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Mas e o que seria esse poder e esse conhecimento buscado pelos magos? Um mago, neste ponto, não é diferente de um matemático, um físico ou um filósofo. Todos percebem que existe um conhecimento ainda oculto e se devotam a buscá-lo. Esse conhecimento teria alguma aplicação prática no dia a dia? Talvez não, mas eles sentem um ímpeto de buscá-lo. O matemático busca aquilo que forma a própria matemática, a harmonia com que ela faz os números interagirem, o físico busca o conhecimento daquilo que tornou o universo algo real, o filósofo busca aquilo que formou a mente e mesmo até a alma das pessoas. O mago busca o conhecimento daquilo que faz a realidade funcionar. Não existe uma concenso, como nos outros três casos, do que é a magia ou no que consiste a realidade, mas a algo a ser buscado.
O poder vem do uso prático daquilo que se adquire na busca do conhecimento, foi o uso do conhecimento adquirido pela busca da natureza dos números primos que deu origem a todo nosso sistema de negociações pela internet e à indústria de cartões de crédito, algumas pessoas usaram esse conhecimento para formar empresas como a RSA Data Security Inc., da mesma forma o conhecimento conseguido com o estudo do calor e do eletro-magnetismo fez com que surgissem empresas que lidam com supercondutores. O poder mágico é aquilo que o mago obtém ao se por em prático o conhecimento que adquiriu em seus estudos. Alguns são seduzidos por aquilo que seu conhecimento pode oferecer, o que se torna claro nos contos em que a pessoa vende a alma para o diabo, que é o detentor dos conhecimentos ocultos, para conseguir fortunas e poder. Essa sedução existe onde quer que haja uma busca pelo conhecimento, na magia não seria diferente.
Como a magia busca o conhecimento sobre a realidade em si, os poderes que os magos tentam desenvolver são de natureza variada, da influência a pessoas para conseguir prestígio e sexo até mesmo a capacidade de alterar a própria realidade e as leis que a mantém coesa. Prever o futuro, alterar o passado, se teletransportar, ler mentes, tranformar água em vinho, metais em ouro, inimigos em escravos. O limite é a imaginação, a necessidade e a ganância do mago. Muitos podem argumentar que essa busca por poder é uma ilusão, que ninguém, por mais que faça rituais, será capaz de começar a voar de casa para o escritório. Essas pessoas podem, de fato, ter um ponto interessante ao afirmar essas coisas. O que faria então uma pessoa sensata buscar esse tipo de poder? A melhor resposta talvez seja outra pergunta: por que tantos alpinistas tentam escalar o Everest? A respostas deles é: porque ele está lá!
Muitos magos sentem esse apelo pelo poder que o conhecimento oculto promete, e por mais absurdas que sejam as promessas ele sabe que o conhecimento da magia pode torná-las reais. Por outro lado a realidade é a maneira que interpretamos o mundo ao nosso redor multiplicada pela arrogância que temos dessa interpretação ser real. Duas décadas atrás a acupultura era vista como uma supertição oriental, uma tolice, hoje muitos hospitais já tem seus kits de agulhas. Mulheres eram vistas como histéricas possuídas, hoje temos termos esotéricos como TPM e menopausa para explicar as mudanças de humor e os transtornos femininos, antes um médico tinha que estar na presença do paciente para operá-lo, hoje existem protótipos que permitem que o médico opere à distância. A cada dia que passa fenômenos como telepatia, empatia, clarividência conquistam mais e mais pesquisadores que tentam provar que esses feitos são reais e naturais.
Como o que está em cheque com a magia não é o que é possível ou impossível e sim se a realidade é real ou apenas uma ilusão que pode ser moldada de acordo com a vontade do operador, o primeiro passo do mago não é simplesmente aprender a realizar rituais mágicos e sim aprender a enxergar a realidade da forma que ele acredita que ela realmente é. Pergunte a um mago sobre o simbolismo do dragão e sem muita demora vai ouví-lo discursar sobre a semelhança entre a imagem do dragão em diversas culturas primitivas e separadas por um grande espaço geográfico e que se a evolução do homem seguiu o rumo natural proposto por estudiosos hoje, então não teria como culturas tão distantes terem uma imagem com significados e características tão idênticas: Quetzalcoatl no golfo do méxico, Mama Pacha do peru, Boitatá no Brasil, Tatsu chinês, Ryujin no Japão, Yuan-shi tian-zong taoísta, Jormungand viking, Wawel na Polônia, Zu e Tiamat na Suméria e um sem número de outros.
O que para muitos pode parecer um mero hobby, o estudo de uma criatura imaginária, nas mãos do mago se torna uma ferramenta, pois o dragão tem muitos aspectos. Ele representa em si os quatro elementos básicos, ele cospe fogo, tem asas e voa pelo ar, está associado com rios e oceanos, e anda pela terra, assim cada aspecto do dragão é dividido em um dragão por sí só, o Dragão do Ar que simboliza o Mercúrio dos Sábios, o Dragão da Água que simboliza o Sal Harmônico, o Dragão do Fogo que representa o Enxofre dos Sábios e o Dragão da Terra, o Chumbo dos Sábios. A combinação desses dragões se tornam o protótipo do homem-anjo e do homem-besta em seus aspectos primitivo, primordial e superior. O estudo desses símbolos e as práticas que nascem desses estudos é o que resulta na sabedoria mágica e no poder que essa sabedoria traz, ao se estudar dragões chineses, por exemplo, se adquire o conhecimento dos Dragões da Terrestres, os senhores de toda nascente e rio, com o conhecimento sobre eles se é possível controlar cheias e secas.
É claro que muitos não acreditam que esse poder exista, ou que esse tipo de controle seja possível, mas isso é o que separa um mago de uma pessoa normal. Até hoje no japão e china se fazem oferendas para dragões, cada uma de acordo com a especialidade do dragão, e é por isso que se você pergunta para um mago se ele acredita em Dragões a resposta dele pode não ser o que o senso comum aponta.
O poder do símbolo na magia está justamente ai, o que para uma pessoa pode ser apenas uma figura mitológica, para outra pode ser a chave para uma sabedoria que pode gerar um poder mais forte do que o da natureza. E essa sabedoria, como o monte Everest, está lá.
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