, ele irá associar essa energia e essa sabedoria a Deus, e desenvolverá seus rituais de acordo, da mesma forma que um mago que associe essa fonte com o Diabo, desenvolverá seus ritos de acordo com a crença. O mago cristão, no entando terá respostas condizentes à maneira que enxerga Deus, o mago que acredita no Diabo também terá respostas condizentes a sua imagem do diabo. Magos que lidam com uma fonte hermética e impessoal tendem a ter uma magia menos moralista, magos niilistas desenvolvem uma prática que é um fim em si mesma.

É importante a compreensão desta “fonte de conhecimento mágico” para que um paralelo entre a magia e os textos de Lovecraft seja traçado. Os principais grupos do renascimento mágico ocorridos na nossa era, tiveram origens justamente com pessoas que disseram ter um contato com esse conhecimento oculto, se não de forma direta através de Mestres Secretos encontrados tanto em sonhos como em estados alterados de consciência atingidos através de práticas de meditação e viagens astrais. Assim o movimento Rosa-Cruz, a Sociedade Teosófica e a Aurora Dourada – Golden Dawn -, para citar alguns exemplos, foram desenvolvidos por homens e mulheres que diziam conseguir levar a mente a uma outra dimensão, ou rumo a uma fonte que permanecia oculta do resto da humanidade, e de lá retirando e interpretando o conhecimento que prometiam a seus seguidores e discípulos. Esse tipo de afirmação não é diferente daquele oferecido pelos fundadores das maiores religiões existentes hoje, que se comunicavam diretamente com Deus ou com Anjos e traziam para seus iguais o conhecimento sagrado. Foi assim que Harvey Spencer Lewis (Rosa Cruz), Helena Blavatsky (Teosofia), William Wynn Wesrcott, Samuel Liddell MacGregor Mathers, William Robert Woodman (Aurora Dourada) além de muitos outros, construíram as bases de suas respectivas ordens iniciáticas, cada uma baseada nos símbolos que cada uma dessas pessoas escolheu para servir de ponte entre si e o saber oculto.


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